quinta-feira, 31 de julho de 2014

AUTOSSUFICIENTE


MISTÉRIO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

A doença incurável de quem pode morrer a qualquer momento em razão da mesma ou ter vida longa sem grandes dores nem sequelas, não parece doença. Uma pessoa inteiramente sã tem suas dores normais e também pode morrer em noventa anos ou a qualquer momento, por uma bala perdida, um choque ou até um armário que resolva cair do sexto andar de um prédio.

ANTI-AJUDA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Depois de muito viver, sem dar a vida ou morrer por coisas que não valem meu sangue, porque são coisas, crio e sanciono minha lei: não. Não "posso, quero e faço". Nesta nem em outra ordem. Quero e tento, exatamente nesta ordem, como tantos querem e tentam o que nunca está para todos. É, mas não está.
E acho que não vencerá o melhor. Vencerá o semelhante que naquele contexto for agraciado com as condições mais favoráveis; o que inclui preparo, desempenho, ajuda externa velada ou ostensiva, pequenos ou grandes detalhes que podem ser entendidos como sorte ou providência sobrenatural. Certamente a vitória seria de outro alguém, se o contexto fosse outro e todo esse conjunto desconstruísse, para depois reconstruir a posição de seus elementos.
Não saio de casa todos os dias, para ir à luta, e sim, aos projetos ou estudos, e ao trabalho. Vou à busca, ou à procura, sem aquela certeza dos campeões em potencial. Dos que sabem que um dia chegarão "lá", como não sei nem quero saber. Só quero ir. Mesmo que nunca chegue. O passado e o presente seguem ao meu alcance, mas o futuro não. O futuro está no futuro.
Realiza-me, ser um semelhante. Não fazer a diferença. Tão apenas manter a semelhança e contribuir para um mundo igualitário. Pelo menos no meu caso, viver não é um esporte. Nem uma guerra. No que tange a vida em um todo, pódio tem uma rima que me desagrada.

terça-feira, 29 de julho de 2014

UM AMIGO IMORTAL

Demétrio Sena, Magé - RJ.

O Nivaldino também surgiu em minha vida naqueles meus tempos de adolescente maltrapilho e sem rumo. Já um homem na meia idade, líder religioso e biólogo do exército, ele foi uma daquelas poucas pessoas que me surpreenderam (e encantaram), apenas por me tratar como gente. Mais do que isso, por demonstrar o respeito, a confiança e admiração que a sociedade só tem pelos "campeões sociais". 
Foram muitas as vezes em que o Nivaldino me levou a sua casa, onde fui recebido com carinho, para termos longas conversas que não poucas vezes atravessaram a noite. Conversas de igual para igual, entre o menino e o homem, como se ambos fossem homens... ou ambos fossem meninos. Nivaldino dava e pedia opiniões. Ensinava e se permitia aprender comigo, o que até hoje não sei. Ele sempre soube circular entre a sua faixa etária e a minha, sem nenhum tropeço, e não precisava se esmerar. Fazia isso com naturalidade; não era desempenho nem terapia.
Aprendi com o Nivaldino, a demonstrar admiração pelo próximo a partir do avesso. Dos valores essenciais; invisíveis. Guardados nas "embalagens" notórias e notáveis ou escondidos nas aparências inesperadas para os conceitos comuns. Ele garimpou minha autoestima, sem ser pai nem amigo superior. Misturou-me com a sua família (a esposa Margaria e os filhos, que nunca estabeleceram fronteiras) e não foi piedade; foi amizade; foi amor. Esse amor ao próximo, cada vez mais distante nas pessoas que se distanciam de pessoas, porque se apegam demais a ícones, ídolos e legendas.
Falo do Nivaldino em tempo passado, mas o passado voltou, recentemente. Depois de muitos anos o reencontro, via rede social, e já fizemos alguns planos de nos revermos entre a correria de um presente que nos aprisiona em compromissos e novas realidades. Não faz mal. "Curtir" a sua existência pela janelinha de um computador me auxilia na espera do dia de abraçá-lo e matar, impiedosamente, as saudades desse grande amigo.

