quarta-feira, 30 de novembro de 2011

CAMPANHA OPOSTA


Tenho traços notórios de pouco progresso,
de missões reduzidas a lutas inglórias,
mas os lábios trancados; expressões simplórias
não encontram que cobre versões de sucesso...

Nunca fui o mocinho de minhas histórias,
pra ninguém se frustrar cada vez que tropeço;
serei sempre o que sou, contumaz réu confesso
à distância dos bons; cortejando as escórias...

Faço a velha campanha em direção oposta,
nada mostro que acenda essa fé que mais tarde
se revele assustada uma infeliz aposta...

No meu rosto estas marcas de sujeito à toa;
é melhor construir sem promessa ou alarde
uma grande surpresa finalmente boa!

NO MEU LUGAR


Nunca sonho pra lá dos teus encantos,
pois meu mundo obedece aos teus limites;
és além do que julgo estar além...

CRENÇA E CRÉDITO


Credite no sonho em que acredita.
Plantando verá que o seu futuro
já veio embrulhado pra presente.

IDEAL E PÃO


Os ideais me cansaram,
porque preciso de vida
e minha vida quer pão.

QUANDO MACHISMO E PRECONCEITO SE UNEM


É uma situação bizarra, para não dizer outros vocábulos que a indignação traz à língua, quando um homem abusa de uma criança ou adolescente e conta com a defesa da própria esposa, que transforma a vítima em algoz. "Ele é homem, sua natureza reagiu! Essa menina é muito assanhada! Vive provocando com esse shortinho, deixando as coxas de fora!". O criminoso vira um santo de barro que se quebrou nas pedras da sedução, traído pela queda imprevisível do andor.
Pelas graças de um machismo generalizado que faz escalas nas mais diferentes contextualizações, afetando até os conceitos da magistratura, os casos de abuso e violência sexuais quase sempore acabam bem para os monstros, quando além do machismo o preconceito entra na questão. Das mais grotescas às mais refinadas versões, a conclusão nunca é severa o suficiente. Se às vezes há punição, ela é sempre leve, com atenuantes para o estado psíquico, emocional e até etílico do indivíduo, passando pelos efeitos da pobreza e da desinformação. Seja qual for o argumento, o machismo está lá, velado ou não, garantindo algum grau de impunidade, quando não o faz totalmente.
Mundo bizarro, este no qual vivemos. Êta sociedade cacete, que entra século-sai século, não evolui no quesito respeito ao próximo, em sua individualidade! Ainda vivemos num tempo em que até a fauna tem que se cuidar, se não quiser sofrer com os impulsos animalescos do homem. Quase é necessário que as éguas se comportem, as vacas se vistam com recato, as cadelas não fiquem por aí andando à toa, para não serem derrespeitadas. Aliás, isso vale também para seus machos. Todo o cuidado é pouco.
Imaginem vocês que uma professora narrou, numa conversa sobre abusos, que quando criança, viu um homem, bastante conhecido e respeitado em sua comunidade, casado e religioso, violando um cachorro na lage de casa enquanto a esposa engomava roupas na varanda, no primeiro piso.
Ficamos indignados, e mais ainda com a conclusão, após outros depoimentos, que essas e outras bizarrices, como a violação de cadáveres humanos são práticas bem mais comuns do que pensamos. E se depender do mesmo conceito da mulher que defende o marido porque acha que ele "não resistiu à tentação" e violentou a menina, diríamos do cachorro: "Bem feito! Quem mandou dar confiança e viver balançando o rabo para o homem?".

15 ANOS


Se a vida não é um mar-de-flores, os quinze anos são. Não que a idade leve a sucumbir todo e qualquer problema, mas porque essa fase tem o poder de sublimar e reflorir; pôr um toque de poesia em tudo, e fazer ver o mundo com olhos de suavidade.
Podemos dizer que os quinze anos são a reprimavera; o reconto de fadas; uma lenda real em que a magia se faz presente. Quem sabe fazer jus ao verdor da fase, tem em mãos todos os ingredientes das histórias fantásticas de príncipes, princesas, fadas, castelos e até o tempero das bruxas e outros vilões que tornam esses enredos mais interessantes.
Se nos quinze a menina deixa de ser menina, é justamente porque ela incorpora todas as fantasias da meninice, com ares de uma sutil maturidade que ainda não a macula com as intempéries da idade adulta. Ela é a princesa; a gata borralheira; a Cinderela e ninguém lhe rouba essa magia retocada perante o espelho que diz: "Hoje não há ninguém mais bela do que você".
Mas o feitiço específico dos quinze anos imita em tudo a fábula : Tem até a duração fugaz que acaba à meia-noite. É como se a própria idade fosse o feitiço. Corresponde a dizer que a colheita precisa ser exímia; é preciso aspirar as flores com a precisão de quem sabe que tudo é um sonho; trata-se de uma passagem à fase das grandes responsabilidades que surgirão três anos à frente, quando há de se deparar com a maioridade.
Mesmo assim não se conclui daí, que após os quinze anos o encanto de viver se finda. Para quem sabe ver e viver assim, a vida continua sendo bela com todos os percalços pós-adolescência. Se todos nós voltarmos um pouco no tempo, relembrando a fábula, veremos que após o baile o encanto só parece acabar... Logo o mundo encontra o sapato de cristal e se dispõe a devolvê-lo ao pé daquela que sabe fazer jus à continuação de uma fábula progressiva.
Na verdade, a vida inteira se compõe de várias estações, e os quinze anos estão longe; muito longe de ser a última das que temos para cunhar do nosso jeito, com a nossa marca inconfundível, quando somos originais.
Minha filha Nathália faz quinze anos. Isso faz do dia 8 de dezembro, mais do que o natal. Uma data cheia de luz, para lembrar o dia em que ela me encheu de alegria, emoção e certeza de que vale a pena viver, simplesmente vindo ao mundo para me salvar de mim mesmo e da solidão de não ser pai.
A ela todos os afetos deste pai imperfeito, que não sabe merecê-la, mas que a ama de todo o coração, mais do que a si mesmo.

