terça-feira, 30 de junho de 2015

A VIRGEM QUE NÃO TIVE

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Ela dizia com grande orgulho, mesmo em sua simplicidade, que morreria tão virgem quanto nascera. Embora metódica, perfeccionista e seletiva, tinha ternura e delicadeza. Despertava suspiros indisfarçáveis, e a sua beleza incomum era o toque final na magia dos sonhos e os sonhadores que a rodeavam.
Até o momento em que nos afastamos, eu era o pretendente frustrado em pele de amigo. Jamais me declarei, para não perder o consolo do pelo menos isso, e de repente a vida me chamou para o mundo. Saí gemendo por dentro, mas precisava enfrentar a maioridade que não via perspectivas de sobrevivência naquela cidadezinha interiorana.
Meus olhos nunca mais mergulharam na beleza estonteante que banhou a inocência do mais frágil percurso de minha vida. Nunca tive notícias de sua trajetória, suas conquistas pessoais, os prováveis amores ou aventuras afetivas.
A única certeza que me habita em silêncio, ecoa nos muros intransponíveis da lembrança: se ainda vive ou não, ela se manteve terna e delicada, embora metódica, perfeccionista e seletiva... sobretudo, virgem... tão virgem quanto nasceu, e profundamente orgulhosa do seu signo.


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