sábado, 30 de dezembro de 2023

VERSOS ANTI-NARCISO

Demétrio Sena - Magé 


O amor a mim mesmo não comete arroubo,

não sou louco por mim como ditam os coachs

nem há roubo do chão aos meus pés embebidos

da quimera na qual não precise de alguém...

Todo mundo é um mundo que me faz completo,

mesmo quando alguém frustra uma expectativa,

um afeto estendido em qualquer atitude

ou olhar que os meus olhos consigam fluir...

Meu amor não é tralha que se atice fora

na lixeira do espelho do meu próprio ego;

falo grego a quem fala desse amor tão fútil...

Nunca tive loucura pelo meu umbigo,

paixão cega por tudo que me diz respeito;

se me caso comigo é pra não ser feliz...

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TREM DO TEMPO

Demétrio Sena - Magé

Sou do tempo em que a primavera tinha multicores... a chuva, sempre à tardinha, refrescava os dias de verão... havia sempre uma brisa no outono... e o inverno era frio. Agradavelmente frio. Venho de quando o trem do tempo nunca parava na estação errada.

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terça-feira, 26 de dezembro de 2023

REFLEXÃO NATALINA

Demétrio Sena - Magé 


Vocês não fazem ideia de como a fome é dura. Dói no estômago, no corpo, na auto estima e na alma. Não a fome de quem vai comer mais tarde. Quem tem a comida e aguarda seu preparo, que hoje demora mais um pouco. Falo da fome de quem a passa; quem tem a comida regular como algo distante; garimpo inalcançável. 

Para mim, Natal é de remorsos. Hoje como bem e sou grato à vida por não ter me abortado antes de conhecer um conforto relativo e criar filhas com esse conforto. Mas os excessos do fim de ano doem na consciência, como dói a fome, pelo remorso de saber que sou, nestes dias, o extremo oposto abusivo dos que a sentem permanentemente... de comida, brinquedos, brincadeiras, a segurança de um lar, pessoas queridas e, fome de serem queridas por alguém.

Não tenho remorso diário de comer, beber, morar... conquistei a vida sem privações, com educação e trabalho. Faço jus e creio que muitos conseguirão o mesmo, tantos outros muito mais do que eu, que sou um acomodado incurável, pelo que deixei passarem tantas "oportunidades" na vida.

Fim de ano é melancólico. Lembro que fui plateia de farturas alheias... até de natais vizinhos não tão fartos, mas de portas cerradas, porque os nove meninos de Maria poderiam adentrar, desejando migalhas. Hoje me sinto com portas cerradas, para que meninas e meninos como nós "não estraguem a ceia".

Não punirei meus afetos com recolhimento, ausência e tristeza em razão das lembranças do passado. Minha esposa e filhas não têm culpa e, meus irmãos, que viveram comigo tais experiências, têm um poder maior de superação... merecemos o ajuntamento feliz. Sabemos o quanto choramos juntos. É tempo de sorrimos.

O que sinto é inevitável, porém sou feliz. Como não, depois de sobrevivermos a tanto, sem recorrermos às piores formas de sobrevivência? Felizes festas... mas não façamos aquela oração "em agradecimento pelo que temos, enquanto muitos não têm nada". Isso é requinte de crueldade.

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FIM DE ANO DO RECOMEÇO

Demétrio Sena - Magé 


Embora o Natal, como data, não tenha sentido para mim, tem sentido recordar que bem pouco tempo atrás o Brasil vivia um dos piores fins de ano de sua história. Um Natal que não fazia sentido para nenhum ser humano de boa fé e de boa vontade. Não apenas pela pandemia de Covid 19, mas também por uma praga em forma de gente, que até então governava; digo; desgovernava o país.


Neste momento em que vivo num país cuja democracia foi retomada... cujas leis contra preconceitos, especialmente o racismo, a homofobia e a misoginia voltaram a ser de fato... num país que voltou a ser bem visto pelo mundo civilizado e, surpreendentemente, começou a ter de novo a inflação controlada, o que eu nem esperava já para este ano, estou bem otimista. 


Ver as artes reocupando seus lugares; a cultura como um todo "revalorizada" e a cidadania recuperando seu contexto, não tem preço. Como não tem preço ligar a tevê e não ver mais, todos os dias, notícias de um idiota empoderado pelas urnas promovendo insanidades.


Mesmo sem comungar com o sentido possível do Natal, este ano está fácil participar da ceia promovida pelos meus, que acreditam... e que sempre respeitei. Boas comemorações para todos. A reunião anual das famílias em torno de uma aura consentida pelo ser humano como uma espécie de trégua, cessar fogo ou pausa humanitária é um mérito verdadeiro desta data.

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PORQUE SOMOS PAIS

 Demétrio Sena - Magé 


Filhos a gente acolhe. Repreende, critica os erros, aconselha e lamenta, mas acolhe. E como quase todo mundo é cristão, acredita em Deus, este ateu pergunta, com base na própria máxima cristã: não é esse o exemplo que O Próprio Deus dá? Ou não é dito nos templos, que Ele odeia o pecado, mas ama o pecador? E quem somos nós, meros pais/mães, para nos sentirmos superiores a um filho, uma filha?Aprendemos com os nossos erros e podemos, sim, tentar evitar que os filhos sofram com os próprios, porém, se não conseguirmos, eles farão o mesmo que nós fizemos; darão cabeçadas até entenderem onde estão os  limites da vida.

Seja como for, filhos a gente ama. Não põe panos quentes, não apoia burradas nem os esconde para não pagarem por eventuais crimes, mas ama. O amor é acolhimento... abraçar para sempre, não importa a idade... é não promover o conceito inaceitável de ex-filho. É deixar levar os tombos, quando não tem jeito... ver sofrer as consequências e depois lamber as feridas, porque os nossos pais fizeram isso por nós, e se não fizeram, estavam errados, porque não agiram como pais; apenas como juízes de condenação fixa... sem julgamento justo.

