sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

COMO SE FOSSE O PARAÍSO

Na adolescência, quase juventude, fiz uma parceria intrigante com a Sueli. Irmã de um também adolescente, que além de ser meu colega na escola foi o responsável pela minha suposta conversão ao cristianismo (suposta, porque depois de algum tempo joguei a fé para o alto), a Sueli é um capítulo especial de minha vida.
Gostava de andar com ela pelos recantos mais escondidos de Piabetá e seus arredores. Fazíamos farras e programas ingênuos que nos davam grande alegria em meio aos conflitos juvenis que nos perseguiam por sermos um pouco diferentes do que se queria naqueles anos. Com ela exerci bastante minha excentricidade, graças à grande confiança que se firmou de pronto ao nos conhecermos.
Muitos pensaram que fôssemos namorados. Não éramos. Também não éramos simples amigos, porque simples amigos não têm a cumplicidade que tivemos; não confiam de forma tão desarmada e plena. Não desfrutam de tanta intimidade como foi nosso caso. Não se conhecem tanto como nos conhecemos, desarmados e desprovidos de todo e qualquer cuidado; de todo e qualquer segredo.
Quase nada escapou de nossas andanças e descobertas: matas fechadas, descampados, ruínas, rios que ninguém conhecia, cachoeiras desertas ao luar, estradas distantes... eram sempre lugares onde podíamos ficar a sós e trocar sentimentos, dúvidas, temores e alegrias... além dos momentos em que líamos juntos os poemas ingênuos e melosos que minha inspiração compunha.
Tenho saudades da Sueli... vejo-a de quando em vez, mas tenho saudades mesmo assim, pois me refiro àquela Sueli... a quase jovem destrambelhada que topava o mundo comigo, não temia consequências e desafiava a rigidez dos pais, porque lia meus olhos; meu espírito; minha transparência.
Saudades dela e também de mim. Também me vejo de quando em vez, ao olhar o espelho, mas não me refiro a quem sou agora, e sim, àquele jovem que por um tempo despertou sentimentos tão raros... que se fez confiar com tanta entrega e desprendimento, como se o mundo no qual vivemos fosse o paraíso.

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