VAIDADE HUMANA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Falta mundo pro mundo que se multiplica;
não há vida o bastante pra vida em redor;
nada fica do sonho espremido no caos
dessa dor de aprender que não se sabe nada...
Todo mundo se julga o próprio mundo à parte,
quer viver para sempre, finge saber como,
é um gomo que tenta ser imposto ao todo,
ser o todo e ter tudo sobre tudo mais...
Cada dia se perde no tempo a ganhar
onde o tempo é tesouro que o chão oxida;
logo a vida se olha de frente pra morte...
Nossas mãos vivem postas além do sensato,
nossos pés estão longe das velhas respostas
que jamais compraremos por valores táteis... 

CULTURA, LUXO & LIXO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Se o lixo cultural me desagrada, o luxo também. Sou apegado à cultura genuína; essencial. À ausência de aparatos ou embalagens que não acrescentam valores; apenas ostentam, fazem volumes, enchem os olhos, mas não a alma. É do luxo cultural que sobram montanhas e montanhas de resíduos inúteis; rejeitos que atraem parasitas e roedores humanos nocivos às artes e à literatura. O lixo cultural é o derrame não reciclável do luxo cultural.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

TEMPO É VIDA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Tenho tempo de olhar a manhã renascente,
receber dose a dose dos raios de sol,
pra depois ir em frente; mastigar meu dia
e fechar com a lua que seduz meu céu...
Não importa que as nuvens ponham pano em tudo;
nada pode apagar o que tal pano filtra,
nem deter o meu tempo de saber que o mundo
lá no fundo é tão raso que posso tocar...
Sempre tive um momento pra lembrar de alguém,
uma tenra saudade pra sentir sem dor,
um amor do tamanho de minha verdade...
Não me nego a ter tempo e confessar meu ócio,
ser humano que às vezes menospreza ofício,
pra início; pra meio; pra fim de conversa...

RODA-MORTA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Muita gente não veio ao mundo para ser gente. Não em essência. Uma gente urgente, marcada para correr. Para nunca saber que o presente é tempo, e que o passado é uma escola da qual não devemos abrir mão, por mais que a vida nos leve avante. Ele nos orienta pro futuro, e revela que o mesmo estará sempre lá, quer corramos ou não.
Gente que vive para ter o que os olhos não alcançam nem os anos de vida justificam. Faz filhos que os outros criarão, e com isso, gera crias do acaso e das babás. Crias que herdarão muitos bens e serão marcadas para correr, chegar na frente, vencer o próximo, e depois sentir que lhes falta o maior bem. O bem-querer.
Esses filhos também terão seus filhos, e nas horas urgentes, dirão que "Deus proverá", como forma de justificativa... como sustentáculo e manutenção da roda-viva de gente que não vive... que transforma tudo que tem numa eterna isca para ter mais. Essa gente não é. Apenas está. Distorce o dom de viver... e troca o ser pelo ter.

domingo, 27 de julho de 2014

VOO CERTEIRO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Sei guardar minha mágoa, sem adoecer;
como sei aguardar que meu sonho madure;
quero ter dos mais doces o mais doce fruto
que me cabe colher nas vivências internas...
É assim que procuro me arvorar pro mundo;
calar fundo entre os olhos que miram meu ser,
conhecer a mim mesmo e me deixar fluir
sem o velho temor de ser exposto e lido...
Este livro acessível, de leitura fácil,
face feita pro beijo de amizade ou farsa,
verbo livre de sombras e de camuflagens...
Uma porta sem tranca, peito sem arame,
universo de afetos que minh´alma coa
quando voa pra longe das lembranças más...

sexta-feira, 25 de julho de 2014

DEUSA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

É caiçara, moleca, um tanto gabriela,
porém ela; bem ela; inteirinha quem é;
tem o cravo, a pimenta, o cominho, a canela
e também a garapa; o leite com café...

