quinta-feira, 28 de março de 2013

COLISÃO CONJUGAL

O amor é o encontro de quem vai com quem vem... depois do encontro, quando ambos ocupam a mesma estrada, ela se torna tão estreita e íntima, que já não existe mão-dupla. Se cada um quiser seguir para um lado, haverá colisão.

segunda-feira, 25 de março de 2013

VOLTANDO A QUERER

Se quiseres voltar ao meu quintal;
resvalar no meu corpo, igual serpente;
lambuzar minha pele de saliva
densa e quente, aromática e viscosa...
Podes vir e trepar neste arvoredo;
no meu tronco suado e nos meus galhos;
desde cedo me acendo pro teu grau,
pro teu jogo de caça e caçadora...
Já guardei minhas folhas na varanda,
para só me vestir de brisa e sombra;
umas frestas de sol, pra temperar...
Não me deixa comigo e a fantasia;
vem aqui rechear este meu vão;
minha mão que te clona em tua falta...

quinta-feira, 21 de março de 2013

NÃO CASA COMIGO

Ela casa comigo igual fé com promessa,
feito queijo com doce, leite com café,
fomos feitos pra nós como a luva prá mão,
a mentira pro chão; a verdade pros olhos...
Temos tudo em comum, somos flor e canteiro,
um é cheiro que flui do sabor que outro tem
ou é bem que se faz por aquele ser bom,
sou pulmão, ela é ar ou quiçá vice-versa...
Hoje caso com ela, é só ela querer,
porque caso com ela igual chá com torrada,
feijoada com samba; pão com mortadela...
Como nada na vida pode ser perfeito,
perfeição é defeito contra o qual não brigo;
ela casa comigo, mas não quer casar...

REFLEXÕES PATERNAS

Confesso que ainda vejo a Nathalia da mesma forma de outrora. Com o mesmo tom de magia sobre as lentes especiais que nascem das lembranças. Para os olhos de minh´alma, ela permanece a criança ingênua escondida, mas com os pés e as tranças de fora... pra eu fingir que não vejo.
                               ...   ...   ...   ...   ...
As estrelas do céu das faces meigas de Júlia empalidecem de sono. São estrelas castanhas, bem castanhas, que se fecham no sono exclusivo da noite. Júlia dorme serena, porque sonhar acordada pesou nas estrelas...

segunda-feira, 18 de março de 2013

OUTRO ADEUS


Hoje não tenho mais aquela tristonha impressão de não ter me deixado esquadrinhar. De não ter sido legível; decifrável; perfeitamente notório, nos contornos de minhas emoções.  Desta vez, tenho certeza de que me lancei nas ondas do oceano revolto, sem nenhuma tempestade pessoal. Tirei todos os panos, mostrei minh´alma inteiramente nua, e também meu corpo... derrubei cada muro; cada segredo; nada ficou velado.
Se me calo de novo e retrocedo, se volto a me fechar no meu mundo e sair do seu alcance, agora venho leve... sinto-me completo e perdoado, certamente não por você, bem sei que não, mas por mim próprio. Sendo assim, este adeus não tem dor... não tem mais. Pode ser tristonho, nostálgico, lamentável pelo que se deixou de viver, mas não doloroso. É que hoje não há remorso. Não há sentimento de culpa. Nem aquela certeza de haver lançado ao vento a sorte que me pertencia e já estava em mãos.
Embora não feliz, estou em paz. É bom voltar a ser meu, me sentir alforriado e ter a velha esperança de ainda sentir um novo afeto. Recompor meu acervo sentimental, para “caçar” de novo. Ser “caçado”. Achar e ser achado nos domínios desta solidão que aprendi a vasculhar como ninguém. Nela me sinto em casa, não tenho pavor do escuro e da sensação de que o vazio embaixo da cama pode me devorar... ainda que possa.

