quinta-feira, 18 de julho de 2013

ALMA DE RODRIGO

Para que o Rodrigo fosse meu filho, eu teria que ter sido pai aos 17 anos. Infelizmente não fui. Não tive a chance de concorrer com seus pais para merecer a honra de ter um filho que recebesse, na hora da concepção, essa alma privilegiada. Esse caráter selecionado. Essa mente que reluz e transforma.
Em nossas aventuras culturais, tudo é bom; do trajeto ao instante de cada evento. Dos ensaios às culminâncias de cada palestra, oficina, peça teatral. Nos trajetos falamos de arte, vida e besteiróis... de passado, presente, futuro... de pessoas, fases e memórias. Não escolhemos assuntos, pois eles fluem com facilidade. Dos mais profundos aos mais fúteis, todos os temas ganham versões adequadas à maturidade que nos dota. E os 17 anos a menos não fazem do Rodrigo pessoa menos madura do que eu.
Ele sabe falar e ouvir. Concordar com sinceridade; discordar com respeito. Sabe olhar nos olhos e desaguar o que sente, como tem o poder de modelar o que ouve, para devolver as mais formidáveis respostas com a marca indelével de seu bom senso e a ponderação que acompanha seus atos; palavras; postura.
Tenho aprendido muito com sua facilidade para expressar. Para dizer o que sente. Declarar seu afeto por quem tem a sorte de ser o alvo, como desfiar suas queixas com aquele cuidado peculiar de não constranger a pessoa que o constrange a isso. É o novo ensinando ao velho. O verde amadurecendo a maturidade. O tempo mostrando que a idade não estabelece, obrigatoriamente, a hierarquia dos valores.
Sinto-me pai, com o Rodrigo, mas aquele pai que recebe mais do que dá. Que aprende mais do que ensina. Recebo do meu amigo as lições clássicas que geralmente os mais idosos legam aos moços. E agradeço aos que tiveram a graça de trazê-lo ao mundo, por tê-lo mantido ao alcance da minha sorte de conhecê-lo.

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