quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

MULHERES DE "APENAS"

Demétrio Sena, Magé - RJ.

As amélias querem sempre ser lindas para seus homens medonhos. E são, de fato, lindas heroínas para seus heróis de araque. Só elas sabem como cuidar dos descuidos, desleixos e ócios desses machos perdidos em sua macheza.
Elas creem nos deuses que pensam mesmo que têm. Elas querem ser magras, não ter barriga, para impressionar seus bofes obesos ou de estômagos dilatados pelas rodadas de cerveja e petiscos. Elas têm o poder, eles têm a força bruta, e de brutos que são, roubam todo o poder que não lhes pertence.
Fazem tudo por eles; elas são assim mesmo. Dizem sim aos seus sins impostos às não propostas, como também o dizem aos seus nãos, quando são elas que propõem. Na verdade, as amélias não apenas dizem sim... são simplesmente a morada eterna e passiva da profusão de sins incondicionais.
Elas querem seus homens, ainda que não seus, por completo. E os querem presentes, doentes ou sãos, potentes ou não. Elas amam seus príncipes, reis, monstros, duendes ou sapos, como se fossem sempre reis... elas, as súditas... princesas súditas... as amélias.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

DEMÔNIA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Teu semblante me ocupa feito vírus ou germe. Feito verme do espaço. Minhas entranhas te procuram, providas de uma lupa sensorial, mas escapas. Montas uma tocaia eficiente para me fazer escravo. Para me tornar uma cobaia dos teus instintos experimentais.
Ainda não sei me vasculhar por completo nessa busca. Por isso botas teus ovos, tuas larvas, aqueces teu ninho e ficas cada vez mais fértil. Fazes meus sentidos perderem todo o sentido de autodefesa. Por tua causa me traio, me pico, por ser a própria extensão da serpente que sai de ti.
É como se caísse um cisco venenoso em meus olhos. Não vejo mais nada fora de mim. A tua imagem se multiplica em minha mente, como se fosse lêndea... piolho... chato. Meu corpo virou teu antro... minh´alma, o teu inferno incondicional.
Parece que uma espécie de amônia ou enxofre me seduz, fazendo esquecer o resto. E assim largo tudo. E assim te sigo. És a minha demônia ensandecida, que me convence a tomar a cruz do desejo e me render aos excessos desta paixão.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

AMORES AO MEIO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Fui me dando aos pedaços... meio sem querer. Meio todo acanhado. Inteiramente meio. Mas não teve jeito; logo disparei, ao sentir que o coração disparava, depois de tantos cuidados. O freio se gastou e surpreendeu meu pé-ante-pé, justo quando me sentia mais seguro do que não queria.
Foi nesse ponto que se foi a segurança extrema dos meus olhos que abriram janelas falsas pro mundo interior. Aí me fui no silêncio que dizia tudo, e de repente acordei da realidade a cores, onde a dor do afeto não me abocanhava, para o sonho nu e cru do amor... da paixão que me tomou sem medida.
Minh´alma então se abriu como se fosse flor, desmentindo a sobriedade frágil daquele olhar. Daqueles olhos-nos-olhos que já não enganavam meu medo antigo de qualquer afeto. Floresci na flor-da-pele, quando vi que já não podia conter meu fogo nem te apagar dos meus sentidos.
Finalmente me dei por completo. Com todos os escombros que transportava, para um dia me construir de alguma forma. Só não esperava que fosse assim: sobre um sonho guardado na verdade oculta, sem a mínima consciência de que havia um sonho... sonho que já não há, senão na saudade.
Porque será que nos encontramos, tantas e tantas vezes, lá no meio do fim de alguma história? Quase sempre a caminho de uma nova história que pegaremos também lá no fim? Parece que a vida é um bonde que nunca para... quem quiser que o pegue em movimento, e seja o que o destino quiser. 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

CAÇANDO AMOR

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Olha dentro dos olhos de frente pros teus;
não são meus, meu amor; são apenas de alguém
que procuras no tempo; nos olhos; nos corpos;
nas veredas dos rostos que tomas afoita...
Sente bem os carinhos que não te arrebatam;
pensa bem, pois os meus, nunca foram assim;
são carinhos que tentam rechear teu flanco,
porque brincam de mim quando mais me procuras...
Teu melhor me pertence, o teu sempre foi meu;
minha vida se aplica em tua veia exangue;
sou teu mangue; não vivo sem a tua lama...
Olha bem a quem amas com amor qualquer,
um amor desalmado, sem essência e brio
nem aquele arrepio de batismo em fogo...

