segunda-feira, 14 de outubro de 2013

CORPO E ALMA

Muitas vezes me flagro à beira desse ardil de querer voltar no tempo. Ser jovem mais uma vez. O que não percebo, é que se houvesse tal retrocesso, não seria só no corpo, mas também na alma. Logo, este sabichão retardatário seria mais uma vez aquele moço tolo, brigão, irônico e arrogante que foi. Na verdade, perfeitamente ajustado ao corpo, embora existam jovens especiais; de almas maduras ou idosas; o que no fundo, é uma pena.
Em contrapartida, sonho de vez em quando que dá para ser um quase velho (em pouco tempo um velho completo) de alma jovem. Aquele "vô" alegrinho em excesso, que diverte os jovens de alma justa e mascara muito bem a frustração de não conseguir se aceitar como é, ou como está. Seu grande artifício está embasado em conseguir se aceitar a qualquer custo, apesar dele mesmo e do seu espelho intimidado sempre que se sente oprimido pelos olhos que o consultam... "existe um velho mais jovem do que eu?".
Vida injusta, essa nossa. Quando começamos a melhorar por dentro, estamos no início das artroses; do agravamento da bronquite; do surgimento das outras "ites" ou "oses" externas. O início do saber viver pertence ao tempo que já não temos para o pleno exercício da prática desse aprendizado... pelo menos por muito tempo... ou pelo mesmo tempo que tivemos, mas desperdiçamos, porque aproveitá-lo seria uma pena... um desperdício.
Fato mesmo, é que não dá para retroceder. Por dentro nem por fora. Só dá para fingir, com cirurgias no corpo (às vezes bem sucedidas por um tempinho de nada) e na personalidade; neste caso, completamente mal sucedidas. Não me desculpo ao falar da idade, porque falo de mim mesmo. Falo de todos nós. De todos os nós que tentamos desatar a esmo, para o desvendamento da vida e o atraso da morte... um eterno atraso de vida. 

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