domingo, 30 de junho de 2019

SANTOS MODERNOS


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Negociam chantagens e trocam de sonhos
como quem barganhasse qualquer bugiganga,
desidratam verdades com belas mentiras
e têm carta na manga para qualquer truque...
Tudo vai depender das vantagens em tudo;
nada vale uma pausa pra ponderações;
corações estão mudos, as mentes fechadas
para o quanto não renda poderes e bens...
Manipulam conceitos e trocam de Cristo,
têm as cristas mais altas do que dá pra ver,
ha um misto insondável de soberba e gula...
Pregam isto e sabemos que vivem aquilo,
com estilo e certeza que o momento aponta;
fazem conta e professam a fé mais rentável...

HUMANOS


Demétrio Sena, Magé - RJ.

As pessoas permutam seus modos de ser;
gente sempre se usa numa roda insana,
pois humana é a espécie que perdeu essência,
pra viver apesar do seu desprezo à vida...
Ter amigos não conta pra se ter certeza; 
é saltar no vazio como quem aposta;
todos trocam vantagens, beleza, quantias
por passados de afetos um dia pra sempre...
Minha lida com gente não tem utopia; 
tem um dia mais dia do que a vida expõe 
entre paz e conflitos de muitas verdades...
A pessoa de agora se desfaz no fim;
ser humano é assim, também sou esse bicho
e reviro esse lixo desde que nasci...

segunda-feira, 24 de junho de 2019

LIVRE


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Não quero ser como pipa,
pois a pipa voa, 
mas não voa sozinha.
Carece de linha,
de vento e cabresto
e quem a empine. 
Quero ser como águia, 
que mergulha no céu 
até que o céu não termine.

SAGAS BRUTAS


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Corações inda verdes estão ressequidos;
os espinhos rasgaram cada flor da idade;
a verdade ferina promove seu caos,
sem escolha de classe, raiz ou família...
Sagas brutas mordidas por um mundo cão;
inocências roubadas pela tirania,
pela mão desumana da precocidade
aposentam brinquedos que nem conheceram...
Crias tristes de casas onde falta lar,
onde falta e fartura dão no mesmo abismo,
por faltar o que tem ou nunca terá preço...
O rancor alcançou as idades mais tenras 
e tingiu de maldades as mentes mais puras;
vidas duras e vagas despertam vilões...

FANATISMO


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Quem se dá por feliz é porque se rendeu;
ficou cego pros fatos e ri de mesmo,
se vendeu pro cansaço das desilusões 
quando viu que só via o que deixavam ver...
Ou se faz de rogado porque nada importa;
leva sua ilusão de privilégio e pódio; 
tem um ódio de opostos às suas versões 
e a porta fechada pra visão dos fatos...
Fanatismo injetado por um falso herói; 
um amor doentio que já dói nos seus,
mas o seu sacrifício já não tem limite...
Só se dá por feliz ante a visão do caos,
com as perdas e os danos da própria nação, 
quem é mau ou perdeu a noção de quem é...

segunda-feira, 17 de junho de 2019

PRO SEU CORAÇÃO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Na manhã de neblina bocejo e fumego;
minhas mãos "quentam frio" numa esfregação;
me recolho e me pego em lembranças remotas
que me levam pra "ontens" de muitas histórias...
É manhã de saudades grisalhas e lentas
diluídas do véu onde os ventos se filtram,
assoadas das ventas da temperatura
delicada e grotesca; dama bipolar...
Quase durmo acordado no banco do clima
e minh´alma já sonha no hall da estação,
sobre a crina da brisa que o momento amansa...
Inspirada manhã que floreia o meu tino;
nebuliza o meu ser pra respirar poesia
que refino e repasso pro seu coração...

sábado, 15 de junho de 2019

SÓ POR DENTRO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Invadissem minh'alma e lêssem minha mente;
adentrássem meus olhos no rumo e na pausa;
Minha causa secreta de amor e desejo
passaria por todos os bancos dos réus...
Eu até me perdoo por minhas fraquezas, 
porque sei que sou forte como só eu sei,
cumpro a lei social de conter a paixão 
cuja carga de mágoa seria fatal...
Mas o meu sentimento é maior do que o ato;
desejar é maior do que o grande silêncio 
a guardar sob o tato a velha fantasia...
Eu te amo e jamais vou dizer eu te amo,
quero tanto e não quero nem posso querer;
só te chamo por dentro e sem nada esperar...

POESIA DE VIVER



Demétrio Sena, Magé - RJ.

No princípio foi o verbo;
por princípio ainda é.
No meio, a ida e a vinda,
na esperança, o já, o ainda
ou na revolta e na fé.
Como nunca vou saber,
pois ninguém estava lá,
quando nem havia nada,
já vivia o verbo haver...
já tinha o verbo calar,
para quando até se tem,
mas é melhor não dizer.
Desde sempre foi o verbo.
Ele sempre foi ação,
não o é senão assim.
Ser humano é ser verbal...
verbo é verso de viver.
É sem fim do início ao fim.

segunda-feira, 10 de junho de 2019

PAIS E FILHOS


PRECOCE

Demétrio Sena, Magé – RJ.