AMOR TARDIO


Queria voltar ao verdor da vida;
ficar na linha dos teus anos
e me deixar colher por ti...

SUA AUSÊNCIA


Hoje falta o seu riso raiando em meu céu;
falta céu, na verdade, se falta o seu riso;
tenho vívio, preciso, não posso viver
sem me ver entre os traços de sua alegria...
Falto em mim, pois me perco por onde não sei;
vou em busca dos ares de sua frescura;
levo a jura de amor com que possa trazê-la
para perto, pra dentro, para os meus pulmões...
Tudo falta, o que sobra é certeza do nada,
numa estrada sem rumo e promessa de após;
num vazio que o mundo não pode suprir...
Su´ausência me asperge sobre um poço insano,
joga um pano de angústia sobre o meu olhar
e me faz ver o mundo como se no fim...

CONSCIÊNCIA OCULTA


Fui mais teu do que a brisa pertence à montanha;
do que a manha compõe a criança mimada;
nada é mais, do que seja, que um dia fui teu,
até mais do que meu, na minha solidão...
E te amei mais que os ébrios à própria "tequila",
peguei senhas, fiz fila de sonhos contigo,
porque foste o meu pulso, a razão dos meus passos,
meus espaços, meus dias, o meu horizonte...
Sendo assim te perguntes, não somente a mim
o que deu esse fim ao que era infinito,
fez de minha emoção esta névoa que abrigo...
Recomponha o percurso cumprido por nós,
ouça bem essa voz que porcerto alardeia
no silêncio irreal da consciência oculta...

ATINGIDO


A minh´alma sabia, notava em meu corpo
os sentidos latentes fugindo de após,
uma voz arvorava e rompia o silêncio, 
mas a força do medo a detia e calava...
Avisei a mim mesmo julgando que a ti,
sobre doses mais fortes, limites mais fundos,
comparei nossos mundos apontando opostos
e me armei contra os riscos, tão logo se armaram...
Mas a minha estratégia não me deu socorro;
meu instinto acuado acabou se rendendo
aos teus olhos, teu riso, tua sedução...
Minhas armas falharam, ruiu a trincheira,
foram vãos os escudos e os anti-torpedos;
os enredos e sonhos de me preservar...

FÉ SUTIL


Não descarto a hipótese de algum dia ser convencido a crer em Deus. Para tanto, seria necessário algo mais profundo, subjetivo e sutil do que as demonstrações desordenadas, desencontradas e mesmo assim seletas, atribuídas a ele. Um olhar, um silêncio significativo, talvez um odor, uma textura, uma emoção velada. Nada de firulas divinas por meio de curas espetaculares, paredes abertas nos oceanos e gente abrandando furacões "em nome do altíssimo". Muito menos metamorfoses orgânicas, geográficas, espaciais ou ameaças de um lugar de fogo, sofrimento, escuridão e ranger de dentes.
Um deus que vive para provar que é Deus, que tudo pode, que tem mais poderes que um certo ser que ele mesmo teria criado não é, definitivamente, o que poderia me tocar. No fundo, só me bastaria mesmo ser humano, comum, o flho do meio (aquele que nunca é o predileto), em caso de conversão à crença (jamais a um segmento religioso). No mais, deus poderia ser, pra mim, menos Deus. Mais humano e próximo dos que se julgam semelhança dessa possibilidade criadora e mantenedora. Pragas do egito, imagens do apocalipse ou maravilhas do mesmo conto não subornam minha emoção, pelas tantas grandezas ostentadas.
Aos oceanos, sou aquele que prefere os córregos. A lua no céu me seduz bem menos do que na poça. Gosto mais da pétala que da flor em um todo. Emociona-me a samambaia, nem tanto a palmeira. Uma vez real, deus me quebrantaria se apresentando como pregam que nós devemos fazê-lo em sua presença. Com singeleza. Exatamente como aquele pai terreno que ao dirigir-se à criança para seja lá o que for, sempre se curva e faz com que ambos fiquem na mesma altura.

