sexta-feira, 14 de agosto de 2015

SOU ANIMADOR CULTURAL

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Sou animador cultural do Estado do Rio de Janeiro. Muitos colegas têm vergonha de anunciar publicamente sua função, mas esse nunca foi meu caso. Em meu entender, o governo do estado é que tem de sentir vergonha do descaso com que trata profissionais da cultura e da cidadania que atuam na educação. O governo sonega os nossos direitos naturais e adquiridos em quase três décadas de atuação nas escolas públicas estaduais, e nos anula dentro do sistema. É um descaso que passa pela remuneração extremamente defasada, uma constante ameaça de nossa extinção e a falta de recursos básicos, mínimos, para o desenvolvimento de projetos e ações nas unidades de lotação.
Temos uma história bonita. Cheia de realizações culturais e de cidadania dentro e fora dos ambientes formais de trabalho. São testemunhas os alunos, pais de alunos, professores e demais funcionários. Também são testemunhas as estações de metrô e os arcos da Lapa. Os festejos tradicionais do interior do estado e milhares de outros espaços, ambientes e manifestações. A Secretaria Estadual de Educação sempre contou conosco para deixar sua marca - digo; nossa marca - nos eventos de massa, como diariamente nas escolas, promovendo arte; cultura; cidadania entre os alunos.
Parece que agora, tudo o que o governo do estado quer é que apaguemos a luz e saiamos em silêncio, para não comprometê-lo politicamente. Muitos de nós fizeram isso, vencidos pelo cansaço, mas como tantos outros insistem em ficar - como é meu caso -, sonhando com  a volta dos velhos tempos, são muitas as armadilhas oficiais - via setor jurídico - para forjar ilegalidade à nossa existência e nos expulsar de uma vez por todas.
Já não há no sistema, um setor que responda por nós. Não temos mais coordenador regional nem articuladores. Nenhum recurso chega de qualquer canto, para desenvolvermos projetos, e parece até que as direções escolares são orientadas a dificultar nossos trabalho, não oferecendo as mínimas condições materiais, e nos deixando sem endereço dentro das unidades escolares, uma vez que, na maioria dos casos, tiraram nossas salas de planejamento e nos puseram para rodar pelos prédios, sem direção nem destino. Não temos acesso a quase nada, incluindo computador e internet, e querem sempre que atuemos como animadores de festinhas pontuais ou ensaiadores de alunos para seus professores, quando esses promovem pequenas comemorações em sala de aula.
Enfim, sãos várias as tentativas de tirar nossa identidade, anular ou desqualificar nosso trabalho e acabar com o sentido de nossa presença no sistema e nas escolas. Ainda bem que alguns de nós mantiveram a autoestima, insistiram até aqui e sabem perfeitamente o porquê do que fazem e do que não conseguem fazer em suas escolas e comunidades. Se depender de mim, por exemplo, esse "osso" não será enterrado, porque acredito em tempos melhores, e repito: sou animador cultural. Nasci para ser animador cultural, e sonhava com isso desde menino, quando nem existia animador cultural.
Até entendo a razão da vergonha que alguns colegas têm de se anunciar com tais, mas em minha opinião, o governo do estado é que tem de sentir vergonha dessa vergonha que ele causa.

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