Dona moça, o que faz você pensar
que já tem asas feitas para o mundo,
já querer dispensar os meus cuidados,
voar fundo pra onde o sonho aponta?
O que deu no verdor dessa cabeça,
pra querer abrir mão de minha mão,
ter a sua versão de nada existe
que mereça um olhar contemplador?
Olhe bem seu espelho, dona moça;
essa lua na poça não lhe chama
pra pular num abismo todo seu...
Deixe o tempo fechar a conta certa,
minha voz lhe mostrar por mais uns dias
um alerta que o tempo ainda faz...

SOLIDÃO TERMINAL


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Tua boca passeia em meu corpo suado, 
quando mais me concentro no quanto estou só;
solidão é pecado e viver é a pena
que se paga no tronco das muitas lembranças...
Minha mão te procura nos detalhes meus,
meu olhar te vislumbra desnuda na sala,
sou mais só do que "Deus" na tristeza do trono
e na dor de saber que não tem Alma Gêmea...
Recordar "quenta" o frio da desilusão, 
me conduz à mentira do fazer furtivo,
pra ficar meio vivo por meio prazer...
Tua imagem transpassa o silêncio infinito;
põe um grito em meu corpo e minh' alma o possui;
solidão encarcera no breu da saudade...

sábado, 1 de junho de 2019

TEMPO É VIDA


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Qual é a sua?
Você olha quando a lua
surge no entardecer? 
E o sol...
Qual foi a última vez
que o sol nasceu pra você?
Cadê seu tempo...
Você vendeu para quem
o melhor do seu ser?
E a vida...
Será de fato a saída 
você nunca mais viver?

MAPA DA MINA


Demétrio Sena

Tenho amor de reserva, um bom montante
que poupei desde os dias de menino;
fui errante afetivo e me guardava
sob a vasta incerteza de respostas...
Trago em minha colmeia o mel mais denso;
mais curtido e secreto; sertanejo;
meu desejo é dulçor que também arde
num imenso tonel de solidão...
Guardo anseios, lembranças, nostalgias,
dias tristes de sonhos desmentidos,
de abandono e de muita indecisão...
Sob tantas feridas, tanto amor;
uma grande barragem de sentidos;
bom humor que tirei das próprias mágoas...

PARANOIA


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Você teme o que nunca foi um plano;
sofre um dano que nunca lhe atingiu;
sempre viu e no entanto não existe
algo em riste na sua direção...
Vê assédio no riso e no carinho,
seu espinho já é a própria flor,
sente a dor do recesso e da brandura 
e a cura dos males lhe adoece...
Você tem a frieza das carraras
ou a cara da lei gravada nelas,
luz de velas no lustre de marfim...
Desconfia do quanto quero bem;
vai além do infinito mesmo perto,
quando penso que acerto em seu aval...

POR MAIS NINGUÉM


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Nunca tive um amor antes de ti
ou durante; nem quando achei que sim;
nem no fim temporário da razão 
que alugou meus sentidos embotados...
Tive muitas vontades mundo adentro,
bebi muitas quimeras tempo afora,
fiz mais hora que amor, quando não fiz
em teus braços, meu ninho natural...
Procurei o teu rosto em outras caras,
outras taras não tinham tua essência,
paciência; tentei; não fui feliz...
Nossos dias grisalhos me remoçam;
minha casa, meu mundo são em ti;
não senti este amor por mais ninguém...

PAR OU ÍMPAR


Demétrio Sena, Magé – RJ.

Quando a fila se formava para voltarmos à sala de aula, dois aluninhos empacaram, encrencando entre si. Ambos queriam ser o primeiro da fila. Parecia importante para eles. Olhei-os fixamente com cara de bravo, à espera de uma explicação.
- Professor, eu estava na frente, mas ele me passou! Eu não vou aceitar!
- Não, professor; quem estava na frente não era ele. Juro que cheguei primeiro!
Não havia como saber quem estava certo. Se é que existia o certo em uma questão banal como aquela. Resolvi usar uma estratégia que julguei inteligente.
- Muito bem; não sei quem diz a verdade. Vamos resolver no par ou ímpar, quem fica na frente.
No exato momento, iniciou-se um burburinho entre outra turminha que também voltava do recreio. Justo nesse momento, meus meninos iniciaram mais um conflito em razão de minha tentativa de resolver o conflito inicial.
- Tá bom, eu sou par!
- Não! Quem é par sou eu!
- Professor, eu disse primeiro que sou par! Ele é ímpar!
Aquilo estava ficando interminável. Virando questão insolúvel. Mas não tinha jeito; eu realmente não atentara sobre quem era o par, pois nem havia como passar pela minha cabeça que o par ou ímpar também se tornaria um problema.
- Calma; calma. Vamos fazer o seguinte: Agora vou ficar bem atento, e antes de resolvermos no par ou ímpar quem será o primeiro da fila, vamos fazer um par ou ímpar para decidir quem é par e quem é ímpar.