quarta-feira, 30 de agosto de 2017

CORAÇÃO MALASARTES


Demétrio Sena, Magé - RJ.


Tenho minhas raivas. Mas como tenho raiva de raiva, só de raiva me acalmo. E tenho medos. No entanto, é tão grande o medo que tenho do medo, que o próprio medo me dá coragem de não tê-lo. Coragem medrosa, pelo medo imenso de voltar a ter medo.
Cheguei ao ponto em que o que dói já não dói. Aprendi a ter coração contestador. Contesto dor. É bem certo que ainda choro, e choro rio de lágrimas... mas logo rio do rio, por ver que tudo passa... que também passo, e nesse passo a vida é curta. Muito curta para que a gente não curta, mesmo em conserva.
Ninguém dirá que não sofre neste mundo. Muito menos eu. Mas me tornei tão Malasartes, que dei um jeito nessa questão. Sei sofrer sem sofrimento. O sofrimento não mais consegue me fazer sofrer. Tornei-me à prova de provas e aprovo tudo que vem, como forma de subornar os sentidos.
Foi assim que alcancei a graça de ver graça em tudo. Brincar de leve com o tempo e fingir que a morte não existe... ou existe, até, mas é minha colega; minha camarada. Chegará sem drama e cara de morte... como quem não quer nada... sutilmente cheia de vida.

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