quarta-feira, 29 de abril de 2015

SENTIMENTO CANINO


Demétrio Sena, Magé - RJ.




Nosso amor pelo semelhante bem que podia se assemelhar ao amor dos cães por seus donos, que não são semelhantes. O amor dos cães pelo ser humano é incondicional. Eles não admiram nossa esperteza ou inteligência. Não nos idolatram pelo talento, a beleza, muito menos pela posição que ocupamos. Tão apenas nos amam, e não importa se estamos na penúria, para nos seguirem até o fim do mundo e dos nossos dias.
Amor de cão é desses que duram até que a morte ou a nossa crueldade nos separe, pois ele jamais nos deixará, e sempre há de ser grato ao menor carinho. Ao mais breve afago em seus pelos. Ao mais leve roçar de nariz e fuça. Nossos olhos de afeto e o falsete na voz... cães adoram nossos falsetes, pois mostram que estamos bem e de bem com eles. É a nossa expressão explícita, inequívoca e timbrada de chamego.
É neste contexto que sempre deplorei o amor humano... sonho constantemente que, num futuro talvez distante, alcançaremos a graça de realmente viver em um mundo cão... desfrutar de uma vida cadela.

terça-feira, 28 de abril de 2015

AMIZADE PLATÔNICA

Demétrio Sena, Magé – RJ.

Foram anos de olhares tão só meus,
de carinho isolado, sem resposta,
uma cumplicidade no vazio
de quem gosta e não gosta; só se deixa...
Fui amigo platônico, distante,
mesmo próximo, pleno de presença;
tive afetos restantes dos descuidos
ou de surtos da tua solidão...
Sob as perdas, os danos que sofri,
rabisquei as versões de realidade
que não vi, mas vivi de não viver...
Minha mente seguiu meu coração
sob o vão das imagens afetivas,

e teus nãos me nutriram de silêncios...

sexta-feira, 24 de abril de 2015

JUSTIÇA PREDIAL


TROCA


Demétrio Sena, Magé - RJ.

O que se dá sem querer nada em troca é dinheiro, bem de consumo, presente... no entanto, quando nos damos em forma de carinho, atenção, preocupação e presença, é até possível não cobrarmos... mas é hipocrisia dizermos que não esperamos algum afeto em troca.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

BEM AVENTURANÇA


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Bem aventurados os bem aventurados de fato e por natureza, pois eles nunca precisarão compensar desventuras com bem aventuranças de consolação litúrgica.

