quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

CARO AMIGO; RESPEITE O MEU PRODUTO


Ao contrário do que se pensa, escrever não é meu hobby. É um ofício que me dá prazer, orgulho e renda extra, pois também sou educador. No fundo, isso explica o porquê dessa necessidade. Cada coluna em periódicos; cada texto na web;cada livro lançado é um recurso econômico direto ou indireto, além de ser uma necessidade íntima; existencial.

Quando lanço meus livros independentes, a felicidade por manter esse velho sonho de ver minha obra ganhar mundo, emocionar pessoas e me ajudar a ter conforto material tem seus efeitos adversos. Entre os quais, a indignação de constatar que muitos amigos (e são inúmeros os amigos) não respeitam meu trabalho como tal. Não entendem que faço investimentos em um produto que só me dará retorno se for vendido por dinheiro, além dos elogios. Não apenas por elogios. Todo mundo respeita o comerciante, o camelô, a manicure, o pedreiro e até o miliciano de sua cidade, mas quase ninguém respeita o escritor palpável; visível; também de sua cidade. Tantos amigos e admiradores desse trabalhador igual aos outros, mas a maioria quer ganhar seu produto; jamais compra-lo, como compra roupas, calçados, bonecas infláveis, bijuterias, potes, pastéis, caldo de cana e sorvetes.

Dia destes, um amigo me abordou na porta de sua casa comercial, uma bela loja de roupas, para perguntar sobre o livro que lancei recentemente. Incauto, abri a mala cheia de exemplares previamente vendidos para uma escola da rede privada local. Então ele quis saber se havia exemplares excedentes. Mais uma vez incauto, respondi que sim. Esperto, meu amigo pegou um livro, apertou contra o peito, me fez elogios e arrematou: "Este aqui é um presente para o velho amigo?". Constrangido, mas cuidadoso para não constrangê-lo com um "não" daqueles, preferi responder de forma simbólica. Entrei na loja, escolhi um belo casaco de grife, apertei contra o peito e devolvi a pergunta: "Este aqui é um presente para o velho amigo?".

Flagrado em sua falta de ética ou noção, meu amigo teve humildade o suficiente para rever seu conceito, pedir desculpas, consultar sobre o preço, a temática do livro e, absolutamente por ter gostado, adquirir o seu.

Quem tem ética e respeita o próximo, sempre há de valorizar os produtos e serviços de qualquer trabalhador... e sempre há de ver como trabalhadores, mesmo aqueles profissionais que os preconceitos de séculos passados marcaram como preguiçosos; "boas vidas"; indignos de serem levados a sério.

Ficarei feliz por autografar meu livro para você, com o mesmo carinho e reconhecimento que você deve ao meu produto. Só não me peça para doar esse "ganha-pão", a menos que eu tome a iniciativa do presente, como às vezes faço, e só eu sei quando posso. Nem o leve para pagar depois, caso esse depois não tenha data, horário, nem como ser cumprido. Faça de conta, por exemplo, que meu livro é o contrafilé, a tevê de led (bem mais baratinha), o refrigerante, a dipirona pelos quais você paga e não fica chateado com os atendentes ou proprietários... mesmo que sejam velhos amigos.

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