sábado, 18 de fevereiro de 2017

MEU MUNDO REAL

Demétrio Sena, Magé - RJ.
Um amigo de muitos anos, do qual não cobrei nada, fez questão de justificar sua ausência à abertura de minha exposição fotográfica na Fundação Educacional e Cultural de Magé. Morador de bairro bem próximo, e de acesso facilitado por ônibus, táxis e unidades de UBER, meu amigo, que até há pouco não tinha carro disse, desolado, ao telefone:
- Sena; me desculpe, mas o meu carro deu defeito; por isso, não poderei prestigiar a abertura de sua exposição, e talvez nem dê para ir, nos próximos dias, pois pode ser que o carro fique na oficina por algum tempo.
Não vejo qualquer problema, se algumas pessoas não podem se fazer presentes a momentos importantes para mim, tanto quanto não posso me fazer presente a tantos momentos importantes para pessoas queridas, inclusive familiares. Respeito as impossibilidades, por menores que sejam, como respeito o fato de alguém não desejar ir, e até não gostar de determinados eventos. Do que não gosto, e não gosto mesmo, são explicações esdrúxulas, que mais complicam do que explicam.
A amizade continua, é claro, como continuaria, sem qualquer mancha, se não houvesse nenhuma explicação. As pessoas queridas para mim são muito mais importantes do que momentos, obrigações sociais e coisas. Não sou vaidoso ao ponto de achar que todos devem me prestigiar a qualquer custo, em todos os momentos de minha vida. Igualmente, não me obrigo a prestigiar todos os meus amigos em tudo o que eles fazem, e sei perfeitamente que sou compreendido neste aspecto.
Sou pessoa bem simples. Não sei dirigir, moro na roça, viajo longas distâncias de bicicleta comum, capino meu quintal, faço minha comida, e minha água é de poço de anéis, puxada por bomba manual. Só compareço à dita civilização para trabalhar, participar esporadicamente de momentos como esse, da exposição, atender a clientes pontuais que me pedem para fotografá-los, e é desta forma: um pé lá, outro cá. Sempre volto correndo para meu mato.
Em outras palavras, não pertenço a esse mundo em que as pessoas ficam sem braços quando a diarista não comparece; não sabem se virar de outras formas quando não têm seus empregos específicos; quebram as pernas quando ficam sem carro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário