terça-feira, 30 de abril de 2013

PROSA DA PROVA DE MINHA INFANTILIDADE

Tenho Júlia e Nathalia... tenho também muitos livros e alguns amores extras, entre platônicos e platônicos. Como se não bastasse, ainda possuo flores nos campos, porque tenho vastos campos nos olhos... graças ao fato de ter olhos pra vê-los.
Mesa e comida, um trabalho para brincar, uma casa, um canteiro no quintal. Trago vida nas veias, e de prático, alguns valores obrigatórios para viver... valores que não me roubam de mim... que não compram nem subornam meu tempo reservado ao que me faz feliz de verdade.
Nunca tive aguilhão. Sempre tive asas. Sempre fui de não ter que morrer pra viver...
nem pra ter um milhão.

domingo, 28 de abril de 2013

A PORTA DÚBIA DO AMOR

Às vezes entro de forma
inadvertida,
por entender que um sorriso
abre o peito,
um olhar me convida,
uma voz, um silêncio
dizem sim...
Mas no fim,
também sei ler quando é fim...
e sendo caso de adeus,
nem preciso
daquela placa de aviso;
daquele riso sem cor;
da gentileza e do tato
de quem não quer
descer do andor...
Às vezes olho de forma
meio torta,
mas vejo bem quando a porta
de saída
diz que agora sou bem-ido;
é tudo tempo perdido;
é serventia da vida...

sexta-feira, 26 de abril de 2013

VERSOS PASSIONAIS

Nunca fui de pensar que ser sozinho
seja ninho propício pra consolos,
não importa em que forma de pretexto;
em que texto, contexto, que cenário...
Sempre achei mais viável me perder
num querer sem juízo e viciado,
pois a sombra ou a bolha que nos guarda
é a farda mais falsa que vestimos...
Troco a paz que me mata por um colo
mesmo tenso, farpado, imprevisível;
pelo dolo de um crime passional...
Quero a má companhia da paixão
que me tire do chão e de mim mesmo,
mesmo tendo por lei voltar ao pó...

quinta-feira, 25 de abril de 2013

APAIXONADO, CEGO, SURDO E SEM NOÇÃO

- Alô.
- Oi, meu amor. Só agora consegui um tempo. Como você está? Tudo bem?
- Bem.
- Que bom, querida. Estou louco de saudade. Não vejo a hora de voltar para os seus braços. De ficar juntinho de você. É muito ruim ficarmos longe um do outro; né? Parece que o tempo não passa.
- É.
- Você está se distraindo, meu bem? Fazendo as coisas de que gosta? Espantando a solidão?
- Tô.
- Olhe, amor; não se preocupe. Em poucos dias meu trabalho aqui termina, e corro pra você.
- ...
- Estou trabalhando muito, mas é por nós. Para garantir nosso futuro. E é por pouco tempo. Logo a gente se casa com tudo o que tem direito, e passo a trabalhar pertinho.
- Tá.
- Bom; agora preciso ir. Queria ficar aqui, falando com você... passar a tarde... mas tenho que voltar ao trabalho. Ligo à noitinha; tudo bem?
- Sim.
- Até logo, minha vida...
- Té.
- Eu não vivo sem você!
- Eu também.
- Faço qualquer coisa por você!
- Eu também.
- Eu te amo mais que tudo!
- Eu também.
Cego, surdo e sem noção, de tanto amor, Maurício põe o aparelho no gancho e sai cantarolando... feliz da vida com os monossílabos e a máxima final de Anália. O "eu também" que a namorada fria e distante se permitiu responder.
O que Maurício não entendeu, e talvez nunca entenda, é que as últimas palavras de Anália, embora verdadeiras, não justificam seu entusiasmo.
O que a moça lhe disse, nas entrelinhas, é que também não vive sem ela mesma...
... Também faz qualquer coisa por si mesma...
... Também se ama mais que tudo.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

QUINTAL



É meu sonho alcançado; a vida ganha;

Feito manha infantil já satisfeita;

Sono calmo de noite merecida,

Pois o dia foi dom que se cumpriu...

Meu quintal me abençoa em tons diversos;

Flores, frutos, calangos, sabiás,

Água, sombra e sorrisos delicados

Da criança que brinca; faz de conta...

