terça-feira, 29 de março de 2016

CUPIDO INDOMÁVEL


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Conte sempre comigo em suas crises
de revolta incontida, inexplicada,
seus deslizes, as quedas do equilíbrio
que a paixão não consegue sustentar...
Hoje posso entender as invenções
dos acessos de fúria sem sentido,
das razões descabidas e sem chão
que o cupido indomável incendeia...
Só não posso voltar ao que se foi;
ao amor que não tive; só tentei;
já não sei me doar como quem doa...
Mas não nego meus olhos, meu ouvido
nessas breves sessões de terapia
para tão ressentido sentimento...

A COMPANHEIRA IDEAL

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Para Carlos, Maristela é muito bonita... mas também muito inculta. Marina, por sua vez, é bastante culta, mas não tem a beleza que o atrai... no caso, a beleza de Maristela. Como se não bastasse, Marina lhe soa um tanto fria; insensível; quase nada parece animá-la.
Prendada como só ela, Gerusa bem que podia ser ideal para Carlos, desde que não fosse muito simples; quase simplória. Quanto a Sheila, sempre na moda e perfumada, tem uns toques de arrogância que também não casam com as preferências do moço.
Rosa é muito palhaça, imatura e fútil. Carolina, séria demais; introspectiva em excesso e mais madura do que devia. Zulmira exagera na sensualidade, ao mesmo tempo em que falta sensualidade a Neuza. Mara podia ter mais malícia. Selma, ser menos maliciosa.
Mas tem a Maria, que reúne todas as qualidades das outras, de forma temperada... sem os mesmos efeitos adversos. Entretanto, Carlos pondera que a moça não soa verdadeira. É virtuosa demais; "muito perfeita" para ser perfeita... sendo assim, também não serve.
Pelo visto, a solidão... só mesmo a solidão é companheira perfeita para Carlos.

quarta-feira, 23 de março de 2016

AMOR E PRAZER

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Vem aqui, entra um pouco e deixa tudo
lá no mundo esquecido em seus conflitos,
deixa os gritos de guerra e de agonia
para quem subestima o que há de bom...
Desaprende a linguagem rebuscada;
fica leiga em gramática e ciências;
bem tapada em História do Brasil;
tira dez no prazer que nos aguarda...
Não há entre os de farda ou à paisana,
ou de verbo e de verba, os investidos,
o que valha o temor do que sentimos...
Entra um pouco e depois nos adentremos;
os extremos do amor nos arrebatam
da mentira de sermos cidadãos...

SEM PÉ NEM CABEÇA

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Minha vida parece um poema concreto;
tem os baques incertos; os caminhos tortos;
vai do teto ao porão sem cadência medida,
volta, vai e revolta, se congela e quebra...
Meu enredo é partido em pedaços miúdos
e refeito em mosaico a cada vez que ocorre,
morre tanto que vive de morrer de susto
pra tornar a fazer o percurso ao seu alvo...
Sou sem pé nem cabeça da cabeça aos pés,
um revés que se acerta nos erros em série,
Hiroshima implodida e refeita sem fim...
Porém olhe pra mim; você verá que sou
algo mais do que show pra mostrar personagem
ou miragem de alguém que não há como ser...

E POR FALAR EM QUEM FALA...


Demétrio Sena, Magé - RJ.


