quinta-feira, 29 de maio de 2014

A COPA DO MUNDO E O PODER DO BOICOTE

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Jamais se viu, em toda a história das copas do mundo de futebol, uma proximidade mais melancólica e discreta como esta, no Brasil... e olhe que a copa, este ano, é no Brasil; país de maior tradição no esporte; único pentacampeão mundial.
Isso não é negativo. É algo extremamente positivo e demonstra maturidade popular, neste momento em que o nosso país passa por um momento político e social muito difícil. Convivemos com o retorno da inflação galopante, um histórico de corrupção política, judiciária e policial como jamais se viu, além de uma série de outros desmandos nos mais diversos setores da sociedade. 
O brasileiro ainda é apaixonado por futebol, torce ainda pela seleção brasileira, mas não é mais tão bobo. Já não mistura tanto as coisas e não se deixa enganar tanto pela emoção forjada e com vistas à manipulação, que os órgãos de imprensa ligados ao poder fabricam, de modo a desviar o foco popular dos problemas do país.
Estamos aprendendo a boicotar. A entender, finalmente, o poder imenso do boicote nos grandes e decisivos momentos de nossas cidades, nossos estados e o país. E seremos cada vez mais respeitados, por causa desse poder, se nunca mais o perdermos de vista. Se não deixarmos mais que nos engambelem. Não pararmos no tempo. Quanto mais boicotarmos, com os devidos contextos, mais teremos atenção, respeito e dignidade.
Vamos boicotar os maus políticos, negando-lhes nosso voto. As lojas e os bancos que discriminam negros e pobres, cobram juros extorsivos e vendem muito caro, negando-lhes nosso dinheiro; nosso consumo. Tudo e todos que discriminam, segregam, sonegam, desviam, julgam e prendem injustamente, não cumprem palavras e compromissos, merecem ser boicotados duramente.
O mais importante, mesmo, é acharmos em cada situação a mais eficiente, forte, sensata e corporativa forma de boicotar. Sabe aquela manjada e batida sabedoria de que O POVO UNIDO JAMAIS SERÁ VENCIDO? Pois é. Continua sendo sabedoria.

MADRIGAL DE VIVER


terça-feira, 27 de maio de 2014

SE NÃO FOR ESCRAVIDÃO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Um péssimo dia de trabalho começa em casa, quando nos arrumamos para ir à luta, à batalha ou arena, onde costumamos dizer que matamos um leão por dia. Deixaremos de lutar, travar batalhas e assassinar leões, quando procurarmos fazer o que amamos ou formos capazes de amar exatamente o que já fazemos.
Trabalho não é castigo nem maldição. É o que nos dá dignidade ou cidadania, pelo provimento das necessidades pessoais ou simplesmente por nos ocupar; tornar nosso tempo útil; proveitoso; produtivo. Metáforas negativas, pejorativas ou de mau agouro só nos tornam cada vez mais apáticos, indispostos e incapazes.
Empecilhos, frustrações e aborrecimentos não são exclusividades do ambiente ou da rotina de trabalho. Passam pela família, os estudos, a religião e o lazer. Se decidirmos fugir de tudo que nos aborrece, atrapalha ou frustra em algum momento, seremos condenados por nós mesmos à prisão perpétua dentro de nós. Aí descobriremos que somos nosso pior inimigo e teremos que nos enfrentar.
Viver bem é o reflexo do amor à vida em todos os sentidos e setores do bem. E trabalhar é bom, é do bem, se nosso trabalho for honesto, e da mesma forma, o nosso desempenho. Sobretudo se amarmos o que fazemos, e o que fazemos for de fato trabalho; não escravidão, porque isso ninguém merece.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

CIÊNCIA & FÉ


DE NOVO EM NÓS

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Somos mais do que as mortes e revidas
que seguiram conosco até aqui,
temos vidas além do que se vê
pela vã filosofia dos olhos...
Tantos anos de tudo que nem sei
como não nos perdemos no caminho ,
tanto espinho rodeia nossa flor,
mas a lei deste amor é soberana...
Temos asas que surgem de algum nada,
quando estamos à margem do penhasco
ou a estrada se perde sob os pés...
Um amor que se fere de morrer,
mas viver é a voz que sai mais alto
e nos faz desaguar de novo em nós...

