quarta-feira, 15 de abril de 2020

FORMALIZAÇÃO - SABEDORES E SÁBIOS

FORMALIZAÇÃO

Demétrio Sena - Magé

Nunca mais me derreto pra tua frieza,
meu calor se desculpa, chega de aconchego,
tiro a mesa em que sempre te servi afeto,
falei grego nas vias do teu coração...
Calarei no meu rosto este sorriso bobo
e serei mais contido, muito mais formal,
pedirei audiência em teu ramal de gelo
quando for necessário soletrar palavras...
Meu carinho se apaga nos teus tons de cinza;
finalmente serás a rainha longínqua;
soberana ranzinza no meu reino interno...
Doravante a recíproca será meu norte,
farei corte nos gastos de minha energia,
se qualquer sentimento ficar sem resposta...
SABEDORES E SÁBIOS

Demétrio Sena - Magé

Sei que minhas verdades podem ser quebráveis,
Pode ser que as certezas tenham pontos fracos,
perderei muitos cacos do que sempre soube,
quando a vida cair sobre minha soberba...
O que sei do que leio não me salvará;
nada sei nos entulhos das coisas que sei,
pois a lei do saber favorece os humildes;
distribui alvará pros que menos ostentam...
É preciso aprender com quem vive do pouco;
pouco ter, pouco ler e pouco impressionar
e seguir apesar do quanto pesa o mundo...
Sabedores e sábios têm que dar as mãos,
a cultura não vive sem agricultura
nem há sins onde os nãos nunca tenham reinado...

sábado, 11 de abril de 2020

VERSOS DE RESISTÊNCIA - VERSOS DE QUARENTENA - SEM MEDO DA VIDA NEM DA MORTE - IMPOTÊNCIA - POEMETO ANTI-HERÓI - REDIVIVO - MUNDO EXTÁTICO

VERSOS DE RESISTÊNCIA
Demétrio Sena - Magé
Meu poema parou no beiral do edifício;
as pessoas na rua querem ver o salto;
alto, lá que o poema só quer ver de cima
os olhares do mundo, sem hipocrisia!
Mostrarei aos carrascos que a poesia vive,
a dureza não mata minha inspiração,
coração e cabeça estão juntos num campo
que não é de batalha, mas de renascença...
Vim dizer que meus versos não são suicidas;
eles voam; não pulam procurando a morte;
somam vidas e lançam sementes de sonhos...
O poema no topo do edifício d´alma
tem a calma do verde que a esperança traz;
uma paz que aprendeu a vencer gafanhotos...

VERSOS DE QUARENTENA
Demétrio Sena - Magé
Pra que minha poesia rompa cercos,
atravesse o deserto, a solidão,
amenize a visão do breu total
que me cega de olhar e nada ver...
Meu poema passeie sem censura;
passe pelos fiscais; engane guardas;
nem atente pras fardas da polícia
ou pros olhos atentos informais...
Os meus versos irão por minhas asas;
eu preciso ficar guardado aqui;
há um pingo no i do meu intento...
Cuidarei dos poemas de amanhã
e depois de amanhã, que minha mão
soltará no desvão do isolamento...

SEM MEDO DA VIDA NEM DA MORTE
Demétrio Sena - Magé
Hoje relembrei, ao decidir comentar uma postagem do meu irmão Antonio Sena, o verso final de um poema que fiz há muitos anos: "Para mim Deus é Algo; não Alguém". Eu nem me lembrava desse meu poema.
Alguém ou Algo, minha conclusão é respeitosa. Por isso mantenho a letra inicial maiúscula e questiono meu ateísmo, mais atribuído a mim por terceiros, do que por mim próprio, por eu não ser cristão. Não frequentar um templo. Não orar ou rezar. Não prestar culto, pedir nem agradecer a Que ou Quem. Não professar uma fé institucional.
Acho que a maior prova de fé que o ser humano pode mostrar a si mesmo é viver sem medo da vida nem da morte. Do plano em que ora estamos nem do possível plano além, aquém ou paralelo. E a maior prova de amor ao próximo está em amar e respeitar o outro com todas as suas crenças e não crenças. As formas de pensar e viver.
Cada um tem seu sagrado. Até o ateu, cujo sagrado é racional. Vivemos bem, quando nos entendemos com nossas crenças ou não crenças e não limitamos o amor ao próximo à sua possível cópia de quem somos.
O fato é que Deus, como Alguém ou Algo, sempre será Quem ou Que, não importam nossas conclusões. Próprias nem via estudos, leituras e diferentes orientações a cada segmento. Isso é imutável.

IMPOTÊNCIA
Demétrio Sena - Magé
A soberba está brocha nesses dias;
ela bem que procura se manter,
se conter dos temores em comum
no teatro das redes sociais...
É a vez dessa vista horizontal
entre os olhos sombrios que se baixam,
sem portal, profecia nem certeza
ou aquela esperança equilibrada...
Não há brio firmado em tons exatos
nem há fatos guardados pras manhãs
que ninguém antevê depois das noites...
Nossa rocha está frágil como bolhas,
somos folhas que seguem qualquer brisa,
porque toda soberba ficou brocha...

POEMETO ANTI-HERÓI
Demétrio Sena - Magé
Temos muitos "heróis"; não criem outros;
nossa crise de aspas não permite;
não se agite a carência do rebanho,
porque tudo está seco e sem porteira...
Pra que servem "heróis" que não resolvem,
trazem carmas, conflitos e desculpas,
têm apenas bravatas como armas
e transferem as culpas mascaradas?
Não inventem cenários; falsos mapas
nem as capas pra Zorros pontuais
diluídos perante os olhos nus...
Resta o sonho do nosso entendimento;
aos "heróis" do momento é preferível
ter "vilões" que a má fé convencionou...

REDIVIVO
Demétrio - Sena Magé
Vejo além desse medo imposto às vistas
e respiro a promessa de amanhãs,
tenho pistas e frestas do momento
em que todos os sonhos vão florir...
Já estou arrancando meus espinhos;
coração bate um pouco menos preso;
há um peso menor nos pensamentos,
meus caminhos parecem mais fluentes...
Hoje a velha esperança se renova,
recompõe o verdor e vence os grilos,
põe à prova os sentidos desbotados...
Reavivo a coragem de viver;
volto a ser e sentir que vale a pena;
só estava e nem via o tempo ir...

MUNDO EXTÁTICO
Demétrio Sena - Magé
Ruas vagas me chamam pra distância
que não posso atingir, pois estou preso,
há um peso nos olhos e nos passos
e na soma das horas que se arrastam...
Mas ainda consigo ver o céu,
não há teto capaz de lhe cobrir,
coibir os meus sonhos, o desejo
de rever até quem sequer conheço...
Há um mundo, apesar de ralo e triste,
um espaço que o tempo desabona,
mas existe a surpresa do futuro...
Hoje sei que alguns dias podem ser
infinitos, a própria eternidade,
na saudade maior do que as lembranças...