URUBUS ADEQUADOS


Nossos gestos de caridade maciça, "à moda Não sei o que lá Esperança" não residem no amor aos que precisam. Moram mesmo é no amor aos astros e às estrelas televisivas. Quase sempre não pensaríamos em ajudar, se não fosse por esses detentores da obediência e do fanatismo das massas.
Pode ser que o segredo esteja também no nosso preconceito. Se ajudássemos diretamente teríamos contato direto com os adolescentes e crianças marginalizados dos quais queremos distância, tanto quanto os ídolos, que fazem tudo com muito profissionalismo, mas delegam a outros, de mundos mais próximos aos submundos da pobreza extrema, o descarrego do que sobra da catação. A prestação de contas das rebarbas que chegam ao rodapé dos últimos contemplados, que nas propagandas são os primeiros.
Todos têm sobre a cabeça os urubus adequados aos seus dramas. O que nem todos sabem é que os urubus são urubus; não os arcanjos de que se trajam para tirar vantagens em prestígio, fama, poder e mais riqueza, forjando ações sociais de alcance fraudado. Muito aquém do que alardeiam. Às vezes, de alcance zero.

ABAIXO O DESPEITO

Não vejo "graça nenhuma" numa mulher que não vê "graça nenhuma" em nenhuma outra mulher.

LIRA PERFEITA


Há na flor dos teus lábios um pólen que adoça
o que trago na xícara insossa dos olhos;
teu olhar me remoça repondo os hormônios
de alegria e ternura, esperança e vontade...
Serpenteia entre as ondas suaves da voz
que desagua de manso em meu lago de afetos,
uma foz insondável de unguentos etéreos
cujos doces mistérios me curam de mim...
Tu és mais do que alguém que o destino me deu
de presente ou presença vital pro meu ser;
fez nascer novamente o que n´alma falira...
Minha lira perfeita, o teor da canção
que passou a reger a razão dos meus dias;
deu às horas tardias aurora contínua...

RELEMBRANDO A RAPOSA BRIZOLA


As ideias que um dia levaram Leonel Brizola ao governo do Estado do Rio Grande do Sul e mais tarde do Rio de Janeiro por duas vezes, além dos demais cargos políticos que ocupou ao longo de aproximadamente sessenta anos de carreira foram as mesmas que o fizeram tropeçar nas tentativas de ser presidente da república e na derradeira corrida ao senado federal. Brizola tinha um defeito admirável, apaixonante e encantador: Não se dobrava ao que feria seu idealismo, sua visão de cidadania e brasilidade, seu conceito de justiça e transparência, por mais que a coisa parecesse moderna. Para ele, um país avançado tinha que combinar com gente feliz: Realizada, culta, ainda que para tanto fosse necessário voltar aos tempos medievais nos melhores aspectos da referida idade.
Brizola era fissurado em Educação. Não poderia ser diferente a grande figura nacional que um dia fora menino pobre, engraxate, das ruas, e um dia foi salva exatamente pela Educação, graças aos olhos de alguém que tinha sobre a vida o mesmo olhar que ele teve até o fim de sua existência fértil, pródiga, de homem apaixonado pelo próximo, inimigo da ignorância, da fome, do abandono e da corrupção. Seu fanatismo pelas questões educacionais era tanto que até o cegava para outras urgências. Ele queria reconstruir o país do nada, priorizando a escola, o ensino de qualidade, o amor pela infância - sobretudo a pobre -, o amparo, a assistência integral para construção da cidadania. Nada podia ser momentâneo para Brizola, que realizou com sofreguidão o sonho de Darcy Ribeiro, criando os CIEPs, cuja finalidade posta em prática foi destruída por governantes posteriores; o popular sambódromo -durante o ano escola -, a Linha Vermelha e muitas outras realizações.
Para a vida, para o trânsito, para o anticonsumismo, a liberdade, a cidadania, em tudo visava educar. Para ele a cadeia, mais do que apenas punir, deveria reeducar para a sociedade, com lições práticas de não-violência, de direitos humanos, o que lhe rendeu até a pecha de protetor dos bandidos.
Não havia negociação com Leonel Brizola, se não fosse do interesse exclusivo do povo. Até amarrava projetos com inimigos políticos, mas com esse fim. Rejeitava patrocínios escusos ou obscuros para campanhas milionárias e ninguém jamais o acusou abertamente de corrupção política, o que seria feito se houvesse como, pois foi extremamente odiado por muitos, no meio político. Tinha fama de "carne-de-pescoço", turrão, retrógrado, subversivo, brigão, centralizador, mas nunca se falou nele como corrupto. Só havia, para muitos, o trunfo pálido e passageiro de dizer que ele tinha uma fazenda no Uruguai.
Eram também marcantes a sua esperteza política, o seu tino estrategista e a língua afiada para desconcertar os oponentes. Por isso ganhou o apelido de velha raposa. No entanto, a sua sinceridade chegou a ser ingênua, quando atacou a Rede Globo e outros grupos poderosos, mesmo sabendo que aquilo poderia representar derrotas políticas - o que se concretizou -. Se agisse de modo oposto, esses grupos poderiam levá-lo ao cargo máximo da nação, mas ele não se vendeu; não se rendeu; não aceitou ser marionete e mais tarde virar figura decorativa, fingindo governar. Mais uma vez a coerência leonina mostrou firmeza de propósito e caráter.
Leonel de Moura Brizola teve, em suma, ideais perfeitamente viáveis. Isto, se houvesse na coisa pública uma paixão à moda Brizola, de forma geral. Paixão pelo ser humano, pela pátria, pelo social, pelo bem de todos. Viáveis, sim, se o seu despojamento fosse copiado, sua entrega seguida, e se a sua solidariedade afetasse os corações congelados do poder. Perfeitamente, se todos acreditássem como ele, na Educação. Na criança como futuro promissor, podendo contar com olhos como os seus. Olhos longânimos de um homem que foi o que foi, intransigentemente, ainda que amargando incompreensões e quedas das quais nunca se levantou, como aspirante à presidência do Brasil.
Como político, em essência, e como ser humano invejável, Brizola jamais caiu. Ficou e sempre - e continua - no topo do conceito de quem entendeu, pelo menos entendeu seus ideais. Darcy Ribeiro disse de si mesmo - e podia dizer - o que direi de Brizola: Não quero estar na pele (nem na consciência) dos que o derrotaram (ou se puseram como empecilhos aos seus ideais políticos).