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

CANTO MÁGICO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Nunca houve um só dia de tristeza
sob as teias nas telhas de amianto,
entre as velhas paredes desbotadas
deste canto que acolhe o nosso afeto...
Sempre temos motivos pra sorrir;
seja destes brinquedos pelo chão,
do calango e do susto em plena sala
ou da mão toda suja de aquarela...
No quintal de areola e mato ralo
feito barba mal feita em rosto agreste;
de arvoredo magrelo e retorcido...
Jamais houve um só dia mal vivido,
menos mágico, leve, sonhador,
e de menos sabor de quero mais...

COMPREENSÃO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Entendi; pra você é tudo ou nada;
Meu carinho maltrata o seu amor,
Minha mão tem que ser o corpo inteiro
Pra que a dor não lhe faça diluir...
O que tenho pra dar é o que não mora
Em alguma saudade que me tem;
Fiquei sem, como posso me doar,
Se me falto e não sei me recompor?
Entendi; você tentou entender,
Ser meu porto sem ter a direção
De minh´alma distante do meu corpo...
Este casco deixou de ser bastante,
Sua estante cansou de me guardar
E sonhar uma história surreal...

sábado, 18 de janeiro de 2014

ÁFRICA


TERMINAL DO INFINITO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Dia desses a gente se recorda;
nossa vida compõe um novo esboço,
mas primeiro te livra dessa corda
que parece apertar o teu pescoço...

Sai do fundo insondável desse poço;
vem aos olhos, te mostra sobre a borda;
cospe a vespa, descome o teu caroço
e me chama no tom de quem acorda...

Tem um tempo esperando pra ser novo,
há um mundo que volta pro seu ovo
como sábia lição de recomeço...

Mas não tarda pra dar o teu sinal,
pois o meu infinito é terminal;
minha espera já quer quebrar o gesso...

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

SER... EIS A QUESTÃO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Não seremos melhores ao mudarmos nossa forma de ser... mas ao mudarmos a forma de ser quem somos. Afinal, trata-se da forma, e não da fôrma de ser.

BOA MORTE

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Viver bem é morrer de velhice... morrer de viver... morrer bem.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

CONFISSÃO DE FÉ

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Creio mesmo num céu que se plante no mundo;
é no fundo que o poço nos revela o mar;
uma fruta estragada nos deixa o caroço
que refaz o pomar, se plantamos de novo...
Sai do ventre do povo a magia do tempo,
só há vida no enquanto, não se vive após,
há em nós toda força que o sonho requer
pra sararmos as almas; morrermos em paz...
Aliás, paz é morte; a certeza final,
conclusão até mesmo das não conclusões,
nossa dor não sentida, razões despojadas...
Tenho fé no poder das pessoas de bem
que mantêm este mundo, engrandecem a vida
sobre toda grandeza dos mitos de fé...

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

RAZÃO DE VIVER

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Sofre dores de amor quem ainda está vivo;
quem assume os perigos de sua existência
tem aquele motivo que mantém a chama
de querer mais um dia, por crer nas manhãs...
Chora mágoas de adeus o semblante sincero
de quem sonha e se doa; mergulha profundo,
traz o mundo no peito e se mantém humano;
colhe flores nas perdas da vida e do tempo...
Tenha sempre a si mesmo, sua identidade,
leve sempre a verdade na sua certeza,
caiba todo no eixo do seu equilíbrio...
Coração e cabeça têm tudo em comum;
sentimentos têm eixo na voz da razão;
o amor é junção do que nos faz viver...

domingo, 12 de janeiro de 2014

AMORES ANTIGOS

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Quase louvo a beleza que leio em teus olhos;
que folheio em teus lábios de sorriso brando,
e de quando me dizes palavras de afeto,
como quem cantarola uma doce canção...
Meio rezo e cultuo, quase dou oferta
para todos os dons que desnovelo em ti,
mas me calo e contenho na face de fora;
se minh´alma te adora, o meu corpo disfarça...
Tens beleza invisível maior que a notória,
tua glória secreta me põe de joelhos;
os espelhos não sabem que alguém é tão bela...
Entretanto és modesta feito flor vulgar;
sei que posso te amar sem antigos temores,
mas amores antigos me armaram assim...

