quinta-feira, 28 de novembro de 2013

MINHA META É A MORFOSE

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Aprecio mais o zíper
do que a calça. 
Gosto mais mais da própria alça
que da caneca.
A soneca me atrai mais
que o sono, em si.
Amo a ideia de que a terra
"transla e rota",
e não amo tanto a terra.
Admiro a cor intensa
que desbota,
e o professor, quando erra.
Sempre fui um desafeto
do sempre ou nunca;
um dia posso não ser.
O tempo voa,
se nasci não foi à toa.
foi pra crescer.
Muito mais do que do ano,
gosto dos meses;
muitas vezes nego a esmo,
mas gosto mesmo
é deste às vezes.
Sou pessoa de gostar
e depois não,
por enquanto estou assim,
porque acho que o começo,
lá pelo meio
tem ou não fim.
...
Aprecio mais a ida
do que o ponto.
Gosto mais de ficar tonto
que alicerçado.
Ir e vir, mudar de rota,
girar em torno,
são escolhas de pessoas.
Não somos broas
que vão ao forno.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

CARÁTER

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Não há caráter à prova de ociosidade. Ociosos permanentes são ou serão mau caráter.

domingo, 24 de novembro de 2013

ADULTERADOS

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Conheço adultos que nunca se dão conta de que a conta está posta, feito promissória vencida. O tempo voa.  Suas loas não pagam mais a vida, nem o mundo circula em seu redor, como antes parecia fazer. Parecia. Não girava. 
São gastos e velhos moços. Meninos e meninas que roem ossos dos dias que já não são seus, nas esquinas cruéis de seus outonos. Eles tanto dão adeus e despacham esses dias, quanto se agarram aos despachos, não querendo ir. Não querendo largar a barra da saia do passado que ainda querem presente. Por isso envelhecem mimados, disfarçam as rugas com gargalhadas postiças, farras forçadas, baladas nas quais são como peixes fora d´água, mas na busca insana de uma inclusão que já não lhes cabe. Cresceram sem crescer, apodrecem nos galhos onde não aceitam ser maduros e formam famílias sem saber por que; pra quê.
E esses adultos que não conseguem acompanhar a idade, de repente abandonam seus rebentos ou agem como se fossem filhos dos próprios filhos. Roubam seus momentos, anos e vidas, e querem que a família faça como o mundo já não faz: gire ao seu redor; viva exclusivamente para eles e satisfaça todos seus caprichos.
Por indiferença ou abandono, este mundo está cheio de crianças que serão adultos que nunca foram crianças... e que por isso, nunca serão adultos... a exemplo dos adultos que agora os adulteram.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

FUGA PRO CÉU

Hoje dá pra sentir que meu corpo é de brisa;
que minh´alma deslisa por dentro e por fora
e meus sonhos têm asas que me levam longe;
muito além de horizontes comuns ao olhar...
Para minha odisseia repouso em meu canto,
minha voz pousa e dorme pra tudo em redor,
meu encanto passeia no cio das cores
e deságua nas flores em sua estação...
Não há nada lá fora, não tenho afazeres
nem existem prazeres que valham lembranças
desse mundo guardado enquanto estou aqui...
Em um doce abandono viajo e não vou,
nesta minha viagem me dou e me tenho,
porque venho pro céu quando fujo pra cá...