Lido com as pessoas de meus relacionamentos, dentro de suas condições pessoais de conviver comigo. Sempre acho, embora muitas vezes equivocado, que tenho bem mais elasticidade para recebê-las, com suas variações de comportamentos, do que elas a mim.
Com algumas pessoas me permito ser essencialmente quem sou, em todas as minhas esquisitices, manias e charadas. isso tem muito a ver com a confiança de ambos os lados. E acredite; para lidar comigo, há que se ter muita confiança; tanto em mim, quanto em si próprio.
Com outras pessoas, para seu próprio bem, já me permito podar um pouco, se houver algum compromisso de convivência. E com outras mais, externamente nem sou quem sou, pelo quanto me adéquo, me ambiento e me aparo, no caso de ser especificamente necessário conviver.
Não sou falso. Ser falso é fingir para ter vantagem, trair ou prejudicar alguém em determinado momento, como jamais será meu caso. Apenas reconheço que não sou de fácil compreensão. Nem aceitação. Nem discernimento. A depender de com quem convivo, é necessário eu mesmo proteger essa pessoa de minhas nuances; minha liberdade; minha integralidade vivencial. Preciso estar menos eu, naqueles momentos que me põem próximo de quem não tem condições de conviver com as minhas verdades.
Então às vezes mudo. Não a identidade, mas a forma de apresentação. Isso acontece quando concluo, depois de muita convivência e observação, que a pessoa em quem confiei ao ponto extremo de não ter segredos, formalidades, e assim estabelecer uma entrega honesta e desarmada, não entendeu o contexto e o tamanho do afeto. Não houve qualquer entendimento de minha falta de noção.
É aí que acerto o compasso. Passo a ser para tal pessoa, o que ela pede que seja, desde que isso não me descaracterize para mim mesmo, ao que seria melhor o rompimento definitivo. Pense bem. Pense muito bem, antes de se permitir conviver com alguém tão cru. Tão sem cozimento, confeitos e aparatos.

terça-feira, 22 de março de 2016

O AMOR COMO PROTESTO

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Hoje posso entender, perfeitamente, os que só falam de amor. Cantam, versam, conversam, decantam e vivem toda a entrega dos que amam em forma de arte. Rendo minhas homenagens ao essencialmente romântico, ao brega e ao derretido que parecem não ver o mundo em todas as suas vertentes vivenciais... e ainda se dão ao luxo de serem livres da repressão econômica.
Eles rompem com tudo, se alienam, e mora nisto a não alienação. É assim que fazem o grande protesto sociopolítico. Não há nos poderes constituídos quem os governe ou represente. Mais ainda, eles matam de raiva os intelectuais, os militantes fanáticos ou neuróticos, amantes ou desafetos do governo. Ninguém consegue mentir para suas esperanças em verdades além das emoções.
Os que vivem de amor têm seus castelos, e não apenas de sonhos, ilusões e sentimentos. Também são de alvenaria, luxo e ostentação. Eles têm o poder, porque arrastam corações e perdem noção da própria força. São amados mesmo sem pedir votos, enriquecem sem roubar e não mentem pro povo, pois não precisam; sua verdade casa com a mais profunda verdade que nos habita. 
Politicamente corretos em tempos de rebeldia enganosa, distorcida, os artistas do amor são a direita honesta e transparente, além de representar a todos... até os que fingem detestar o derretimento em versos, notas musicais, cores e outras formas de arte. O poder público e seus pingentes nunca entenderão o amor que seduz sem fazer promessa enganosa nem pagar propina.

ALMAS EQUIVOCADAS


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Muito irritado com a visão pessoal de Amâncio, naturalmente oposta à sua, sobre os atuais acontecimentos políticos envolvendo corrupção e impunidade no Brasil, o professor de sociologia, Pedro Amado, disse aos berros: "Deixe de ser burro, idiota e retardado, cara! Mete a cara nos livros! Leia! Só assim você conhecerá um pouco de história, para entender o que acontece de fato, neste país!".
Sem entender bem o enunciado, Amâncio passou a ler. Leu muito, mesmo: Drummond, Bandeira, Cora, Cecília, Quintana, Exupéry... Continuou burro, idiota e retardado para o mestre Pedro, que sabe tudo, mas não tem o dom da concisão. Mesmo assim valeu a pena, pois Amâncio passou a conhecer mais fundo, compreender e se apiedar de pobres almas como a do seu destemperado amigo.

