terça-feira, 31 de janeiro de 2017

USE AS ASAS

Demétrio Sena, Magé - RJ.


São desculpas demais para culpa nenhuma;
não precisa dizer um adeus tão não dito,
tão aflito, espremido, arrastado e sombrio
feito seres de sótãos e suas correntes...
Quem se obriga o que há muito parou de sentir,
faz de conta com todas as forças sinceras,
quer mentir pra si mesmo com suas verdades,
perderá tempo e vida nesse ganhar tempo...
Use as asas e vá, seja livre de mim,
dê ao fim a leitura que vejo em seus traços
e me tire do sonho desse para sempre...
Não se culpe ou desculpe pelo que acabou,
seu amor foi um show de paixão temporal
que valeu cada instante real de miinh´alma...

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

FACILITUDE


Demétrio Sena, Magé - RJ.


Quero a graça do fácil, do acessível,
do sem drama, da pouca cerimônia,
da não culpa, do querer por querer
e a pronta resposta irreticente...
O valor que não quer valorizar;
dizer sim, ouvir sim, tocar avante,
sem o tom arrogante que o talvez
põe na voz entre dentes ilegíveis...
Hoje busco a leveza da fluência,
do sem sombra, sem dúvida e rodeio,
termo inteiro, não meio nem velado...
Facilite-se a vida como a morte
que ninguém ousará ter como incerta,
como sorte ou pegadinha da sina...

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

SÓ ISSO TUDO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Só queria estar dentro, de tão perto;
Ser apenas teu próximo excessivo;
Quando eu fosse mergulho em mar aberto,
Tu serias meu mar e meu motivo...

Tua lavra de amores, teu arquivo,
A miragem real em teu deserto,
Ser teu sonho me faria mais vivo
E minh´alma seria teu enxerto...

Eu queria somente ser teu todo,
Minha sombra criaria o teu lodo,
Quero apenas sonhar com tal magia...

Meu desejo não sabe ficar mudo;
Foi assim que fiquei; só isso tudo;

Sou a noite que vive pro teu dia...

GERAÇÕES

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Minha geração cresceu ouvindo Chico, Bethânia, Tony Tornado, Roberto, "Joões", Caetano, Gil, Jorge Ben, Clara Nunes... lendo Cecília, Bandeira, Ferreira, Drummond, Vinícius, Aghata, Cora, "Veríssimos"...
Minha geração cresceu combatendo, cada um ao seu modo, as ditaduras política, social, familiar... também cresceu aprendendo ofícios desde os dez anos. Assumindo responsabilidades aos quatorze. Quem queria estudar, precisava querer muito, e quando conseguia, tinha o respeito e as oportunidades que os formados de hoje não têm. Naqueles tempos, ter o "científico", análogo ao contemporâneo ensino médio, valia muito mais, tanto em conhecimento quanto em valia, do que ter o atual e defasado curso superior.
Minha geração cresceu sabendo que seria mantida pelos pais até o início de sua juventude, quando os pais é que passariam a ser mantidos por ela. Cresceu sem a proteção do termo adolescência, da lei contra o bullyng, cujo termo também não existia, e das leis contra os preconceitos e pelos direitos humanos. 
Minha geração cresceu sob o peso dos erros da geração anterior... dos extremos que a fizeram sofrer muito, suar e se auto exigir, para sobreviver... mas acho que foi por isso que minha geração cresceu... porque não tinha como não crescer... era crescer ou morrer, oprimida por um sistema que não dava outra saída.
Mas a minha geração, pelas lembranças de nosso tempo, comete outros erros com a geração atual... outros extremos, como dar liberdade além do sensato, não exigir nenhuma responsabilidade, criar na barra-da-saia, oferecer o máximo sem exigir o mínimo... mimar, dizer todos os sins e ceder às chantagens emocionais de uma geração preguiçosa para fazer o certo e pensar nas gerações futuras, que pelo visto, serão ainda mais propensas a não crescer. Com todos os erros de uma geração que pelo menos teve o desejo de acertar, minha geração cresceu... cresceu crescendo... cresceu enquanto crescia.

domingo, 22 de janeiro de 2017

DESGOSTAR


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Se não gostas que eu goste assim de ti,
que me mostre, confie, me desnude,
me destrone pra lua dos teus olhos,
deixarei de gostar do quanto gosto...
Pode ser que minh´alma engula o corpo,
que meu corpo amordace a minha alma,
pra que a palma da pele não aplauda
com a força do afeto que dedico...
Mas gostar de quem és é de quem sou,
goste ou não eu não sei te acomodar
no silêncio da minha inquietação...
Calarei o que sinto, mas por fora,
já é hora de achar a minha voz
que me diz pra também gostar de mim...

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

CHEGANDO À TERCEIRA IDADE

Demétrio Sena, Magé - RJ.


