quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

MÃO DUPLA

 


ASAS REPRIMIDAS

Demétrio Sena - Magé

Só queria viver meu comodismo;
ser o lírio do campo, a gaivota,
uma nota modesta na canção
dessa lira que a vida nos dispõe...
E não ter que ter mais, pra ser alguém
ou pra ter uns amigos ao redor,
nem achar um amor porque fui visto
numa festa; num clube social...
Aprecio jardins e não as casas;
é nas asas do meu imaginário
que me sinto feliz ao viajar...
Sonho tanto, entretanto com tão pouco;
é um louco desejo reprimido,
pelo qual não seria perdoado...

MUDANÇA

Demétrio Sena - Magé

Até hoje não sei por que mudaste;
não me deste o direito de saber
o desgaste, o desgosto, a frustração
que te fiz amargar em algum tempo...
Ou apenas mudaste por critérios
de caprichos que sempre serão baços;
preconceitos, mistérios ou temores
que brotaram por outras convivências...
Se mudei a tal ponto que te assusta,
que te custa entender como expandi
meus conceitos, olhares, horizontes...
Quero apenas fechar a minha conta
com a pronta verdade pela qual
me tornaste baldio no teu chão...

LENDA

Demétrio Sena - Magé

Nosso amor é tão belo como é;
esta longa viagem vagarosa;
uma fé no futuro que não temos
ou a rosa escondida no botão...
Um amor acolhido em seu segredo,
que se deixa molhar sob a garoa,
mas o medo da chuva mais intensa
não nos deixa dançar o tango inteiro...
Porque somos escravos do regime
para não infartar uma esperança
sem herança viável pra razão...
Temos nossas porções de realidade
numas frestas do sonho solitário;
é um filtro diário de magia...

APENAS TE AMO

Demétrio Sena - Magé

É amor que não cabe nos meus versos;
uma força, uma luz, um dom profundo,
vida e mundo que o tempo não desgasta
nestes campos das minhas emoções...
Um sentido que nada faz perder;
sempre novo, por mais que o tempo avance;
minha chance diária e redentora
dos meus brotos quebrados pelo vento...
Eu apenas te amo e não explico
e não fico a mercê da dimensão
desta força de amar além das forças...
Porque sei que o teor do amor paterno
vai além dos desvãos das consciências
ou ciências ocultas dos mortais...

sábado, 15 de outubro de 2022

DESAPEGO

Demétrio Sena - Magé

É um mundo sem chão que sustenta meus pés,

pois gastei os trocados de minha esperança;

já me cansa o descanso de me acomodar,

quando vejo que sigo somente por ir...

Só me prendem à vida os amores que nutro

mesmo sem as respostas que meu peito anseia;

não "abutro" pertences, coisas de se ter

nem prestígio, lisonjas, afagos e pódios...

Chego ao tempo sem tempo de curar fraturas,

de querer insistir em repor os afetos,

fazer cortes, costuras, reparos no ser...

Não recuso as emendas de minha jornada,

mas declaro ao meu nada latente no espelho

que sofrer já não causa qualquer sofrimento...

domingo, 7 de agosto de 2022

SOBRE NÓS E O OUTRO

Demétrio Sena - Magé

Depois de algum envolvimento, o medo comum aos que se percebem fisicamente mais fracos é de que os mais fortes fisicamente - mas de caráter mais fraco - não aceitem um não... ou um eventual recuo do sim.
Pensemos na magia de uma sociedade na qual a força de um não ou de um recuo seja maior do que a força bruta. Imaginemos um mundo em que matrimônio não seja cárcere... namoro não tenha que se tornar matrimônio como reparação... e onde amigos íntimos, cúmplices e confidentes exerçam encanto, até sedução sobre o outro, mas nenhum dos lados exerça poder.
Delineemos seres humanos que retirem as mãos ou nem façam menção de pô-las, quando não é o desejo expresso do outro. Tempos em que vir não tranque as portas do ir... em que gentileza realmente gere gentileza; liberdade gere liberdade... as relações interpessoais demandem consciência e obedeçam prontamente aos semáforos estabelecidos pelo outro.
O outro não é apenas o outro... é isso tudo... o outro. Não é a nossa extensão. Em nenhuma circunstância será carne da nossa carne, alma gêmea nem metade da laranja que também não somos... é e sempre será um indivíduo.

PELA JANELA


 

quarta-feira, 20 de julho de 2022

VERSOS ANTI-FASCISMO


 

PRESERVACÃO HUMANA

Demétrio Sena - Magé 

Para quem valorize as boas relações, não é só não que é não. Talvez também é. Da mesma forma o quem sabe, o depende ou vamos ver. A linha que paira entre essas respostas e o sim ou não é bem tênue. A ser forçoso e ferir o arbítrio alheio, é melhor deixar que a conversão em resposta exata ocorra sem mais nenhuma tentativa, por mais sutil que seja. O possível silêncio posterior seja realmente um não que nossos códigos de ética nos recomendem respeitar. Isso vale nas relações de amizade, coleguismo, amor em qualquer contexto, entre pessoas estranhas e nos negócios. Guardar as respostas provisórias ou em aberto, sem nenhuma insistência ou invasão, é respeitar o ser humano. Isso nos ajuda, entre outros resultados, a não ferir, constranger e principalmente afastar pessoas importantes em nossas vidas.

sexta-feira, 1 de julho de 2022

CARTA DE AMIGO CÉTICO

Demétrio Sena - Magé

Meu amigo; vê se não carta - como também não descarta -, mas esta carta não é para tirar da manga... e não manga de mim por causa dela... é para ti. Não Parati nem qualquer outra cidade, mas para ti. Acorda a corda e deixa de marra... ou amarra a marra, que o posto oposto é onde há parto e aparto a briga, pois agora tem ágora para brigas. Não boto acento no assento, há cento e tantos dias não como, como não sei. Só sei que o culto oculto eleva e leva sem desculpas... nem dez culpas... pois nada nada em águas alvas e, o alvo é alvo da mosca na qual jamais acertei.

