quarta-feira, 31 de julho de 2019

ALMA EXPOSTA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

É tamanha tristeza espremida no fundo,
resguardada nos eixos de minha estrutura,
na distância do mundo que me calcifica
para nunca deixar minhas águas fluírem...
Uma dor que só posso partilhar comigo,
pois ninguém poderia vir chorar pra mim,
tem um fim que não chega em meu ponto final
pra deixar a minh´alma seguir o seu rumo...
Levo tantos gemidos no silêncio falso,
guardo muitas histórias em um livro etéreo,
sou aquele mistério que nem tento abrir...
Alegria sofrida e depressão feliz,
um dizer que não diz o que acinzenta os olhos
e me deixa viver pra concluir que morro...

domingo, 28 de julho de 2019

COLCHA DE RETALHOS


Demétrio Sena, Magé – RJ.

OVERDOSE – Às vezes quase enlouqueço, vítima de poesias congestionadas que buzinam em meu silêncio, todas pedindo passagem ao mesmo tempo. Coração e cabeça dão um nó, desesperados com o engarrafamento insolúvel no trânsito impiedoso da inspiração sem limite. Se nada me socorrer, um dia posso morrer de poesia.

AVISO – Se Não sabe brincar
                de sedução,
                nem entres no parque do meu coração.

SEM PANOS – Já me cansei de lhe ouvir dizer que o cão é mais gente do que gente. Que gente não lhe completa e não é uma sã companhia. Por mais que meu coração balance por cães, depois desse desencanto eu lhe tirei de todos os meus planos. Não estou mais a mercê de seus caprichos, e posso assegurar: Tirados todos os mantos, o meu caminho é inverso. Confio mais nos humanos do que em você.

DÍVIDA MANTIDA – Não revidarei à sua ofensa e peço que não me peça desculpas. Nada lhe cobro, não exatamente por bondade, mas por malícia, mesmo. Quero manter o status de credor.

TEMPO – Ando meio sem tempo
                  para trabalhar;
                  tenho muita coisa pra lazer.

AMPUTAÇÃO – Tenho sempre muito cuidado com o que não faço. Isso acontece, porque sei que uma vontade reprimida pode até me livrar de ferir meus pés... mas não vai evitar que ampute os meus passos.

SÓ (LIDÃO) – Menina triste
                         de olhar pidão.
                          só lhe dão
                          solidão...

SER HUMANO – Cuidado com as pessoas com quem você anda. Muito cuidado: Procure saber do que precisam; dê ouvidos e ombros; estenda sempre a mão... Nossos pais estariam certos, se o sentido de suas advertências fosse este: Temos que ter cuidado com quem andamos. O próximo precisa de amor... o ser humano precisa de cuidados.

quinta-feira, 25 de julho de 2019

DESPEDIDA


Demétrio Sena, Magé – RJ.

Minha ida excessiva merece uma vinda;
eu exclamo demais, pra ter só reticências;
esta voz mal consegue tocar teu silêncio
pra dizer como és linda e furtar um sorriso...
Mas não posso viver dessa esmola diária
nem bater a carteira da tua nobreza,
quando minha pobreza de fundo afetivo
não encontra mais trunfo pra ter atenção...
Meu ainda não soube despertar teu já,
pois entrego sem fim, sem jamais receber,
a não ser que provoque algum descuido em ti...
Eu te fiz majestade que já não alcanço,
porque danço em excesso e nem há melodia,
se tu és fantasia que não dá em mim...

quarta-feira, 24 de julho de 2019

"VASO DE BÊNÇÃOS"


Demétrio Sena, Magé - RJ.

O excesso de roupa não torna decente;
o discurso constante não prova o caráter; 
a patente não mostra que somos heróis
nem o muito cantar tem que ser de alegria...
Humildade sem freio demonstra soberba,
exibir o perdão é punir com requinte,
não existe "até vinte" pra quem tem certeza 
e a fé barulhenta não passa de show...
Exibir muita força demonstra fraqueza;
segurança demais nos revela inseguros;
são os puros que um dia se revelam podres...
Não se deixe levar por quem mais se propaga,
pode ser uma praga esse "vaso de bênçãos"
viciado em virtudes da boca pra fora...