CORAÇÃO ACUADO


Assaltar o meu peito não vai lhe render
sentimento esperado por sua neurose;
sequestrar o meu sim há de ser uma farsa,
pois minh´alma porcerto não tem como ir...
É possível render este corpo cansado
desse assédio agressivo, incansável, sem fim,
arrombar as defesas de minha repulsa
e matar anticorpos que a vida enfraquece...
Mas qualquer emoção será fraude abusiva;
fingirei tristemente que tenho de sobra
o que nunca será sequer meia verdade...
Coração acuado não ama; obedece;
dá por força, não doa, também não se dá,
e só tem o desejo de um dia fugir...

OLHOS DE GÁS


Um olhar abstrato esquadrinha existências,
intimida os que o deixam fazer o que faz,
pois é sua missão provocar desistências,
impedir essa busca de um tempo de paz..

Quase somos um mundo insentido em que jaz
o sentido real para mais insistências
contra os golpes etéreos dos olhos de gás;
a fumaça empanando quaisquer transparências...

Precisamos perder o temor desta guerra
contra os males da lida, os embates da terra,
os mistérios além, ou aquém; pouco importa...

Nosso olhar tem que ter a magia da calma
com que veja que nada liquida noss´alma;
quanto à carne já nasce desvalida e morta...

PROCURA RETROATIVA


Sou saudoso de quando não tinha saudade,
sinto falta de um tempo em que nada sentia
que pudesse abrir flanco tão fundo em meu ser;
causar tanta impressão de vazio sem fundo...
Houve um mundo sem mágoas, feridas, conflitos,
em que minhas verdades de fato eram minhas
e meus gritos não eram senão de soltura;
liberdade futura, presente, sem data...
Quero muito esse tempo em que não te queria,
em que tinha meus olhos enxutos e sãos,
porque meu coração não doía de amor...
Dou mergulhos frustrados em dias perdidos
para minhas tirstezas agora sem cura,
na procura da idade que o peito reclama...

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

SEM LUZ

Eis o muro, a verdade que o confirma
diz que toda trombeta será pouca,
serão loucas as vozes de protestos
e os pretextos erguidos no caminho...
Rui o mundo e persiste essa muralha,
nosso abismo só tende a ser mais fundo,
cresce a palha que oculta o nosso grampo,
neste campo está farto nosso joio...
Falta vida pra tantas utopias,
dias fartos pra nada por fazer,
pra coser sem agulha e sem fazenda...
É preciso entendermos que acabou,
que o calabouço agora não tem luz;
uma cruz que perdeu qualquer sentido...

REMORSOS

Águas rasas pro chão dos meus remorsos...
Minha vida restante será curta
pra forrar o colchão das tuas mágoas...

ÓCIOS E OFÍCIOS

Quem ocupa o poder escolheu isto
apesar da ciência dos percalços,
desse misto de glória e linchamento
e de falsos amores sociais...
Escolheu assumir o caos exposto
ao seu posto, à regência pleiteada;
viu que tudo esboçava o seu contorno,
porém disse ao transtorno que o queria...
Quem nos pede o poder não pese após,
delegando os deveres à nação,
dando à voz o sofejo dos covardes...
"Nossa parte" se opera em nossa luta,
nossa busca merece alguma espera
da batuta que demos ao regente...

