segunda-feira, 17 de outubro de 2016

A VINGANÇA DOS DEUSES


Demétrio Sena, Magé - RJ.

De repente o artista cai no palco. Ou cai do do palco. Silêncio completo; público apreensivo; sem iniciativa. Então o artista se reergue, sereno e resignado, e sem nenhuma explicação reassume o palco. Dá continuidade ao show.
Fosse qualquer outro profissional, não de palco, esse não seria o desfecho. O trabalhador não se reergueria; seria reerguido. Não voltaria imediatamente aos afazeres. Alguém lhe daria um pouco d´água, examinaria suas condições de retorno ao ofício, e talvez o dispensasse naquele dia, para ir ao médico. E o médico, por sua vez, atestaria mais um, dois ou três dias, para ele se recompor do acidente que, no fim das contas, não foi mais do que um susto.
Há momentos em que os deuses trocam de lado com os mortais. Enquanto estes têm que amargar sozinhos as próprias quedas no inferno de suas solidões, os mortais se acercam de anjos e benfeitores no céu de uma solidariedade ora espontânea, ora por força de lei. É claro que as presentes linhas tratam de grandes artistas, e de outro lado, funcionários de boas empresas.
A vingança de um deus está em ele saber ser humano, mais do que um ser humano sabe ser deus, nessas horas. O grande artista, quando sofre o tombo e se reergue para continuar, transforma esse momento na parte mais aplaudida em seu show.

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