Isto aqui é meu mundo aberto ao céu;

Minha vida excedente ou vida bônus;

Não existem mais ônus; taxas; juros...

Sou eterno entre as horas bem vividas,

Quando as lidas externas não me alcançam;

Onde o tempo descansa e se refaz...

terça-feira, 23 de abril de 2013

AMOR MAL RESOLVIDO

Pela tua mudez meu silêncio completo;
e por tua distância, lonjura infinita;
minha brita, o concreto, a dureza invencível
pelo muro de pedras erguido em teu ser...
Será fuga por fuga, embate por embate;
um empate sem fim entre dois perdedores;
predadores de sombra, sem garras nem dentes,
mas que batem de frente como dois titãs...
Ficaremos assim até sermos reais,
até vermos bem mais do que a cara consegue,
pois ainda nos restam resquícios de nós...
Poderemos voltar aos bons tempos perdidos,
quando formos vencidos por nosso bom senso;
ao acharmos os prós onde o brio é do contra...

segunda-feira, 22 de abril de 2013

DISPONÍVEL

Meu amor não é beco sem saída;
minha vida não deixa de ser minha;
se me dou também sei tomar de volta
e repor cada peça em seu lugar...
Sendo caso de amar me facilito,
nunca forjo etiqueta nem padrão,
jamais finjo que não se tudo é sim
no meu corpo, na mente, nas entranhas...
Mas também não aceito pagar caro;
ter a minha encomenda parcelada
ou entrar num consórcio emocional...
Disponível, notório e sem reserva,
não me fecho em conserva, mas em troca,
saia dessa vitrine, toca ou bolha...

quinta-feira, 18 de abril de 2013

EX-ALGUÉM

Decidiu "ganhar" mundo;
nem sabia pra onde;
de avião, jegue ou bonde,
seguiu retas e curvas...
por estradas ou traços,
passos firmes nos trilhos...
Nunca mais deu notícias
à ex-mulher...
nem aos ex-filhos.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

SEM AMOR

Se não for pra levar, não me abata. Não me ponha num pote, lata ou travessa. Não me dobre ou embrulhe para viagem.
E se não é pra comer, não me cozinhe. Não tempere. Peço que não me adoce nem salgue, não me doure ou espere ficar crocante. Muito menos me deixe ficar frio pra depois largar.
Para não me amar, nem me pegue. Se tudo isto é por nada, que morra no começo; afinal, nasceu no fim.
Se não tem amor por mim...
não acorde o meu amor...

segunda-feira, 15 de abril de 2013

MAR DE SOLIDÃO

Quem adentra meus olhos pode ver minh´alma;
ler a palma do mundo que trago nas mãos;
vai além dos meus tons, a textura, o letreiro,
porque sou transparência e me deixo explorar...
Eis que chego sem carta; sem trunfo; sem "AS";
trago a paz de não ser um guerreiro em vigília;
tenho cá meus tesouros e também o mapa
cujas linhas são simples; quase sempre retas...
Se me quer, venha e colha; sou flor que se cheire;
tome todo meu vinho; já venho sem rolha;
depois caia no alqueire do meu chão carente...
Quero mesmo é dizer que me assumo alvo fácil,
que meu mar "tá pra peixe" se você se arrisca
a lançar sua isca em minha solidão...

CO-AMOR NÃO SATISFAZ

Cheguei ao tempo em que desconsidero a mera resposta... o simples reflexo das minhas manifestações. No que tange os afetos, não troco mais as ações pelas reações... quero ações por ações.
Estou dispensando que "também" me queiras. "Também" tenhas saudades. "Também" me ames. Que sintas por mim exatamente o quanto sinto por ti, mas com a triste ressalva do "também"... do idem. Não quero nada em troca do que sou, "na mesma moeda". Nem mesmo sinais, confidências e confissões. Parece complicado, mas podemos trocar sem que seja troca, e variar a ordem.
Quero muito essa relação em que possa dar e receber, mas também receber e dar. Às vezes dar sem receber, e outras tantas, receber sem dar... mas tudo às vezes... nada convencionado, intransigente ou estatutário. Quando a relação a dois estabelece leis, hierarquias e ordem, deixa de ser propriamente uma relação. Torna-se autarquia, onde manda quem pode; obedece quem tem juizo.
Doravante, não me permitirei ser co-amado; co-desejado; correspondido. A voz do afeto que se tiver por mim terá que ser própria... não apenas o eco da minha voz... ou da voz do meu afeto.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

SOLIDÃO REAL

Se tem que ser solidão, que seja solidão a um...a original. Solidão a dois é pirata, e danifica o nosso driver de afetos.

