quinta-feira, 27 de junho de 2013

PRESENÇA PRECOCE

Minha espera te laça e já tem os teus olhos
amarrados aos meus num assombro feliz;
a distância me diz que se rende ao meu sonho,
e derrama o teu cheiro sobre as emoções...
Amarrei a esperança e me disponho ao preço;
ficarei aqui dentro até poder florir,
pra sair de minh´alma e vasculhar a tua;
mergulhar o meu corpo nas águas do teu...
É assim que te aguardo e me guardo bem fundo;
tenho mundo arrumado pra tua chegada,
para ser teu motivo de ficar aqui...
Meu afeto se apronta como se amanhã
for manhã derradeira que dispense as mais;
vou atrás do futuro e te faço presente...

terça-feira, 25 de junho de 2013

DUNA

Há um sonho partido esperando por solda,
uma velha utopia que aguarda remendo,
tem um corpo gemendo no vão de minh´alma
e minh´alma camufla o meu corpo vazio...
Sou avesso, interstício, negativo exposto,
mas o rosto que finge dificulta os olhos;
leva um tempo esquecido em vivências vencidas;
tenho vidas atadas nesta frustração...
Sufoquei a paixão, me permiti morrer
onde ainda podia recompor o mundo,
vim ao fundo e não sei me libertar do poço...
Tem um osso entalado no meio do flanco;
há um branco invencível na minha lacuna;
é a duna que o vento não quer desfazer...

segunda-feira, 24 de junho de 2013

PROTESTO REAL

Se vamos protestar contra injustiças, que tal fazê-lo de forma justa?

AMOR E TRAPAÇA

Há muitos casos em que as relações amorosas se assemelham bastante às trabalhistas. Na maioria das vezes, por exemplo, quem deseja sair de uma relação amorosa faz como aquele trabalhador que já não quer o emprego, mas também não pretende pedir as contas, pois isso lhe privaria de alguns direitos. Sendo assim, ele dá início a uma série de atitudes que o desqualificam como funcionário, mas com os devidos cuidados para garantir uma demissão sem justa causa.
Se formos honestos nos amores, veremos que as nossas desistências são pessoais e intransferíveis. É injusto e covarde conspirarmos para que justamente os alvos dessas desistências, vencidos pelo cansaço as assumam por nós. É como querermos uma indenização pelo abandono qualificado e distorcido. Pela velha esperteza de sermos quem abandona como quem é abandonado, visando lavar as mãos e massagear a consciência.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

PELO HÁBITO DO PROTESTO

A onda de manifestações reivindicatórias que tomaram conta do Brasil, inicialmente por causa de majoração das tarifas de ônibus, depois por causa do custo de vida e da corrupção política entre outros itens, é o que se vê de mais bonito e simbólico nestes últimos anos de muito silêncio. Silêncio de um povo desencantado com tanta injustiça e tanta falta de a quem recorrer, mas também de um poder público podre, sem escrúpulo e totalmente venal, em todas as esferas. Um poder que não tem o que mostrar, muito menos dizer, de proveitoso e confiável.
Apesar dos atos de vandalismo (tão lamentáveis quanto o vandalismo ideológico, econômico e traiçoeiro que os poderes executivo, judiciário e parlamentar cometem diuturnamente contra a população), essa onda precisa virar costume. Ser mais do que uma onda. Temos que adquirir o hábito de reclamar da injustiça, da corrupção, da inflação, o desemprego e tudo que nos revolta. E temos que fazer isso de formas eficientes: com manifestações populares, publicações em pequenas e grandes mídias, cartazes e placas pela cidade... e se a imprensa não quiser nos apoiar, então protestemos contra a imprensa, de tal forma que o nosso poder de grito alcance proporções que assustem os empresários da comunicação e os jornalistas que a compõem.
Não caiamos nas armadilhas montadas para que a sociedade critique a crítica ou se manifeste contra as manifestações, desacreditando a si mesma. São armadilhas de políticos partidários que às vezes articulam as reações adversas para posarem de vítimas do povo, quando na verdade, o povo é sempre a vítima... os algozes são eles. Nem caiamos nas armadilhas dos que tentam nos desarmar com elogios, como fez a presidente Dilma. Como fizeram tantos outros, visando acalmar os ânimos... os bons ânimos da massa que achou a voz e deixou de ser ovelha.
Protestemos contra os políticos, mas também contra os empresários de má fé. Contra o mau atendimento nos serviços público e privado. Contra tudo que nos indigna, constrange ou massacra de alguma forma. Só não sejamos injustos ao protestar. Nem usemos a nossa voz para gritar em vão e cometer velhos atos que depois se voltem contra nós mesmos. Em suma, não imitemos essas figuras ou entidades contra quem protestamos neste momento, por nos fazerem sofrer desde sempre.

