segunda-feira, 1 de novembro de 2021

AUTORRETRATO

Demétrio Sena - Magé

Não há como encontrar em mim a sensibilidade que os seus olhos leem no poeta que sou. Quem mora no poeta é alguém mais frio e sem coração do que as pessoas que nunca se camuflaram nos versos. Leia no romantismo dos meus poemas comoventes, algo escrito para convencer a mim mesmo. Veja nas minhas construções literárias que mais encantam pessoas, um desencanto pessoal. Uma incapacidade como indivíduo, para corresponder aos ideais.
Quem conhece profundamente a humanidade, a tal ponto que a interpreta, compreende ou conforta, não é uma pessoa física. É o imaginário em redor da pessoa incapaz de manter o encantamento; a confiança afetiva; o romantismo; a segurança emocional. O indivíduo que mora no poeta é frio; seco; apático; insensível... tenta, em vão, ser o poeta que é... repetir o poeta no sujeito e se apossar do seu predicado... vencer a si mesmo ao se matar como indivíduo, para sobressair-se como entidade... a entidade que se faz amar através das letras... da alma literária... alma de fora... armadura do corpo e da alma que se anulam, porque não podem corresponder aos sonhos que levam às essências longínquas.
Fique apenas com o poeta... com a doce mágica do seu próprio imaginário... e do meu lado impessoal. A pessoa que recheia o poeta é um indivíduo de corpo e vícios... que pelo quanto alimenta o poeta, já se tornou oco... é árido, escarpado e sem graça... é triste, rígido e deserto... é de fácil decepção e com certeza lhe magoaria, no futuro... talvez até o fizesse não muito tempo depois.
Se num futuro imprevisível... por algum descuido seu ou por uma tocaia inadvertida em minha solidão, você vier a me conhecer, antecipadamente me perdoe por eu não ser o poeta... o poeta que sou, mas que voa mundo afora e me deixa no abismo do apenas eu... tão vazio da poesia com que abasteço corações remotos.
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#respeiteautorias Isso é lei.

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

⁠REFERÊNCIA E PORTO

Demétrio Sena - Magé


Dispensei o sossego de achar tudo bom
e dar graças por tudo, apesar das desgraças:
escutar os clamores e fingir que o som
é de música e risos em clubes e praças...

Os meus olhos vislumbram sinais e fumaças,
tenho as dores do mundo, que pede atenção;
auto ajudas vazias promovem trapaças;
quem não abre seus olhos fecha o coração...

O conforto egoísta gera desconforto,
muita gente suplica referência e porto
num alerta com dose de verdade crua...

A nação governada por um genocida
só irá resgatar o seu amor à vida
quando for sacudida no mundo na lua!
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O SENTIDO E OBJETIVO DA EDUCAÇÃO COMO UM TODO

Demétrio Sena - Magé


Não é ingrato quem se desprendeu de minhas cordas ou teias e caiu no mundo sem me consultar. Quem abriu parêntesis no que aprendeu comigo e desenvolveu conhecimento próprio. Nenhuma ingratidão existe no meu protegido, que agora voa; na minha pretensa descoberta, que se redescobriu e recriou; no meu pupilo, que amadureceu e já vê a vida com olhos independentes.
Ingrato sou eu, se não ficar feliz porque meu ensinamento empoderou alguém; minha educação o levou à liberdade, a tal ponto que o livrou de mim... e minha verdade abriu o leque das múltiplas verdades que a vida proporciona. Ingratidão é me frustrar porque minha proteção deu asas; meu olhar sobre o outro ampliou seus horizontes... meu investimento em um ser humano fomentou sua inquietação e o fez descobrir sendas pessoais para investir por conta própria em seus sonhos, esperanças e visões independentes da sociedade... até para discordar de mim e chegar à conclusão de que meus conceitos petrificaram.
Amemos o próximo e não a nós mesmos no próximo. Quando fizermos algo por alguém, que seja mesmo por ele; não por nós. Fomentemos o pensamento crítico, nos dispondo à possível crítica futura desse pensamento. Fiquemos orgulhosos quando as pessoas a quem demos a mão estiverem seguras para soltá-la... quem um dia orientamos, resolver tomar caminhos diversos, até adversos, indo muito além do que fomos. São estes, o sentido e objetivo da educação verdadeira. Se havemos de conduzir um indivíduo por um tempo, que seja no seu tempo e a condução nunca seja repressora; mandona; coercitiva.
Seres humanos não são animais domésticos, que não podem ter vontade própria... nem plantinhas de apartamento, que jamais poderão escolher os próprios vasos... ou troféus, medalhas e certificados de honra ao mérito, que sempre vão circular entre nossas mãos, gavetas, estantes e paredes... muito menos objetos de nossa ostentação pública diária ou eterna vaidade pessoal.