Traz a brisa do campo, a dança da maré,
um olhar de horizonte no vão da janela;
framboesa nos lábios, na voz um rapé
que me dopa e domina pra sonhar com ela...

É perigo iminente; chave de cadeia;
alçapão, arapuca, laço, visgo e teia;
natureza completa em desalinho insano...

Deusa, musa, mulher, menina dadivosa,
conto, fábula, sonho, saga em verso e prosa;
eu apenas um homem; mero ser humano...

quinta-feira, 24 de julho de 2014

BAIXADA FLUMINENSE

Demétrio Sena, Magé - RJ.

É na baixada fluminense que os extremos se encontram. Inferno e céu. Às vezes, inferno é céu. Outras, céu é inferno. Por isto somos um povo que sabe andar na corda bamba. Viver no limite. Dançar conforme a música. Um povo de clichês ou saberes levados ao pé da letra porque a vida, no caso específico, a nossa, exige.
Como temos áreas de risco e de sossego, temos dias sossegados em áreas de risco, e dias arriscados em áreas de sossego. O poder público nem percebe a diferença, porque despreza a baixada fluminense. Gosta de mandar, mais do que propriamente legislar ou governar, pois é bom negócio, mas despreza. Evidentemente, sem desprezar os resultados materiais de seus cargos.
De risco ou sossego, em todas as áreas da baixada fluminense há gente viva. As ruas fervilham, as casas comerciais vendem, as pessoas conversam nas esquinas. Umas riem, outras choram. Pobres e ricos têm a mesma cara, níveis culturais parecidos, e o preconceito que se tem é cada um de si mesmo, como se fosse do outro. Olhos nos olhos, eis o nosso espelho e as reservas que trazemos dentro de nós.
Do céu para o inferno e vice-versa, é o nosso vai e vem casa-trabalho, trabalho-casa. Casa-escola, escola-casa. Vida-morte, morte-vida. Nós próprios nos governamos, representamos, e às vezes até fazemos nossa justiça, mas ainda assim elegemos os que fingem cuidar de tudo isso, porque a lei, que nunca está do nosso lado, reza que devemos fazê-lo, e nós, diferentemente, sempre estamos ao lado da lei.
Se vivemos, é porque nossa vida se multiplica, depois de todas as mortes às quais somos expostos. Se temos esperança é porque ela, sendo a última que morre, tem o dever de nos esperar depois de cada baque. Somos corporativistas anônimos. Amigos ocultos. Inimigos-amigos quando “o bicho pega”.
Na baixada fluminense todos somos um. O todo se condensa mais e mais, para ser escudo. Nosso orgulho se perde por orgulho, na solidariedade. Somos a baixada geográfica, em alta na autoestima, mesmo quando parece não haver motivo. Se nas demais bandas cada um se oculta em paredes de cristal, o povo da baixada se expõe, se encontra, se arrisca e risca os traços do destino sonhado.
Temos força, porque temos o hábito da obrigação de ter. Trazemos nos ombros o peso do oceano, e sobrevivemos aos tubarões que fingem ser daqui, por interesses políticos e financeiros. Sendo baixada fluminense, vivemos abaixo do nível do mar, mas a onda não nos leva... nem morremos afogados.

PALAVRA FÉRTIL

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Fala branda e pausada chega e pousa;
logo adentra os ouvidos desarmados;
ousa mais, vai mais fundo e se aconchega
onde o chão dos sentidos é mais fértil...
Grito, não; grito é fala de festim;
chega e sai sem cumprir o bom papel;
rouba o sim, mas o sim é negativo;
é artigo ilegítimo e não dura...
Os arroubos nos tiram de quem somos,
nossos pomos forjados apodrecem
sobre galhos doentes; ressequidos...
A palavra que chove de mansinho,
tece ninho; põe ovos; dá ninhada;
tem raiz; alicerce; consistência...

