quinta-feira, 24 de abril de 2014

TIRE A ROUPA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Sempre que tiver chance, fique nu. Não por libido, exibicionismo nem assédio. Qualquer momento de alguém com mais ninguém é uma chance de se livrar dos panos como quem se livra de algemas, aguilhões e rédeas, para circular pela casa, e se possível, pelo quintal. Faça isso feito aquele corcel sem dono que percorre planícies, riachos e descampados, como se o   mundo fosse todo seu e se resumisse ao alcance de seus olhos e sua marcha.
Mostre para si mesmo, sua nudez. Tire a roupa com silêncio de prece; contrição de culto, e renda um louvor ao vento; à boa solidão de quem não quer companhia. Faça da liberdade ou do ato simples de ser quem é, sua grei momentânea; sua fé; seu credo. Saiba que a nudez autentica o ser humano, certifica sua essência e garante a honestidade plena do invólucro. Corpo nu é transparência; vitrine d´alma; expositor de quem veste a pele, tão só a pele, para se harmonizar com a eternidade breve do ambiente propício.
Fique nu pra se ver. Pra se ter. Pra se ler entre as linhas da perfeição de não ser perfeito. De ser perfeito não ser. Sinta o corpo abstrato, apesar de corpo, e su´alma carnal, mesmo que alma. Sinta-se até um pouco Deus, pois se Deus existe, certamente caminha, voa ou paira completamente nu sobre as planícies, os riachos e descampados do suposto paraíso. 

MÃE

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Minha mãe,
que só viveu pra ser mãe,
de corpo, alma, emoção,
foi o pai mais intenso
que toda mãe pode ser...
mas muitas não são.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

POEMA DE PANELA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Ter amor com que teça os meus versos diários
e meus versos diários pra fazer amor,
bom humor pra chorar sem perder o sorriso
que pertence aos meus olhos, apesar da vida...
Igualmente um motor, combustível nos temas
dos quais faço poemas pra poder viver,
como quero aplicar meus poemas nas pedras
das colunas e o piso da casa em que moro...
Apesar da ilusão de qual sempre disponho
ao compor cada sonho sem cair do mundo,
pulo fundo pra fora do lugar-comum...
Cada dia revela que o chão é meu céu;
quero letras cremosas pra passar no pão;
canjiquinha; feijão; torresmo com poesia...

NÓS


sábado, 19 de abril de 2014

MANHÃ

Demétrio Sena, Magé - RJ.

De repente alcanço este sossego de saber quem sou. De saber o que faço e me sentir caber em mim. Chega o tempo em que alcanço meus sonhos e durmo para o medo que sempre tive de saber os mistérios do meu próximo passo. Do pouco além de onde piso.
Faço das verdades que agora me assaltam, meus ases num jogo. Minha pilha, minha fogueira, recarga vital. Razão pela qual sei ganhar mais um dia na roleta ou na mesa das noites. É assim que driblo essa enorme fila de assédios da hora sexta ou tardia. Consegui me alcançar na vertigem das horas, e tão somente pouso em meu colo, para me deixar seguir. Navegar na leveza de não ter mais pressa.
O meu fogo é de lenha, mas de lareira em chalé. Minha paz é de quem é, mas ao mesmo tempo se deixa estar. Hoje fecho meus olhos, abro a minh´alma e sinto este cheiro de manhã que rompe as tardes, vence as noites e continua sendo manhã.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Você tem que ter fé no sorriso de alguém;
numa lágrima; um gesto; palavra; silêncio;
nos efeitos do bem que ter bens não produz,
ou até na passagem da brisa no rosto...
Tenho fé nessa fé dos que têm fé em Deus,
no carinho dos meus, no valor do conselho,
creio sempre no espelho dos olhos sinceros
e na força do sonho; do amor; da verdade...
Nossa vida não vale o percurso no mundo,
quando somos vazios do que nos ampara;
tem um rosto sem cara quem vive sem fé...
A raiz dos meus pés estão firmes no chão,
mas a mão pega céu e modela pra mim;
minha fé no meu fim justifica os começos... 

quinta-feira, 17 de abril de 2014

FEITO CÃO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Aquela família me tratou como se eu fosse um cão miserável; fétido; imundo; sarnento. Elevou minha autoestima, deu-me água e colônia, cuidou de minhas feridas... deu-me amor. Amor verdadeiro. Todo amor que um cão espera do ser humano.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

LADO BOM

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Sob todas as nuvens eivadas de medos,
vou além do que julgo ter forças pra ir;
levo muitos segredos que a vida não abre
nem o vento me deixa intuir ou prever...
Apesar deste peso que às vezes me curva,
tenho sempre desculpas pra querer chegar
ao que nada permite saber o que é,
mas invisto no sonho com fé no depois...
Na manhã que vislumbro a cada dia findo,
ganho novo sentido para mais um dia
que se abre sorrindo e faz valer a pena...
Foi-me dado viver, faço disto meu dom;
lado bom de morrer quando a hora vier,
pois terei uma história pra deixar no tempo.

