segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A RESPEITO DE SER HOMEM

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Aos 14 anos, quando sem nenhum barulho e de forma bem sutil comecei a sair de casa, ninguém conseguiu me segurar. Isso, porque aquele menino determinado e sem temor do mundo já era homem. Com muitas falhas e aprendizados pela frente, sem profissão nem formação escolar adequada, porém homem o suficiente. Não sabia bem o que queria, mas tinha certeza do que não queria: ficar grudado aos conflitos de adolescente, com todas as manhas que hoje retardam a maturidade nos meninos mimados que permanecem meninos aos 18, 20, 26 ou mais anos.
Também fui homem o suficiente para jamais desejar me fazer de vítima como desculpa indesculpável para me drogar. Fui amigo de adolescentes e jovens viciados, convivi estreitamente com eles, e nunca tive nem mesmo curiosidade nesse aspecto. E trabalhava. Sempre trabalhava. Ganhando pouco ou muito (quase sempre pouco), só nunca me desviei da certeza de que não queria ter no bolso da velha calça puída e desbotada um só centavo que não fosse genuína e merecidamente meu.
Levei pancadas, fui alvo de suspeitas, enfrentei preconceitos, mas conheci muita gente boa que aceitou me conhecer primeiro para só depois julgar. Foi assim que tive muitos amigos adultos, alguns bem mais velhos, que me ajudaram no processo de amadurecimento iniciado em casa, com minha mãe, que sempre foi um exemplo de sabedoria. Uma sabedoria que me deixou pensar que era solto, enquanto ela me acompanhava de perto o tempo todo, inclusive estabelecendo laços com quem me dava oportunidades de trabalho ou me acolhia de alguma forma. Custei a saber dessa estratégia de minha mãe, e quando soube, já estava preparado para ser grato, ao invés de me sentir invadido.
Nas ruas, aprendi a respeitar pessoas. Olhar nos olhos ao conversar. Não ter dúvidas sobre mim. Assumir os meus gostos, minhas preferências, defeitos e manias. Até mesmo se decidisse não ser homem, teria sido homem o suficiente para não esconder isso do mundo nem me esconder numa namorada ou mulher para ser aceito pela família ou a sociedade. Fosse como fosse, tenho certeza de que saberia me portar como pessoa; um ser social; jamais uma caricatura; uma piada.
Como homem de 15, 18 ou 26, sempre soube agradar uma mulher. Tratá-la como tal. Conhecer seus desejos e satisfazê-los. Dar mais valor às namoradas do que aos marmanjos que me chamavam para farras; baladas; bobeiras; futilidades. Nada era melhor, em todo o mundo e a todo tempo, do que ficar a sós com a pessoa amada e fazê-la saber o quanto era de fato amada. Sempre declarei meu amor com gestos, atitudes, palavras, olhares e textos. E se às vezes não estava bem, jamais fugia ou fingia; jamais me tornava bravo para esconder minha fragilidade. Sabia conversar, assumir meu momento e torná-lo melhor com a compreensão e o apoio jamais negados.
Aprendi muito cedo que ser homem, independente das preferências de foro íntimo e sexual, é ser alguém responsável. Assumido. Que sabe quem é, o que quer e o que fazer da própria vida. Que não enrola, não embroma nem posterga o que só causa sofrimento, se não for preciso e transparente.
Isto não é um desabafo. Nem uma inserta. É apenas uma mensagem a todos os jovens desencontrados de suas identidades. A esses meninos mimados, de caráter falho (nem bom nem mal), que a cada geração amadurecem mais tarde, quando amadurecem. Esses meninos que há muito já deveriam ser homens, mas ficam lá, dependurados na barra da saia do passado.  São moleques de 20, 25, 30 ou mais anos, totalmente alheios ao mundo real que os rodeia. Vivem como se a vida fosse um eterno desenho animado.

Um comentário:

  1. Infelizmente a maioria dos homens ou que se dizem homens estão muito longe desse HOMEM que é o poeta Demétrio Sena. Minha admiração e o meu carinho Homem Real...

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