segunda-feira, 21 de julho de 2014

A EDUCAÇÃO PELA ÉTICA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Ensinar um filho a não fazer pirraça porque se fizer, não ganhará bicicleta, boneca ou seja lá o que for, é criar um sonso. Um adulto interesseiro, que não saberá respeitar as pessoas de quem não espere algo. Da mesma forma, cria-se um mentiroso enrustido, ensinando ao filho que se não deve mentir porque "a mentira tem pernas curtas". Mais tarde, ao perceber que a mentira pode criar asas, ele mentirá. 
Quem só não comete crimes porque pode ser descoberto e preso, é um criminoso em potencial. E quem não peca por ser um religioso, porque "Deus está vendo" e pode "pesar a mão" sobre ele, não é uma pessoa confiável. A ocasião propícia ou pelo menos a chance de uma boa  justificativa revelará o caráter dessa pessoa. Ela só precisa mesmo encontrar um meio seguro de "passar a perna" em "Deus" e na sociedade.
A lei, seja ela humana ou sobrenatural, quiçá divina, não forma o cidadão consciente. A ética, sim. Se criarmos os nossos filhos, educarmos nossos alunos ou doutrinarmos nossos liderados para o cumprimento livre, natural e consciente de seus deveres humanos, sociais e quaisquer outros, aí sim: teremos o mundo com que os homens e mulheres de boa vontade sempre sonharam. 

MISSÃO DE AMOR

Demétrio Sena, Magé - RJ.

                          Para Nathalia e Júlia

Se não tenho a certeza de lhes ter por perto,
não há nada em redor que desperte sentido;
nem existe lugar que não seja deserto;
cada passo é sem norte; meu tempo é perdido...

Faço à vida somente o mais simples pedido;
meu amor nunca falte no momento certo;
saiba como soldar um coração partido,
ser alívio na dor do ferimento aberto...

Quero ter esse dom de me doar sem fim;
ao olhar nos seus olhos olhando pra mim,
ver a paz que sustenta seu porto seguro...

Saberei respeitar quando abrirem sozinhas
suas asas vistosas, libertas das minhas,
e lhes dar de presente a rota pro futuro...

sexta-feira, 18 de julho de 2014

COLETIVA


VÍCIO DO TEU VÍCIO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Já me cansa te olhar e só ver sombras,
procurar o teu rosto e me perder
nos escombros de alguém que nunca está;
ou está, mas no fundo nunca é...
Piso em falso nas órbitas do amor
que não sabe trazer felicidade,
cuja flor não supera seus espinhos
nem se livra das grades do pesar...
Vencerei o teu vício de sofrer,
deixarei o meu vício desse vício,
passarei a viver, pois estou vivo...
Eu me canso da espécie de ninguém
sob alguém que me aluga mas não mora;
não me ocupa nem quer desabitar... 

quinta-feira, 17 de julho de 2014

ANTES DO FIM

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Foram tantos os silêncios que vieram ocultos entre o verbo incerto. Foi tanto quero-não quero envolto em panos de uma velação covarde; sem qualquer contexto justificável. Muitos anos contidos nos impasses de quem vinha-não vinha; estava dentro de si. Concentrada no mundo atrás das grades do próprio umbigo.
Num adeus que se congelou em desempenhos para não ter que assumir o próprio aceno, fizeste um longo teatro. Entre cenas sutis e sorrisos mansos, teus engenhos diziam para os meus pés, que o cansaço era meu. De mais ninguém. Era do meu brio a responsabilidade única de resolver a questão daquele afeto.
Se ao invés da ribalta em que te ocultavas, tivesses deixado a transparência do silêncio mais franco e da palavra mais funda ganhar consistência, tudo seria diferente. O que foi vazio ganharia essência. O que não fazia sentido seria meu socorro; meu aviso de que o  mundo aguardava com outra vida.
Ou se tua distância não tivesse apontado indícios de uma falsa presença... tua placa enganosa e abstrata não tivesse fincado estaca em minha carência desejosa de quimeras... e se não tivesses brincado assim de não brincar comigo, eu teria saído em tempo hábil... teria dado fim antes do fim.

ANTIMITO


terça-feira, 15 de julho de 2014

BEM VIVIDO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Nada mais do que a vida condizente ao pulso;
que o teatro restrito aos limites do pano;
ser humano em essência, fachada e contexto,
sob todo esse nada que revolve o ser...
Quero apenas meu tempo, nem um passo a mais,
meu espaço, meu dom, minha justa energia,
cada dia cravado entre as horas que tem
para o mundo ser mundo e seguir sua rota...
Sem espaço e pretexto com que rompa o vento,
livramento que adie o que será no fim
ou me livre do livro; a precisão da história...
Quando eu for só me digam que seja bem-ido;
sou alguém bem vivido e não será direito
ser um rio que tenta não seguir pro mar...

segunda-feira, 14 de julho de 2014

PAIXÃO OCULTA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Briga mais do que a própria razão de fazê-lo;
dá um gelo tão quente que me queima inteiro,
como sempre se apressa em não ser apressada
e conter a pedrada que dará no fim...
Tem um ódio maior do que se tem de fato;
não há zelo nem tato no seu desempenho;
range os dentes e rosna pra quase morder
ou pra nunca perder sua fama de brava...
A coragem que ostenta sempre foi um medo
que preserva o segredo e dá vazão ao brio;
é um rio fadado a distrair seu mar...
Ela cospe uma fauna excessiva e postiça
ou atiça cachorros que não têm mais dentes,
para ver se convence a paixão camuflada...

sexta-feira, 11 de julho de 2014

IGUAIS

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Somos todos iguais.
Evidentemente,
cada um de um jeito diferente.

SECRETAMENTE

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Saberei me conter no gatilho dos olhos,
pra jamais atirar a confissão guardada,
calarei a granada que trago no peito
e ninguém sofrerá do que não vou fazer...
O meu corpo se fecha sobre o sentimento,
minha voz enguiçada recusa reparo,
ponho tudo que penso em meneios secretos,
quando quando paro no pátio da sua envoltura...
Você tem meu silêncio mais alto e presente,
minha mente não pode me levar à cruz,
porque atos mentais são apenas culposos...
Congelei o meu dolo na sã consciência
dos perigos do amor que não posso entornar
neste mar que transborda pelas convenções...

quinta-feira, 10 de julho de 2014

CONSELHO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Tenha muito cuidado com a manifestação excessiva do seu ódio por mim. Esse ódio sempre ostensivo e performático no mostruário raivoso do rosto retorcido e dos rosnados da voz. Principalmente quando a sua razão é quase nenhuma, e sua explosão é por quase nada e tão propositalmente às vistas de todo o mundo.
Faz tempo que a encenação contínua desse ódio perdeu pretexto, contexto e ocasião. Seu teatro atemporal começou a dar sinais contundentes, que podem desmascará-la. Seu excesso está começando a deixar pistas de que, no fundo, não é bem isso que você sente, mas algo oposto e flagrante para você mesma, e que se torna flagrante para os outros. Especialmente para quem menos merece a decepção de perceber sua farsa, que também deixa evidente outra farsa.
Vou sugerir um teatro mais sutil. Incapaz de convencer seu coração, mas poderá tapear quem a rodeia: finja me desprezar... o desprezo, este sim, é um sinal convincente da superação do amor... e diferente da raiva que simula o ódio, fará de você uma pessoa equilibrada e capaz de, com o tempo, realizar seu sonho de não sonhar comigo.

CAIS DO AMOR

Demétrio Sena, Magé - RJ.

É tanto encontro
furtivo e torto,
paixão sem freio,
gozo farto,
que o cais do porto
é na verdade...
cais do parto.

CÓDIGO SEM BARRA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Ela sempre me apronta
uma triste surpresa,
e não fujo; sou presa;
dou espaço; dou asa...
Coração nem aponta
para quanto mereço;
meu amor é sem preço;
é por conta da casa.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

VERSOS DE ADEUS

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Apesar do presente, o futuro faz ninho;
se nas vias de agora o que sinto resvala,
sei fluir na distância; virar passarinho;
me livrar das correntes; romper a senzala...