AUTORRETRATO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Em muitos e muitos casos, a justiça induz o cidadão a ser injusto. A polícia o convence a ser bandido. É como a vida, que nos prepara pra morte, ou o sonho que nos desperta nos braços farpados da realidade nua e crua, depois de muita camuflagem ou cozimento em banho maria.
Mesmo após tantos anos de peregrinação a esmo, para provar à justiça federal que não é um megaempresário fraudulento, o modesto funcionário público Silvério não enlouqueceu. Ainda. Vive à beira de perder o emprego, de quando em vez tem a conta salário - de proventos também modestos - bloqueada inconstitucionalmente, além de ter seu único imóvel sempre avaliado para fins de penhora. No mais, muito; muito constrangimento com visitas de comissários de justiça. Situação que se agrava quando ele tenta provar inocência e se depara com atendentes irônicos e defensores públicos de má vontade que descontinuam bem cedo seus acompanhamentos.
Com o tempo, Silvério perdeu o respeito pelas instituições oficiais; os poderes; o governo. Não apenas o respeito, mas também as esperanças em tudo isso. Entretanto, mantém a índole que o faz gostar de ser correto com as pessoas. Cumprir a palavra empenhada; o compromisso firmado; a dívida feita com cidadãos comuns feito ele. Quer manter sua imagem limpa, o nome honrado, e receber desses cidadãos olhares aprovadores; palavras de confiança; sorrisos de aplauso por sua boa conduta.
Perante os poderes, o indivíduo já não faz questão de provar inocência. Sabe que o governo, receita e justiça federais há muito identificaram - e fazem vistas grossas - os reais culpados, que porcerto estão acima do sistema, por questões de patente, ou acima das patentes, por força de poder econômico. É essa hierarquia torta, enviesada, que faz do cidadão sorteado esse alvo predileto; caminho fácil para que a justiça ostente movimentação. Mostre serviço.
Foi desta forma que, mesmo ainda não tendo praticado qualquer crime ou delito contra os poderes constituídos, Silvério aprendeu com os órgãos que fingem combater essas práticas a seguinte lição: delito ou crime contra os poderes não é de fato crime ou delito. O que se faz contra o governo, em um todo, por mais grave que pareça, não passa de um "toma lá, dá cá". Seja como for, ele ainda não fez algo do gênero.
No momento, a única distorção de caráter do cidadão Silvério realmente mora na compreensão aos que se rebelam contra tudo e decidem se vingar do sistema... desafiar os poderes. Mas o tempo, com seus requintes irônicos, ainda pode convocar o facínora que as injustiças fertilizaram em seu coração. A partir daí, o cidadão realmente culpado, por culpa do sistema, nunca mais será o alvo predileto, por já não ser um caminho fácil, sem riscos, para que a justiça mostre serviço.
Tudo bem pros poderes. Para cada Silvério finalmente acima do alcance, nascem milhares e milhares de outros, prontinhos para serem bodes expiatórios da justiça em qualquer instância. 

sexta-feira, 17 de abril de 2015

MÃO-NIFESTAÇÃO POPULAR


MEU PROTESTO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Manifesto expressões do meu carinho,
das paixões de que sempre fui capaz,
numa prosa, um poema em desalinho;
no meu sonho irreal do mundo em paz...

Protestar é fazer o que me apraz,
dar aos pés a certeza do caminho,
despertar na minh´alma o que aqui jaz;
ver que a rosa perfuma seu espinho...

Superei a longínqua faixa etária
em que a rua era palco e luminária
dos meus brados; latidos; meu showbiz...

O guerreiro ilusório teve fim;
aprendeu a cavar seu próprio sim;
meu protesto é viver e ser feliz...

ESTALO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Não tenho estilo,
mas não me abalo;
tenho estalo.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

MAIS DO QUE TE AMO

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Deixarei que me deixes, pois me canso
dos teus ranços, das crostas que te cobrem,
dessa tua mania de tristeza
e teu vício de mágoa e solidão...
Quero a luz, não gostei das tuas trevas,
tenho fome de risos e de céus,
mas me levas ao chão; ao fundo; ao poço;
ao teu osso impossível de roer...
Já não creio no amor como remédio,
e me rendo ao assédio desse adeus
que nos toma de assalto já faz tempo...
Serei livre a partir de te livrar,
escrever outro livro de quem sou
e me amar muito mais do que te amo...

MUTAÇÃO


Demétrio Sena, Magé - RJ.


Somos todos mutáveis no tocante a gostos, opiniões, orientações e conceitos... mas quem muda em excesso, e de modo a perder a personalidade, já não é mutável... é mutante.

SOBREVIVÊNCIA HUMANA


Demétrio Sena, Magé - RJ.



Ao dar presentes, quaisquer que sejam, nada espero em troca. Nem mesmo agradecimentos expressos ou representados por gestos e olhares. Neste caso, não dou a mínima para tal máxima de que é dando que se recebe. 
Mas confesso que não sou tão desprendido assim, se o que dou é presença, carinho, atenção e cuidado. Quando faço isso, dou a mim mesmo, e ao contrário das coisas, o que sai do meu íntimo precisa de reposição. 
Em minha opinião, coisas podem ser dadas a qualquer tempo, sem nenhum desejo de retorno. Sentimentos bons, não. Eles têm que ser sustentáveis. Precisam de resposta; reflexo. Do eco necessário à sobrevivência humana.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