DISTÂNCIA

Meu olhar sem retina, boca desdentada
neste conto sem fada, música sem nota,
galhos nus esperando pela primavera,
uma gota sonhando ser o mar aberto...
Sou tomada inativa na parede velha,
borboleta no asfalto; garça no metrô;
cigana sem tarô, sou manequim despido
na vidraça da loja que foi à falência...
Navio na Saara, rosa no granito,
grito que se acoberta no lençol da noite,
quando nenhum ouvido fica de plantão...
És o sol da manhã que nunca mais nasceu,
meu sapato na moda quando falta o pé,
minha fé sem um credo que rabisque um deus...

COISAS DO EGO

Às vezes dá pra entender, quando o sucesso sobre à cabeça de alguém, de forma devastadora. Se é de fato sucesso, fica meio difícil "segurar a onda" que faz das suas, resultando a guinada vertiginosa da rotina desse alguém. A mudança repentina de vida, o redemoinho que sacode a realidade e pega os sonhos de surpresa dão a todo o cenário repentino esse toque sensacionalista que põe o felizardo incauto nas nuvens.
Para uns, trata-se apenas de um susto inicial. Eles vencem a tempestade que entontece os egos, após caírem na armadilha da arrogância, do deslumbramento e de outras bobagens da vaidade humana. Cedo ou tarde, mas ainda em tempo, terminam despertando para o fato de que ainda são mortais: Sentem dores; envelhecem; defecam; amam; desamam; são amados e desamados, por sua humanidade. Já outros, acabam não absorvendo a vertigem e perdendo a razão. Enlouquecem, porque a pancada sobre a fraqueza emocional e de caráter é bem maior do que podem suportar. Mesmo assim é compreensível, dadas as proporções e dosagens.
O que não dá pra entender é quando o sucesso não é tão sucesso assim, e surte o mesmo efeito devastador no ego de um pobre infeliz. Um belo dia ele se vê enredado pelos barulhentos quinze minutos de fama, começa a arrotar odores de quem chegou ao zênite, culminando em acreditar nisto. Geralmente, o sujeito assume ares de galinho de briga em rinha de luxo, e começa a posar para fotos com celebridades das quais se aproxima a todo o custo. Tem frases do tipo "é de gente assim que devemos estar perto, e não de gente que não tem nada a oferecer", e se torna intratável com os companheiros do tempo das "vacas magras"... Os tais que "não têm nada a oferecer".
Agradável mesmo é saber que existem pessoas maiores que tudo isso. Capazes de transitar entre a  fama e o anonimato, o sucesso e a decadência, o glamur e a modéstia com a mesma serenidade. São indivíduos cuja grandeza de espírito e caráter não os deixa perder o equilíbrio, o bom senso, a consciência de que a vida é uma constante surpresa e, principalmente, as referências pessoais: Aquelas que envolvem entre outras coisas, os amigos que só dispõem mesmo de amizade.
Gente é, na verdade, algo indecifrável. Tem um código de atitudes e valores lamentavelmente mutável, na maioria das vezes. Os verdadeiros heróis da resistência não são aqueles que resistem ao mundo e suas variações ou altos e baixos. São, sim, aqueles indivíduos que resistem a si mesmos e aos seus impulsos, deslumbramentos, arroubos e acelerações do ego, ao ser inflado.

PELO RECOMEÇO

Apesar de quem sou e da história que arrasto,
das feridas expostas e o cheiro de abismo,
do sentido que nada parece fazer
quando chego e confesso buscar sentimento...
Trago boas verdades em sonhos imersas,
esperanças que arranco nem sei de que chão,
para ver se consigo modesta barganha
com quem valha o que sobra do quanto perdi...
Minha entrega seria uma prece contrita,
um louvor irrestrito, profunda oblação,
como grita o silêncio exigindo que faça...
Vou à caça de alguma emoção desarmada,
porque sei que só posso começar de novo
desse nada que nada parece apontar...

SENTIMENTO IMPROBO

Uma vida restante não paga o momento
tresloucado, impulsivo, de pouca razão,
nem as grandes verdades resgatam no vento
uma fase perdida em alguma ilusão...

Chovem anos de angústias e de solidão
sobre o gesto impensado pelo sentimento;
cresce a dor da certeza de não ter perdão
e viver sob o jugo desse julgamento...

Minha vida presente ao passado está presa;
velhas cartas-cobrança não saem da mesa;
o verdugo me aguarda lá no cadafalso...

É bem cedo e me curvo prá hora tardia,
este mundo é pequeno pra quem algum dia
foi flagrado e traído por um passo em falso...

FARTURA DOS FARTOS

Da miséria se forma o comboio dos males
que devastam, dizimam, não deixam viver
quem não sabe o caminho das portas abertas
ou pra quem essas portas jamais se abrirão...
Entretanto põe verbo nas pautas da mídia,
nas externas sessões que se nutrem da mesma
onde mora o poder que só sabe de si
e da verba das ongs que sabem do jogo...
É por isto que a fome não pode acabar;
porque dela depende a fartura dos fartos,
nesse jogo em que apostam com vidas alheias...
Os projetos de paz que dão voto e prestígio
morreriam no ponto em que a paz fosse plena
e ninguém precisasse da pena de alguém...