Filhos a gente acolhe; ama; perdoa; respeita... entende que são seres humanos cujas falhas muitas vezes puxaram pelas nossas. E que esperam de nós o que também esperamos dos nossos pais, quando foi a nossa vez... quando fomos filhos.

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CRISTIANISMO NEGOCIÁVEL

 Demétrio Sena - Magé 

Eis o máximo da hipocrisia cristã: ser contra o aborto (como também sou, porém só mando em meu corpo) e renegar ou excluir a mãe solteira; que se fez mãe porque não abortou. As igrejas cristãs estão perdidas num vai-não vai sem fim; um conflito eterno entre o certo, errado e o conveniente... o "perdão" e a condenação proporcionais às vantagens e aos prejuízos que possam ter. O cristão vive na corda bamba do que é ou não pecado (e até que ponto), conforme as próprias medidas e auto flagrantes... e sempre de olho na balança dos bônus e os ônus pessoais do que prega, faz ou deixa de pregar e fazer.

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quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

TRAUMA SOCIAL

Demétrio Sena - Magé 


Tenho trauma dos rostos fugidios,

das palavras catadas nas respostas,

dos vazios nos olhos e nos lábios,

dessas costas pesadas e covardes...

Os que fogem da hora da conversa

que seria difícil por ser franca,

quem arranca desculpas pra não ter

que lidar com incômodas verdades...

É imenso meu trauma dos medrosos

quando tudo ameaça desnudar

seus intentos lodosos de mentir...

Dessa gente que foge de si mesma

e consegue amputar a consciência,

pra não ter a decência de crescer...

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MORDIDA

 Demétrio Sena - Magé


Meu corpo exposto aos teus olhos

deseja tua mordida.

Ah... morda minha vida!


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terça-feira, 19 de dezembro de 2023

BOLSAS DE SANGUE

Demétrio Sena - Magé


Tá vendo as bolsas de sangue?

Elas estão todas repletas

do sangue de professores,

artistas, donas de casa,

pedreiros, faxineiros, atletas...

Aquelas bolsas, não sei

se cabe no teu instinto,

são de sangue puro sangue,

de homem, feminista e gay,

indígena e preto retinto...

As bolsas tão desejadas

quase na hora do adeus,

têm sangue de muçulmanos;

de gente de toda fé...

católicos, "crentes", ateus,

Judeus, budistas, maçons;

Rosa Cruz e candomblé...

Naquelas bolsas, meu caro;

tem sangue do semelhante

pronto a lançar a sorte...

Nas agonias do leito,

renuncias ao preconceito 

ou dizes bem-vindo à morte?

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terça-feira, 12 de dezembro de 2023

OUTROS SONHOS

Demétrio Sena - Magé 


Meu gostar não emite promissória;

não é troca forjada em doação;

dar o meu coração é livre arbítrio

que me dou pra sofrer ou ser feliz...

Ao sair porque tive apenas flanco,

terei sido completo por mim mesmo,

mas um banco de afetos mal geridos

por quem foi perdulário com o saldo...

Saio em paz e não meço prejuízos,

dar avisos não faz nenhum sentido 

para quem digeriu a solidão...

Lavo todo meu ser e me reponho

noutro sonho disposto a ser levado

pela minha esperança por aí...

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domingo, 10 de dezembro de 2023

POR(NÓS)

Demétrio Sena - Magé 


Fantasia que visto ao me despir;

tua pele grudada nos meus pelos;

meus apelos rompendo as tuas coxas,

indo às aguas profundas do prazer...

És um sonho teimoso em minhas noites,

o meu sono deságua em tua fonte,

os açoites de beijos e carícias

trazem todo meu vício à flor da pele...

Misturamos as nossas melaninas;

o suor das salinas dos desejos

nos tempera de todos os aromas...

É assim que desperto em solidão,

minha mão te procura no meu corpo 

e termina por nós o que não houve...

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sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

AMOR MAIOR QUE POESIA

Demétrio Sena 


Meu amor por você tem dessas coisas;

ser maior do que sei dimensionar;

não achar as palavras que definam

esta força incontida nas entranhas...

É a foz que não cessa em meu silêncio;

minha voz ocular de sentinela;

sou a própria capela na qual sonho

que será tão feliz quanto merece...

Meu amor é maior do que se meça

sob a pressa dos tempos que vivemos

na vertigem das nossas emoções...

Eu lhe amo com todos atropelos

dos desvelos quasímodos do ser;

tento até merecer o seu amor...

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Para minha filha Nathalia

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

SOBRE METADES INTEIRAS

Demétrio Sena - Magé 

"Ter individualidade" ou "fazer o que eu quero" é ilegítimo", se há alguém ao meu lado e o excesso do meu eu a torna infeliz. Prometi (com ou sem cerimônia religiosa) amar e tornar feliz essa pessoa, "até que a morte nos separe". Se o amor morreu, já nos separou, e se foi em mim essa morte, preciso enterrar a vida que já não faz sentido e livrar minha companhia dos meus arroubos... ou se ainda existe amor, ajustar a convivência para a individualidade sem abandono... fazer o que eu quero sem "mostrar quem é quem"... ser livre sem trair ou deixar parecer que traio, por possível vaidade machista.

Sou indivíduo, mesmo na vida conjugal, e não quero ser levado na rédea curta. Mas a reivindicação não pode cometer excessos que diminuam quem vive comigo. Tenho direito às amizades só minhas e meu cônjuge também; ao trabalho que me realize. Aos perfis em redes sociais e senhas só minhas. Mas nada pode ser usado para humilhação, abandono, traição (...). É fácil cobrar confiança à minha individualidade... mas preciso não fazer dela o salvo conduto para não ter escrúpulos. Nem tornar "cabeludos" os segredos aos quais tenho direito; até porque, um dia vêm à tona.