Eu me livro com livro e sei que a porta aporta lembranças, porta saudades e me pergunta: "E você; qual quer entre qualquer uma?". Seja como for, te peço que peça a peça certa, e acerta; encara a vida em cara limpa e não atira a tira... nem atola a tola no convento com vento, em meio à catinga da caatinga do abandono. É a sina que assina o conto que não conto nem contas, entre as contas dos contra e dos pró. Calma; não sou ator que atormente. Ator mente e atua a tua e também minha vida. Não tenho fé, porque fé demais fede mais; fé de menos não fede nem cheira.

Acho que acabo aqui. Porque há cabo aqui e não quero ser presa da surpresa do acaso nem do ocaso do caso sério com o qual não brinco... mas é brinco na orelha da minha saga. Estou doente do ente que há em mim. Não fica assim... ou fica sim, mas não assim, porque há sim, esperança no ar, apesar de a pesar e sentir que não pesa muito. Seja como for, como flor e digiro espinho; dirijo o que digiro para o esquecimento, mas eis que cimento não há. Perdão, amigo; mas eu dei adeus a Deus... e fiquei cético... sei que não tem antisséptico... nem anticético para me ajudar.
... ... ...
#respeiteautorias Isso é lei.

sábado, 18 de junho de 2022

TUDO É SOBRE O SER HUMANO

Demétrio Sena - Magé 

Toda reflexão escrita (e publicada) é sobre você e eu, de alguma forma, porque tudo é sobre o ser humano. Até quando se usa o recurso do abstrato, do sobrenatural, da generalização e da licença poética. Já li muitos textos que mexeram comigo, me deixaram incomodado e só a custo me convenci de que não que foram escritos especialmente para mim, porque lá não estavam meu nome, o endereço, um segredo meu, uma vivência única ou específica nem qualquer descrição pessoal minha, mesmo quando os autores eram do meu rol de convivência. 


Somos flagrados por um texto e outro, porque somos humanos, temos feridas onde cabem certos dedos e, sendo assim, ninguém precisa nos retratar para chamar à reflexão, ao sentimento e ao repensamento sobre nós próprios, talvez movidos por alguma coincidência de cunho generalizado. A menos que sejam declaradamente sobre, ou nominais, literaturas não atiram em alvos singulares... e muitas vezes falam dos próprios autores, ainda que o façam na terceira pessoa. Eu mesmo, falo de muitas mazelas minhas e depois percebo que o fiz como se apontasse o dedo na direção de outros.


Quem escreve e publica textos cuja fonte principal de inspiração é o ser humano com as suas virtudes e mazelas, vive na linha tênue entre surpreender pelo encanto e magoar pessoas que ele nem imagina. Algumas próximas, que reagem como se autuadas em flagrante... outras distantes, que se perguntam como certos textos as encontraram; como quem escreveu as adivinhou. Constato no espelho de minha trajetória, que ser um "escrevedor" às vezes é uma dádiva; outras vezes um incômodo; muitas outras um infortúnio.

SOMOS DOR


 

terça-feira, 10 de maio de 2022

O EQUÍVOCO DOS EUS


 

A ESSÊNCIA DO PERDÃO

Demétrio Sena. - Magé

Se você e uma pessoa querida se magoaram mutuamente, que tal não ficar à espera do grande momento em que você, "virtuoso e de coração enorme", possa ostentar o seu glorioso "EU TE PERDOO!"? Muitas vezes não é o caso de perdoar, e sim, de pedir perdão. Sem medir quem errou mais. Se ambos alcançarem a máxima de não se sentirem o máximo, a troca de perdões humildemente pedidos será enriquecedora e legítima. O "mercado hipocrissanto" está cheio de perdoadores ostensivos e cresceu assustadoramente o número de carrascos que punem suas vítimas perdoando-as em "alto e bom som". "PERDOEMOS" menos. Peçamos mais perdão. E quando for caso de "per-doarmos", que seja com humildade... voz branda e gestos miúdos de quem recebe a "per-doação". A essência do perdão dispensa qualquer nível de sensacionalismo.

sábado, 30 de abril de 2022

"DESCONVERSÃO"

Demétrio Sena - Magé


Certa vez um louvor me seduziu;
eu bem moço, entreguei meu coração;
embrião de cordeiro encomendado,
quase morro na cruz do fanatismo...
Fui deixando que tudo me amoldasse,
das doutrinas às preces; os sermões,
permissões vigiadas, risos pardos,
alegrias rendidas e sem brilho...
Não tivesse acordado em tempo hábil,
hoje não disporia do meu ser
pra viver os meus sonhos e meus voos...
E teria mais donos do que afetos;
muitos vetos, meu voto comandado;
a minh'alma domada e sem arbítrio...