APRENDIZADO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Aprende-se muito com o sofrimento...

mas nunca sofra por não sofrer.
Aprenda outras formas de aprender.

domingo, 20 de março de 2016

AO GESSO DAS IDEOLOGIAS POLÍTICO-PARTIDÁRIAS

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Ideologia político-partidária não é time. Exige uma postura bem mais séria, equilibrada e distinta. Supera essa questão vulgar do "vencer,vencer, vencer, uma vez isso, isso até morrer". O partido político de nossa simpatia não é o melhor, independente dos que o lideram ou dominam. O da simpatia do outro não é o pior, também independente dos que o lideram ou dominam. 
Votei, mais de uma vez, nessas figuras que hoje afundam este país, porque apostei em suas trajetórias até então. E o país estaria mesmo bem melhor, se tais trajetórias não tivessem mudado com os ventos e a sedução do poder desejado e perseguido por anos e anos. E gostei das ações iniciais do grupo, ao ponto extremo de lhe dar novos votos de confiança, mesmo quando ele começou a me decepcionar com a preguiça, depois a má fé, mais tarde a corrupção desenfreada que deu no que deu. Mas, como ideologia político-partidária não é time, e como não tenho medo de mudar de postura nem de retirar o gesso de minhas opiniões antes que endureça, consegui me permitir a indignação contra o que essas figuras estão aprontando no poder.
Quando mudei, não foi porque alguém mandou. Nem porque outros discursos me convenceram. Mudei de acordo com o que vi e vejo; senti e sinto; vivenciei e vivencio. A mídia também não me fez mudar, porque nem precisa; basta o meu entorno. Bastam os efeitos notórios de tudo o que acontece país adentro e faz vítimas incontáveis em minha comunidade, meus familiares, amigos e alunos com os quais convivo diariamente. Neste aspecto, a mídia não traz novidades para mim.
Vejo, através de gravações, filmagens e outras provas entre legais e ilegais, o que só confirma conclusões bem minhas. Aplaudo essas provas, mesmo ilegais, como seria grato à pessoa que, por meios tortos, conseguisse me apresentar uma filmagem que provasse, de forma irrefutável, quem foi o assassino de um ente querido meu. O assassino seria um assassino, independente da ilegalidade ou não, dessa prova. Ela continuaria sendo prova, só que, não válida diante da justiça.
Quero dizer que admiro o juiz que liberou para os meios de comunicação, mais como cidadão do que como juiz, áudios e imagens que revelam contundentemente o mau caráter de tantos políticos, entre eles o mais querido pela população brasileira, porque se tornou um mito. Nenhuma dessas personalidades desmentiu os conteúdos de tais recursos, mas todas deram explicações esdrúxulas, sem cabimento, que nem quem quer acreditar acredita, mas quem quer fingir, para manter "a personalidade", finge que acredita. 
Como tudo o que se apresentou é verdade, a sonhada ilegalidade das provas não as descaracteriza como provas; apenas como provas legais. Logo, é tudo real, mas quem ama o Lula, a Dilma, o Aécio, a Marina e todos os mais, além de suas legendas, mais do que ama a própria família, quer que todos sigam impunes, até que por atos também ilegais e mesmo criminosos, os grupo consigam se safar.
As provas, ilegais ou não, porém provas, apresentadas à mídia, que cumpriu o seu papel de as divulgar, tiram definitivamente da ignorância sobre os bastidores podres da política nacional, quem quer de fato sair. Só quem quer. E acho que, se o judiciário não puder atuar a partir dessas provas, o povo tem mesmo que fazê-lo, como está fazendo: por meio de passeatas e outras formas de protestos, exatamente como o PT e seus parceiros sempre fizeram, quando o poder estava do outro lado.
E quero defender o povo, que está sendo execrado por alguns intelectuais petistas e de legendas similares, com esta simples observação: não é por querer Lula e Dilma longe do poder público no Brasil, que o povo quer o Aécio e similares. Isso tanto é verdade, que quando Aécio e outros espertinhos tentaram se incorporar aos protestos contra Lula e Dilma, foram hostilizados e expulsos, como tinham mesmo que ser, como aproveitadores que sempre foram, de momentos assim.
Mudei e continuarei mudando, não de ideologia pessoal, pois esta será sempre a mesma em minha consciência; em meu desejo de um país melhor. Mudarei sempre de preferência por este ou aquele representante político que me representar mal. Seja ele quem for. Amo o meu país, minha gente, meus iguais, e até meu time, mais do que a qualquer partido político e seus caciques.
Repito: ideologia político-partidária não é time. Ao invés de "uma vez isso, isso até morrer", a depender de como seja isso, a música troca de letra: "uma vez isso, isso nunca mais". Digo ainda que, se os "outros" que até então governavam também se corrompiam, roubavam e mentiam para o povo, não votei nestes para que tenham sua vez de fazer o mesmo. Sobretudo, de formas tão descaradas. Votei em pessoas que em minha esperança governariam e legislariam de forma inédita. Honesta e comprometida com o bem. Como se mostraram piores, não os quero nem quero voltar aos que se foram. Continuarei procurando e crendo que o futuro ainda possa parir políticos que o passado e o presente sonegaram.
Meu artigo não classifica os opostos como idiotas, coxinhas ou analfabetos; nem mesmo os analfabetos, entre os quais muitos podem me dar lições de política, pela vivência que têm. Que os intelectuais parem de mandar os mais simples lerem; que pobres e ricos tenham pleno direito a suas opiniões, e nenhum cidadão de bem se torne desafeto do outro por causa daqueles lá. 
Não quero chegar à conclusão de que a democracia, tão sonhada por todos nós, é na verdade a ditadura da esquerda.