Respeito é troca. Liberdade é troca. Confiança também. Posso abrir mão da vida conjugal para "viver minha vida" e posso viver minha vida sem deixar de viver a nossa. É só alcançar a troca de respeito, liberdade, confiança e direitos individuais. A sociedade, mesmo democrática, tem leis que punem o mau uso da democracia. Vida a dois é sociedade dentro da sociedade. Também tem leis, mesmo com regime democrático. Há outra pessoa e meus direitos não podem massacrar os seus, por excesso; má fé. Sou livre para não ter vida a dois, mas a decisão tem que ser inteira, para não oprimir a outra metade. Consensualidade é valor inestimável.

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sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

CAIPIRESCO AUTENTICADO

Demétrio Sena - Magé 

Quero falar de quintais. Não das construções que ocupam os quintais. Nem do quanto eles valem por seus muros, portões, piscinas, câmeras e jardinagem contida (que não suja o chão pavimentado e quente ao redor) ou das peças decorativas orientadas. Falarei das árvores livres e dos pássaros que as frequentam. De flores selvagens e borboletas; ramagens e camaleões... dos mini-córregos que duram dias e dias, depois de chuvas intensas, constantes e férteis.

Sou do tipo que se vangloria das plantas diferentes; dos insetos raros que descobre ou do silêncio com o qual conversa, quando não com pessoas. Todo garboso ao falar do ritmo da chuva; metido a não temer os relâmpagos... besta como só eu sou, quando me vanglorio das luzes que os vagalumes ofertam... das orquestras que os passarinhos, grilos, folhas e sapos montam para mim.

Já tem muita gente para falar de glamour; de brilhos, extravagâncias e gostos obrigatórios... de coisas que não têm o toque pessoal da inspiração. A cara de quem as têm. Embora entenda e respeite o contrário, quero sentir a grandeza da modéstia; o glamour da simplicidade; a riqueza de ser quem sou porque sou; não porque tenho que ser, depois de fundido e modelado.

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HERANÇAS RELIGIOSAS

Demétrio Sena - Magé 

Os festivais e os realitys de músicas revelam milhares de talentos até então sufocados pelas igrejas evangélicas. Essas pessoas relatam que antes cantavam nos cultos, em apresentações coletivas ou solo, sempre as mesmas melodias chorosas, gemidas ou gritadas... às vezes, as mesmas letras em hinos travestidos do que chamam de músicas mundanas (imitando rock, samba, funk etc), feitas como iscas para pescarem almas incautas e jovens.

Um dia desejaram cantar para todo o mundo, a diversidade musical que já morava desde bem cedo em suas vocações. Resolveram voar; ser autênticos... ao mesmo tempo, surgiram conflitos profundos, de natureza existencialista, e seus olhos começaram a ver um mundo com os mesmos problemas e semelhantes embates de caráter das igrejas. Um mundo no qual, como nas igrejas, há indivíduos bons e maus, com a diferença de que os maus não têm onde ocultar suas naturezas. A partir daí esses religiosos, maioria jovens, não couberam mais na ditadura fantasiosa do evangelho. Suas asas ficaram muito maiores do que as gaiolas onde se forjaram felizes, ao som de trilhas musicais alheias aos seus sentimentos e suas inspirações.

Acontece com eles e com os poetas, artistas plásticos, atores, dançarinos ou simplesmente pessoas com espírito livre, que desejaram "se misturar"; ser quem são, alçar voos e se auto conhecer; trilhar sonhos sinceros. A religião perde. Ganham as artes; a cultura como um todo. O mundo agradece às igrejas por elas entregarem, todos os dias, tantos tesouros culturais outrora reprimidos ou modelados para o mesmismo, sem nenhuma inspiração; sem qualquer criatividade genuína. 

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sexta-feira, 24 de novembro de 2023

NÃO CHEGA DE FALAR DE RACISMO

Demétrio Sena - Magé 

São expressões contundentes do racismo neste país, frases como: "não existe racismo", "também não é tanto assim", "acho que já estão exagerando" e... inexplicavelmente, "não me sinto vítima de racismo"... esta última, dita por vítimas do racismo estrutural, mas que, por terem alcançado alguma posição na sociedade, não passam por situações mais explícitas ou agressivas, cotidianamente. Assim sendo, não se importam com os outros pardos/pretos que todos os dias sofrem agressões racistas ou injúrias raciais, como é o caso dos motociclistas que fazem entregas e clientes pretos/pardos que entram em lojas com trajes simples... para os atendentes e seguranças, com trajes e traços "de quem não vai comprar nada". 

Não podemos dar apoio nem justificar o mais disfarçado entre os atos racistas que fazem tantas vítimas neste país. Todas as formas de preconceito são abomináveis; do machismo à homofobia; do preconceito religioso ao de classe e todos os outros... mas o racismo é mais doentio dos preconceitos; o mais raivoso e insistente, além de ser tolerado por muitos que o sofrem. Vamos registrar o preconceito expresso nas ruas, nas lojas, nos templos, até nos tribunais, e denunciar; fazer protestos; prestar queixas; ajudar os que passam por situações que naquele momento não sofremos e nunca deixar para lá nem "entregar nas Mãos de Deus". Tornar o país melhor está em nossa disposição de tomar atitudes.