DE COMO SE CRIA UMA DITADURA

Demétrio Sena - Magé


O extremismo doentio de uma fé coletiva irresponsável, comandada por líderes religiosos loucos e gananciosos aliados a um líder político nazifascista poderoso, funciona mais ou menos assim: Primeiro, com o auxílio de alguns cidadãos mais ou menos elitizados, que já são retrógrados de nascença, são arrebanhados os cidadãos mais fáceis de amoldar, para serem domesticados com falsos discursos nacionalistas, cristãos e de otimismo engessado. A domesticação inclui, entre outros recursos, uma lavagem cerebral que derruba todas as suas admirações por ícones ativistas da cultura, da educação, das artes, da política e de movimentos indignados com as injustiças e desigualdades sociais. Essa lavagem cerebral tem no cardápio, desinformações históricas e difamações pessoais inconsistentes, com argumentos como “ouvi de fonte segura e fidedigna”; “quem me contou foi um primo da prima do primo de um amigo do primo”; “Ele/ela nem deve se lembrar disso, mas estudamos juntos e você nem imagina as coisas que sei” (...).
Após domesticados, os cidadãos amoldáveis aprendem a odiar, além dos ícones difamados, os cidadãos não domesticados; os membros de religiões não cristãs ou menos massificadas; os que resistem ao fanatismo e ao corporativismo extremista; os que pensam por conta própria e sabem ver além dos quadrados; os inconformados com as injustiças; os que se preocupam com os menos favorecidos. Estes, imediatamente são tachados como inimigos da pátria, comunistas (o que na raiz é um elogio), rebeldes e ateus (o que também é um elogio e muitos de fato são). Quando finalmente se forma um exército informal, de soldados bisonhos ou milicianos populares capazes de qualquer ato por seus líderes, institui-se uma ditadura... e se um dia, os líderes quiserem se livrar do exército inicial, facilmente farão com que tais multidões fanáticas pulem de viadutos e precipícios, acreditando que O Possível Deus, em sua Infinita Ociosidade se ocupará de fazer, um a um, pousar em câmera lenta, no chão... eis a queima de arquivo.

GRITAR JUNTO

Demétrio Sena - Magé

Minhas festas se calam por mágoas alheias;
meu sorriso está preso por ver tantas guerras;
não enxergo entre areias das vidas desertas,
como possa pregar o "cada um por si"...
Quem é triste por dentro e perdeu essa fé
de se auto ajudar com bordões otimistas,
quer sentir o meu pé caminhar junto ao seu;
minha lágrima franca se mesclar à sua...
Nem há como entender a blindagem risonha
dos que dizem com frases tão bem resolvidas,
como a vida pertence a quem despreza dores...
Minha paz é sentir que não tenho essa paz;
consciência tranquila não me faz humano;
quando nada mais posso, quero gritar junto...
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segunda-feira, 9 de agosto de 2021

ATEU/DINHEIRO/FELICIDADE

 ATEU


Demétrio Sena - Magé


Ateísmo é o amor indignado

com amores formais; de verbo e crista;

é aquela conquista do bom senso

ou dos olhos que agora querem ver...

Os ateus têm um trato co'a verdade;

serão sempre seus servos; não seus donos;

não se rendem aos tronos, aos poderes

e não trocam seus dons por privilégios...

Um ateu não decide o sim ou não

sobre teses e crenças do sagrado;

só entende que um vão está no ar...

A profunda certeza de um ateu

é que um eu coletivo que se adora

não tem como adorar o Deus Possível...

 

DINHEIRO

 

Demétrio Sena – Magé

 

O dinheiro não deu pra pagar pelo amor;

só cobria o prazer, pois amor não tem preço;

fiz oferta no avesso, mas daqui de fora

não se tem o controle do que ocorre lá...

Acabou meu poder de aquisição sem fim,

quando achei que pudesse comprar a verdade,

arrastá-la pra mim feito pesca de rede,

mas faltou sua essência na compra já feita...