ERRADICANDO A RADICALIZAÇÃO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Às vezes não é medo;
é apenas prudência. 
Nem segredo, é discrição...
Pode não ser ódio, 
mas irritação, talvez,
ou talvez um talvez,
não exatamente um não...
De repente a bobeira
é simplesmente alegria;
o truque finge a magia...
O simples desconforto
nos parece tédio...
Ou aquele carinho
que aos nossos olhos 
parece assédio...
Soa como revés 
o que é revisão;
achamos algo estranho
e pode ser estilo...
Ou a liberdade
pode ser compromisso...
O mundo, às vezes,
não é tudo aquilo...
é apenas isso.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

EXTREMADO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Quem me tem como amigo, tenha boa fé;
olhe bem nos meus olhos e creia no mundo;
venha fundo nos flancos; descasque meu todo,
tire o pé desse freio de conter afetos...
Para ter meu carinho desarmado e pleno,
que não deixo esfriar nos desvãos de quem sou,
tenha sempre o que dou, sem reparar na casca;
não invente veneno em minhas beberagens...
Sou amigo invasivo e deploro evasão,
tenho mais coração do que noção de quando;
consciência de como; até que ponto estou...
Vou além do sensato e meu afeto assusta,
se me tens como amigo não te custa nada
o melhor de minh´alma, do forro e da napa...

domingo, 21 de julho de 2019

COMO TE QUERO


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Que não sejas pra mim,
neste momento,
o que já não serás
bem lá no fim
do dia que morre...
no firmamento...
Só me chames ou venhas
ao meu chamado,
se daqui a mais anos,
entre perdas e danos...
ainda fores quem és,
quem sabe ao quadrado...
Já conheço essa fita
de primeira impressão
que seduz o mundo...
Não te quero fachada,
cartão de visita
nem pano de fundo.

DELÍRIO TERMINAL


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Estou a ver

meu verbo haver.
Ponho a venda
e fico à venda.
Talvez dormente,
porque a dor mente.

Trago o fumo;
fumo que levo.

Não me peça 
que pregue peça.
Então por ora
não é hora.

E a cerca diz
acerca disto.

A corda nunca
acorda em tempo.
Profundo é sempre
lá pro fundo.

Vá em cana;
cana de açúcar. 

Corrente prende; 
corrente leva.
Faz o bem
e faz bem feito.

Com raiva, mato; 
o mato acalma.

Leio um livro,
me livro e voo.
Acento agudo,
macio assento.

Agora cedo
enquanto é cedo.

Deixo a cena,
que a mão acena.
Já não luto;
chega de luto.

Fiquei partido
por ter partido.

Tristeza à vista
e vista a prazo.
Dei adeus 
pra ver se há Deus.

quarta-feira, 17 de julho de 2019

POETAS SÃO MAUS

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Poetas são temerários;
duros; frios; cruéis...
Ficam horas inteiras
a conversar em silêncio,
com seus papéis...
Tecem loas e loas,
de manhã, tarde ou noite,
a qualquer hora...
Depois amassam pessoas
e sem qualquer cerimônia...
jogam fora.

segunda-feira, 15 de julho de 2019

PRECISO


CYBER


CONSELHO TORTO PRA POBRE BOBO


Demétrio Sena, Magé - RJ.


Faz arminha e faz festa para teu patrão
que sorri satisfeito; chibata na mão;
ele sim, tem motivo pra fazer arminha...
Agradece por tudo que o governo arranca,
faz caretas e bocas, impõe tua banca,
dando vivas e urras pra tua vidinha...



Ou até faz arminha por nem ter emprego,
diz que o céu proverá, finge ter desapego
ao conforto que todo cidadão merece...
Faz arminha pro SUS que te mata e aos teus,
pede ajuda, migalhas, dá graças a Deus
e decora o ditado: "Faz parte; acontece"...



Faz arminha pras armas que nunca terás
pelas formas da lei, mas aí tanto faz,
o país ter mais armas deve ser tão bom...
Faz também pra quem faz com arma de verdade;
pra indústria do crime; da desigualdade,
pela qual manda o rico e você baixa o tom...



