domingo, 18 de julho de 2021

UMBRAIS DO FRIO E DA FRIEZA


 

GENOCÍDIOS

Demétrio Sena - Magé


Tantos mortos em nome do "Deus Vivo",

muito além da tragédia inevitável;

quanta guerra no crivo das mentiras;

das maldades vestidas como santas...

Genocídios operam no calor

e no frio da imensa ignorância,

na ganância de algum protagonismo

injetado nas massas dominadas...

Entre as sombras ladinas das elites,

os senhores das crenças negociam

as artrites, os dramas dos fiéis...

Multidões apostando as próprias vidas; 

genocidas cometem como apoiam

ou apenas assistem sem protesto...

...   ...   ...

Respeite autorias. Isso é lei

sexta-feira, 2 de julho de 2021

A LEI LUIA


 

MINHA FALA DE ORGULHO

Demétrio Sena - Magé 

Em tempos de muito; muito preconceito, mesmo (tempos que estão de volta, no Brasil), cheguei a me questionar, ainda menino, se não era gay (fresco, pederasta ou viado, pois a palavra gay não existia). Não porque me sentisse atraído por meninos, pois não era o caso, mas apenas porque gostava de cores, formas, frases bem construídas... arte; poesia. Era como se eu fosse um gay rebelde; gostava de todas aquelas "frescuradas", das quais ainda gosto e atualmente pratico, mas destoava do previsível, por gostar de meninas.

Na adolescência, não jogar futebol nem dizer palavrões era um tormento; nenhum menino me perdoava por isso... ter muito mais amigas do que amigos, não contar vantagens afirmando "comer" todas elas e, me perder de feliz onde havia flores era um soco nos estômagos. "Muito estranho" não ser machista... muito suspeito ficar "de conversinhas" e confidências desinteressadas com belas moças, às vezes ler poemas para elas e não forçar nem uma barrazinha por um beijo na boca; uma "passadinha de mão".

Respeitar o gênero feminino era o fim da picada. Aliás, não forçar a "picada" era o fim da picada. Depois, na juventude adulta, quando alguém descobriu por tanto bisbilhotar, que eu era capaz de não me sentir provocado por uma amiga nua, ter confidências e acreditar que  não havia intenção sexual... e só me dar por desejado se ela dissesse, aí pronto... se não era viado, era babaca; mariquinha... para meus amigos mais próximos, eu até podia não ser viado, mas as minhas amigas achariam que sim - o que jamais ocorreu.

Sempre que tive namorada, na juventude, alguém dizia com certo espanto: "Aí, hein! Namorada bonita"! Era como se me incentivassem para eu nunca "sair do armário". Com o tempo, as pessoas que seguiram convivendo comigo e conheceram minhas namoradas, me viram casar, ter filhas, se aquietaram. Mas muitos nunca entenderam minha sensibilidade literária sem fronteiras, o fascínio por ofícios delicados e a cumplicidade com o gênero feminino, além da compreensão da homossexualidade alheia e dos novos gêneros revelados nas últimas décadas. 

Houve um tempo em que me rebelei de formas muito forjadas e negativas: fiquei desaforado, bruto, briguento e dava mais coices do que o atual presidente deste país. Isso me fez cometer inúmeras injustiças, descontar minhas raivas em pessoas que não mereciam e fazer alguns desafetos. De alguma forma, era como se eu dissesse para meus cobradores: é assim? É isso que me faz macho? Mas aquilo me deu vergonha de mim e não demorei muitos anos a retomar minhas posturas "questionáveis", porém legítimas.

Tive muitas namoradas ao longo dos anos, mas também muitas amigas íntimas... que tomaram banho comigo em cachoeiras desertas... que se deitaram ao meu lado em uma cama ou rede, para longas confidências e choraram em meu colo, com a certeza de que não seriam constrangidas por uma ereção; por um carinho inconveniente para o momento; uma tentativa de me arvorar como "Homem com H".

Minhas posturas espontâneas de quem é teimosamente quem é, desde menino até hoje, aos sessenta anos de idade, sempre me causaram aborrecimentos com as exigências do machismo que me cerca. Do preconceito sócio-religioso dos ambientes familiares e das igrejas que frequentei. Das cobranças de uma sociedade na qual não basta seguir padrões; é obrigatório provar a cada instante, que segue. Um homem só é homem com a crista alta. Uma mulher, com os olhos baixos.

Ter passado por tantos momentos constrangedores pela possibilidade remota de homossexualidade me deu a honra de saber como é ser homossexual masculino ou feminina... uma mulher ou um homem trans, bissexual, transformista (...). Honra, sim, porque sei de  algum modo a coragem, força e determinação que demanda não desistir de si, ante as dores do menosprezo, da segregação, a ira religiosa e a repressão familiar e social.

Não sofri até hoje, um décimo do que sofre a comunidade LGBTQIA+, especialmente no Brasil. Mas o que já sofri, mais ainda quando não entendia conceitos e contextos, me faz ter essa ideia; esse olhar. Foi comovido que assisti ao programa FALAS DE ORGULHO, da Rede Globo, e me senti ainda mais próximo desses seres humanos maravilhosos que só querem ser livres para ser quem são, em nome do amor e da própria felicidade.