DECISÃO DE VIVER

Com seus quase ou pouco mais de setenta anos de idade, o seu Gerson não sossega. Aposentado faz tempo, resolveu trabalhar como pedreiro por sua conta e risco. Na mesma localidade o seu Hélio, também aposentado há muitos anos, decidiu capinar os quintais das redondezas. Inclusive o meu quintal. Não chamo outra pessoa senão o seu Hélio, para dar o tratamento especial que só ele sabe, no meu pedaço de terra. Da mesma forma, o seu Gerson é o meu pedreiro. Neste caso, mais porque aprecio a companhia do que propriamente pela qualidade profissional do seu serviço. Não há nenhuma lambança do seu Gerson que não seja compensada por sua simpatia, uma enorme disposição física, suas gargalhadas sonoras e os causos que me conta.
Em ambos os casos, minha maior alegria é ver grande o prazer e a desenvoltura com que meus vizinhos trabalham tanto, mesmo sem grande necessidade. Já criaram seus filhos, moram em boas casas, têm boas aposentadorias, mas não querem transformar a velhice na espera convencional da morte. Ambos resolveram que ainda estão vivos, e que ter uma ocupação rentável neste momento de suas vidas é o elixir da vontade de viver. Trabalharam anos a fio porque precisavam, mas agora são livres... trabalham porque desejam, porque lhes dá prazer, e porque o trabalho é a grande brincadeira desses dois homens que o bairro inteiro admira.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

TROCANDO EM MIÚDOS

A placa exposta na porta de uma seção interna daquela grande e conceituada empresa determina em letras garrafais: "É expressamente proibida a entrada de pessoas não permitidas". Trocando em miúdos: naquela seção, não pode entrar quem não pode. Só pode quem pode.

PRUDÊNCIA


Mesmo quando sei algo sobre alguma coisa, sei fingir que não sei... acho prudente engambelar a vaidade ou a tolice dos sábios.

terça-feira, 18 de junho de 2013

SONHO QUASE REAL

Ainda suado e ofegante, levantei e fui ver no espelho o meu rosto fogueado. Ver meus olhos acesos de puro espanto, pelo ineditismo de um autoflagrante que me fez volver aos dias verdes de minha vida. Tempo em que os sonhos mais constantes eram quentes; carnais. De uma lascívia que fluidificava os eixos e relevos do corpo tenro, viçoso e recém-descoberto pelos desejos e prazeres ainda misteriosos para tão pouca vivência.
Sonhei conosco mais uma vez. Como tenho sonhado noutras noites, para inquietação dos meus dias de carência, solidão e desejo de viver com você os momentos ardentes que me visitam nas horas silenciosas. Momentos de amor e fogo, erupções de prazer, sensação intensa, paixão desmedida. Meus sentidos e sensações passeiam pelo corpo enquanto durmo, fazendo viver intensamente o que não tenho vivido numa realidade fria e monótona.
Fecho os olhos e você chega. Leve e linda. Traz a boca sedenta, os lábios escarlates e um sorriso ao mesmo tempo manso e despudorado. Beijamo-nos longamente, e nosso beijo é sôfrego. Precipitado. Uma de minhas mãos aperta sua nuca enquanto a outra passeia pelo pescoço, procura as costas, massageia os glúteos e ajeita o corpo, fazendo-o colar mais no meu. Não demora, começo a desnudá-la. Você faz o mesmo comigo. Logo a nudez de nossos corpos é um só volume que resvala sobre um tapete macio, entre sussurros e gemidos que não conseguem formar palavras. Somos massa uniforme de puro êxtase, na busca de um prazer escondido em paióis humanos que há muito pedem para explodir.
Os lábios também visitam a cartografia de nossa pele, percorrendo as curvas; reentrâncias; eixos; altos e baixos relevos. Umedecidos, em ebulição e não cabendo em nós mesmos, de tanto mormaço, finalmente adentramos um ao outro. O encaixe é perfeito, e me sinto romper suavemente a sua fronteira latejante, melada e quente, exercendo o direito de ir e vir com lentidão e leveza. Nesse ponto, já estamos seguros de nossa dança. Do cavalgar um no outro em busca do céu exposto à prece da carne. Do culto à sensualidade, ao ritual sagrado e profano do quanto nos queremos, e com todos os sentidos.
Enlouquecidos, depois de tudo nos derramamos em eflúvios. Éramos rios que se mesclavam, fundindo as águas numa pororoca de gemidos, arquejos, uivos e desmaios breves. Um novelo de sons, um ninho de contorcionismos, uma onda inexplicável de sensações que nos iluminam, criando sulcos de gratidão extasiada em rostos febris. Rostos que mal começaram a repousar e o dia chegou, despertando a carcaça deserta e solitária de quem queria ficar no sonho, para ficar eternamente assim com você.