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

UM DIA É DO PRÍNCIPE; OUTRO, DA DONZELA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Marinilza, noiva de Armando, era moça romântica e sonhadora... bem ao contrário do noivo atlético e machão, que desperdiçava beleza com a rudez de seus pensamentos expressados a grosso modo. Armando sempre dizia o que pensava (só pensava tolices), e não tinha filtro ao dizer. Como se fosse pouco, destilava zombaria e veneno, toda vez que Marinilza expressava o seu romantismo. 
Um dia, Marinilza disse ao noivo que sempre sonhara com um príncipe montado num cavalo branco. Era um príncipe tão belo e forte quanto ele, mas um príncipe: galanteador, gentil, romântico e disposto a roubá-la. Ele a tomaria nos braços, delicadamente a pousaria em seu cavalo e tomaria rumo ignoto. Para ela, bastaria viver um momento assim, que valeria por todo o sempre. Desnecessário dizer o quanto Armando zombou daquele desejo fantasioso.
Não acredite se não quiser, mas esse dia chegou, para grande surpresa de Marinilza e de todos que acompanhavam a longa e monótona história de seu namoro e noivado: vestido a caráter, cheio de gentileza, galanteios e romantismo, seu belo príncipe surgiu montado num grande cavalo branco e a chamou do portão, com voz potente, porém aveludada. Na mão direita, um mosquete como não se vê a qualquer hora, muito menos em qualquer lugar.
Tímida e com as faces ruborizadas, Marinilza despertou do leve sono da tarde, sem perceber imediatamente o que ocorria. Lá fora, dezenas de pessoas rodeavam aquele príncipe, curiosas e ao mesmo admirando a coragem repentina de tanta exposição por uma donzela. Uma donzela que também teve coragem de chegar ao portão, e sem a menor cerimônia, expressar com sinceridade o seu sentimento:
   - Mas que coisa ridícula... que papelão, hein, Armando!?

OUTRO EU

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Sou avesso às análises humanas;
não me teste pra ver o que acontece;
quem me tece não tece; perde o tempo
que teria pra ter o meu melhor...
Nunca tive lacunas de pôr xis,
meu afeto não dá vestibular,
sua múltipla escolha não procede
nem se há de burlar meu gabarito...
Dou a única escolha de quem quer,
serei mito pra todos os intentos
de moldar o meu éter; minha massa...
Tão apenas me queira e serei seu,
sem a velha trapaça de compor
outro eu; outra face; outra matriz...

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

DELÍCIA E DOR

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Hoje sei como a dor
é prazerosa,
quando meu gemido,
meu choro e meu grito
são tão intensos,
que a carne goza
no buraco negro
de minh´alma...

SUA PRAIA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Se você gosta da Barra
ou adora o Leblon,
Tatajuba ou Guriú,
Pituba ou Farol,
Itapuã ou Pontal...
Curte Copacabana
ou Cabo Frio,
a Praia da Urca
ou a do Pepino...
Se curte as praias do Rio,
do Ceará, da Bahia,
ou além-mar,
para mim pouco importa...
Mas em outro contexto, 
não invente pretexto...
não me cozinhe
nem se traia...
Você terá que saber
qual é sua onda;
seu balneário...
a sua praia...

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

MEU QUERER

Já deixei de querer e me obrigar
a manter o sentido e o sentimento;
era como se amar fosse palavra,
juramento, promessa e promissória...
Hoje quero querer ou não querer,
também ser ou não ser, conforme queira,
ter escolha e deixar que o vento escolha
em que folha; pra onde me arrastar...
Quero até não saber se quero ou não;
quando quero e não quero; jamais ter
uma lei que me obrigue a decidir
entre dar e reter meu coração...

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

PRECISA-SE DE MÃES

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Aprendi com a minha mãe, que todo o cuidado será pouco para um filho, e que por isso, as mães não relaxam. São felizes, podem viver bem, mas não relaxam. Natureza de mãe que tem mesmo natureza não obedece à lei da prática e da serenidade, porque para ela o mundo está sempre a um passo de ruir sobre os ombros do filho. Há sempre alguém muito próximo, e acima de qualquer suspeita, pronto a se revelar capaz de um gesto indigno, malicioso ou desmano contra esse filho.
Com as demais pessoas, aprendi que não é certo a mãe ser extremada, super protetora e desconfiada de todo o mundo. Até  minha mãe reconheceu muitas vezes, com palavras, o quanto estava errada por ser assim. No entanto, sua natureza infalível, com gestos e vivências me fez ver definitivamente que alguma coisa está errada com a mãe que não erra nesse aspecto. Especialmente aquela mãe que se deixa sufocar pela mulher, sempre bem-vinda, mas não como substituta da mãe.
Foi com a minha mãe que aprendi a apostar minha vida no caráter do próximo, mas não a vida de um filho. E que a integridade física do meu rebento precisa depender de mim, dos meus cuidados, minha desconfiança, e não da sorte ou do acaso de outra pessoa ter ou não bom caráter, tanto quanto aprendi que o caráter não tem cara.
Finalmente aprendi, com suas poucas palavras e muitos exemplos, que mãe não tem meio termo. Se não pecar por excesso, pecará por falta de cuidados, e que nos tempos em que vivemos, toda falta será castigada em maior ou menor escala. E também aprendi, com  a moderna escassez de mães iguais à minha, que os pais de agora têm que aprender a ser mães, pois são muitas as mães que se tornaram como aqueles pais meramente provedores que delegam totalmente seus filhos.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

