segunda-feira, 23 de maio de 2016

NATUREZA, PAI E MÃE


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Seja sempre o rosto mais visto. O calor mais sentido. A voz mais ouvida. Os ouvidos mais abertos e atentos. No tempo que você tem para ser para ser pai ou mãe, seu amor deve ser o mais presente. Não serve de alma, em espírito e pensamento, se a sua presença física não for constante nas oportunidades que sobram das obrigações de sobrevivência. Em alguns casos, também da eventual partilha ou alternação de guarda.
E seja sempre a verdade mais notória. Faça hoje, uma história bem vivida lá na frente. Uma vida real nas vivências de quem mais importa ou pelo menos deveria importar para você. Seja sua rotina, o que há de mais perto, a lua tocável sob todas as fases. Não seja um oásis em seus desertos casuais, mas a companhia insistente nesses desertos.
Dê a certeza da mão sempre alcançável; dos braços infalíveis; os olhos de plantão. Ame com o coração, está certo, mas ame ainda mais com gestos, atitudes, conversas, criação. Esteja sempre lá, nas horas fáceis ou difíceis em que seu filho não quer estar com outra pessoa. Aceita e obedece, considera e tem carinho, mas é o seu colo que faz falta. É a você que ele quer. Seu amor estatutário. Não terceirizado nem extraquadro.
Pai e mãe são instituições insubstituíveis. Entidades indelegáveis. Filhos não querem liberdade sem fim. Eles querem brincar, ter colegas, visitar parentes, mas não são felizes quando percebem o pouco apego, as desculpas, a constância e a facilidade com que são entregues aos cuidados de quem é querido, mas não tem as atribuições naturais do amor extremado e das atitudes à risca obrigatórias a pai e mãe. Só a pai e mãe. 
Seja pai ou mãe. Único. Exclusivo. Crianças cheias de pais e mães substitutos recebem amor fragmentado. Educação confusa e contraditória. Cuidados casuais e atenção enviesada. Favores afetivos. Fatias da generosidade que sobra do amor que já tem donos mais autênticos; mais consanguíneos. Mais justos, por instituição e natureza.

SEMPRE VOCÊ

Demétrio Sena, Magé – RJ.

Você nunca deixou de ser meu sempre,
mesmo quando acenei pro quanto havia,
pois não via o sem fim do que nos ata
e devolve o que chega em seu abismo...
Sempre foi a presença inesgotável,
meu passado presente no futuro,
lá no muro do espaço grafitado
com as tintas de nossa eternidade...
É a força real do ponto fraco,
caco a caco de todos os mosaicos
entre os quais vou tentando ser inteiro...
Meu jamais agradece ao seu ainda;
você é minha única estação;

a única expressão de minhas fases...

sexta-feira, 20 de maio de 2016

MEDO E PREGUIÇA

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Um país perde a força quando acaba o brio;
perde o sonho, a coragem de sonhar de novo;
faz o povo calar seus anseios mais seus
e se torna sombrio para quem quer ver...
Uma pátria destoa da canção dos tempos,
quando perde o desejo de gritar bem forte,
crê na sombra e na sorte ou na mão permanente
que se doa e dá tudo pra quem obedece...
Não há céu pro futuro de uma terra vaga;
nem o céu ilusório que as greis disseminam;
doce praga nos olhos dopados de medos...
Ao tragar a preguiça que os poderes servem,
a nação mais potente se desbota e brocha
feito rocha que cede aos açoites do mar...

terça-feira, 17 de maio de 2016

poeminha bobo sobre a vida


VIDA REAL

Demétrio Sena, Magé – RJ.


Quando a gente se priva em demasia, fecha os olhos e prende a voz; tampa os tímpanos e priva todos os sentidos e sensações que a vida oferece, logicamente com os seus efeitos colaterais... mas que não fazem deixar de valer a pena viver. Privacidade além da medida faz perder a magia dos valores que circulam pra lá desse medo insano e da solidão que a gente afaga por auto paixão doentia.
Com o tempo, a gente se perde nessa caverna dos estados mais ocos das entranhas vencidas pela treva. Das estranhas verdades tão só da gente, que não há quem possa entender e penetrar. Só a sensação do nada ou do vazio. Esse abismo que habita o chão e se desfaz aos pés descalços de qualquer vontade que não seja dormir pra tudo. Dormir pra sempre. Dormir pra nunca mais.
Mas quando a gente percebe que ninguém nasceu pra ostra ou apenas para o de vez em quando de alguma tentativa pontual de fugir da gente mesmo entre lugares e pessoas estranhas, outro cenário se desenha em derredor. Outra mente se apossa da cabeça e os sentidos renovados vêm retomar o vazio substituto do coração. É aí que se volta para o mundo e se reconcilia com a vida.

No ato em que a gente se lança e se publica, só estabelecendo critérios razoáveis, livres de qualquer patologia, o sentido de quem se é toma corpo. O próprio corpo se assume corpo e a gente já não é surreal. Torna-se alguém com invólucro para guardar a essência não mais espalhada no caos do cosmo. É na rotina da vida real que a gente voa e vê que tudo vale a pena... e o mundo é bom. 

quinta-feira, 12 de maio de 2016

CRIADOR


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Aprendi a rezar um poemário
que sulquei entre as tábuas do meu ser,
é berçário e mortalha de meus sonhos,
primavera e geleira de quem sou...
Sou autor desta bíblia solitária
cujos salmos profanos me libertam,
me despertam pra dor de cada dia
e me curam de qualquer perfeição...
Ser poeta me faz o criador,
o senhor do vazio que abarrota
este mundo suspenso em meu espaço...
Fiz-me carne do verbo poemar,
sobre o mar onde a vida já pairava
lá no meio do início de meu fim...