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quarta-feira, 22 de novembro de 2023

AMNÉSIA

Demétrio Sena - Magé

Tenho medos guardados onde não me lembro;
trago dores que rangem nos dentes da alma;
tem um membro esquecido no corpo abstrato
escondido na calma da minha tristeza...
O que arrasto comigo não sei definir,
talvez sejam correntes, porque sou fantasma;
é um ir e voltar sem saber de que ponto
e perder o meu tempo num vazio insano...
Minha idade carrega sensação de mais;
tenho pesos imensos no desvão da mente,
frente fria que abate meu campo minado...
Eu me caço no escuro de minhas verdades
ou saudades de quando não me lembro mais,
que ou quem nunca esteve nas minhas vivências...
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FRANQUEZA VIVENCIAL

Demétrio Sena - Magé

Peço que, na sua lida pessoal comigo, jamais me respeite pelo estritamente previsível; só por eu ser alguém "respeitador", dentro da sua vivência social de respeito. Adianto que, no engessamento extremo dessa visão, você pode se decepcionar muito comigo. Não sei o que é respeitar, para você, como talvez você também não saiba o que é respeitar, para mim.
Pelo exposto, minha proposta é que observemos a cultura de respeito um do outro. Se for a mesma cultura, saberemos identificar a partir da naturalidade ou da franqueza vivencial de cada um, para interagirmos abertamente a partir daí. Se não for, já que não vivemos entre as mesmas paredes, que saibamos lidar em harmonia, cada um respeitando a cultura de respeito que há no outro... e nunca impondo a própria como matriz.
O que não cabe é julgar o próximo se utilizando como comparação... nem forjar contextos e distorções, para colher temas de mexericos posteriores, distantes de qualquer código de ética pessoal ou de grupo. Nenhuma cultura de respeito combina com língua-de-trapo.
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terça-feira, 14 de novembro de 2023

BONDE FANTASMA

Demétrio Sena - Magé


Minha vida já deu; não por desgosto;

por nenhuma tristeza; depressão;

pelo não do meu sonho a cada dia

nem por tantos cansaços de seguir...

É um flanco estendido sob os pés,

a lacuna dos tempos desgastados,

um revés de mistérios resolvidos

que perderam a graça para mim...

Os meus anos gastaram a minh'alma;

desbotaram as minhas fantasias;

tenho calma que arrasta ferros velhos...

Quero ir e não tenho para onde;

meu estado é cratera capital;

é um bonde fantasma sem destino...

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quinta-feira, 9 de novembro de 2023

NEM POR FÉ

Demétrio Sena - Magé 


Nem se fosse cristão, eu compraria

uma ideia de bençãos reservadas,

alegrias guardadas em armários

para servos ilustres; mais contritos...

Eu creria num Deus imparcial,

que não tem preferências, preterências

nem a "lei marcial" impiedosa

sempre a postos por erros só do outro...

E meus cultos seriam sem rompantes 

de quem acha que Deus é serviçal

dos amantes venais de shows da fé...

Caso fosse cristão, não portaria,

como nunca portei qualquer certeza,

que Deus sempre seria meu mordomo...

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quarta-feira, 8 de novembro de 2023

DAS PIEDADES DEFINITIVAS

Demétrio Sena - Magé 

É de alguma grandeza quando saciamos, ainda que pontualmente, a fome de alguém... amenizamos o frio de uma pessoa que mora nas ruas. Grandeza, se não o fazemos pelo interesse na suposta multiplicação divina do que já temos, enquanto aquele continua não tendo nada... ou só a benção falsa de suportar, cotidianamente, os nossos olhos imponentes de piedade superior. 

No entanto, há casos em que podemos ajudar alguém a nunca mais ter fome nem sentir frio, e não o fazemos. Não sei se tememos perder a "glória" diária de ouvir as palavras gratas do beneficiário das nossas migalhas... ou se o nosso foco em nós é tão imenso que jamais percebemos uma chance de ajudar um ser humano a nunca mais precisar das migalhas do outro....   ...   ... 

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domingo, 5 de novembro de 2023

sábado, 4 de novembro de 2023

HUMANIDADE VENAL

Demétrio Sena - Magé 

Dizer que alguém é "uma pessoa muito boa" quase sempre se baseia no que ela dá, no quanto socorre, atende, favorece, "dá status" ou, em última instância (quando não tem posses) obedece; bajula; serve... lambe as botas... cultua(...).

A sociedade é cada vez mais vazia de pessoas que admiram e gostam de graça... da companhia, o sorriso, a cumplicidade, o apoio. Desaprendemos cada vez mais de valorizar os ouvidos nos quais desaguamos... os braços, nos contextos do abraço e do acolhimento... os olhos sinceros, a voz franca e firme (sem escoar na grosseria ou na soberba, em nome da franqueza)... um ombro amigo... um silêncio mais eloquente que mil palavras ditas.

Não valorizamos o de graça. Tem que ter posses para dar vantagem ou servilismo para cultuar quem tem posses. No que tange os conceitos de amor e humanidade, nós estamos muito longe do tempo da graça... ou do tempo do de graça.

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sexta-feira, 3 de novembro de 2023

IMPRÓPRIO AMOR PRÓPRIO

Demétrio Sena - Magé


Amor próprio não surfa em arrogância

nem nas ondas escusas do egoísmo;

sei que todos estão nesse mesmismo

do amor pelo próximo à distância...


Não se ame com tanto fanatismo;

em primeira, segunda e toda instância,

todo caso, momento e circunstância

ou sinais delirantes de ufanismo...


É mentira dos coachs, que pra nós

não exista verdade, vez nem grito 

que não seja da própria sapiência...


O deserto é demais pra pouca voz;

solidão redentora é só um mito

corrosivo de nossa consciência... 

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domingo, 29 de outubro de 2023

CASA & LAR

 


VIAGENS MINHAS

Demétrio Sena - Magé

Nas viagens que faço, quase sempre me frustro quando chego, em razão do quanto meus olhos e minha mente viajam, nos trajetos. Amo ver pontes, construções longínquas, florestas, rios, campos e cidades por onde passo, como se tudo passasse por mim. Ao meu ver e sentir, o melhor da viagem é o viajar. O trajeto emociona mais do que o destino.

