terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

SENTIMENTO MÁGICO


Demétrio Sena, Magé - RJ.


Ele nunca foi exatamente apaixonado por ela. Pelo menos no que tange o contexto comum das paixões seculares e massificadas pela sociedade, não. Também nunca teve o desejo comum de possui-la. Consumar o que chamam de fazer amor ou até classificam de formas chulas que se confundem com gastronomia. 
O que sempre o ligou a ela foi ou é uma espécie de amizade encantada. Um sentimento inusitado, especial e profundo que não o deixava tomar distância. Impelia seus passos ao encontro da musa, mesmo que fosse apenas para saber como estava, olhar seu rosto e trocar algumas palavras e silêncios. Beber nas águas da magia fora do alcance de seu entendimento.
Como foi dito, ele nunca teve o desejo comum de possui-la... no entanto, havia nele um desejo incomum de de senti-la não sabia como. Queria ser íntimo, sem segredos e cuidados. Alguém que não precisasse ocultar quase nada, nem a nudez de corpo e alma, e nem por isso transformasse a relação em simples caso amoroso.
Durante alguns anos, aquele homem foi levemente correspondido. Silenciosa e sutilmente; delicada e displicentemente correspondido, como devia ser. Sem trato nem proposta. Só a resposta natural, desnecessária na voz. De contexto sem texto. Sem discurso de qualquer natureza previsível.
Os olhos da musa mudaram, com o tempo. Assumiram ares e sombras; trejeitos e jeitos com o peso comum ao mundo normal. Aos meios engessados por severidades forjadas. Imagens impostas. Formalidades, liturgias e definições que proíbem o ser humano a si mesmo e o engaiolam na própria estampa.
Tudo foi um delírio, que ele julgou emocionalmente sustentável. Não foi. De sua parte, sim. Dela, não. Mesmo assim, ele decidiu manter a esperança de um dia saber quem é para ela... quem ela é para si mesma. Talvez até reassumir o sonho e retomar o delírio de um laço tão fora de órbita e razão... apenas mágico.

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