A velhice não é a melhor idade, como se convencionou, mas pode ser uma idade melhor. Isto, se nos dispusermos a aceitá-la e dar o melhor de nós, para vivermos com relativa qualidade. Se a nossa infância e a juventude foram marcadas pelo que teríamos, e ao mesmo tempo pelo que não sabíamos que tínhamos, a velhice pode ser vista como a coroação de um um estágio no qual fomos aprovados.
Uma vez aprovados, passamos a viver do que nos resta, face ao que tivemos, e a reciclar nas nostalgias o valor desse troco do que pagamos para ver, e do eterno passado, sempre aos olhos, em formas de retrovisores. Reciclar, neste caso, não é só reviver. É viver de novo, como se a vida fosse realmente outra, com as limitações bem vindas por quem já viveu. Por quem já foi. Quem recaminha, sabedor de que o recaminho é curto. Não é um período que se compare à trajetória já percorrida, mas vem como um bônus especial para quem se superou.
Envelhecer é se superar. E quem alcança essa fase da vida sem se dar conta disto, viveu à toa. Não cresceu. Só envelheceu. No fundo, não superou nada. Simplesmente murchou, sem produzir sementes. E não adianta se valer de besteiras como chavões do tipo espírito jovem, coração de criança, corpo "com tudo em cima", para fugir da própria caveira que se esqueceu de cair e se mantém sob a pele flácida semelhante a um mapa ilegível, sem qualquer indicação do tesouro.
Façamos da velhice uma idade melhor, sem fantasia de melhor idade. Um tempo de reflexão serena para o bom fechamento de nossos dias, ainda que sem cessarmos as atividades que nos mantêm vivos enquanto há vida. No mais, pior do que tentarmos ser quem não somos, é insistirmos em ser, por fora, o que já fomos e agora não dá mais. É necessário que o corpo, a mente, o espírito e o coração, em seu sentido afetivo, estejam em plena sintonia. Não é possível cada parte puxar para um lado.
Creio, depois de tudo, que o segredo seja tão apenas enxugarmos, de uma vez por todas, o nosso conceito pejorativo de velhice ou terceira idade, sem darmos tanta importância para nominatas. Palavra de quem logo, logo estará nesse patamar. Que bom. Parece que sou merecedor de chegar lá... ou logo ali.

domingo, 15 de janeiro de 2017

O QUE A VIDA ME DEU


Demétrio Sena, Magé - RJ.


Encontrei meu lugar, é jamais tê-lo
entre a sombra dos anos que se vão,
sob gelo, silêncio e nostalgias
ou saudades de chãos que nem pisei...
É jogar a minh´alma em cada corpo
que prometa o remédio pra carência;
cada forma de olhar na qual me aqueça
ou encontre dormência pro que dói...
Aprendi a me achar, é me perdendo
e me vendo nas linhas de horizontes
onde os mares me chamam sem destino...
Tenho apenas o dom de não saber
o que a vida me deu pra perguntar,
meu lugar é não ter pra onde ir...

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

ENGENHOS DE AMOR


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Entendi que acabou, sei ouvir o silêncio,
auscultar a distância do teu coração,
dos teus olhos, teu corpo, desse nunca mais
e daquela emoção que forjavas tão bem...
Não entendo, entretanto, por que tudo aquilo,
por que tantas palavras, tantos desempenhos,
os engenhos de amor que jamais te obriguei
com chantagens, pedidos, truques afetivos...
Fui apenas quem sou e fingiste aceitar,
foram anos e anos de quem nunca foste,
mas querias provar a ti mesma que sim...
Mesmo assim tua faixa foi boa leitura
pros meus olhos, meu sonho, minha boa fé,
minha velha procura de alguém improvável...

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

LESÃO


PRIMA POBRE


Demétrio Sena, Magé - RJ.

A prática de gerar debates ou controvérsias em torno das puladas de cerca, dos hábitos alimentares ou de vestuário entre outros de pessoas públicas ou não, já concedeu a muitos indivíduos aqueles quinze minutos - às vezes um pouco mais - da fama questionável de polêmicos. Isso nunca os elevou ao pódio do respeito e da credibilidade consistentes de um público de qualidade.
As polêmicas pairam sobre questões importantes. Assuntos que merecem atenção pública, por seus contextos políticos, sociais, filosóficos, de classes e credos. O que gira em torno de assuntos íntimos, vidas pessoais e os mais diversos contextos de natureza originalmente particular, não importa o alcance ou a dimensão: será sempre uma discussão medíocre. Um debate menor... uma fofoca. Nada mais relevante ou substancial.
Por mais que tente atingir o patamar superior dessa nominata que jamais lhe coube, qualquer esforço há de ser feito em vão: a fofoca é a prima pobre - tanto quanto ilegítima - da polêmica.

domingo, 8 de janeiro de 2017

DÁLIAS


SABÃO


Demétrio Sena, Magé - RJ.