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Você pode ouvir em: https://vm.tiktok.com/ZMjsuESPE/

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

PELO SEU CRIVO

Demétrio Sena - Magé 


Leve a mal, mas me leve no pensar;

entrarei sem licença em sua mente;

se não sente o que sinto, sinto muito,

mas preciso passar pelo seu crivo...

Seja leve comigo e não me atire

nesse abismo do seu esquecimento,

no desvão do cimento movediço 

que borbulha nos medos de su'alma...

Dou a minha palavra; desembarco,

se no charco de suas emoções

meu amor não brotar em pouco tempo...

O remédio é tentar alguma chance;

dance a valsa do apelo que lhe faço

e me leve; talvez eu seja leve...

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PELO SEU CRIVO



Leve a mal, mas me leve no pensar;
entrarei sem licença em sua mente;
se não sente o que sinto, sinto muito,
mas preciso passar pelo seu crivo...
Seja leve comigo e não me atire
nesse abismo do seu esquecimento,
no desvão do cimento movediço 
que borbulha nos medos de su'alma...
Dou a minha palavra; desembarco,
se no charco de suas emoções
meu amor não brotar em pouco tempo...
O remédio é tentar alguma chance;
dance a valsa do apelo que lhe faço
e me leve; talvez eu seja leve...
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Respeite autorias É lei.





Leve a mal, mas me leve no pensar;
entrarei sem licença em sua mente;
se não sente o que sinto, sinto muito,
mas preciso passar pelo seu crivo...
Seja leve comigo e não me atire
nesse abismo do seu esquecimento,
no desvão do cimento movediço 
que borbulha nos medos de su'alma...
Dou a minha palavra; desembarco,
se no charco de suas emoções
meu amor não brotar em pouco tempo...
O remédio é tentar alguma chance;
dance a valsa do apelo que lhe faço
e me leve; talvez eu seja leve...
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Respeite autorias É lei.


PELO SEU CRIVO



Leve a mal, mas me leve no pensar;
entrarei sem licença em sua mente;
se não sente o que sinto, sinto muito,
mas preciso passar pelo seu crivo...
Seja leve comigo e não me atire
nesse abismo do seu esquecimento,
no desvão do cimento movediço 
que borbulha nos medos de su'alma...
Dou a minha palavra; desembarco,
se no charco de suas emoções
meu amor não brotar em pouco tempo...
O remédio é tentar alguma chance;
dance a valsa do apelo que lhe faço
e me leve; talvez eu seja leve...
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sábado, 21 de outubro de 2023

MOSAICO DE SAUDADES

Demétrio Sena - Magé


A saudade que opera em meu sistema

tem um chip na pele dos sentidos;

é um tema que atua em minha história

que parece novela interminável...

Uma grande saudade que se fez

das lembranças de fases e de luas,

tantas ruas e tantas solidões

povoadas de rostos e vivências...

Hoje vivo em razão de reviver;

chego a ver o passado como tela

na parede abismal do meu vazio...

É saudade mosaico de saudades;

de verdades quebradas e repostas

ou respostas repletas de perguntas...

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SOBRE AS GUERRAS

Demétrio Sena - Magé 

Só tenho falado sobre as guerras o básico, "ingênuo" e óbvio. Sua pedra fundamental na ganância e no fanatismo religioso. Diria, no máximo, que as guerras são o produto inalienável da ampliação do que ocorre, todos os dias, bem pertinho de todos nós. 

Guerreia-se cotidianamente para tomar de outros um lote, uma fazenda, uma cidade, região ou país. Países mais poderosos, que pretendem tomar o mundo para si, quando não guerreiam diretamente fomentam guerras. Nelas endividam a "clientela" com fornecimento de armas, ajudas sob o codinome humanitárias e depois cobram seus valores bem mais altos do que financeiros. Enquanto isso, a imposição de fés religiosas; das crenças dos vencedores; dos nomes Deus, Alah, Jeová, Javé, Cristo, Buda e tantos outros.

É só o que depreendo (ou só isso tudo), quando o assunto é guerra. Por essa razão não falo tanto nem com tanta profundidade, além do que todos nós sabemos por intuição. Ganância e religiões elevadas ao extremismo estão sempre do mesmo lado. O da guerra, da morte, o ódio, como justificativa irônica da busca pela paz de um dos lados. Apenas um dos lados.

Não me proponha um debate, uma troca de visões técnicas, sociológicas, teológicas, históricas ou burocráticas da guerra. Você já ganhou, mesmo sem minha disputa. Meu saber sobre a guerra é só a visão simplista de quem somos nós. Quem é o ser humano.

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FÉ NA HUMANIDADE

Demétrio Sena - Magé 

Há preconceitos profundos aconselhados por líderes religiosos aos fiéis mais desavisados. São preconceitos legitimados pelo fanatismo que se apresenta como aproximação maior do Possível Deus. Maior aproximação de Deus, pelo que li na Bíblia dessas mesmas pessoas, não combina com distância do próximo, em razão de fé oposta ou nenhuma fé. Li na Bíblia dessas pessoas, que O Possível Deus do Novo Testamento, em Cristo, é o da Graça... não mais Aquele do dente por dente, olho por olho.

Muitos queriam um novo dilúvio, porque acham que estariam na arca e assistiriam de camarote a humanidade restante se afogar. E queriam que "Deus" ainda incendiasse cidades, transformasse pessoas em estátuas de sal, enviasse pragas, nomeasse profetas para invadir e matar populações inteiras, crendo que eles, como seres especiais, seriam poupados... e que teriam o prazer de olhar por cima, para destilar comparações entre as desgraças alheias e suas supostas bençãos. 