Meu dinheiro não pôde arrematar o bem;

minha cota de bens que nem posso contar

tropeçou em valores que não têm tabela...

Muitas vezes pensei em subornar a morte

pra não ser minha sorte, mudar de calçada,

mas depois entendi que faltará dinheiro...

 

 FELICIDADE

 

Demétrio Sena – Magé

 

Ser feliz tem seus preços infelizes;

alegrias nos cobram nos pesares;

nossas crises terminam num amém;

somos servos do velho que assim seja...

As vitórias nos causam hematomas,

o juízo é a perda da inocência,

paciência se faz de muita espera

e a morte premia o ter vivido...

Não espere a chegada sem cansaço

nem o passo que chegue leve ao alvo,

são e salvo; nenhuma cicatriz...

Mesmo assim tome o rumo dos anseios,

leve os sonhos às últimas instâncias,

pelos meios fiéis à consciência...

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domingo, 18 de julho de 2021

UMBRAIS DO FRIO E DA FRIEZA


 

GENOCÍDIOS

Demétrio Sena - Magé


Tantos mortos em nome do "Deus Vivo",

muito além da tragédia inevitável;

quanta guerra no crivo das mentiras;

das maldades vestidas como santas...

Genocídios operam no calor

e no frio da imensa ignorância,

na ganância de algum protagonismo

injetado nas massas dominadas...

Entre as sombras ladinas das elites,

os senhores das crenças negociam

as artrites, os dramas dos fiéis...

Multidões apostando as próprias vidas; 

genocidas cometem como apoiam

ou apenas assistem sem protesto...

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sexta-feira, 2 de julho de 2021

A LEI LUIA


 

MINHA FALA DE ORGULHO

Demétrio Sena - Magé 

Em tempos de muito; muito preconceito, mesmo (tempos que estão de volta, no Brasil), cheguei a me questionar, ainda menino, se não era gay (fresco, pederasta ou viado, pois a palavra gay não existia). Não porque me sentisse atraído por meninos, pois não era o caso, mas apenas porque gostava de cores, formas, frases bem construídas... arte; poesia. Era como se eu fosse um gay rebelde; gostava de todas aquelas "frescuradas", das quais ainda gosto e atualmente pratico, mas destoava do previsível, por gostar de meninas.

Na adolescência, não jogar futebol nem dizer palavrões era um tormento; nenhum menino me perdoava por isso... ter muito mais amigas do que amigos, não contar vantagens afirmando "comer" todas elas e, me perder de feliz onde havia flores era um soco nos estômagos. "Muito estranho" não ser machista... muito suspeito ficar "de conversinhas" e confidências desinteressadas com belas moças, às vezes ler poemas para elas e não forçar nem uma barrazinha por um beijo na boca; uma "passadinha de mão".

Respeitar o gênero feminino era o fim da picada. Aliás, não forçar a "picada" era o fim da picada. Depois, na juventude adulta, quando alguém descobriu por tanto bisbilhotar, que eu era capaz de não me sentir provocado por uma amiga nua, ter confidências e acreditar que  não havia intenção sexual... e só me dar por desejado se ela dissesse, aí pronto... se não era viado, era babaca; mariquinha... para meus amigos mais próximos, eu até podia não ser viado, mas as minhas amigas achariam que sim - o que jamais ocorreu.

Sempre que tive namorada, na juventude, alguém dizia com certo espanto: "Aí, hein! Namorada bonita"! Era como se me incentivassem para eu nunca "sair do armário". Com o tempo, as pessoas que seguiram convivendo comigo e conheceram minhas namoradas, me viram casar, ter filhas, se aquietaram. Mas muitos nunca entenderam minha sensibilidade literária sem fronteiras, o fascínio por ofícios delicados e a cumplicidade com o gênero feminino, além da compreensão da homossexualidade alheia e dos novos gêneros revelados nas últimas décadas. 

Houve um tempo em que me rebelei de formas muito forjadas e negativas: fiquei desaforado, bruto, briguento e dava mais coices do que o atual presidente deste país. Isso me fez cometer inúmeras injustiças, descontar minhas raivas em pessoas que não mereciam e fazer alguns desafetos. De alguma forma, era como se eu dissesse para meus cobradores: é assim? É isso que me faz macho? Mas aquilo me deu vergonha de mim e não demorei muitos anos a retomar minhas posturas "questionáveis", porém legítimas.