QUEIMADURA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Começaste a perder o meu afeto
que não tinha critério, início e fim,
porque vias em mim o previsível,
pela brecha notória do costume...
Não me olhavas além da segurança
dessa minha presença pronta e posta,
sem o preço comum aos que se ofertam
pela justa resposta na procura...
Comecei a sair das tuas malhas,
quando as falhas profundas de retorno
se deixaram subir pra superfície...
É a deusa que agora está sem servo;
é o nervo que perde seu entorno;
foi o morno que fez a queimadura...

segunda-feira, 13 de abril de 2015

PRECE À MÃE


ERRO ÍNTIMO DE CONCORDÂNCIA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Eu é túnel sem luz, quando excede o rompante;
um instante que pode nos levar à cruz;
não há eu que nos muna da força do nós,
quando nós nos impedem de chegar ao outro...
É preciso que o eu se desligue de si,
se do ato depende a salvação do ele;
se pra ti é vital; se restitui a voz
que pra vós tem a força do próprio futuro...
Lá no eu se concentram desertos do mundo;
cá no meu, bem profundo, consigo entender
como falta poder, se não saio de mim...
Acharemos a vida se unirmos os eus
em um ninho de sonhos do mundo melhor;
eu é deus que não pode caminhar sozinho...

DENTRO DE MIM

Demétrio Sena, Magé - RJ.

É minh´alma concreta que peca e se perde,
porque perde a noção da força da fraqueza,
põe a sua defesa no ataque do sonho
de viver sensações que só terei assim...
Minha mente acompanha o desejo dos olhos
que me vestem pra mira de minha nudez,
ponho a tez no tempero e me como sozinho
nas caladas vorazes desta solidão...
Um vazio que toco no fundo sem fundo,
uma dor que me chama pra sentir bem forte
o prazer dessa morte que devolve a vida...
Sou arcanjo perdido abandonado ao léu,
que deságua do céu e se vomita enfim...
há um corpo abstrato aqui dentro de mim...

FILHOS DE MARIA

Nove filhos e um neto, todos criados por Maria, que jamais desistiu de nenhum deles, com todas as condições precárias, muitas vezes extremas que precisou enfrentar.FILHOS DE MARIA é um livro que narra muitas das vivências desses irmãos, não em forma de biografia, mas por meio de crônicas, mensagens e alguns poemas. 72 páginas. Capa colorida. R$ 20,00. Saiba como adquirir: demetriosena@gmail.com ou tel. (21) 999968499

domingo, 12 de abril de 2015

CORAÇÃO


SONETO ANTIRROMÂNTICO

Demétrio Sena, Magé – RJ.

Quando quero esquecer nem lembro isto;
sendo assim, não preciso mais fazê-lo;
se me cabe gelar me torno gelo;
caso queiras, partir já tens meu visto...

Dar adeus não requer tamanho apelo;
é um corte que faz sangrar meu cisto;
depois passa, não vou posar de Cristo
nem querer estampar moeda e selo...

Desde agora só és quem aqui jaz;
nada parte minh´alma na partida;
teu aceno me ajusta e deixa em paz...

Tua ida bem-vinda estorna o quanto
esqueci ou deixei ficar pra trás,
e não quebra; rejunta o meu encanto...