HIERARQUIA


VENCEDOR


segunda-feira, 14 de abril de 2014

REPOEMA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Já não resta o que dizer
sobre seja lá o que for,
solidão, espinho, flor,
que alguém mais não tenha dito...
Todo mundo já cantou
este mundo em verso e prosa,
o amor, o bege, o rosa
dos quais se pintam palavras...
Mas podemos refazer
a magia do sentido
que redizer já não faz...
A saudade, guerra e paz
se renovam nos engenhos
de remastigar a vida.

RUA MORTA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Minha poça me diz que se tem o momento,
que o passado está fora da linha dos olhos,
pois o vento não volta; só abre caminho
para ventos futuros; eventos recentes...
É de praxe avançar, concluir fase a fase
ou teremos crateras por todo o percurso;
voltaremos do quase pra ponto nenhum
do luar esquecido numa rua morta...
Foi preciso crescer, alcançar minha idade
sobre cada saudade; lembrança; memória ;
cada glória e tropeço que tive até já...
Esta hora se mostra como agora e só;
há um nó que se fecha no retrovisor;
fui criança na infância; não serei agora...

domingo, 13 de abril de 2014

PROFANO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Se não fosse pecado
para os olhos teus,
uma queda nos meus,
tua fé te poupasse
de qualquer vingança...
Meu amor desgarrado
teria um brinquedo,
um instante, um segredo,
uma doce lembrança.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

AMOR SEM FIM

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Terás sempre teu canto nas muitas lembranças,
nas andanças, nos sonhos que sempre terei,
já és ponto firmado no chão de saudades
que as idades semeiam por ordem do tempo...
Saberei te guardar na memória da alma,
te aguardar como chance numa outra vida,
ter a calma dos monges, o recolhimento,
pra que nada interrompa nossa eternidade...
Levarei as imagens de velhas vivências,
reticências, silêncios ou infinitivos,
o poder da esperança que não marca hora...
És o meu exercício de afeto contrito,
minha crença, meu mito, verdade abstrata,
uma data vencida que renovo em mim.

terça-feira, 8 de abril de 2014

A FALSA CORAGEM DOS REBELDES SEM CAUSA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

A face do "Face" virou o QG dos jovens mimados que resolveram se rebelar contra nada, para preencherem equivocadamente os seus egos inflados de vento e suas cabeças vazias de projetos de vida. Patrocinados pela boa vida que seus papais inadvertidamente lhes dão sem cobrar nenhuma responsabilidade ou postura, esses rebeldes sem causa e contexto xingam pessoas de bem; anunciam que soltaram flatos; cometem bullyng; combinam atos de vandalismo e besteiras; poluem de todas as formas esta ou aquela rede social.
Com toda a coragem falsa e fácil de quem está protegido contra o mundo pela barra-da-saia da mamãe ou a posição social - muitas vezes pretensa - do papai, os jovens mimados do "Face" dizem que são independentes. Dizem, mas têm mesada. São presenteados com carros e motos, a depender das notas nos boletins escolares. Ganham casinhas anexas à barra-da-saia de suas casas e morreriam de fome, se ninguém fosse lá nas horas certas para levar seus lanchinhos.
É muito fácil ser jovem raivoso no "Face". Desacatar cidadãos comuns ou zombar de quem cresceu, tanto por fora quanto por dentro. Difícil mesmo é criticar com razão, inteligência e contexto as mazelas do poder público; a corrupção judiciária; o avanço da violência; o machismo; preconceitos. Difícil mesmo, além de corajoso, desafiador e ousado, era ser jovem contestador, inquieto e sedento de cidadania e liberdade, nos duros e tristes anos da ditadura militar.

DO PROTESTO

Demétrio Sena, Magé - RJ.



Só saberá contestar, quem aprender a contextualizar.