Tive muitas namoradas ao longo dos anos, mas também muitas amigas íntimas... que tomaram banho comigo em cachoeiras desertas... que se deitaram ao meu lado em uma cama ou rede, para longas confidências e choraram em meu colo, com a certeza de que não seriam constrangidas por uma ereção; por um carinho inconveniente para o momento; uma tentativa de me arvorar como "Homem com H".

Minhas posturas espontâneas de quem é teimosamente quem é, desde menino até hoje, aos sessenta anos de idade, sempre me causaram aborrecimentos com as exigências do machismo que me cerca. Do preconceito sócio-religioso dos ambientes familiares e das igrejas que frequentei. Das cobranças de uma sociedade na qual não basta seguir padrões; é obrigatório provar a cada instante, que segue. Um homem só é homem com a crista alta. Uma mulher, com os olhos baixos.

Ter passado por tantos momentos constrangedores pela possibilidade remota de homossexualidade me deu a honra de saber como é ser homossexual masculino ou feminina... uma mulher ou um homem trans, bissexual, transformista (...). Honra, sim, porque sei de  algum modo a coragem, força e determinação que demanda não desistir de si, ante as dores do menosprezo, da segregação, a ira religiosa e a repressão familiar e social.

Não sofri até hoje, um décimo do que sofre a comunidade LGBTQIA+, especialmente no Brasil. Mas o que já sofri, mais ainda quando não entendia conceitos e contextos, me faz ter essa ideia; esse olhar. Foi comovido que assisti ao programa FALAS DE ORGULHO, da Rede Globo, e me senti ainda mais próximo desses seres humanos maravilhosos que só querem ser livres para ser quem são, em nome do amor e da própria felicidade.

Gostaria, quando fosse possível, que a sigla LGBTQIA+ ganhasse uma nova  letra... a letra S, para se tornar LGBTQIAS+ (Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer, Intersexuais, Assexuais... e simpatizantes. Quanto mais seres humanos se solidarizarem com essa luta, mais possível se tornará o advento, em um futuro ainda invisível, de um mundo melhor para todos... porque todos juntos somos o mundo.

AS RELIGIÕES E SEUS MALEFÍCIOS

Demétrio Sena - Magé 

Aprendi na prática, justamente com os que mais pregam que todo ser humano precisa de uma religião, que na verdade nenhum ser humano deveria sequer conhecer uma religião... muito menos cair em suas malhas. Desde os tempos mais remotos da história da humanidade, religiões têm sido as maiores causadoras ou parceiras nas desgraças que o mundo já sofreu e segue sofrendo.

Foram as religiões, inclusive, que levaram Jesus Cristo a morrer como criminoso, por ele pregar o amor, a paz e a igualdade, que são os ingredientes das pregações religiosas. Depois de matar Jesus, a maioria das religiões ainda passou a usar seu nome para cometer ou contribuir com atrocidades... ajudou e participou das mais cruéis ditaduras; criou inquisições sangrentas; empoderou governos genocidas mundo afora, como Adolf Hitler, o mais conhecido no mundo novo.

No Brasil, país conhecido como essencialmente cristão, as denominações cristãs predominantes sempre foram parceiras em potencial das mais cruéis ditaduras... ajudaram a perseguir opositores políticos de presidentes tiranos; entregaram e fizeram uso das parcerias com o poder, para oprimir também as religiões não cristãs.

Até houve períodos de alguma trégua, mas hoje, vemos mais uma vez as religiões cristãs brasileiras contribuindo com e participando de um governo ditador, perverso, violento e genocida. Empoderadas com essa parceria, voltaram a perseguir as religiões menos ortodoxas, notadamente as de matriz africana e todos os cidadãos alvos dos seus mais profundos preconceitos sociais, incluindo racismo, LGBTfobia, machismo e muitos casos de ódio a quem produz arte não reconhecida como conservadora e religiosa.

Há religiosos que não se enquadram nesse perfil de perseguidores, tiranos, fanáticos e capachos do poder, mas em tão baixa escala, que também acabam não enquadrados no perfil de religiosos. São cidadãos conscientes, dotados de amor ao próximo, avessos às maldades e à hipocrisia, que ainda conseguem crer no princípio da religiosidade... fazem sua parte como seguidores do Cristo fundador do cristianismo verdadeiro, e por isso vivem como peixes fora d'água em suas igrejas.