POESIA "DESCOUSIFICADA"


Não empole o poema;
Não existe mais “cousa”...
Um poema se faz
De linhas tênues;
De traços finos;
Palavras achadas
(não rebuscadas)
E de coisas...
De coisas simples...

sexta-feira, 15 de março de 2013

AMOR ORGÂNICO

Hoje falo de amor como nunca falava,
Porque minha cabeça está dentro do peito,
Tem o mesmo compasso do meu coração,
Não deságua num leito de choro e de mel...
Sei amar e sofrer sem que o mundo se acabe
Ou amar e sorrir sem que a vida me cegue,
Açucare o meu sangue, me pegue nas malhas
De uma rede com fios de pura ilusão...
Emoção excessiva derrete a poesia;
Nada pode ser doce ou amargo em excesso;
A beleza está justo na delicadeza...
Minha veia guardava os poemas de amor
Nestes galhos que agora os oferta maduros;
Com sabor natural de propícia estação...

MOLEQUE DE RUA


Uma voz de criança na ginga de adulto;
Esse vulto, esse corpo este cá meio lá;
Ora gente, ora traço no meio de gentes
Cujos olhos o veem sem vê-lo em quem é...
É alguém que ninguém admite que sim,
A não ser que se alastre qual praga nos pelos,
Feito pedras no rim, eritemas na pele
Ou apelos cristãos em estágios de guerra...
Ser humano de cera que a sujeira fez;
Que será que seria se desse pra ser,
Se pudesse crescer e se ajustar ao mundo?
Vi um rato no corpo de moleque arisco,
Um olhar de menino que pede socorro
Sob o gorro encardido na cara de mau...


terça-feira, 12 de março de 2013

ESPERAR É MORRER

Desenhei meu destino enroscado no teu,
costurei minha vida em redor deste sonho
que no fundo é só meu, demorei pra saber
e não sei com que força me livrar do nó...
Construí tal castelo de base abstrata,
mas a sua masmorra se tornou real;
querer bem me fez mal, me condenou à sombra
duma velha saudade que roubou meu sol...
Esperar é morrer; já não sei não fazê-lo;
definhar sob o gelo do que tem que ser,
quando as asas trincadas perderam seu dom...
Minha espera se apaga, tento esperançar
pra passar de passar o meu tempo aqui dentro
e perder esse tempo acreditando em ti...

segunda-feira, 11 de março de 2013

AMOR E MÁGOA

Ela tenta me achar no silêncio das horas,
no raiar da manhã, na canção em seu rádio,
nas amoras que mancham seus lábios sedentos
dos meus beijos que adoçam sua nostalgia...
Também tento encontrá-la nas notas da brisa,
busco a luz de seus olhos no sol que se põe,
tomo banhos de sonhos, mergulho em lembranças
e desminto esperanças que o tempo constrói...
Somos duas saudades que não se confessam,
não se rendem à força dessa procissão
de sentidos, desejos, emoção contida...
Porque temos amor, mas a mágoa sublima,
tudo rima conosco, mas desconstruimos
o poema da vida que nos quer distantes...

terça-feira, 5 de março de 2013

SAMARA DEBUTANTE

Nem criança nem adulta. Samara Debuta. Samara Estagia. Ela paira entre dois mundos e o seu olhar avança para um futuro que se desenha e pede as cores do seu sonho. Da sua esperança. Da sua fé na vida, nas pessoas e no destino.
Já saiu do casulo, ainda não é borboleta, mas reconhece a vida em flor... mede o voo, supõe distâncias, estuda o mundo. Tudo é novo e tem que ser sondado; nada é certo e sugere planos comedidos... investidas delicadas.
Samara vive um momento especial; transformador. Passeia na linha tênue que ainda pinça o real de fantasia. Suspende os sonhos de até então, como se fossem neblinas da manhã, para trocá-los por sonhos práticos e precisos que a idade faz obrigatórios a partir de agora.
Mas a mudança é branda... Samara não tem que abandonar de um ato, a vara de condão. Deve sair lentamente; não saltar do trono. Seu reino espera e não será dissolvido abruptamente. Não é um impeachment; é um ciclo normal... fluência da natureza.
Nessa doce aberturade oceano, Samara escreve no pano da faixa etária um capítulo de renascença. Fecha o diário cor-de-rosa que trouxe até aqui, para renovar os escritos nas folhas do azul-distância que aponta para o futuro.
Parabéns, debutante. Muitos anos a esperam, na construção de sua plenitude... não importa o destino, faça do seu percurso a razão de sua felicidade.

Demétrio Sena, Magé - RJ, 2 de fevereiro de 2013