quinta-feira, 22 de maio de 2014

MITOLOGIA DO AMOR PERFEITO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Só é lindo por ser um ideal;
uma imagem distante; uma saudade;
um varal de lembranças no infinito...
Foi um mito que a mão vivenciou,
veio ao corpo, marcou no sentimento,
porém foi; só por isso ainda é lindo...
Quase demos um fim ao romantismo
que se traja do mesmo azul-distância
do lirismo inegável das montanhas...
Não podemos voltar aos nossos olhos,
pois nos vemos melhor quando não vemos;
temos esta ilusão do que não é...
Somos anjos por termos nossos céus
em extremos opostos que nos guardam
sob véus de virtudes surreais...
Nunca mais será lindo, se voltarmos,
resgatarmos a nossa humanidade,
porque toda verdade virá junto...

BREVE CARTILHA TEATRAL

Demétrio Sena, Magé - RJ.

De fato exagere,
só nunca exagere
com exagero.
Para temperar,
procure saber
se pega tempero.
Tenha gestos grandes,
mas não mania
de grandeza.
Quando for sutil,
seja bem sutil;
sem sutileza.

ESTAÇÃO FILHO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Ganhe menos.
Compre menos.
Pague menos.
Dê menos Barbie.
Menos tablet.
Menos tudo
que tanto faz...
Tenha tempo.
Dê mais presença.
Mais atenção.
Dê olhar.
Dê contato.
Dê a mão...
Eduque mais,
delegue menos,
tome o trilho...
e desembarque
na sua filha.
No seu filho...

quarta-feira, 21 de maio de 2014

TODOS OS OLHOS

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Só entendo a mim mesmo por tê-las aos olhos;
sejam olhos da cara, da mente ou da alma;
minha calma só cresce ao encurtar distâncias
e meu tempo tem pressa de vocês comigo...
Tenho luz quando as trago na mira do rosto,
vejo tudo com lentes de leveza e sonho,
ponho cores no riso que não sai dos dentes
nem dos traços; das linhas do meu todo...
Não entendo esta vida se vocês demoram;
se na hora esperada não estão por perto,
vejo treva e deserto; perco teto e chão...
Há um mundo perfeito se as guardo comigo,
ao abrigo do mundo que fica de fora;
tudo chora de rir; brilham todos os olhos...

terça-feira, 20 de maio de 2014

SEM PROMESSA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Há um risco viável; temos de correr;
nele vive o morrer que talvez seja ou não;
minha mão pede a tua, mas não tem destino;
pode ser aqui mesmo; no vácuo; na lua...
Vem comigo e confia, sem saber no quê;
monta em mim pra voar sobre nossa esperança;
é assim que abriremos caminho no mar,
pra fugirmos do medo e da prisão em nós...
Que depois nem exista o que se quer da vida,
mas ninguém saberá sem buscar seu saber;
só o tempo revela o que o futuro esconde...
Congelei o meu sonho e não quero perdê-lo,
pois não sei até quando esse gelo perdura;
não há jura; promessa; tudo pode ser...

PAVÊ

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Quem come do pavê
que o Reginaldo faz,
anula tudo ao redor,
também se anula
no silêncio e na paz,
na contrição
da própria gula...
O pavê do Reginaldo
é “pacomê” de joelhos,
fazendo prece, oração,
pra que se faça o milagre
ou prodígio
da multiplicação...
Uma breve apologia
que discorre com prazer
e diria muito mais;
um poema prá poesia
do pavê
que o Reginaldo faz...

sexta-feira, 16 de maio de 2014

NÃO ME DEVO NADA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Meu relógio de pulso é sentir minha veia,
pra saber que preciso despertar da pausa,
pois a causa dispensa este sono profundo,
se caí numa teia e já não tenho tempo...
Minha hora revela que a vida se apressa;
quer meu fogo na relva do quanto me resta,
uma festa nos pés pra iluminar os olhos
e tecer lá na frente meu fim de novela...
Sempre tive meus dias, tomei cada posse,
dei meu sim quando quis e não fingi que não;
até mesmo não sendo, me forjei feliz...
Já me chamam de mestre; sei do que se trata;
data quase vencida; vencerei meu medo;
vou dizer um segredo: não me devo nada...