POEMA ESPECIAL

Hoje venho rimar amor com dor
e falar do condor, da cotovia,
escrever um poema com poesia
pra matar imortais, de tanta inveja...
Quero rimas bem pobres, porém ricas
em verdade, sentido e sentimento,
abstrata e no entanto com cimento;
rio fundo e piscina que dá pé...
Ao fazer um poema por fazer,
mesmo assim acertar nas emoções,
vim aqui desfazer um preconceito...
Não existe poema com defeito,
pé quebrado, asa torta, menos verso;
universo é junção de vários mundo...

IGUAL CAFÉ


Quem quiser me tomar,
que tome agora
enquanto nada é passado...
Se me deixa esfriar,
me jogue fora;
sou horrível requentado...

segunda-feira, 17 de junho de 2013

CARTA DE AMOR


ESTAR OU SER FELIZ

Ter um porto inseguro, mas um porto;
amar torto; no entanto, amar de fato,
sem saber até quando; só saber
que o melhor do futuro está presente...
cada dia se faça um infinito,
seja um mito imortal até que passe,
torne o sonho possível por ser sonho
ao alcance dos olhos e das mãos...
Hei de ser um oásis no teu ermo,
mas havendo esperança irei além;
quero ir pro que vem ao meu encontro...
Se o encontro for mera colisão,
louvarei a ilusão de ser feliz
pelo menos enquanto possa estar...

sexta-feira, 14 de junho de 2013

PRA QUEM TRAI

Quem acena desagua e desafoga
sua essência encharcada e pesarosa,
tem a rosa dos ventos aos seus pés
e se joga nas águas do futuro...
Ao que parte se oferta o novo sonho,
dor de parto é sentir essa partida,
pois a vida pertence aos que se movem
ou demovem distâncias; horizontes...
É mais duro vencer uma saudade
que se planta no chão daquela mágoa
duma velha verdade confirmada...
Uma cica revela entre a saliva;
pra quem vai é melhor que pra quem fica;
tudo fica explicável pra quem trai...

FOBIA GLOBAL

A homofobia é inaceitável na sociedade contemporânea. A heterofobia também. Principalmente quando a fobia é tanta, que faz um poderoso veículo de comunicação em massa impor sistemática, forçosa e ostensivamente uma conversão global.
Só haverá respeito mútuo entre as diferenças de natureza sexual, econômica, religiosa, étnica e todas mais, quando a ética pontuar essas diferenças. E a ética perde força e autenticidade onde gritam a pregação truculenta; o poder de coação e constrangimento; a martelação renitente.
Sermos autênticos é simplesmente sermos quem somos. É aceitarmos o próximo tanto quanto queremos que o próximo nos aceite sem a exigência de sermos o seu reflexo. Sem nos aproveitarmos de ferramentas ou dispositivos que nos dão vantagem, para nos impormos como superiores. Padrões a serem obrigatoriamente clonados.
Neste contexto, ninguém se faz respeitar "virando a mesa"; invertendo a realidade; revertendo a fobia, o conceito e o preconceito... distorcendo a discriminação.
Temos que acabar com a intolerância; o banimento; a exclusão; a forçação de guetos... acabar. Não trocar de lado.
Ao invés de propor o fim da homofobia, do preconceito étnico e da intolerância religiosa, sem citarmos outras vertentes, os grandes órgãos de mídia impõem permutas... revanches... viradas...