O ser humano precisa, sim, do que seriam as religiões, se não fossem contaminadas pela hipocrisia, a fome de poder, a vaidade, o egoísmo e a ganância... não do que as religiões nunca deixaram de ser e hoje se confirmam no quanto nós, brasileiros tachados de profanos por sonharmos com igualdade humana, social, vivenciamos de formas tão revoltantes e catastróficas.

A OUTRA FACE DO FILHO

 Demétrio Sena - Magé 

Primeiro, as arbitrárias manipulações do Pai que superprotege o filho predileto e faz dele o braço direito em um reino cujo trono é intensamente ambicionado por todos os habitantes... logo depois, a ostentação do poder, da tirania e dos caprichos de Sádico Supremo, ao atirar esse filho impiedosamente reino abaixo, com os seus aliados, por causa de uma rebeldia que todo filho de personalidade forte, ainda que mimado, tarde ou cedo apresenta... e como se não bastasse, a criação de um lugar de sofrimento eterno e ranger de dentes, para ser comandado pelo rebento rebelde.

Milênios depois, o resgate sorrateiro do ex-predileto, que na verdade nunca deixou de ser, para retreiná-lo no reino e depois enviar aos humanos, visando persuadi-los a se renderem ao poder, à tirania e todos os caprichos do Pai, que não mudara em nada. Então o filho, com nova identidade, mas a mesma personalidade, a mesma rebeldia, somadas ao profundo amor que desenvolve pelos humanos, desobedece mais uma vez. Não submete a humanidade aos Caprichos Supremos nem extermina os relutantes e os poderosos terrenos que não se dobram ao Mesmo.

No fim das contas, novamente o filho é castigado... e dessa vez, passando pelas mãos humanas. Condenado à morte por cruz, como se tivesse vencido em nome do Pai; como se o Pai tivesse realizado seus propósitos, ao esconder o segundo real fracasso como Guerreiro Supremo... Líder Maior... na verdade, o Tirano Capaz de uma crueldade requintada como enviar seu filho para promover uma guerra contra si próprio, sua outra identidade, aliado aos humanos em uma guerra também contra si mesmos... eis o eterno conflito entre o bem e o mal que habitam cada um de nós.

quinta-feira, 10 de junho de 2021

SÍNDROME DE DORIAN GRAY

Demétrio Sena - Magé 


Digo às sombras que tenho gratidão,

que meu corpo já teve o que pediu,

tive toda paixão correspondida

nos desejos em série que senti...

Mas agora preciso envelhecer

e gozar umas dores mais humanas,

Perecer de uma síndrome comum

ou saber que o que dói não é boleto...

Quero a vida sem graça que não quis,

pra viver um amor que sempre tive,

ser feliz como tantos podem ser...

Peço às sombras meu velho coração, 

minha carne se cansa de sentir

sem aquela emoção da qual me lembro...

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quinta-feira, 20 de maio de 2021

SOLIDÃO DE JORGE


Demétrio Sena - Magé 


Vejo a hora de Jorge me olhar invocado,

pôr a mão na cintura, sem largar a lança, 

pra mandar um recado; mas por ele mesmo,

que me faça deixá-lo na paz do tormento..

Seu dragão esperando pra voltar à luta

na qual perde pra Jorge porque tem que ser,

me chamar entre chamas, de filho da santa

ou me ver como chance de vencer alguém...

É ciúme da lua que namoro tanto,

entre fotos e versos que faço pra ela

e me planto nas noites, em contemplação...

Jorge teme perder as atenções lunares

ao seu falso combate que o mantém herói,

porque dói ser sozinho como sempre foi...

sábado, 1 de maio de 2021

SOBRE AMOR E PALAVRAS


 

RELIGIÕES QUE NÃO RELIGAM

Demétrio Sena - Magé 

Odiar, seja lá quem for, especialmente por não ser igual, não religa o ser humano ao possível Deus. Ter qualquer tipo de preconceito, igualmente não. Julgar-se perfeito e só amar a quem facilita ou recompensa o seu amor é antirreligação. Querer na terra, o domínio de todos os que vão para o suposto céu/suposto inferno, jamais teria como religar.