PAZ NO MUNDO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

É confortante conhecer pessoas honestas, amáveis, humildes e justas, que professam ou não uma fé, mas que não são assim só por isto. São porque são; por natureza própria ou educação familiar sem chicote, opressão nem tortura psicológica. Não se forjam por temor do inferno, muito menos por interesse nas bênçãos ou recompensas prometidas neste ou em qualquer outro plano existencial.
Tenho sorte. Conheço muita gente assim. Com essas e outras virtudes, mas não religiosas; completamente céticas. Outras, religiosas; completa e sinceramente comprometidas e devotas, porém despojadas de conveniência, interesse, ambição e vantagem. Adoram, cultuam, seguem por amor. Seriam fiéis a Deus ou outros possíveis ícones, mesmo que seu alvo de adoração não prometesse bênçãos, vida eterna, ou tivesse feito qualquer sacrifício pessoal como se tornar humano para morrer por todos em uma cruz.
Paz no mundo aos homens e às mulheres de boa vontade. Aos que fazem de suas casas verdadeiros lares. Que se presenteiam às ruas; às pessoas; aos ambientes de trabalho e lazer. Que vão livremente aos templos; às mesquitas; às tendas. Aos salões, terreiros, montes e muros de adoração a deus, aos deuses ou outros ícones que simbolizem a paz; o bem; a solidariedade; o amor ao próximo...

segunda-feira, 12 de maio de 2014

MÃES E MÃES

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Muita mãe não pariu e mesmo assim é mãe;
tantas outras pariram, nem por isto são,
porque mãe é paixão, é amor extremado,
é o excesso do certo e do errado por bem...
Tanta mãe é de sangue por cordão de umbigo,
muitas outras de pacto que funde o sangue,
mas existem aquelas que nunca serão,
pois não têm coração que justifique o ser...
Mãe de fato é certeza que transmite calma;
é presença que ausências não podem roubar,
pois tem alma pra dar; não pra ter, propriamente...
Não há mãe nessas mães controladas e frias
que delegam seus dias urgentes de mãe;
terceirizam seu colo; seus olhos; seus dons ....

domingo, 11 de maio de 2014

MINHA MÃE

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Às vezes tenho remorsos da vida boa que tenho. Da rotina pacata e do silêncio de que desfruto em minha pequena casa plantada num quintal arborizado. Uma casa que nem parece casa, e sim, mais uma das muitas árvores que me servem limões, acerolas, tangerinas, cajus, pitangas, mangas e jamelões... futuramente outras frutas que algumas árvores adolescentes prometem. Não bastassem as plantas, tenho também duas filhas que me servem sorrisos, carinho, atenção e muitos motivos para me orgulhar delas. Isso agrava meus remorsos, pela consciência de que não mereço colher tamanhas graças.
Minha mãe, que me fez um homem capaz de colher o melhor da vida e compreender que se vem ao mundo para viver com plenitude, nunca teve um décimo deste sossego. Sua vida girou em torno dos nove filhos, mais tarde um neto que se juntou aos filhos que, para ela, jamais cresceram. Ganharam peso, estatura, idade, profissão, cidadania, mas permaneceram meninos aos seus olhos... depois de tantos anos de privações e dúvidas sobre conseguir nos criar, simplesmente se acostumou a nos proteger do mundo, mesmo sem precisarmos. Tinha por hábito, nunca relaxar; não se descuidar dos filhos adultos, depois na meia idade, casados e também com filhos, para que ninguém os magoasse, lhes fizesse desfeita ou maldade.
Mas às vezes me consolo, dizendo para mim mesmo que minha mãe foi feliz. Que a sua felicidade foi nos conduzir. Que nos ver crescidos, capazes e com talentos especiais para viver foi sua grande vitória. Ela só queria nos preparar para o mundo, e conseguiu. Foi presença constante, mesmo tendo que trabalhar tanto, pois fazia do seu tempo conosco momentos especiais de conversas, confidências e contação de causos da sua infância também difícil no interior do Rio de Janeiro, pois começou a trabalhar na lavoura quando não tinha nem onze anos de idade. Uma infância interrompida.
Por tamanha pobreza, nossa mãe não nos deu quase nada material, durante a vida... mas deu a si própria. Foi mãe sem recesso. Não se quis para si; somente para os seus filhos. Fechou seu coração sobre nós, não cabendo nenhum amor para quem chegasse de fora em busca de um pedaço. Migalha desse amor. É por esta razão que tenho remorsos... que o conforto me deixa desconfortável. A boa vida me deixa mal. O sossego me desassossega e causa uma sensação de que a vida é injusta. Principalmente por me sentir incapaz, como pai, de ser para minhas filhas a mãe que nossa mãe foi pra nós.

