terça-feira, 24 de outubro de 2017

SOBRE OS OLHOS DA CARA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

A sociedade gosta - ou não gosta - imediatamente, do que olha, pois olhar é fácil; superficial; externo. Olhar é físico. Para que ela veja um indivíduo do qual não gostou com os olhos e mude sua concepção, existe um longo trajeto a ser percorrido. Isso leva tempo. Há que se ter muita, mas muita bagagem mesmo, para compensar diariamente a falta de atributos físicos, de sofisticação indumentária, posses notórias e/ou qualquer outro rótulo satisfatoriamente comercial.
Curioso, entretanto, é que os portadores de toda essa parafernália natural ou não, física e notória, jamais precisarão provar algo. Eles podem ser fúteis, de mau caráter, presunçosos, reacionários, inflacionários e, alguma vezes, até criminosos. Tudo bem. Basta serem viáveis física, social e muitas vezes religiosamente, pois a religião, desde que não tenha indícios de africanidade, valoriza mais ainda o que a sociedade olha, gosta e dispensa ver.
Ainda mais curioso é que muitas vezes, pessoas que sofrem por longo tempo para vencer preconceitos e serem vistas pela sociedade que os olhou inicialmente sem gostar, passam a ter os mesmos preconceitos por seus iguais. Aprendem a olhar sem ver. Passam a vida revalidando seus valores para manter o status, e não aprendem que ver não é dos olhos da cara. É da sensibilidade ou intuição apurada e livre de preconceitos, que dispensa o sentido da visão.

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