quinta-feira, 17 de março de 2016

BICHO BELEZA


PRIVACIDADE


EM TEU PRELO


Demétrio Sena, Magé - RJ.



O que lhe peço todos os dias, em minhas idas e vindas, é que você decida o que pensa e quer de mim. Resolva em seu coração se me permite ou proíbe; foge ou se torna próxima. Quero ver em seus atos o começo de uma relação consistente ou a declaração do fim. O que não posso mais aceitar é o meio termo que vejo entre os parêntesis de seus olhos e atitudes, e nas palavras medidas; comedidas; repletas de silêncio e zelo.
Nunca me considerei um exemplo de comportamento e virtude, mas posso me vangloriar de jamais ter sido mais ou menos. Sempre fui bem torto, e com isto, não confundi meus afetos, o que faria se fosse meio certo; nem certo nem errado; meio lá, meio cá. Não vejo qualquer sentido em ser meio alguém. E como sempre me abri totalmente, com todos os aleijões de minh´alma, de minha forma sem fôrma de ser, peço que você tranque ou abra de uma vez o seu coração para mim. Que me admire ou despreze. Convide ou expulse. 
Quando sua velha gangorra finalmente cessar, triste ou alegre terei paz. Saberei se retorno deste ponto... se devo ir em frente. Verei se a distância tem algum horizonte, no que tange a você. Para tanto, você tem que ser quem é para quem sou. Aconteça o que acontecer, só me tire desse prelo. Seja flor ou espinho e me deixe optar, sem temor nem dúvida, entre querer ou rejeitar definitivamente o que sua sinceridade me ofereça.

quarta-feira, 16 de março de 2016

NOVA ESPERANÇA


Demétrio Sena, Magé - RJ.


O caminho é pra frente, há seus atalhos,
os recuos que o mundo nos impõe,
atos falhos de saudades vencidas
entre pausas marcadas; pontuais...
Mas as nossas verdades nos despertam,
nos convocam pro tempo que não dorme,
pois manhãs preguiçosas viram tardes
e depois aceleram rumo às noites...
Uma vida requer algumas mortes,
marcas, cortes e muito sangramento,
nem por isso incentiva desistências...
Reticências apontam pro futuro;
só existe passado pra lembrança;
ponha nova esperança em sua grama...

POBREZA


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Tenho preconceito de pobres. Acho que todos podem ser ricos. Até mesmo os ricos. Pobreza de espírito é para pessoas intimamente acomodadas.

terça-feira, 15 de março de 2016

AMOR E MEDO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Meço a voz, a palavra, os olhares que fluo,
tenho todo o cuidado pra não te afastar,
meio vou mas recuo de minha investida,
volto e volto a voltar, é meu quase constante...
Sonho tanto acordado quanto quando sonho,
depois durmo pro sono que tento dormir,
pois não sei se me ponho, me tiro do ar
que respiras e prendes em minha presença...
Caio em mim onde sobro na tua verdade,
logo tenho saudade, me chamo e respondo
para dar o que tenho aos temores de sempre...
Sei que sabes que sei que sabes o que sinto,
mas exponho e desminto, porque sinto muito
por mostrares tão pouco do que sou pra ti...

segunda-feira, 14 de março de 2016

EX-DETENTO AFETIVO

Demétrio Sena, Magé – RJ.


Você não é mais o centro de minha vida. Faz tempo que o coração decidiu bater sozinho; sem o marca passo da saudade. Quem já foi o começo e o fim, agora é só meio termo de lembranças vagas que o tempo estabiliza na sombra do passado.
Alcancei o sentido que a vida faz depois de um antes que o durante não qualificou para ser eterno. Alguém que só foi algo, apesar de tudo, e desaguou no abismo das ilusões vencidas não é nada que mereça lamentos, nostalgia nem visitas memoriais.
Fui seu detento afetivo. Você me prendeu em mim. Vinha quando queria, e com rações de prazer, me deixava esperando mais. Dava sempre menos e me fazia crer no demérito e na injustiça de quando reclamei o que devia ser meu, em troca de minha entrega.
Já não faço queixas desse tempo. Faço poesia. Lentamente aprendi quem sou. Percebi que sou. Vi que a verdade salvadora não está na dependência do amor que vem ou vai, mas na certeza do amor que me habita... profundo e visceral.

Retirei-a do meu mundo. Minha existência. Minha veia. Meu coração e minh´alma. Descobri afinal, que tenho asas, e por ser um aluno exemplar dos contrastes da vida, me livrei aqui dentro. Prendi você aí fora.

CRONIQUINHA SEM VERGONHA

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Entre o safado e o sem vergonha existe uma diferença considerável. O safado é um sem vergonha com intenções ocultas ou escusas. A sua sem-vergonhice tem alvo externo; quer sempre algo de alguém.
Já o sem vergonha é um safado sem malícia. Ele apenas não tem vergonha; sua safadeza é natural. Não estabelece alvo, resposta nem projeto externos, quando a exterioriza. 
É meio louco escrever isto. Quem leu esta insanidade poderá desler, para se despir do risco de já ter gostado. Quanto ao mais, perdoe este sem vergonha pela safadeza de ocupar seu tempo com esta croniquinha. 

domingo, 13 de março de 2016

PASTO AFETIVO

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Traio todas as notas do silêncio em mim,
pois me rendo aos teus olhos cravados nos meus;
é assim que me perco do velho equilíbrio
com que acho saber o que faço aqui dentro...
Há um eu movediço no abismo que trago,
quando a tua presença me faz recuar,
tem um vago sentido que paira na treva
do meu ar preguiçoso; meu cosmo secreto...
Eu me abro no quanto me fecho pra ti,
sou exposto à medida que tento não ser
e vencer o que vence a razão embotada...
Sabes como arrancar a confissão retida,
minha vida se torna o teu filme já gasto,
se me perco nos pastos da tua expressão...

VIDA IRREAL


Demétrio Sena, Magé - RJ.



A vida real se revela
tão assombrosa e desumana
ou tresloucada e descabida,
que a mais absurda novela,
quanto mais nos pareça insana
mais se parece com a vida.

AMOR VERBAL

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Prestar favores que não demandam sacrifício... fazer gentilezas que não pesam... oferecer solidariedade ativa que não traz prejuízo, são atitudes básicas... o mínimo que devemos fazer por quem podemos alcançar. Mesmo assim, classificamos tudo isso como dar moleza e falamos cada vez mais em amor ao próximo.

terça-feira, 8 de março de 2016

TURISMO VISUAL

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Meu olhar desconhece um prazer mais fiel
que tomar os caminhos notórios em ti,
resvalar no teu céu entre nuvens de rendas
e sonhar que cheguei, como nunca será...
Faço ebó ao delírio dessa encruzilhada,
quando cruzas os rumos que levam à fonte;
como quem não quer nada, nada quero além
do que as águas discretas que brotam ali...
De repente os teus montes me chamam curvados;
quero todos os lados; não paro em nenhum
e me perco tentando encontrar equilíbrio...
É apenas turismo dos olhos vencidos
pela breve paisagem de todos os dias;
umas vãs utopias que brotam da pele...