Privatizar o possível Deus para si ou seu grupo, não religa mesmo, e desqualificar outras religiões como tais, nada feito... não religa, não religa e não religa! Da mesma forma, cobrar dízimos de quem nem sempre tem o que comer, ao invés de religar, desliga.  Isso é enriquecer empobrecendo ainda mais quem já é pobre. Ostentação não religa. Vaidade religiosa é contraditória e... desliga! Desejar o mal dos outros religiosos ou não religiosos é tão antirreligioso, que desliga e não há mais emenda. Ser o próprio super religioso e usar seu fanatismo para diminuir o próximo e promover guetos com a própria elitização é totalmente contra o ato ou processo de religar.

Ser belicoso, desejar ter armas para praticar o dente-por-dente, olho-por-olho e fazer suposta justiça com as próprias mãos, de que forma religaria? Condenar os direitos humanos para quem precisa e querer surrupiá-lo para quem já tem todos os direitos, incluindo a si mesmo, ainda que por suposto mérito, é agir como fariseu... nunquinha religaria. Inchar a religião com política partidária, grudar-se aos poderes terrenos - ou ainda pior, tornar-se um poder terreno para criar e expandir o seu próprio reino aqui mesmo, fere toda e qualquer prerrogativa de religação... pelo menos com "Ele".

Inventar ou veicular mentiras esquentadas/requentadas para fortalecer corporativismos dogmáticos, classistas, sociais ou políticos é desligar os tubos e deixar morrer a religiosidade. Substituir - inapelavelmente movido por ganância, protagonismo, fome de poder ou vaidade - a pessoa de Jesus Cristo (que as ditas religiões cristãs dizem ser a ponte, a religação com Deus) por um político sujo, corrupto, raivoso, mentiroso, manipulador, tirano e genocida é  a desligação sumária! Religião não presta, se não religa... e não religa, praticando gestos antirreligação e anti-luz.

Aqui vai o conselho de um profano incorrigível, que torce pelas verdadeiras religiões: repense o quanto antes, nas atitudes diárias, a sua religião... ou adote ao pé-da-letra, o discurso de muitos grupos que já admitem, tentando mentir para seduzir, mas dizendo inconscientemente a verdade: " Nós não somos uma religião; somos uma filosofia que...".

sábado, 20 de março de 2021

MATRIOTA

Demétrio Sena - Magé 

Até na forma de se referir a uma nação o mundo é machista, quando prefere a palavra pátria. Temos nação, terra, torrão, país e ainda o nome do país, para dizermos... ou podemos dizer mátria. Embora pátria também signifique nação, país em que se nasce, a preferência pela palavra é de cunho machista e patriarcal. Existe uma relação etimológica entre as palavras pátria e pai... ou pater; padre. Se comumente chamamos um país, terra ou torrão de pátria, por que nunca o chamamos também de mátria, cuja etimologia remete a mátria ou mãe?

Os termos femininos para o berço geográfico em que nascemos são bem mais adequados do que os masculinos. É o chão do qual brotamos. É a terra que nos pariu... a barriga na qual fomos gestados e viemos à luz. Mas a humanidade machista, patriarcal, não abre mão de priorizar pátria, como masculino de mátria, sempre utilizando entonações graves que remetem ao vigor físico, à valentia masculina e às guerras, até hoje conhecidas como para homens.

Os hinos cívicos exaltam frequentemente a virilidade, as virtudes masculinas. As igrejas evangélicas, machistas até às vísceras, têm hinos sacros como Minha Pátria Para Cristo, por exemplo, que diz: "Salve Deus a minha patria, minha pátria varonil!...". Pátria varonil; por que não pode ser mátria feminil? Porque isso empoderaria as mulheres, que geralmente só lideram mulheres, enquanto os homens lideram o conjunto e apontam as mulheres que hão de liderar as mulheres nas congregações. 

No Brasil, nunca se bateu tanto no peito para gritar um patriotismo "brabo", grave, armado até os dentes, caricaturalmente machista. Mulheres e homens orgulhosos desse patriotismo de cueca verde-oliva, exibem mais o mastro do que a bandeira do país... do berço e ventre deste matriota que abre mão de gritos e arroubos, para sussurrar: "Minha terra mãe gentil... nação da qual preciso me orgulhar de novo... mátria amada Brasil...".

PAUTAS DA PELE


 

BUSCA SEM FIM

LÁ NO FIM

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

METAFORIA

 Demétrio Sena - Magé 


Tanto quanto

faz parte

que a morte seja

o prenúncio

de Marte...


Ou que a vida

pra ser devida,

seja certa

por inserta

indevida...