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

ESCLARECIMENTO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

O sujeito enegrecido
conhecia um bom bocado.
Batia bumbo e pandeiro,
tinha dom de curandeiro,
desfazia mau olhado.
Mas um dia ficou besta;
sabichão; bufão; metido.
Ostentou-se até que os seus
foram todos dando adeus
ao sujeito esclarecido.

DA ELITE

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Elite é uma minissociedade de pessoas educadamente mal educadas... gentilmente grosseiras... civilizadamente selvagens.

PARA TUA PAIXÃO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Sei querer sem querer, mas não sei gostar disto;
é um misto insondável de agonia e gozo;
uma glória obscura, paraíso e cruz
ou doença incurável que se faz de cura...
Pode ser que meu corpo se antecipe à alma
e se perca no teu me caçando em arquejos,
pois deseja os desejos que se tem à margem
do sentido real quando tem sentimento...
Cederei ao mormaço da tua paixão;
minha mão já se cansa de me desfraldar
pra erguer uma espada que ninguém mais vê...
Amarei sem amor, mas não amo fazê-lo;
é um gelo de fogo sobre quem me chama
como carta marcada na cama de jogo.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

A IDENTIDADE DA POESIA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Com o tempo, aprendi a trocar torrão por terra. Hoje sei perfeitamente substituir lugubria e desterro pela velha, boa e poética tristeza. Já não vasculho sinônimos rocambolescos (permita o rocambolismo do termo rocambolesco) para rio, serra e céu. Não aplico aparatos desnecessários e bestas na beleza, que se basta e cabe sem aparatos.
Seja na Rocinha, na roça mesmo, no Leme, nos Guetos da Bahia ou em Veneza, o meu poema já sabe como resvalar. Ele não emperra nem gagueja em seu romantismo (seja ou não de amor). Vai do beco sombrio à realeza, sem os recursos do arroubo; da ostentação; da exclamação tripla e do grito de guerra.
Descobri finalmente, que a poesia é o balneário das letras. Dispensa o cultuado rigor do dicionário, seja na trova; no soneto; no verso branco; na prosa poética injustiçada como poesia pelos poetas de arcádias. Escravos da precisão e da obrigatoriedade. Parasitas da burocracia literária, sem a qual não seriam poetas.
A arte maior da poesia está no se fazer sentir com a mente. No se fazer entender com o coração. E nada disso é possível num poema espremido. Forçado. Cuja leitura é maçante. Cuja construção é rigidamente metódica e mais parece uma tese dividida em versos. Uma sólida equação literária.
Qualquer poema é dotado de personalidade, quando flui naturalmente. Quando seu parto é normal. Se a sua construção é livre, ainda que adote normas. Todo bom verso, igualzinho ao ser humano, tem o mesmo valor, ainda que nasça manco. A poesia, por si só, é especial. Não é dotada de necessidades especiais. É especial.

BEM OU MAL

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Já briguei contra o mundo e não deu certo;
fui pregar no deserto e foi a esmo;
provoquei multidões mas deu em nada,
minha voz foi partida em mil silêncios...
Descobri que os vilões não são os outros,
afinal me reprimo além do justo,
pois me veto, me susto, e podo as asas
de voar para fora do meu limbo...
Só depois de me amar tal qual mereço
cobrarei o meu preço ao vasto espelho
da magia do cosmo; do infinito...
Ser feliz é o reflexo do interno;
todo céu, todo inferno que se tem
são do bem ou do mal que nos fazemos...