Meu coração está sempre à espera de que algumas pessoas queridas caiam em si, para se permitirem curar desse fanatismo. Esta é a minha fé... no próprio ser humano.

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terça-feira, 17 de outubro de 2023

CANSAÇO

Demétrio Sena - Magé 


Ando meio cansado

da soberba humana.

Da prepotência

dos que não se misturam,

porque precisam

da própria evidência.

Do narcisismo

dos privados demais

e da solidão

dos que a todo momento

"querem paz".

Estou meio sem saco

pros que decidem

quando vêm...

Ditam quando vamos,

quem é do mal,

quem é do bem.

Não posso dizer

que comigo

não seja também assim...

Deve ter muita gente,

por questões diferentes,

cansada de mim...

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#respeiteautorias É lei.

domingo, 15 de outubro de 2023

OBRIGADO, PROFESSORA... PARABÉNS, PROFESSOR

Demétrio Sena - Magé


- Oi, professora; tudo bem?
- Quanto tempo, professor! O senhor ainda é professor?
- Professora! Lembra de mim? Sou aquele capeta que não dava sossego!
- Caramba, professor... como dei trabalho...
Ninguém diz: "Oi, engenheiro!", "Como vai, advogada?", "Lembra de mim, médico?", "Que saudades, pedreiro!", "Que bom revê-la, artesã!".
Tirando os títulos de citação pública ou pontual, obrigatória, o professor é o único profissional que todos chamam nominal, carinhosa e livremente, pelo seu ofício.
Parabéns, professora ou professor... e muito obrigado... não só por hoje, mas por todo o passado, presente e futuro!

sábado, 14 de outubro de 2023

RASTROS DO FOGO CONSUMIDOR

Demétrio Sena - Magé

Por absoluta pressão corporativa de família e meio social cuja maioria é profundamente preconceituosa, fanática, extremista, finalmente a moça decidiu ceder. Virou ativista do extremismo político da direita. E por venda casada inevitável, virou evangélica. Ela era homossexual, e a primeira providência do meio foi fazê-la renegar sua essência, porque era pecado e "Deus" a massacraria com o Seu Rolo Compressor; Sua Espada; os seus anjos carrascos, caso ela insistisse em ser feliz como era.
E a moça tentou: armou-se até os dentes do mais raivoso bolsonarismo; do mais terrível evangelho; participou dos atos golpistas daquele fatídico 8 de janeiro... e assim, as portas da sociedade que a rodeia se abriram para ela. O caminho largo de bênçãos em forma de vitória sobre os mais fracos... de subjugação dos diferentes... da velha exclusão dos inadequados conforme as mentes reinantes, as minorias (das quais, no fundo, ela nunca deixou de fazer parte) se apresentou. O sinal do poder de compra, venda, outros negócios, casar e dar em casamento nos trâmites da "lei religiosa" etc.
Mas não deu. Não era ela. Em pouco tempo sua real natureza reclamou. E como todos lhe convenceram das Maldições do Deus Fogo Consumidor, se ela optasse por ser livre, quem era, pela graça que o cristianismo jamais aceitou, que se preparasse. Foi assim que a moça não suportou e subtraiu a própria vida. E foi assim que todos se livraram das ameaças de sua liberdade. Como foi assim que mais uma vez a natureza terrível do Velho Testamento Bíblico desgraçou a graça do Novo Testamento.
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sexta-feira, 13 de outubro de 2023

À BEIRA DO PENHASCO

Na quinta-feira, 11 de outubro, tive a grande alegria de participar do lançamento do livro À BEIRA DO PENHASCO, do jovem Carlos Ayres, o Carlinhos, de 14 anos de idade. Um livro de grande qualidade poética e sentimentos expostos de maneiras muito sutis, bem delineadas e ao mesmo tempo profundas. De uma profundidade que nos faz ir além da beira do penhasco, para nos aprofundarmos em sentimentos que passeiam por diversos contextos e nos levam junto, pela força de sua persuasão tanto essencial quanto literária. Não nos lembramos, durante a leitura, que estamos lendo o livro de um adolescente, mas ao mesmo tempo, intuímos a magia de sua idade, pela pureza dos sentimentos expostos. O livro de Carlos Ayres está disponível na loja virtual da Amazon.

O lançamento de À BEIRA DO PENHASCO se deu no auditório do Colégio Estadual Alcindo Guanabara, em Guapimirim, onde Carlinhos (na primeira foto, ao lado da secretária do Colégio Alcindo Guanabara) reside. Não tive como não ir, e outros escritores estiveram presentes. Foi um evento leve, sem personalismos, no qual percebi o apoio de professores, colegas, amigos e, principalmente, o apoio de uma família que sabe da importância desse momento de vida para um jovem que ainda se procura e talvez já tenha começado a se encontrar. Procurem o livro do Carlinhos na Amazon. Você não vai cair; vai ganhar asas, viajar no penhasco e depois voltar, para ver do alto o quanto a vida é profunda, o quanto o mundo é muito além dos nossos olhos.





CESTO DE LEMBRANÇAS



 

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

AMOR; ODIADO AMOR

Demétrio Sena - Magé 

Todos amam a palavra amor. A palavra. Ela é poética e musical. Bonita. Mas os católicos mais radicais estão odiando o Papa Francisco, porque ele tem ido além. Tem dissecado a palavra amor... tem pregado a essência do vocábulo. E porque ele, além dos discursos, tem demonstrado esse amor; a preocupação com o sentimento, no sentido visceral do verbo.

Não só o papa. Os pastores evangélicos que fazem o mesmo estão sendo odiados. A palavra amor, cada vez mais amada em sua poesia e musicalidade ou na decoração dos discursos, mas quando esse pastor vai além, disseca o sentimento, expõe as vísceras e a prática do amor, os fiéis mais "religiosos" o odeiam. Odeiam, porque se flagram na incapacidade para o amor ao próximo, sem a escolha de quem é o próximo. São flagrados no seu amor seletivo pelas pessoas próximas que pensam e agem na mesma caixa. Decoram as mesmas cartilhas. Religiosos formais odeiam a diversidade humana e sociocultural.