VERSOS ANTI-TORNEIOS

Nunca tenho essas ânsias do verso extremado
que arrebata platéias e arranca suspiros,
vai ao zênite, ao poço, e comove ou assusta
ou nos custa entender que um mortal o compôs...
Meu poema é pequeno e de pouco rompante,
não lamenta, protesta, enaltece ou derrama
o melado agridoce das paixões pungentes,
os apelos urgentes de amor ou civismo...
Na verdade nem sei por que às vezes permito
aos meus versos insossos a busca vulgar
de lugar destacado em torneios "diversos"...
É que sempre componho com letras tão sóbrias,
que não sobra quem queira beber no remanso
do poema sem ranço, pimenta e mostarda...

QUASE FIM

Sei notar quando a fruta perde o sumo;
conhecer uma fonte que definha;
meu olhar antecipa o fim da linha
pra fazer a ilusão mudar de rumo...

Já não vejo mais polpa nesta pinha;
nosso vício precisa doutro fumo;
veja como esta casa está sem prumo;
foi um lar, mas o tempo a tornou rinha...

Cada dia conspira contra o conto
que por anos voláteis foi de fada,
mas agora caminha pro seu ponto...

No juízo final da realidade
vejo tudo que resta; não foi nada;
pra ser franco, nem flanco de saudade...

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A CARA DO FIM


Pela vida se espalham pedaços de nós
numa saga mutável, sem rumos precisos,
nosso tempo é ferida que sangra sem fim
e desfaz o sentido que o mundo simula...
Este adeus é mais um, foram tantos outrora,
já nem há por que chore, que lágrimas tenha
pra verter no vazio que agora se faz,
pra regar nostalgias; canteiros da dor...
Uma idade abastada não basta pra tudo
que nos cabe aprender para sermos felizes,
para sermos completos e donos da sina...
Tudo ensina demais e sabemos tão nada,
como sei que não sei do que faço de mim
ante a cara do fim de mais uma ilusão...

NA MESMA MEDIDA


Também sei desamar, desistir, devolver
o demérito, a neve, a frieza no olhar,
sei viver na penumbra, no vácuo, no vão,
sem sentir solidão, sem julgar o meu fim...
Quem quiser meu açúcar, terá de extrair;
antes disto sou cana e dou certo labor;
quem depois me trair só terá mau agouro,
ao trocar o sabor, para ser de amargar...
Venha dar e ter tudo que um laço permita,
minha carne já grita e meu íntimo clama
pela cama e porcerto por todos os dons...
Entretanto é preciso estender este alerta
de que tenho as respostas de cunho padrão;
sou ladrão de atitudes que um dia devolvo...

AOS TRAÍDOS

Um aviso aos traídos: Beber, às vezes distrai... Mas nunca destrai.

DO POETA E O POETAR

São muitas as vezes em que o poeta sente apenas para compor, e logo depois "dessente". Mesmo assim é sincero no que escreve... Mesmo assim a su´alma está em cada verso.

DE SEGUIR


É no fundo silêncio de minha verdade
que o passado se arvora, não e deixa em paz;
pondo a dor indizível de velha saudade,
recompõe cada história que penso que jaz...

Mastigando o sentido que tudo não faz,
vou levando esta carga; forjando a vontade;
quanto mais me projeto mais fico pra trás
e percebo que vivo do todo a metade...

Neste abismo insondável de minha existência,
caso exista esperança, não tem consistência;
sempre dura bem menos que um balão de gás...

As lembranças são pulgas nos pêlos da idade,
prosseguir é pirraça de alguma vaidade
que me toma de assalto, relance fugaz...

DE AMOR E TRABALHO

Está certo; quem trabalha deve ser bem remunerado... Mas ninguém suprirá, em espécie, o amor que muitos não têm pelo que fazem.

INFUSÃO


Sei sentir no silêncio e gritar sem quebrá-lo,
ter na dor minha prova de acomodação,
transformar em ação completamente oposta
os desejos que a ética deplora n´alma...
Sou exímio nas fugas do que julgo improbo,
viro lobo feroz contra os próprios instintos
e devoro as entranhas dos meus sentimentos,
pra depois digeri-los a salvo de mim...
Aprendi a chorar o que a outrens faria;
foi um longo percurso do qual me retrato;
romaria tirana de pessoa só...
Hoje tranco as paixões numa jaula profunda,
pra ninguém se ferir do furor que as envolve;
que se auto resolve na sua infusão...

terça-feira, 22 de novembro de 2011

UM AMOR DIFERENTE


Meu abraço te aguarda, esse abraço é só teu,
ninguém mais o preenche nos seus pormenores,
nos detalhes exatos do amor que te amolda
pra caber no aconchego deste sentimento...
Um abraço macio, aveludando a espera,
que se mune de beijos e afagos risonhos,
de levezas e sonhos que ninguém explica
se não for elas raias da pureza plena...
As palavras que tenho guardadas no abraço,
na magia do quanto me guardo prá hora
serão ditas na força de um fundo silêncio...
Nesse nada dizer soprarei minha vida
no segredo só nosso, que nada esquadrinha,
pelo raro sentido que o mundo ignora...

