Demétrio Sena, Magé - RJ.
Pergunte aos meus ex-amores que
um dia resolveram partir, como foi fácil me dar adeus. Como lhes dei
prontamente o sinal verde. Alforria imediata para o que não era escravidão.
Depois pergunte ao meu coração,
se por acaso ele saiu pela boca. Também indague ao meu peito se lhe faltou ar;
se a pulsação coronária o nocauteou. Você há de constatar, talvez com alívio, que
não me rasguei todo em tiras e que a polícia, em todas essas dispensas, não
teve o menor trabalho comigo. Nenhuma das algumas partidas de meus ex-amores
terminou em prisão para mim, porque nunca tentei ser prisão de quem um dia me
amou ou fez que o fizesse. Respeito amores e vontades. Verdades e mentiras. Não
cobro juros por juras não cumpridas.
Se seu desejo é partir, não se
avexe. Só preciso saber. Não posso responder ao adeus não dado, e quem quer
partir não sou eu. Sendo assim, não imponha esse jogo de me cansar. De me fazer
tomar uma decisão que é sua. Facilitar o que já é fácil, quando afinal, será
exatamente como foi com os demais amores desistentes. Não se acanhe por me
desamar e se desmentir de seus tantos “eu te amo”. Do seu automático “não vivo
sem você”. Da sua mania de “você é tudo pra mim”, entre outras declarações que
se tornaram clichês; carimbos compulsivos de seus lábios que já nem precisavam
articular para reproduzir esses textos.
Conheço bem essa hora. Esse
olhar. Essa distância, mesmo de perto. Esse mesmo silêncio. Tive outros amores que
seriam pra sempre. Que até foram, mas o sempre se limitou. Ficou curto. Depois
mais curto, até se tornar nunca mais, e sempre com o mesmo jogo no qual não
entrei: o de forjar minha desistência; dizer adeus em meus lábios; acenar com a
minha mão. Quando não teve outro jeito, a surpresa: foi tão fácil me dar adeus;
fui tão compreensivo e liberal, que me acusaram de frio; que se revoltaram
posteriormente com a facilidade, pois doeu na vaidade humana.
Vá em paz. Não é preciso jogar.
Estendo meu tapete à sua partida. Seja bem ida e se avexe não... a porta pro
mundo é a serventia... do meu coração.
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