CARA A CARA

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Estou aqui. Também quero falar mal de mim.
Pode ser assim, aqui e agora, 
ou será melhor quando eu for embora?

TALVEZ

Demétrio Sena, Magé - RJ.


O talvez é sinônimo de não... 
mas não tem alicerce; fundamento... 
é um não com direito ao arrependimento.

quinta-feira, 3 de março de 2016

IMORALISTA

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Sou do tipo indecente, 
que não quer ser imoral. 
Nem perder a decência.
Ou do tipo imoral, 
que não quer ser indecente... 
nem perder a moral... 
ou ser amoral...
Não sonho ter a indecência
de moralizar o mundo, 
sendo assim como sou...
humano em essência. 
Deixo longe de mim
a moralidade inglória
de ser o mural,
o moral
e a moral da história.

REENCONTRO


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Foi um tanto confusa pra minha saudade
a mornura do encontro que tanto esperei;
houve grade, fronteira, sinal de limite
ou alarme velado entre tênues lacunas...
Foste branda e polida, puseste adoçante
onde nunca faltava o excesso de açúcar,
teu afeto distante frustrou a presença
e fiquei constrangido com a simpatia...
Não há como sentir dessa forma contida
o que a vida curtiu tão profundo em meu ser
ou deixar decair o que voou tão alto...
Nem te quero comum, reticente, formal,
no formol, na vitrine, com tal reverência
de museu; catedral; conferência; consulta...

AMAR DE NOVO

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Já morri de vontade; raiva; dor... de frustração e nostalgia. De frio e sede. Mas também já morri de alegria, esperança, tensão e ansiedade... morri de muito esperar. 
Foram muitas as versões desencontradas e vertiginosas das quais morri a vida inteira. Morri da ideia de morrer, e de viver uma só vez as emoções que uma vida não comporta. Muitas vezes morri de prazer, porque o chão que se abriu aos meus pés me sugou completamente e fez perder os sentidos. Nesse dia percebi o sentido que o próprio mundo não tem, sem essa perda pontual de sentidos. 
Já morri de saudades do seu beijo. De quando morri de tanto amor. Tanto sonho marcado para morrer. Tive medo e morri de solidão. Morri de medo. Inclusive de medo da solidão. Mesmo assim, fui teimoso e reservei o melhor para te matar de pasmo. Provar meu poder de superação. Superação da separação...
Só agora revelo este segredo: depois de tanto morrer, estou vivo. Vivo e pronto para o que ainda pode ser. O motivo é todo meu. Revelo não... ele pertence ao coração.

terça-feira, 1 de março de 2016

SER HUMANO


PERFEIÇÃO E CONVENIÊNCIA


O SONHO NÃO ACABOU

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Com tristeza profunda, vejo que todo sonho acabou. Minha esperança tardia se desfaz em sombra, fumaça e decepção... deixa de ser esperança.

Cabisbaixo, faço meia volta. Se não há mais sonho, nada resta. Não há nada que adoce a constatação deste momento sem sentido. Nem existe o que açucare a queda vertiginosa do prazer com que cheguei aqui.
Mas o mundo é fantástico. A vida é inesperada. O tempo surpreende o destino em questão de segundos, e muitas vezes o põe a favor das nossas expectativas mais frustradas.
Foi assim comigo. Eu já sumia na esquina, quando meu coração acelerou. Emocionou-se com uma voz amiga e solidária que rompeu meus ouvidos e se aninhou bem fundo.
Meu amigo há anos, o confeiteiro Nando anunciava que nem todo sonho acabara. Havia três, ainda frescos, guardados especialmente para mim.