terça-feira, 6 de maio de 2014

DOZE MINUTOS

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Quero doze minutos com você,
pra dizer a seus olhos, seus ouvidos,
sua pele, os sentidos, as entranhas,
todo verbo que habita o meu desejo...
Vou me abrir como flores de manhã,
vou abri-la e saber se me contém,
ao entrar no portal do bem querer;
querer bem como nunca me ocorreu...
Uma vida se vale a cada instante,
uma estante no peito perpetua
cada lua de amor e sensações...
Nesses doze minutos com você,
morrerei de viver milhões de vidas;
nascerei do calor de cada morte...

OMISSÃO


segunda-feira, 5 de maio de 2014

O EQUÍVOCO DA FÉ IMPOSTA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Aquele moço cristão destratou abertamente, sem qualquer motivo relevante, o moço ateu. Chamou-o de perdido, predestinado ao inferno, servo do diabo e outras classificações que não me agrada repetir. Ao mesmo tempo, tentou impor uma fé que se baseia em seu Deus, na retidão, no amor ao próximo e na liberdade... justamente a liberdade, sinônimo de não imposição.
O ateu, com olhar piedoso e compreensivo, não retrucou. Não devolveu sequer uma sílaba das ofensas que ouviu. Parecia fazer, intimamente, uma prece. Uma prece de ateu à inexistência divina, por aquele cristão atormentado pela intolerância; o preconceito. Por um conjunto conflituoso que denota o profundo equívoco relacionado aos ensinamentos possivelmente sinceros aplicados nos cultos e louvores em sua grei.
Agiu exemplarmente, o ateu. Deu exemplo de compreensão, piedade, amor e respeito próprios de quem não acredita em Deus por sensibilidade, fraqueza ou franqueza, por ver tanta maldade nos corações. Corações iguais ao dele, ao nosso e o daquele moço cristão amargo, acuado e contraditório que se oculta numa retidão imposta exclusivamente pelo temor do inferno.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

FÚRIA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Às vezes, por mais que tentemos não deixar, o pior de nós se afigura com a força brutal da fraqueza que nos faz esquecer o mundo à volta. Quando isso acontece, quebramos toda frágil certeza do que buscamos. Ferimos a nós próprios, pela ciência do quanto estamos aquém do nosso ideal. De quem achamos que somos ou tentamos ser... do nosso eterno sonho de paz interior, pela conquista do equilíbrio.
Sentimos um peso inexplicável. Um cansaço desmedido. Queremos, mas não há como escapar da consciência. Ficamos presos, e cada passo é pro nada. Pro vazio que habita em nós. Nesse ponto, só nos resta esconder... ou pelo menos tentar, por mais um tempo, engambelar esse bicho acuado, por isso mesmo feroz, que mora nesse vazio. Nessa falha de humanidade que desde sempre conheço, pois a tenho. 

CRÔNICA FRUSTRADA SOBRE A MÃE

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Mãe é verbo e pronome na mesma língua. É um substantivo adjetivo. Nome próprio do amor maior. Ao mesmo tempo que singular, mãe é coletivo. Às vezes declara que não é duas; é simplesmente uma, porém é muitas... muitas em uma só.
Tem a força imensa da fraqueza enganosa da mulher. Natureza interior que sublima o bem e o mal. Desafia toda e qualquer fé que se baseia na filosofia... toda vã filosofia - pois toda é vã - que o ser humano procura desenvolver do que não entende... maternidade, por exemplo.
Uma espécie de celebridade oculta. verdade secreta que se avoluma no silêncio do seu dom infinito; imensurável. Que não precisa da explicação que não tem, pois complica o simples; complicadamente simples para o contexto afetivo do simplesmente ser.
Que dizer sobre mãe, que não seja pleonasmo e clichê? Como não cair no lugar-comum, para depois não ter dito nada?  Foi assim que por lei do próprio tema, fiz tantas voltas e retornei ao vazio. Ao discurso do que sei que não sei de ser mãe... mãe de verdade.