Poeta é algo

bem controverso,

que mina

língua ferina

contra verso...


Também constrói 

desconstruções, 

desinstitui

por instinto,

instituições...


Definição 

de poeta...

Metáfora:

meta fora

da meta.

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quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

UM ENSAIO DA FÉ

Demétrio Sena - Magé 

Quando me disseram pela primeira vez, que a fé move montanhas, imediatamente a associei ao movimento. Ainda não sabia sobre figuras de linguagem, mas entendi que a fé nos faz mover montanhas, porque nos move, agita e desacomoda. Faz a pessoa "dar seus pulos" na direção do alvo e muitas vezes provocar o "milagre" que sempre foi possível, pois não dependia do sobrenatural; só do esforço maior, com status de sobre-humano.


No decorrer dos anos, aprendi que a fé tem alvos ou ícones à nossa escolha. Pode ser em Deus, para quem crê nEle, ou em um deus, um amuleto, entidade ou ideal... em alguém ou algo, desde que mova, desperte, faça "dar seus pulos" e trazer a força interior aos braços, pernas, projetos e desejos que chamam para a vida ou para a seara.


Religiosos, agnósticos e ateus têm fé, porque não crer em Deus não é não crer em nada ou ninguém. Todo ser humano tem o dispositivo da fé, que demanda ser acionado e desenvolvido. Cada pessoa o faz com diferentes níveis de providência, consciência e alcance. De qualquer modo, chega o tempo em que a fé não basta, nem com todas as cargas de força e positividade, porque a partir daí, a natureza ou a ordem natural da vida e do destino inapelavelmente assume o comando.


Os religiosos sabem ou deveriam saber do que falei acima, especialmente quando constatam que fizeram preces ou rituais e mesmo assim a doença progrediu; seguiu seu curso. Especialmente quando eles não se moveram para que a medicina e os medicamentos corretos fizessem o restante. Fizeram preces pelo sucesso nas provas escolares e algum evento fortuito impediu o sucesso ou a fé não lhes moveu a estudar incansavelmente. Jejuaram e oraram por empregos e a fé não lhes fez bater de porta em porta com currículos, apelos e, por não conseguirem mesmo assim, não lhes moveu a tentar algo diferente... sim, porque às vezes a fé exige mudarmos o movimento e a direção, sem pararmos de nos mover.


O abuso da fé, nestes tempos de pandemia, tem levado muito religioso, por questões não só religiosas, mas também políticas, a fazer preces febris pelo fim da doença e ao mesmo tempo não se cuidar... desafiar as orientações da ciência e da medicina e não só rejeitar, como também difundir desinformações para levar o próximo a igualmente rejeitar a vacina que a ciência, com fé e boa fé desenvolve para salvar milhões de vidas. A fé desses religiosos movidos a politicagem é irresponsável, fanática e sem amor.


Fé exige além dos movimentos, muita responsabilidade, pensamento aberto às impossibilidades naturais ou fortuitas da vida e principalmente boa fé. O indivíduo que tem fé com má fé se acha todo poderoso e crê que a sua seja coletiva, não íntima e pessoal, chegando a usá-la para comércio, poder sobre o próximo e moeda para barganhas políticas; tráfico de influência; domínio das mentes fracas e dos espíritos fragilizados.


Nenhuma fé nos põe numa zona de conforto. E vale a pena dizer aos fanáticos, que o rico não o é por ter fé maior que a do pobre... doença e morte são condições naturais do plano  de vida, e Deus, um deus ou o amuleto não privilegiam a fé dos espertos... e mesmo sendo vocábulo feminino, fé não tem gênero. Às vezes é "fé, menina"... outras, "fé, menino".

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quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

CARNE VENCIDA

Demétrio Sena - Magé 


Há um povo apagado em seu sono profundo;

numa triste alegria que não tem sentido;

em um mundo mental que a razão desabona

e desmente com gritos de verdades duras...

Os ouvidos tampados, tapados, inúteis,

não escutam estrondos da própria desgraça;

essa gente fiel do poder que a massacra

é rebanho que passa e se pisa sem ver...

São carcaças dormentes pra faca dos fatos;

vejo tantas cabeças perdidas das mentes,

tantos flatos verbais de rompantes vazios...

Há um povo tão povo e tão carne vencida,

que apodrece pra vida e se julga filé

do poder e da fé que não é mais em Deus...