sábado, 21 de setembro de 2013

TREPADAS

Gaiato e muito jovem, meu amigo me perguntou entre risos, se ainda trepo. Bastante vermelho, ensaiei ficar bravo e lhe aplicar um sermão daqueles. Não deu. Disfarcei, mudei de assunto, mas tive que rir da brincadeira e perdoar a crendice de que a vida humana esmaece na meia idade.
Minha bicicleta sabe que trepo. São longas as distâncias que percorro em seu lombo. Meu quintal também sabe que ainda trepo nas árvores baixas e galhudas que ele tem. Minha casa, então, nem me fale: sempre me vê trepar numa escada, uma cadeira, um banco, para trocar lâmpadas ou bater pregos.
É claro que já não trepo em cercas, muros e paus de sebo, não exatamente por não conseguir, mas por questão de postura; imagem; coerência da idade. Se a juventude cristaliza os seus conceitos de "mico", a meia idade, assim como a velhice, cristaliza os seus. A única diferença está no batismo desse conceito. No fim das contas dá no mesmo, porque "mico" é sinônimo de incoerência; logo, "pagar mico" é "pagar incoerência".
Sei. Sei. Não foi dessas trepadas que o meu amigo falou. Ele se referiu a mulheres; pessoas. E se mais alguém quer saber, minha resposta é não. Não trepo agora nem o fiz na juventude, porque pessoas não nascem para trepar umas nas outras. Pessoas fazem amor... é isso que ainda faço.

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