Amar é fácil na poesia, na música e no discurso fluente; populista. Mas o amor é odioso para quem escolhe quem é o próximo, pois nessa escolha, deixa deixa de ser amor.  Torna-se apenas corporativismo conveniente nos quadros das religiões inchadas pela liturgia dos cultos, missas e rituais, porém murchas de sinceridade.

Sempre foi assim. Porém, o legado macabro de governos fascistas em países cristãos, que empoderaram todas as formas de ódio e preconceito contra a diversidade humana, tornou tudo pior. Governos raivosos, separatistas e incitadores do fanatismo, que foi equivocada e perniciosamente aceito como a encarnação do próprio Cristo, deixaram seus rastros inequívocos da deterioração humana em forma de religião atrelada ao poder político.

Só nos livramos das pessoas de alguns governos. Falta nos livrarmos dessa cultura hipócrita e destrutiva de religiosos que sonham protagonizar novas inquisições, com apoio piliticopartidário.

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#respeiteautorias Isso é lei

#amorodiado #odiadoamor #religiao

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

IDADE

Demétrio Sena - Magé 


Minha idade melhor ficou no tempo;

não há queixa; confesso ter vivido

e duvido que alguém o tenha feito

com tão pouco; no fundo, quase nada...

Que ninguém amenize o meu outono

sem varanda pra outra primavera;

tive o trono, passei a minha faixa,

guardo velhas lembranças e saudades...

A minh'alma condiz com cada pinta;

cada ruga, sinal, mancha de sol;

toda tinta perdida nos meus pelos...

O que há de melhor na minha idade

é saber que acertei ao não correr

pra morrer dos acúmulos da vida.

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Respeite autorias. É lei.

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

VIVER

 Demétrio Sena - Magé


Ou aprendemos

a viver

Outubro pode acontecer.


               Respeite autorias. É lei

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

SEIS POR MEIA DÚZIA

Demétrio Sena - Magé

Amemos o distante... amemos o diferente, como a nós mesmos. Sim, porque o distante é nosso próximo, pois mora na mesma casa - o mesmo planeta -. O diferente é nosso semelhante, porque também é um ser humano... é da mesma espécie que nós, ainda que não seja da mesma cor ou etnia, classe social ou da mesma religião inútil que nos tornou soberbos e preconceituosos.
Quem deixou de fumar, beber, falar uns palavrões e ir a bailes... de transar antes do casamento e usar roupas sensuais, para só se tornar arrogante, separatista e atolado em preconceitos, não se converteu a nada que preste. Sua conversão foi trocar seis por meia dúzia. Pior: deixou os vícios, os tais "prazeres mundanos" e passou a praticar maldades acobertadas pelo fanatismo.
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ONDE NASCE A SOCIEDADE

Demétrio Sena - Magé

Algumas famílias grandes que conheço formam sociedades formidáveis. Embora existam entre elas, escalas econômicas, escolares e culturais bem variadas, não há respeito maior pelos mais bem sucedidos social ou economicamente. Os que estudaram mais não são obrigatoriamente os mais admirados nem os que estudaram menos têm menos direito a voz. Aqueles que têm "menos posses" recebem os mesmos convites; frequentam os mesmos grupos... e os mais religiosos não são cultuados nem olham os menos ou não religiosos como insetos indignos. Confusões? Muitas. Todas as famílias têm. Mas nessas famílias bem resolvidas tudo se dirime a curto e médio prazos, utilizando esses critérios.
As intervenções em celeumas são todas muito cuidadosas, para que "a corda não se arrebente sempre do lado mais fraco" (figura de linguagem, porque, nesses clãs não há lado mais fraco). Perde quem é o mais teimoso e rabugento a cada celeuma. Não o mais "feio", mais pobre ou menos culto. E muitas vezes a confusão acaba em "zoação", sem ninguém achar que isso pode acabar em algo mais grave.
O que há em comum nas famílias bem resolvidas, é que são todos loucos; formidavelmente loucos, em níveis diferentes. Talvez seja esse, o motivo da igualdade que reina em seus ambientes. Acho que o simples fato de serem muitos, com tantos desníveis ou diferenças, prepara os membros consanguíneos dessas sociedades privadas para viverem na sociedade aberta; no mundo em torno. Na diversidade ampla, irrestrita, que precisa respeitar, além de todas as outras anteriormente citadas, as diferenças étnicas e de gêneros que já conhecemos e/ou viremos a conhecer. A sociedade, como um todo, deveria funcionar exatamente como funcionam determinadas famílias que tive a honra de conhecer ao longo da vida.
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SEM O SINAL DA BESTA

Demétrio Sena - Magé

Recentemente, uma jovem conhecida minha foi chamada para uma entrevista empregatícia em uma clínica médica. A primeira pergunta que lhe fizeram foi se ela era evangélica. Se a resposta fosse sim, que dissesse de qual segmento e unidade. Se fosse não, a entrevista já estaria encerrada.
Essa jovem foi membro de uma Igreja Evangélica Wesleyana. Faz tempo que se desligou. Talvez não devesse tê-lo feito, por questão de sobrevivência. Atualmente, as portas da sociedade se fecham para quem não é membro de uma igreja evangélica. São pouquíssimas as inclusões sociais, profissionais e outras, por mais preparo, competência e caráter que se tenha.
E a jovem não mentiu. Disse que não é mais evangélica nem pretende voltar a ser. Que daria o melhor de si como ser humano, social e profissional, caso fosse aceita, mas não; não diria que ainda é evangélica. Uma eventual mentira, certamente lhe daria a vaga, pois a clínica gostou muito do seu currículo, afora o detalhe da religião, mas a moça em questão jamais mentiria.
Mais uma vez, a jovem voltou sem o emprego. Ela não tem o sinal da besta. Continuará se deparando com as portas da sociedade fechadas para ela. Dificultando seu ir e vir. Suprimindo seu direito a "comprar, vender, casar, dar em casamento...".
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RELIGIÃO QUE "REDESLIGA"