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

BRIO POPULAR

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Jamais inveje a fortuna questionável daqueles que o despojam. Nem tenha inveja da soja que vinga nos campos de quem rouba terras; dilapida patrimônios; despeja famílias; engana gentes. Quando nada mais tem, você é o dono legítimo das serras azuis entre a cerca dos olhos... e também de oceanos, regatos e céus.
Entendo que os mentirosos, covardes e sonsos também roubam céus; oceanos; regatos... mesmo assim, nunca inveje a riqueza extensa, quiçá infinita, mas que não cobre o buraco igualmente sem fim, dessa gente maldita e sem brilho no rosto. Que não tem o que tem, como pensa ter, e por isso mesmo é vazia; infeliz.
Procure ter certeza de que a sua paz é bem maior que os risos blindados dessas bocarras gosmentas de todos os poderes que lhe oprimem. Sua dignidade pessoal está muito mais bem nutrida que a pança dos que vivem para ter, mas nunca sabem quem são... não se têm; não se cabem; nunca se bastam.
Encontre justamente na sua dignidade, a grande arma contra essa gente que se mascara de gente, de alguns em alguns anos. Você há de achar essa arma e detoná-la sem erro, contra toda a utopia dos que pensam que sempre roubarão seu dom de acordar e fazer jus ao sonho de um mundo melhor para todos.
Existe um brio camuflado em nós. Dormita preguiçosamente, porém existe. Os inimigos da igualdade ou do bem comum não perdem... digo; não ganham por esperar.

domingo, 5 de janeiro de 2014

SOBRE HOMENS DE FESTIM

Demétrio Sena, Magé - RJ.

O que mais caracteriza um homem (não importa sua orientação sexual, mas um homem), é a sua clareza de atitudes. O olhar firme que não foge dos olhos à sua frente numa conversa franca. Conversa franca, aliás, que também é típica do homem.
Um homem quer ou não quer, vai ou não vai, gosta ou não gosta. É ou não é. Não brinca nem joga de ser. Simplesmente é. Completamente é. Tanto é quanto assume, se assume, como sabe respeitar as diferenças que aceita ou não aceita. Caso aceite, lida com elas sem qualquer problema ou crise pontual. Caso não aceite, se afasta em definitivo do portador dessas diferenças. Depois disso, nunca mais o assedia, importuna ou persegue por ele não ter conseguido ser igual. 
E quando já não quer uma relação amorosa, o homem diz, com todos os verbos, que não quer. E diz ao vivo, de forma presente; não por telefonema, carta ou mensagem. Nem mesmo escondido em fotos que ele prega na barra da saia de uma página do Facebook, para fazer entender que não quer. Que já "está em outra" (ou em outro). 
Fazer uma mulher sofrer sem a justa certeza do que está acontecendo não é papel de homem. É papelão de moleque. Daqueles bem covardes, que sempre terão medo das consequências também justas do que fazem a si mesmos e aos outros.
Até mesmo para assumir que não é homem (no contexto sexual da palavra), o homem tem que ser homem (no contexto social da postura e do caráter). Usar uma namorada ou esposa como fachada para não sofrer as retaliações de uma sociedade preconceituosa, é ser pior do que toda essa sociedade, pois além de discriminar a si próprio, faz sofrer uma pessoa sincera e apaixonada, que tem seus erros e falhas, mas é sincera e apaixonada.
Ser homem não é exatamente ser hétero. É não ser etéreo; camuflado; sonso; fugidio. Um gay assumido e de bom caráter, postura sóbria, decente, responsável, é bem mais homem do que esses homens de festim, que não são nem deixam de ser.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

VÍCIO DE CRUZ

Demétrio Sena, Magé - RJ.

É preciso que os dias venham novos,
cada noite nos guarde pra manhã,
que o afã não desgaste a nossa fé
no futuro, no sonho e nas pessoas...
Precisamos nascer da morte lenta
sempre atenta pro tempo que nos resta,
pra que a vida não perca o seu sentido
nem a fresta que filtra sua luz...
Tudo é velho pros olhos que têm sépia;
temos vício de cruz e o mundo pesa
sobre os ombros de quem brinca de Cristo...
Só se pode viver eternamente
quando a nossa coragem eterniza
um olhar, uma brisa, um bom momento...

O QUE SERÁ

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Sendo amor não se guarde nem preserve
a palavra, o calor do sentimento,
faça o vento soprar nos meus ouvidos
o teor do que ferve no seu todo...
Pode ser que não ache o mesmo sonho,
meu amor não comungue o seu contexto,
mas o texto é mais forte que os olhares;
é a voz que desata qualquer nó...
Saberemos de nós ao nos dizermos
e virá tão somente o que viria;
sendo amor não espere uma certeza...
Sangre o dom, a magia de saber,
desnovele o prazer de sim ou não
que liberta e desvenda o que será...

PERFEIÇÃO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

A perfeição não existe para ser alcançada. Só perseguida. Mesmo assim, desistir da perseguição é não viver.