MUNDO PLURAL

Hoje o tempo é meu sócio na vida que levo;
tenho mundo cabível na concha das mãos;
dou aos nãos do que sonho a medida real
do caminho de flores, mas também de farpas...
Não farei latifúndio do espaço excedente,
plantarei onde os olhos, a semente alcançam,
porque gente precisa partilhar o chão
pra fazer o seu campo e trasladar o céu...
Aprendi a ter tudo sem que seja o todo;
que meu tudo é meu algo, basta que me baste
sem desgaste ou batalha de vencer alguém...
Vejo além o bastante pra saber parar
onde o mar adverte que pertence ao peixe;
onde o feixe de sonhos encheu a braçada...

VIAJANTE

A caneta vadia
fugiu da seção
na primeira mão
que lhe pôs os dedos...
Entre bolsos e pastas
de ralés e de castas
viajou tantas milhas,
tantos mares e chãos,
tantas mãos,
tantas ilhas,
cartas e ofícios...
De repente a caneta
peregrina, cigana,
sem clã, sem ninho,
desembarca na beira
desta escrivaninha...
Então acolho, acarinho,
ponho na coleira,
pois daqui por diante
a caneta é minha.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

LAMENTÁVEL CONQUISTA

Passados tantos engenhos
e desempenhos
pra distorcer as verdades,
dizer mentiras reais
e sinceras...
Depois de tantas saídas
por mil tangentes,
com seus ardis emergentes
para se manter
porcamente limpa...
Finalmente me rendo
sem nenhuma esperança,
porque nada restou,
você conquistou
minha desconfiança.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

VOLTA INTERNA

Desisti muitas vezes.
Mas logo depois
decidi que o depois
decide por mim.
Foi aí que voltei
do caos, da sombra,
do próprio fim
traçado e pronto.
Converti muitos pontos
em reticências;
voltei a sorrir;
persisti, desisti
das desistências.




APRENDIZ DE AMAR

Aprendi a lhe amar sem morrer desse fogo,
a querer nos limites da minha razão,
ter a minha ilusão e me manter nos pés
e jogar o seu jogo sem perder pra mim...
Comecei a me amar tanto quanto lhe amo,
na medida em que dou me permito cobrar,
quero ser quando estou, pra me sentir inteiro;
ter o gosto do cheiro que o querer propaga...
Decidi que a paixão pode ser na cabeça,
nem por isso esqueci de guardar coração
pra poder temperar sentimento e sentidos...
A  minh´alma já sabe se vestir do corpo
sem perder a magia de sua nudez
ou a vez de viver o que não se repete...

domingo, 3 de novembro de 2013

SUPER HOMEM SUPERADO

Já parei de parar nessas questões
que não fazem questão de fechamento,
não esperam meu tempo, têm o seu,
e desaguam no azul do céu e o mar...
Corro contra correr atrás do vento
varredor do meu sonho e da esperança,
minha dança deixou de se apressar
ao que nem me permite a intuição...
Pois cansei de passar do meu futuro
quando ainda preciso do presente,
avançar os efeitos da estação
sem poder me cansar do que me cansa...