CONFISSÕES DE UM ESQUISITO CONFESSO

Demétrio Sena, Magé – RJ.
Tenho algumas esquisitices; talvez muitas, mas não me promovo a exótico. Sou de fato esquisito, por não ser um astro. Figura célebre. Nada que justifique termos como exótico, em substituição a esquisito. Muito menos troque feiura por beleza selvagem, como só a fama, em companhia de bons resultados econômicos, é capaz de proporcionar via plenos poderes das invencíveis mídias de massas. 
Tanto não sou exótico - o que só se é publicamente -, que não me agrada expor ao público as minhas manias, que jamais seriam admiradas, pelas razões que há pouco especifiquei. São raras as pessoas com quem compartilho as esquisitices, depois de muita convivência. Muitas confidências. Muitas razões para confiar nas mesmas, e confiar na confiança que elas demonstram ter em mim.
Considero abuso de confiança, quando alguém me faz crer que posso lhe confiar ou expor as minhas esquisitices, para depois me achar de fato esquisito. Concordar que são mesmo esquisitices. Só eu posso me considerar assim, sob pena de concluir que tal confiança foi atraída por má fé. Tão apenas para ser traída por quem a minha esquisita boa fé considerou acima de qualquer suspeita.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

ETERNO AMOR ACABADO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Nosso amor teve o mesmo velho tudo
entre juras que ficam pelo meio,
feito carro sem freio enquanto vai
pelas vias desertas e sem curvas...
Todo amor desta vida estava em nós
e nos nós que tratamos como laços,
pelos passos do voo sem limite
nas promessas passadas de futuro...
Um amor que durou a vida inteira;
uma vida na caixa do seu tempo;
eira e beira que o tempo desmentiu...
Foi um não que se deixou converter
pelos ventos do sim e da paixão;
nosso amor foi pra sempre até o fim...

MEU AMOR

Demétrio Sena, Magé – RJ.

 Nas durezas desta lida,
você é meu bom amor...
humor da minha vida.

JUSTIÇA DE ELITE

Demétrio Sena, Magé – RJ.

A justiça tem um sonho:
prender todas as vítimas
de balas perdidas,
que sobrevivem nos guetos
ou nas favelas,
como se as balas perdidas;
desejadas ou pedidas,
fossem vítimas delas...

SOLIDÃO EM FUGA

Demétrio Sena, Magé – RJ.

Teu olhar fugidio nunca pousa,
vai ao ar, desce ao chão, perde o caminho,
não faz ninho na luz dos outros olhos
que te buscam nas trevas do silêncio...
Tua triste caverna esconde afetos
acuados, confusos e feridos,
tempos idos invadem teu espelho
e corroem a ponte pra depois...
Quando sais do buraco é pra fugires
em viagens distantes, em glamures
que disfarçam quem és pra não sei quem...
Logo além já percebes que te aguardas,
vais por dentro e não podes te ocultar
nessas fardas perfeitas de turista...

quinta-feira, 2 de abril de 2015

AMOR DE FESTIM


ANTIPERSONALISMO

Demétrio Sena, Magé – RJ.

Tenho muito orgulho dos troféus; das medalhas; das comendas, taças e honrarias que não tenho. Das porcarias que nem fui buscar, quando a contragosto recebi notícias de honras aos méritos conferidos equivocadamente aos meus fazeres. Equivocadamente, porque sempre achei que os ringues, as rinhas, os concursos, festivais e torneios coubessem aos que se propõem. Este nunca foi o meu caso, não depois dos anos mais verdes, quando queria vencer ou mudar o mundo.
As lembranças que tenho dos troféus, medalhas, comendas, taças, honrarias e outras porcarias que não tenho, não poderiam ser mais gratas. São lembranças de que jamais venci, subjuguei, superei ou fui considerado superior a outro ser humano que faz, com o mesmo amor, exatamente o que faço. No que dependeu de mim, ninguém nunca sentiu o gosto amargo da comparação e o baque posterior causado por opiniões mais pessoais do que justas ou especializadas, que o teriam desqualificado.

Meu fazer literário é livre. Mesmo quando arrisco as formas fixas da poesia ou a eterna burocracia do artigo. Ao falar de minhas vivências ou das observações do entorno; do que sinto e penso e do que a vida me faz pensar ou sentir, pouco importa: sou exatamente o que escrevo, pelo menos enquanto escrevo, e não me permito ser avaliado em disputas. O meu íntimo não aceita que jurados decidam se pensei ou senti certo, na medida, melhor ou pior do que os outros.