LAÇO COMPULSÓRIO


A mentira está posta e ninguém a desfaz
na carência ostensiva que um lado confessa;
se alguém vive a paixão, nesse tempo alguém jaz,
e pra um pouco importa, mas outro tem pressa...

Uma dor escondida no grau da compressa
faz quem ama louvar e fingir qualquer paz;
quem simula querer e ao seu ego atravessa,
se acomoda infeliz e se deixa pra trás...

O real é que os dois, cada um do seu jeito,
quer forjar nessa história o romance perfeito,
desenhar primavera sob folhas mortas...

Levam olhos fechados prá cara do adeus
e procuram fazer como dizem que um deus;
escrever tudo certo, mas por linhas tortas...

AMOR DELINQUENTE


Acho em ti minha toca, meu bando ou covil,
sem temer as batidas afoitas da "lei";
se corrompo elementos da verdade alheia,
faço a minha verdade valer para nós...
Traficando quimeras do meu pro teu mundo,
te vicio, alicio, transformo em meu bonde,
nem perguntas aonde, levas minhas cargas
e me serves; amargas; penas meus desmandos...
És meu crime ou resumo da boca-do-lixo,
minha falta de senso, razão, probidade
com que ponha limite ao que faço contigo...
Cato em mim cada lâmina, caco, navalha,
pra render o destino, por falha da vida,
quando chego a pensar que naceste pra outro...

APTIDÃO


Precisamos querer com vontade profunda
o que temos em mãos como dom de viver,
pela dádiva em si; não por seus resultados
premiando em nós mesmos a sua vertente...
É quem ama o que faz que produz os prodígios
duma paz natural mesmo dentro da guerra,
de fazer com que a terra se torne habitável,
por vital esperança de um tempo melhor...
Só quem preza o labor apesar da injustiça,
quer fazer o melhor, apesar do salário;
saberá ser feliz sem calar a revolta...
Os que sabem chorar se banhando em ação,
sem ferir a missão de vingança torcida,
terão sempre da vida o sentido mais amplo...

DESPOJADO


Menosprezo troféus; minha estante é de livros,
nas paredes da casa não guardo comendas
nem lembranças de quando superei alguém;
não nasci pra vencer, mas pra viver em paz...
Dos jornais que algum dia narraram meus feitos,
nunca tive notícias, embrulharam ovos
logo após serem lidos por minha frieza;
minha mesa de centro não lhes deu repouso...
Meus escritos ocupam janelas de mídia
para serem do mundo, e se levam meu nome
é pra terem registro, identidade, berço...
Faço pouco do muito que a todos encanta,
reneguei os crachás ou a carga dos cargos,
pois nasci pra morrer e não inchar a história...

SOLIDÃO


Quando a lua perfura o telhado precário
do meu quarto espremido entre livros e tralhas,
minhas falhas de afeto se banham nos fios
de silêncio e segredo firmados por nós...
Deixo a noite sonhar no meu sono perdido,
misturar-se aos mistérios que rondam lá fora,
faço a hora pousar nos meus olhos de prata
que refletem os raios filtrados nas frestas...
Solidão, ócio d´alma, sentidos em flor,
nostalgia profunda em noite confidente
acentua em meu ente lembranças antigas...
Na friagem que a lua envelopa e remete
com frieza implacável, dura frialdade,
tremo de saudade na geleira da cama...

SUTURA


Que ninguém nos impeça de cumprir a sina
desenhada na força de nossos sentidos;
vendaval não me assusta, pois ele tem crina
e conhece os caminhos de sonhos perdidos...

Justo contra a corrente é que se vai à mina
em que tantos ensejos foram desmentidos;
se soubermos nascer onde a vida termina
voltaremos aos elos que foram perdidos...

Emoções reformadas, almas recompostas,
uniremos os fios de nossas respostas
pro passado ferido, quase que de morte...

Retornando às raízes do que agora somos,
poderemos enfim reflorir e dar pomos;
onde houver sangramento suturar o corte...

POESIA


Vens pra mim como a pétala que o rio traz
na manhã mansa e doce, num banho silente,
sopra em mim tua essência, perfume de paz
e minh´alma se filtra nos poros da mente...

Cais de leve ao encontro do sonho dormente
que de novo acredita e por isto se apraz,
tens na vinda essa valsa de brisa inocente
levitando na estrada uma pluma que jaz...

Quando chegas em mim és batismo de cores,
és orvalho vital na candura das flores
ou canção de ninar irrigando meu ego...

Sei que vens, ao sentir com profunda leveza
meu olhar se vestir de candura e beleza
e de amor em arranjos que ao teu peito entrego...