Dobro sonho por sonho, acomodo na mala,
quero a rosa e não temo conhecer espinho;
minha carga é só minha, me cabe levá-la,
só meus pés foram feitos para meu caminho...

Sendo assim me desculpe, seguir é missão,
viverei as verdades de cada emoção
que me chama no vento; no clima lá fora...

Dou adeus e confesso que levo a saudade;
se puder vá em busca da maturidade;
seu espelho revela que passou da hora...

terça-feira, 8 de julho de 2014

PRÉ-TEXTO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Quando a sua enxaqueca finalmente sucumbir à vontade. Sua verdade não se ocultar na conjuntivite. No dia em que o bem querer foi mais forte que o mal estar. Seu cansaço der voz de assalto à disposição de me ver; gastar seu tempo comigo...
Estarei à sua espera, mesmo em crise de asma. Sentindo cãibra; calafrios. Tendo febre ou tontura. Todas as dores, os contratempos e as intempéries que jamais embotaram minha saudade... nem tornaram metade o meu desejo inteiro de você.

TODOS IGUAIS

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Fé de Tiago;
de Paulo;
de Jacó;
fé de João,
de Pedro
e de Jó.
Fé de Raquel;
de sara;
Salomé;
fé de Joana,
de Dalila,
de Noé.
De Salomão
a Raimundo
e Mamede.
Fé de Sansão;
todo mundo...
fé de...

segunda-feira, 7 de julho de 2014

SUCESSO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Já me basta o sucesso brando, silencioso e profundo. Aquele de foro íntimo e de ordem estritamente pessoal. Fazê-lo perante os olhos da sociedade, os espasmos e delírios do mundo, pode ser bem-vindo... mas não essencial.

AUTOPRESERVAÇÃO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Se o seu elogio, sincero e respeitoso, ao talento de uma pessoa do gênero oposto é recebido com azedume, frieza ou desconfiança, não se constranja. Simplesmente não o repita, e siga o conselho daqueles caminhões que proliferam no asfalto, aos carros de passeio: mantenha distância. Simplesmente passeie. Não corra mais nenhum risco.
Algumas pessoas são assim mesmo: valorizam tanto a própria lataria, que não são capazes de reconhecer no próprio íntimo, as virtudes ou os talentos que possuem. Até ostentam esses talentos ou virtudes, mas não se levam a sério. Fingem ser, de fato, o que de fato são, mas não sabem. Quando alguém as vê mais profundo, elas não acreditam: habituadas às velhas observações superficiais, temem que os elogios sinceros sejam apenas deboches ou cantadas mais estratégicas de quem só quer arranhar as suas tintas. 
Mesmo que um dia essa pessoa lhe pareça mudar de postura, continue a se preservar. Pode ser que o seu segundo elogio chegue de novo em hora errada... exatamente quando ela voltar à postura original. Também aceite a hipótese de que a virtude ou talento da pessoa em questão pode não ser suficiente para superar as questões de fachada.

domingo, 6 de julho de 2014

MENINO POETA


BRINQUEDO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Ela zomba em silêncio; respeitosamente;
faz de mim um menino esperançoso e vago;
minha mente sucumbe ao coração entregue,
desarmado e sem forças para ter noção...
Sou alheio à verdade, pra viver melhor;
se não tenho presença posso ter saudade,
pois me faço de bobo como já sou feito
por seu jeito inconstante de me conduzir...
Poupo suas promessas num banco de sonho
e me ponho bem fundo na fila dos dias,
iludido e feliz por gostar da mentira...
Eis o grande segredo que abrigo e me apraz;
ela faz esse jogo de brincar comigo,
mas não sabe que brinco de ser seu brinquedo....