quinta-feira, 13 de junho de 2013

A HOMENAGEM

Perguntei ao espelho com que roupa iria, vacilei, mas fui. Cabelos longos e mal cuidados, camisa e calça puídas, tênis roto. Eu era somente um garoto ingênuo, das ruas, com milhares de poemas misturados às caspas entre a cabeleira. Mesmo assim dona Janete, a diretora daquela escola pública estadual resolveu me homenagear publicamente por causa dos meus poemas.
Quando cheguei ao auditório, dezenas de alunos do então segundo grau me aguardavam atenciosos, tendo à frente uma grande mesa forrada com um pano branco. Atrás da mesa, vários assentos dispostos formalmente. Um deles, em destaque, fora preparado carinhosamente para mim.
Seguiram-se as palavras de apreciação da dona Janete, mais alguns professores, depois comecei a recitar poemas. Sempre tive facilidade para decorar textos, mesmo sem tentar. Quando leio ou escrevo algum que me agrada muito, acabo decorando e não sei como. Acho que fica em minha mente, feito memória fotográfica.
Foi meio a contragosto que me deixei levar ao evento. Sempre fui muito encabulado para homenagens. Acho exageradas as palavras de apreciação. Parece que os homenageados são pessoas de outro mundo. No entanto, como se gosta muito de homenagear famosos, influentes e ricos, vi que aquela homenagem era sincera, pois eu não era, como não sou nem pretendo ser famoso, influente ou rico.
Depois do recital, o momento: a medalha, o discurso, flores, coquetel... ganhei sorrisos, abraços, olhares e aplausos. Com o decorrer de tudo fiquei à vontade, pois as pessoas da plateia eram tão simples como eu, e porque tive a chance de me juntar a elas para mostrar que não era um ídolo.
Ao longo da vida, como escritor de pouca venda e sem grandes mídias, não tive muitas homenagens. Nem quero tê-las formalmente, porque já me sinto bastante homenageado com os poucos leitores e as muitas amizades que tenho. Mas devo confessar que aquela homenagem simples, despretensiosa e sincera de uma educadora capaz de ver além das aparências, do que veste ou paramenta uma pessoa, nunca saiu do meu coração.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

A ESTRADA, O MENINO E O ANJO

Aquela moça bonita surgia do nada, pedalando cheia de graça uma bicicleta que só não era mais graciosa do que a ciclista. O menino cabeludo e maltrapilho ficava incrédulo, quando ela parava ao seu lado e dizia, com um sorriso meigo: “vamos; querido”.
O caminho era longo, e ambos não conversavam. Era só uma carona. Um ato solidário. A moça pedalava e o menino ia em silêncio, sem olhar a paisagem do trajeto. Refletia, em seu âmago, sobre o gesto inusitado; que permaneceu inusitado pelos dez ou onze meses de reincidência. No mais, ele só admirava o frescor e a delicadeza; a leveza e o charme; a beleza e a simpatia da moça cujo nome jamais soube. Admirava também a elegância de suas pedaladas... apenas isso... só isso tudo.
Aquelas tardinhas em que o menino cabeludo e maltrapilho; sujo e cansado; tímido e sem perspectiva ganhava de presente a companhia de um anjo na volta para casa, nunca foram esquecidas. Agora mesmo, aquele menino que hoje passa da meia idade, já viveu quase tudo e driblou a não perspectiva, relembra cheio de ternura os momentos mágicos que viveu naqueles meses. Mágicos, pelo gesto raro; pela simbologia; por aquele oásis de humanismo no deserto frio de uma sociedade preconceituosa e cheia de medos egoístas, pelos quais tenta justificar a frieza.
Com toda minha penúria naqueles anos difíceis de atravessar, tive momentos ricos. Muito ricos. Que fizeram a vida valer a pena. Que me fizeram ver que o mundo é bom, porque tem pessoas como a moça bonita, que hoje nem sei se era bonita conforme os padrões da moda, mas aos meus olhos, sim. Ser amável, generosa, desarmada e simples a tornava irresistivelmente linda.
Sejamos, de alguma forma, os moços ou as moças bonitas de algum momento na trajetória de quem precisa de um gesto; de uma palavra; um olhar; uma gentileza; um socorro. 