MOMENTO ETERNO


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Tem um lá bem pra lá dessa canção
do silêncio afinado em seu olhar,
que me faz esquecer o mundo à volta
e calar as angústias de costume...
Sonho lento igual chuva branda e fina
fertiliza esperanças em meu chão,
desafia os quilômetros do tempo
tão sem tempo e sentido para nós...
Há um mundo inventado no seu colo,
uma paz que a verdade não explica,
pólo neutro das minhas emoções...
Você sabe que o sol de seu silêncio
é a nota perfeita pra minh´alma
entre a calma infinita desta hora...

BRIO PEDAGÓGICO


Demétrio Sena, Magé - RJ.


Respeite a solidão doentia de quem se amolda na sombra e tem profunda paixão por si mesmo. Se a pessoa não quer ser incomodada, não a incomode. Mas também não se acomode na espera daquele dia em que os caprichos e conveniências dessa pessoa intimem sua presença incômoda. Retire, uma vez ou outra, o cais de quem tem o vício do seu porto seguro. Isso não é cruel. É pedagógico.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

O AMOR E O TEMPO


SHOW DA FÉ


PAI, MÃE E VICE-VERSA

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Com suas devidas exceções, natureza de pai à moda antiga era fria; distante; sem grande afeto. Pai era provedor. Garantia teto, agasalho, pão e castigo. Era dessa forma que o pai declarava um amor torto; quase morto; no fio bamba da obrigação.
Natureza de mãe à moda antiga era intensa; exagerada; profunda. Não tinha senso nem limite. Oferecia colo, cantiga, mimo, tempo e presença. Naqueles tempos, mãe não terceirizava seus cuidados nem confiava no mundo, como agora confia.
São muitas as mães de nosso tempo, que assumiram aspectos de pais à moda antiga. São práticas, diretas, impessoais e pensam mais do que sentem. Delegam, terceirizam, acham que muito amor estraga os filhos. Por isso amam cada vez menos.
Muitos pais caminharam na direção oposta, garantindo aos filhos a continuação da família com pai e mãe, ainda que os papéis, conceitos e preocupações estejam trocados. Pais com natureza de mãe completam mães com natureza de pai.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

CONFLITOS DE AMOR


Demétrio Sena, Magé - RJ.


Essa tua mistura de pimenta e mel;
esse teu destempero que a tudo tempera;
primavera curtida nas mais estações
entre choques de afetos e raivas de amor...
A magia perversa e bondosa em teus olhos,
tuas fases de fada e de bruxa sombria,
dia e noite no céu do mesmo poço infindo
que devora e devolve meu senso de tudo...
Eu te quero apesar de não querer querer,
sonho tanto que o quanto virou pesadelo
e meu selo é a cena do dia seguinte...
Esta minha esperança de saber quem és
apesar do que sei, mas do que sei que não,
é ausência de chão sob meus pés cansados...

MATURAÇÃO


Demétrio Sena, Magé - RJ.


Hoje gosto de calma. De ar puro. Sombra, rede, quintal. Gosto de amar, fazer amigos, ter liberdade para ser quem sou e deixar bem claro que é pegar ou largar. Escrevo e leio mais do que nunca, sei exatamente o que não quero, aprecio arte, boa música e já não tenho vergonha de ser sensível; romântico; sentimental.
De bem com a vida e comigo mesmo, estou no ponto em que tempo não é dinheiro e sossego não é caretice. Posso desprezar a moda, gostar do que realmente gosto e sonhar ao meu bel prazer... e como não se chega impunemente a tal estágio de segurança, bom gosto e sinceridade, chego à conclusão de que realmente chego à velhice.

CONFISSÕES


Demétrio Sena, Magé - RJ.


Para me aprofundar nas amizades com quem mais me cativa, o parágrafo único de minha lei é que tais pessoas sejam da mesma faixa etária que eu. Sendo assim, tenham boa visão do mundo e considerável grau de vivência; de compreensão das complexidades do ser humano. Sobretudo, condições de não confundir ou distorcer as minhas esquisitices.
Advogo em causa própria, pois tenho muitas esquisitices. Uma delas é a já citada classificação etária por natureza de relação e comportamento. Passei anos e anos tentando vencê-las, mas na verdade fui vencido por elas. E ao me permitir o aprofundamento nas amizades em questão, me torno confidente. Deixo de me obrigar certas composturas e confio plenamente no outro, como confio na confiança plena que o outro tem em mim.
Evidentemente, as tais amizades também têm seu parágrafo único: a opção de jamais se deixar aprofundar. Ou de retornar ao estágio comum; trivial. Sem maiores demonstrações de afeto, confiança, cumplicidade ou entrega. Só a leveza dos cumprimentos, das conversas breves, dos encontros ligeiros e casuais; a simpatia; o coleguismo.
A máxima de que é preciso saber viver passa por aí. É preciso saber com quem se lida; em quem se confia. Quem confia em nós, até quando e onde. Saber entrar, sair e transformar uma relação. Toda forma de amor e amizade vale a pena, se a nossa carência for seletiva, observadora, criteriosa e de brio.