Estudei tanto a vida, e gritei tanto que além de minha formação acadêmica, era um excelente aluno dessa faculdade... mas, no fim das contas, que jamais aprendi a fazer, só passei mesmo do tempo. No quesito saber, de fato, levei pau, mesmo tendo memorizado lições que, no fundo, não entendi em sua totalidade.
Aprendi que ninguém aprende nada, em comparação ao que se dispõe às nossas vivências, em formas de sofrimento, superações, tombos, reerguimentos, frustrações e sucessos. Os erros que nunca mais cometeremos acabam sendo substituídos por aqueles que faltam, indefinidamente, ser cometidos.
O que posso dizer depois de tudo, e desse nada que me restou, dadas as comparações, é que hoje sei muito menos do que sei que sei. O saber é um sabão que ninguém consegue segurar... o que fica, por mais que nos arrotemos sábios, é a sua espuma. Ela já nos basta para sabermos viver. Pelo menos isso eu sei que sei.

INFINITO PROVISÓRIO

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Hoje sinto que o sempre se fez nunca mais,
todo amor é nenhum, vejo a cara do nada,
tudo jaz onde o jazz nos tirou pra dançar
no salão das quimeras que dão rumo à vida...
Porque fomos eternos provisoriamente,
nossa chama imortal foi chamada e se foi,
deu à mente o que outrora foi do coração
e não disse a que veio, quando disse adeus...
Acabou essa estrada que não tinha extremo,
é de não acabar que se acaba o que paira
sobre o caos insondável de muitos mesmismos...
Já não resta sentido para sentimentos
que perderam a graça, todo viço e vício,
nosso amor foi comício pros ébrios da praça...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

FACES DO FACE


Demétrio Sena, Magé - RJ.


Vejo as faces do Face com cuidado;
umas faces têm alma, são reais,
fazem mais do que ter os seus perfis
e me fazem crescer; me acrescentar...
Outras mostram retratos distorcidos
de verdades e faces que se forjam,
porque face de Face dribla os olhos
de quem olha e não lê além da imagem...
Curto as faces que curtem o meu Face,
mas algumas curtem com minha face,
quando fazem alfafas do que digo...
Meus afagos ao Face não "facista"!
Cada face que o Face faz amar
entre listas de perfis relevantes!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

LER

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Leia constantemente. Mas tenha sempre nos olhos, a leitura do que é um bom livro. São os bons livros que nos ensinam a ler o mundo.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

ESTILHAÇOS


Demétrio Sena, Magé - RJ.


Quis fazer nosso afeto encantado e perene,
ser alguém muito alguém pro teu mundo e teus olhos,
pra criar uma história de amor tão só nossa;
meio jazz, bossa nova, sem data limite...
Fiz por ser um amigo tão fundo e presente,
bem amante, amador pros contextos de amores,
levar flores nos olhos pra fazeres mel
que jamais faltaria nos nossos momentos...
Iludiste o meu sonho do laço sem nó,
foste um dó destoante que me pôs de ré,
pé atrás nas questões dos afetos profundos...
Dediquei muitos anos a gostar demais,
fui demais pro teu jogo de praticidade,
quando a minha verdade questionou a tua...

PRENÚNCIO


Demétrio Sena, Magé - RJ.


Ela vem passo a passo, estou indo ao encontro
do seu tempo, seu ponto e de sua estação;
meu outono faz contas, as folhas restantes
dão ao meu coração a surpresa da calma...
Hoje a vida me toma nos braços das horas,
minhas horas me levam nas asas da brisa,
meu olhar suaviza o que o mundo revela
e descansa os meus medos do que tem que ser...
Já me rendo ao seu cheiro, sua sensação,
minha mão sente a pele de sua verdade
cujo toque abstrato se pré-anuncia...
Sei amar a bagagem que trago no peito;
o que fiz e foi feito de minha viagem;
tudo vale a certeza do que não sei quando...

CONSTATAÇÃO


Demétrio Sena, Magé - RJ.


Nunca tive fartura.
Do que sonhei não tive um quarto...
nem por isso morri de infarto.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

AMOR NO GELO


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Serei sempre a presença disponível,
que desmente as ausências visuais,
a que mais se anuncia enquanto espera
em silêncio, recato e solidão...
Gritaria o teu nome a vida inteira,
como fiz tantas vezes, evoquei
a tu´alma dispersa, vaga e fria
como a lei que dispensa o coração...
Mas prefiro deixar que sintas falta,
que demonstres um laivo de saudade,
uma pauta composta por teu ser...
Direi sim, meu afeto é mais que brio,
minha história te conta pros meus dias
e pro fio do amor que não desligo...