quinta-feira, 6 de junho de 2013

ESPERANÇA

AMOR E OFÍCIO

Meu ofício é meu ócio;
meu lazer.
Trabalhar é o prazer
desse mistério
de brincar de sério.
De fazer de conta
que faço o que faço.
Eis meu ócio, esse ofício,
sacrifício sem sacrifício;
trabalho e loa...
Vida boa.
Boa lida...
Meu ofício é meu ócio,
meu sócio,
minha padaria...
Galho e ninho,
meu pão e meu vinho
de cada dia.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

MENTIRAS SINCERAS

Algumas verdades, de tão fantásticas que são, têm todos os ingredientes de uma mentira engenhosa; o que torna melhor não dizê-las, sob pena de não alcançar o menor crédito. Nestes casos, recomenda-se justamente a tal mentira engenhosa, que tem todos os ingredientes das verdades fantásticas; o que a torna um santo remédio para os ouvidos de quem não só quer, como precisa ouvi-la.

PASSADO

Passa da hora de você descer do seu sonho de seguir comigo. Não adie mais esse desembarque, porque no fundo, já nos deixamos mesmo no meio da estrada. Estique os olhos e veja o nada que aponta pra nenhum horizonte ao abrigo do tempo que se desintegra.
Reconheça de uma vez por todas, que a vida não nos reconheceu e que não nos cabe no espaço de um ideal em comum. Sua prece pelo retorno do que se foi não encontra o caminho para o céu. Nosso sal não foi feito pra ser da mesma terra.
Destoa dos nossos corações, esperar que o futuro nos conserte para devolver um ao outro. Deixe de ocupar seu tempo na ilusão de um ontem que pode ser amanhã. Se ainda nos olhamos, faz tempo que nos perdemos de vista. Somos miragem mútua.
Nossas filas andaram para rumos opostos. Nossos portos seguros naufragaram no mar de uma relação que perdeu sentido. Apesar da presença, ou da miragem, somos prazo expirado... tudo em nós é vencido... é passado.

terça-feira, 4 de junho de 2013

POETA LIVRE

Não quero ser um poeta
de coroa e castelo;
de muralhas e medos;
de trono e de cetro...
Nem quero ter meus poemas,
meus temas, enredos,
a minh´alma e meus dedos
aprovados pelo INMETRO...

segunda-feira, 3 de junho de 2013

DE VIDAS PASSADAS

Somos um que não deixa de ser esses dois,
o depois que se apressa e continua longe,
mas de perto; bem perto; quase que de dentro,
pois nos faz este centro de nossas miragens...
Temos esse aconchego de amigos amantes;
algo mais, mas que sempre deixamos por menos;
um amor de mutantes em reinos opostos
que se juntam no eclipse do faz-de-conta...
Nós fazemos amor sem fazermos de fato,
nesse trato notório assinado na pele,
respingando na entranha; nos recantos d´alma...
O que somos não somos e nunca deixamos
de saber como somos tal densa mistura;
cromossomos fundidos por vidas passadas...

sábado, 1 de junho de 2013

AMOR DE BRINQUEDO

Quando brincavas,
sem segredo,
com a minha paixão;
meu amor;
meu ombro amigo...
Fui aluno exemplar
de brincar
do teu brinquedo
de brincar comigo...

AMAR OU LATIR


Muitas vezes pensei em suprimir a voz,
em calar a caneta e me cegar de vez,
estancar minha foz de manifestações
e contar até dez; até cem ou sem fim...
Mas o cio do sonho de um tempo melhor
sempre fala mais alto, injeta em minha veia
uma força maior do que o temor de tudo;
faz romper essa teia de acomodação...
É assim que misturo as escritas de amor
com as farpas de humor entre azedo e cortante;
posso amar ou latir pras mazelas da vida...
Meu poema nem sempre sugere poesia,
minha prosa tem dia de todos os dedos
afiarem as unhas pra ferir o mundo...