Demétrio Sena - Magé

Quando a religião nos fecha em lotes
de pessoas mantidas em conservas,
entre servos e servas de senhores
que nos tangem passivos e marcados...
Se por ela viramos gado ovino
a caminho do pasto além dos olhos,
um destino abstrato após a vida
de temores e muitos preconceitos...
E nos torna distantes dos afetos
com projetos de vida em liberdade
ou verdades humanas mais presentes...
Essa religião que nos desliga
dos que fazem a vida ser diversa,
é perversa e carece de sentido...
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SEM FINGIR

Demétrio Sena - Magé

É meu sonho poder não resvalar
pelas sombras do medo de viver,
nem calar meus conceitos e sentidos,
para ser adequado e ter acesso...
Quero a voz igualada, o tom audível,
minha vez entre todas ao redor,
sentir dor ou alívio abertamente,
sem fingir que me ajusto à tirania...
Não desejo forjar a mesma crença,
pra ganhar um sorriso desarmado;
ser amado por minha conversão...
E queria de volta os meus afetos
que fugiram após me verem nu
dos concretos da fé padronizada...
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sexta-feira, 15 de setembro de 2023

SOLIDÃO INVERSA

Demétrio Sena - Magé

Faz-me falta sentir o próprio ser;
ter as minhas vontades à vontade;
ser a própria verdade à luz do espelho
que não mostre um olhar atrás do meu...
Tanto tempo sem choro solitário;
sem fazer um poema todo em paz;
aliás, tanto tempo sem meu tempo;
uma sobra na sombra das lembranças...
Tenho medo é de nunca mais me achar;
me deixar esquecido na vertigem
de não ter mais direito à solidão...
Sinto falta, quiçá, de sentir falta;
uma pauta vazia em minha folha,
pra deixar a grafia do meu sonho...
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domingo, 3 de setembro de 2023

PALAVRA TEMPORÃ

Demétrio Sena - Magé


A palavra persiste na minha corrente
afetiva, sanguínea, pulsante no ser;
na vertente medrosa que requer coragem
pra vencer o vazio das futilidades...
Minha letra desliza da mesma caneta
que nem tinha presságio do computador;
meu planeta secreto continua em mim
e me sinto condor sobre a dor de viver...
Trago a minha palavra e solto vento afora;
ela chora, sorri, mas nunca se renega,
prega meu ateísmo com fome de amor...
Um poeta na era de puro já era
é a fera do campo indefesa no asfalto,
mas não falto à palavra; semeio poesia...
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ANIMAÇÃO CULTURAL - SAGA E SOLIDÃO

Demétrio Sena - Magé 


Dizer que o arte-educador (animador cultural, no sistema da Secretaria Estadual de Educação) não faz nada, é o hobby de alguns colegas regentes. "Não fazer nada" significa não promover festas diárias, e sim, oferecer conteúdos culturais mais profundos, cujo engajamento discente não é incentivado nas aulas convencionais. Em cada unidade que tem o luxo de contar com esse profissional, trata-se de um, no máximo dois. E a nossa função é oferecer "aulas" livres, oficinas e projetos não obrigatórios a jovens que, além do desinteresse em razão do que a sociedade lhes oferece, ouvem outros profissionais nos desqualificarem.

Há colegas formidáveis em algumas unidades. Onde sou lotado, conto com a compreensão e às vezes o apoio ativo de alguns docentes regentes, além da direção, sempre solícita, para que meu trabalho flua. Mas nem isso impede, por tantos outros, os olhares e até citações pejorativos, como forma de repetição da sociedade que sempre desqualificou artistas não  famosos e ricos. Temos, sim, espaços fisicamente ociosos entre uma ação e outra, um projeto e outro... espaços em que projetamos novas ideias, recebemos alunos em nossas salas (quando as temos) e promovemos momentos de reflexão, bate papos e cultura geral desobrigada em seus horários também ociosos. Fora dos olhares oficiais.

E para quem desqualifica a formação dos animadores culturais, é justo sempre lembrarmos que, além das formações acadêmicas, temos em nossos portifólios cursos e capacitações em diversas áreas culturais: na UERJ, UFRJ, UFF, Universidade Popular da Baixada , ABEU, UNIGRANRIO entre outras instituições. Tudo por exigência dos governos estaduais anteriores que nos tinham como essenciais. Para Brizola e Darcy Ribeiro, éramos "as meninas dos olhos" das unidades escolares. 

Quem desqualifica o animador cultural na ausência ou "pelas costas", como se diz popularmente, não é covarde nem medroso. É prudente. Sábio. Afinal, sabe que não teria como sustentar qualquer argumentação, perante os olhos e as refutações argumentativas e facilmente comprobatórias, de qualquer um desses profissionais que há trinta ou mais anos existem e resistem bravamente no sistema da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro.

Nossa gratidão aos poucos professores e professoras regentes, diretores e diretoras, além de outros colegas que sempre somaram conosco. E que hoje nos apoiam na luta contra a extinção dessa categoria também odiada por alguns dos últimos governos e de forma ostensiva e contundente pelo governador Cláudio Castro e sua equipe. Cultura na educação realmente amedronta os governos fascistas, os grupos sociais e as massas populares de manobra que aprenderam a não aprender com o que sofrem por causa desse atraso sociopolítico de séculos e séculos.
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