Gostaria, quando fosse possível, que a sigla LGBTQIA+ ganhasse uma nova  letra... a letra S, para se tornar LGBTQIAS+ (Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer, Intersexuais, Assexuais... e simpatizantes. Quanto mais seres humanos se solidarizarem com essa luta, mais possível se tornará o advento, em um futuro ainda invisível, de um mundo melhor para todos... porque todos juntos somos o mundo.

AS RELIGIÕES E SEUS MALEFÍCIOS

Demétrio Sena - Magé 

Aprendi na prática, justamente com os que mais pregam que todo ser humano precisa de uma religião, que na verdade nenhum ser humano deveria sequer conhecer uma religião... muito menos cair em suas malhas. Desde os tempos mais remotos da história da humanidade, religiões têm sido as maiores causadoras ou parceiras nas desgraças que o mundo já sofreu e segue sofrendo.

Foram as religiões, inclusive, que levaram Jesus Cristo a morrer como criminoso, por ele pregar o amor, a paz e a igualdade, que são os ingredientes das pregações religiosas. Depois de matar Jesus, a maioria das religiões ainda passou a usar seu nome para cometer ou contribuir com atrocidades... ajudou e participou das mais cruéis ditaduras; criou inquisições sangrentas; empoderou governos genocidas mundo afora, como Adolf Hitler, o mais conhecido no mundo novo.

No Brasil, país conhecido como essencialmente cristão, as denominações cristãs predominantes sempre foram parceiras em potencial das mais cruéis ditaduras... ajudaram a perseguir opositores políticos de presidentes tiranos; entregaram e fizeram uso das parcerias com o poder, para oprimir também as religiões não cristãs.

Até houve períodos de alguma trégua, mas hoje, vemos mais uma vez as religiões cristãs brasileiras contribuindo com e participando de um governo ditador, perverso, violento e genocida. Empoderadas com essa parceria, voltaram a perseguir as religiões menos ortodoxas, notadamente as de matriz africana e todos os cidadãos alvos dos seus mais profundos preconceitos sociais, incluindo racismo, LGBTfobia, machismo e muitos casos de ódio a quem produz arte não reconhecida como conservadora e religiosa.

Há religiosos que não se enquadram nesse perfil de perseguidores, tiranos, fanáticos e capachos do poder, mas em tão baixa escala, que também acabam não enquadrados no perfil de religiosos. São cidadãos conscientes, dotados de amor ao próximo, avessos às maldades e à hipocrisia, que ainda conseguem crer no princípio da religiosidade... fazem sua parte como seguidores do Cristo fundador do cristianismo verdadeiro, e por isso vivem como peixes fora d'água em suas igrejas.

O ser humano precisa, sim, do que seriam as religiões, se não fossem contaminadas pela hipocrisia, a fome de poder, a vaidade, o egoísmo e a ganância... não do que as religiões nunca deixaram de ser e hoje se confirmam no quanto nós, brasileiros tachados de profanos por sonharmos com igualdade humana, social, vivenciamos de formas tão revoltantes e catastróficas.

A OUTRA FACE DO FILHO

 Demétrio Sena - Magé 

Primeiro, as arbitrárias manipulações do Pai que superprotege o filho predileto e faz dele o braço direito em um reino cujo trono é intensamente ambicionado por todos os habitantes... logo depois, a ostentação do poder, da tirania e dos caprichos de Sádico Supremo, ao atirar esse filho impiedosamente reino abaixo, com os seus aliados, por causa de uma rebeldia que todo filho de personalidade forte, ainda que mimado, tarde ou cedo apresenta... e como se não bastasse, a criação de um lugar de sofrimento eterno e ranger de dentes, para ser comandado pelo rebento rebelde.

Milênios depois, o resgate sorrateiro do ex-predileto, que na verdade nunca deixou de ser, para retreiná-lo no reino e depois enviar aos humanos, visando persuadi-los a se renderem ao poder, à tirania e todos os caprichos do Pai, que não mudara em nada. Então o filho, com nova identidade, mas a mesma personalidade, a mesma rebeldia, somadas ao profundo amor que desenvolve pelos humanos, desobedece mais uma vez. Não submete a humanidade aos Caprichos Supremos nem extermina os relutantes e os poderosos terrenos que não se dobram ao Mesmo.

No fim das contas, novamente o filho é castigado... e dessa vez, passando pelas mãos humanas. Condenado à morte por cruz, como se tivesse vencido em nome do Pai; como se o Pai tivesse realizado seus propósitos, ao esconder o segundo real fracasso como Guerreiro Supremo... Líder Maior... na verdade, o Tirano Capaz de uma crueldade requintada como enviar seu filho para promover uma guerra contra si próprio, sua outra identidade, aliado aos humanos em uma guerra também contra si mesmos... eis o eterno conflito entre o bem e o mal que habitam cada um de nós.