MUSA-MOR


Dos poemas que faço, os mais doces são seus;
os que fluem perfumes de flores silvestres,
têm o manso frescor de brisa matutina,
que passeia na crina de livre alazão...
São poemas melados, de lamber nos dedos,
de correr entre o peito e lambuzar a blusa,
como quem chupa manga ou devora um caqui (...);
minha musa é mistura de muitos sabores...
Com poções e magias que a vida reserva
para os temas de amor mais sensíveis e sãos,
alimenta os meus vãos e me faz renascer...
Dos motivos diversos, de versos florais,
você tem o que mais me compõe pra compor,
pois é flor na qual sorvo a melhor das essências...

PUNIÇÃO


Ser amado, em meu caso, não faz bem ao ego;
esse afago me arranha e causa desencanto;
seu abraço é de cruz e seu beijo tem prego,
e me punem se falta resposta pra tanto...

Quando choro em silêncio lamento o seu pranto;
ser amado, em meu caso, é ficar tonto e cego,
pois me fere não ter o propício acalanto
para dar a quem devo, a paixão que sonego...

Gostaria de achar, bem profundo em meu ser,
o calor com que desse pra corresponder
ao amor que me amarra, exagera e faz cena...

Bem querer nuclear, coação instintiva
de quem morre por mim, pra cuidar que não viva;
ser amado, em meu caso, é cumprir uma pena...

ÁGIO DO TEMPO


Um adeus hoje atado nas cordas vocais;
uma cruz n´ombro d´alma rumando ao destino;
meu olhar raso d´água escondendo a salmoura;
minha mente acordando prá crua verdade...
Coração de profeta pressente o futuro
e já faz o meu corpo amargar solidão,
reconheço esta cena que a vida reprisa
propagando esse filme de sessões infindas...
Mais um cerco se fecha na minha quimera,
novo ciclo envelhece no mundo real
que belisca o meu sonho que arregala os olhos...
Prontidão de quem sabe que tem que sofrer
pra pagar com tal ágio, porque foi feliz
por um laivo de trégua que o tempo assentiu...

O TROCO


Pintarei um  sorriso na flor dos meus traços
para ver até quando me faço crer nisto;
comporei um caminho na sola dos passos,
dando à minha esperança verdor jamais visto...

Nunca mais deixarei que me façam de Cristo;
só por sonhos possíveis abrirei meus braços;
abro mão do calvário, da cruz e do misto
de verdades falidas, honrosos fracassos...

Neste caso a mentira me soa bem posta
e viver se converte num lance de aposta,
já cansei de fugir do que sempre me assalta...

Como tua chantagem vive dando as cartas,
ao invés de assumir que de fato me fartas
vou te usar simulando que me fazes falta...

MENTIRAS


Veja na despensa o que a mídia divulga;
sinta nas compras a mentira da imprensa
e nos juros do banco a má fé do ministro...

ACOMODAÇÃO SOCIAL

Levantar os tapetes trará frustração. É melhor aceitar as bravatas de ofício, para ceder, comovido, às versões populistas de país do futuro... Sempre do futuro.

CONTENTO INFELIZ


Hoje a fome de muitos dá "graças a deus"
pela bênção do incêndio no supermercado;
a tragédia de poucos é júbilo e festa
desta gente que veio cavar os escombros...
Pouco importa se as peças de queijo e salame
terão fungos, carbono, quiçá radiação;
se carregam mau cheiro de corpos queimados
ou se muitos terão de apanhar da polícia...
Rendem graças ao "pai" ou ao Nero divino,
pelo curto-circuito providencial;
graças pelas desgraças que tapeiam outras...
Um garimpo macabro celebrando as mortes
com que vidas marcadas ganham mais um dia
de miséria risonha; contento infeliz...

CULPA DO AFETO


Ela veio de além do que sonhei;
trouxe lei de completa servidão;
fez meu mundo entender que já não gira
sem a luz do seu sol pra me guiar...
Veio plena de si, roubou meu ego;
trouxe o prego restante, crucial,
pra eu ter finalmente a minha cruz;
via-crúcis por culpa deste afeto...
Minha vida fluiu quando ela veio;
era meio, alcancei a plenitude;
comecei a querer sair da sombra...
Mas a minha emoção se tornou vício,
sinto a veia gritar por overdose;
sou inseto retido em sua teia... 

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

CONTO FINAL


Amanhã, nesta hora, te amarei bem menos,
porque minha cabeça reclama o comando,
quer que tire minh´alma da linha-de-frente
para ver se com isto reponho meu brilho...
Bastarei ao que sou, sem sentir solidão,
pois os contos de amores perderam fascínio;
sei que juras precedem seus juros lendários
que nos matam silentes penhorando a vida...
Comecei a ter forças pra me combater
e depois te arrancar do meu chão ressecado;
a partir desta hora me amarei bem mais...
Nunca mais me acharão pra pintar de feliz;
pra voar pelo abismo acreditando em céu,
só pra ter uma queda cada vez maior...