sábado, 5 de julho de 2014

... ME PERDOO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Deixarei que me deixes, desta vez. Cheguei à conclusão de que assim é melhor. Direi sim ao teu não; ao silêncio que o faz em teus olhos e nas atitudes veladas. Ao abismo e à distância que arbitraste abrir entre nós, como forma de freio... covardia de afeto.  
Calarei o que sinto, pois é prudente fazê-lo. Tenho que gelar nessa tua geleira de festim ou de fato, e fingir que nada mais importa. Saber, de uma vez por todas, que uma porta fechada está fechada e pronto. Não importa o que a fechou.
De resto, enalteço as lembranças, pela saudade. Pela graça imensa de viver de novo quantas vezes queira, porque minhas verdades nada mais extirpa. Estão no fundo insondável do meu ser, protegidas contra o contexto inaceitável de simples passado.
Quanto a ti, segue o vento. Sê feliz dessa forma, se a tua escolha está feita. Seguirei as certezas de minh´alma, grato a mim mesmo por não morrer aqui dentro. Por conseguir me querer bem... e me perdoar, finalmente, por todo mal que fizeste ao meu coração.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

FIM DE NOVELA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Enviei mil sinais de fumaça e neon,
pra te achar na distância; qualquer dimensão;
meu silêncio rompeu a barreira do som
e gritou à procura do teu sim ou não...

Renovei minhas cores, o meu coração
foi na frente; seu rubro, no mais denso tom,
vasculhou cada treva, invadiu vão a vão;
mastigou frustrações; até fingiu ser bom...

Só achei mais distância, quanto mais subia;
solidão de perder a velha estrela-guia,
esperança teimosa em não ver a verdade...

Acabou a novela deste amor em mim;
é melhor aceitar que se arremate o fim,
se não dás audiência pra minha saudade...

QUESTÃO DE CARÁTER


quarta-feira, 2 de julho de 2014

JOÃO-VAI-COM-OS-OUTROS

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Tem sua grandeza, e jamais me convencerão do contrário, esse tal José a quem chamam João Ninguém. Mesmo sem ser alguém, ele tem lá sua identidade. Não é o caso daquele certo José, que no fundo, julga ser tanta coisa.. mas não passa de um João-todo-mundo.

AMORES


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Sabedor de que o tempo corre, cumpro meu papel: correio. Reconheço que a vida passa, e como sou volátil, simplesmente Passaraio. Desta forma, tudo vira passado e não há porto seguro na brincadeira.
Sonhador que sou, customizo a imaginação com fantasias em série. O presente me apoia, oferendo a embalagem dos amores, e o coração embrulha saudades para me dar de futuro.

terça-feira, 1 de julho de 2014

O QUE NÃO VIVO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Levo sonhos dobrados, verdades contidas,
uma fila de vidas que nunca tomei,
tenho sombras que tenho que desafiar
e voar para longe do porto seguro...
Guardo minhas verdades na funda poesia
de apostar na passagem morosa dos anos,
crer no dia de tudo e recolher as asas
como velha desculpa de quem teme o vento...
Há um céu em redor do meu vasto silêncio;
tenho tanto a saber e mantenho este andor,
para não se quebrar o que há muito caiu...
Minha dor é sentir que o que dói já nem dói,
porque já me acomodo entre nada fazer
e viver desta sobra do que não vivi...

COLAGEM X CORAGEM

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Algumas pessoas que você admira e julga o máximo, têm Facebook; assistem novelas e gostam de festinhas. Outras, que você também admira e julga o máximo, acham que tudo isso é besteira; futilidade; coisa de gente sem boa formação.
Você, que vive tentando ser admirado por ambas as partes para sentir que também é o máximo, não sabe mais o que fazer: ora pensa e age como aquelas pessoas, ora faz como aquelas outras, a depender de com que lado conviva no momento.
Um dia distante ou logo ali, você há de se olhar no espelho e não ver o próprio rosto, apesar da cara que verá. E a prova de fogo dessa hora será decidir se já não é tempo de ter seus gostos, conceitos, discernimentos e verdades. Tudo seu.
No fim das contas, você terá que tomar uma decisão: resolver, de uma vez por todas, se você pretende ser para sempre os outros... ou abre mão da colagem, para ter a coragem necessária de se tornar você mesmo.