Pro teu líder que faz porque tem vida ganha;
para muitos espertos que fazem barganha
ou estão protegidos em algum segredo...
Continua sofrendo com tanta injustiça, 
mesmo assim faz arminha no culto e na missa,
pra milícia, pro tráfico e também pro medo...



Faz arminha que aponta para o próprio pé; 
quando jogas teu sonho; teus dons; tua fé; 
porque já te rendeste à própria covardia...
E repete os discursos de quem se dá bem
com teu dízimo, imposto, com teu vai e vem
para nunca sofreres barriga vazia...



Louva os falsos heróis que se criam aqui,
faz arminha pro nada que fazem por ti,
continua sem tino, sem chão e sem rumo...
Enaltece quem quer que a criança dê duro;
pobre fora da escola; perdido no escuro;
faz arminha, gargalha, salta e leva fumo...

quarta-feira, 10 de julho de 2019

SEM PINGO NO I


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Uma vida em conserva não serve pra mim;
sempre fui a varejo; fora do pacote;
um caminho sem fim, sem atalho pra outros
não é mote pro sonho que levo comigo...
Há um mundo em redor e preciso entendê-lo, 
percorrer o que os olhos alcançam daqui,
pois o gelo da espera sobre as esperanças 
é um pingo no i que se perde no mar...
Ser feliz no caixote não faz o meu tipo;
quem me planta não colhe, pois o vento extrai;
sou a folha que vai, ao sabor do que vem...
Sempre volto, mas venho pelas minhas asas,
Tenho casas no espaço e são todas de ar;
um amor só me prende se me libertar...

CONTAGEM REGRESSIVA


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Meu afeto por ti foi bem mais expressivo;
de não ver a passagem da hora mais lenta;
foi daquelas versões de adesivo nos olhos,
para nem perceber que sentia sozinho...
Era tão consistente, sem arma e defesa,
que não tinha segredo; nada pra esconder;
tive minha certeza do quanto sabias
que não tinhas razão pra temer tanto afeto...
Guardo ainda resquícios daquele sentir;
poderia mentir, nem mentiria tanto,
mas ainda não sei me camuflar pra mim...
Entretanto é verdade que já vejo as horas
e não dói como antes; não sangra saber
como sabes me ver com frieza e distância...

O AMOR NÃO TEM PREÇO


Demétrio Sena, Magé – RJ.

Ela pode somar dez mil defeitos;
tenho tantos, que devem ser o dobro;
sou salobro, ranzinza, trago espinhos
que me tornam difícil de abraçar...
Pode ser até fã do presidente,
não achar que o “juiz” foi desonesto,
ser ardente, fiel, cantar louvores
pros heróis da carência nacional...
A paixão me cegou pra tudo isso,
é ouriço-cacheiro a porco-espinho,
deve haver uma bula pra dar certo...
Ela pode fazer sinais de arminhas;
tenho minhas loucuras; reconheço,
e amar não tem preço nem padrão...

sexta-feira, 5 de julho de 2019

PÁTRIA NADA


Demétrio Sena, Magé - RJ.

A indústria do medo fabricou heróis
que não têm heroísmo; só conveniência;
foram muitas as iscas em belos anzóis
nestas águas eivadas de funda carência...

Patriotas doentes, beirando à demência
se deixaram levar como ciscos na foz,
pelas águas raivosas da falsa decência
que lhes deu a quimera de povo com voz...

Os heróis de festim rasgam toda fachada;
pátria amada Brasil se tornou pátria nada;
o poder é carrasco em todos escalões...

Brasileiros vendados ainda risonhos
perdem tino, sentido, remendam seus sonhos
e rejeitam saber que os heróis são vilões...

EGO INGÊNUO


Demétrio Sena, Magé – RJ.

Sei fingir que não sei que alguém me usa;
faço a minha expressão de nada sei,
minha lei do silêncio sobre o quanto
sou ordenha; colheita; extrativismo...
Tenho fama que nunca me deu pão;
ai de mim se taxasse o meu talento;
não buscasse o provento noutros campos,
minha mão não tivesse chapéu extra...
Ego ingênuo, não sabe declinar,
novamente acredito e me diluo
no luar ilusório dessa poça...
É que sempre acredito que acredito,
quando finjo que dito as minhas regras
ou que uso quem pensa que me usa...