AMOR PENDENTE

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Ela só me desenha; nunca pinta e borda;
põe as tintas de volta nos frascos do medo,
quando vê nos meus olhos que a quero e dou corda;
levo a sério seu jogo, topo seu brinquedo.

Mostra quanto me quer, mas retoma o segredo,
se liberto meus bichos; lanço a minha horda;
tem um samba envolvente que foge do enredo
e parece que amar a mutila ou engorda.

Mal me chama resvala pra fugir do eco,
oferece o seu vinho, mas vira o caneco;
põe os olhos no espaço, quando a boca fala.

Chega sempre tão perto, pra ficar deserta;
tem um beijo pendente na boca entreaberta; 
ela tem minha senha; só não sabe usá-la.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

OPERAÇÃO ROUPA NOVA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Sou subitamente repreendido por causa da roupa. Velha e cafona para receber convidados. Tenho roupas melhores para vestir nesta ocasião. Roupas bem melhores. Todos no ambiente querem me ver "bonito", mas dentro destes trajes é um fato impensável.
     - Bote aquela roupa novinha, Demétrio.... você ficou tão bem com ela! Tão... tão... tão bonito!
     Obedeci. Era grande a torcida. Não podia ignorar tantas pessoas esperançosas e otimistas. Tão... tão... tão dotadas de fé na vida e nas pessoas. Até mesmo nesta pessoa.
Vou ao quarto, visto a roupa e me olho no espelho. Meu rosto ainda é meu rosto. Sob os panos, lá estão os mesmos ombros caídos; as costelas expostas. Na direção do estômago, a mesma pequena saliência de cobra que ainda não digeriu o rato.
Tenho pena da roupa nova. Meu silêncio absoluto é simplesmente um pedido interno de perdão, pela sua tarefa ingrata. Sua missão de um milagre que meu simples truque de usá-la não pode operar.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

SÓ SÓ


SONETO DA ILUSÃO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Hoje a minha saudade quer teu eco,
sem o qual reconheço que sou oco;
choro todo meu mar, definho, seco;
perco as folhas; as flores; viro toco...

Pago as penas do amor, mas peço troco;
és meu mundo e só quero ser teu gueto;
sou a boca do estômago, és o soco,
se não surges dos vãos do meu soneto...

E se nem pelo arroubo deste apelo
a saudade puder quebrar teu gelo,
já não sei se meu sonho tem razão...

É preciso acordar uma verdade;
só eu sinto e conservo esta saudade;
meu amor tem a marca da ilusão.

DESPERTAR

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Resolvi esperar que sintas falta,
pode ser que a esperança calcifique,
minha espera suplique o velho passo
que por ser sempre meu é velho e manco...
Mas agora me deixo ser estátua;
pelo menos os pombos pousarão;
ousarão arrulhar sobre meus ombros,
meus escombros, a minha desistência...
Desta feita não vou me convencer
a sonhar por você, querer por nós,
ser a voz que procura no deserto...
Nunca mais guardarei a solidão
numa caixa enganosa que propaga
uma vaga presença como plena...

quarta-feira, 2 de abril de 2014

DENTRO E FORA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Para Nathalia

Tua entranha reluz na vitrine dos olhos,
pois nenhum dentre os olhos ao redor dos teus
terá lente forjada para ver teu mundo;
rasgará vãos e véus pra chegar ao que pensas...
É bem fácil te achar; não exige um garimpo;
sou feliz por quem és tão sem capa e sem show,
porque vou à tu´alma e confirmo teu rosto,
vejo como a verdade combina contigo...
Teu sorriso, teu choro, as demais emoções
têm a tua rubrica, o timbre, a marca d´água,
vêm das tuas razões mais profundas e tuas...
Quando falas te sinto e quando sentes ouço,
como sei que te sei sem temer a surpresa
de baía ou represa que não mostre o fundo...

terça-feira, 1 de abril de 2014

HUMANAMENTE CORRETO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Hoje fico de bem co´a sociedade;
sou amor, natureza e nostalgia;
tenho todas as formas de saudade,
meu poema está cheio de poesia...

Canto a flor, lua cheia, estrela-guia;
solidão, paz e bem, eternidade;
até mesmo a tristeza tem magia
nas veredas da minha humanidade...

Faço as pazes com todos em redor
e me calo, me assumo sonhador,
não importa o que seja realidade...

Quero ver o sorriso puro e são
dos que vivem à flor-do-coração;
hoje fico de bem co´a sociedade...