FALANDO SOZINHO

Não interaja com as reticências ou os monossílabos de quem quer que seja. Reticências e monossílabos não são respostas ou interações... são a tentativa de um basta.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

UM GRANDE ABRAÇO

Um encontro inesperado. Não exatamente com um velho amigo, mas um conhecido. E de muitos anos... e de muito longe. De fato, não havia como ficar indiferente... como não dar nenhuma importância.
Tão surpreso quanto eu, foi ele quem se manifestou.
- Caramba! Você por aqui? Faz muito tempo que nao lhe vejo! Como vai, Demétrio? Tudo bem?
- É verdade; mas que mundinho este nosso, hein? Nunca imaginei que o veria depois de tantos anos, e por aqui! Tão longe daquele fim de mundo!
Tudo à meia distância. Nem apertamos as mãos, apesar da manifestação de alegria... ou de curiosidade. Como já disse, não era um velho amigo. Não havia lembranças marcantes. Nenhuma saudade. Nada para ser posto em dia.
Trocamos algumas frases curtas, com aquela efusividade superficial. Podia ter sido mais demorado, mas tínhamos pressa... compromissos mais importantes do que nosso grau de conhecimento. Mais uma vez, foi ele quem se manifestou.
- Olhe; foi um grande prazer vê-lo de novo. Até dia destes. Um grande abraço!
Nem tive tempo de responder. De me despedir também... ele já estava longe... perdi a chance de abraçá-lo.
Também me lembrei de que o abraço, esse grande abraço banalizado, sempre às pressas, não é dos braços pra dentro...
... é da boca pra fora.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

SONHANDO COM ELA

Quando ela pinta, sou tela;
quando ela parte, sou banda...
por dar adeus, não me dá.
Quando ela mente pra mim,
sou coração para ela...

Ela enlouquece, viro hospício;
se faz comício, sou coreto;
faz careta com a minha cara...

Sua mágoa coincide com meu choro,
seu agouro redunda em meu azar,
meu estado a proclama capital,
e do meu etecétera...
ela é tal...

Ela floresce, viro abelha;
se vira espinho, fico dedo;
é segredo no meu diário...

Quando ela espana, sou pó;
quando ela é nó, sou novela...
e mais pungente não há.
Quando ela dorme nem sonha
que sempre sonhei com ela.

terça-feira, 9 de abril de 2013

AMOR & PAIXÃO

A paixão, feito sol de meio dia
no verão mais cruel que se suporte,
veio plena de fogo e fantasia;
feito jogo de azar que nos dá sorte...

Foi domada, por isso encontrou norte;
ganhou prumo, vestiu-se de harmonia,
mas ainda está viva; densa; forte;
só deixou que o amor se torne guia...

Descobri que a paixão é permanente;
o amor não remove nem desmente;
ambos devem sorver o mesmo ar...

Pois amor e paixão são pé e asa,
como posso dizer que o corpo é casa
que não vive sem alma, e alma é lar...

segunda-feira, 8 de abril de 2013

DESEXISTÊNCIA

Aceito a morte... não a sala de espera... se havemos mesmo de morrer, por que a morte não vem sempre antes da "desexistência"?

domingo, 7 de abril de 2013

A HONESTIDADE DA MORTE

Chega o ponto em que o homem smplesmente amontoa bens; coleciona fortunas; guarda poderes em sótãos; abarrota os arquivos de fama e prestígio... soca seduções em armários e não sabe mais em que buraco enfiar tantos títulos, vendo que o infinito prossegue, ao passo que o ser humano fica; chega em seu limite, restando apenas o abismo... a certeza de sua fragilidade... a consciência de que a morte continua insubornável. A vida não tem preço nem tanque para repor combustível. O desejo de realizar o sobre-humano, exceder a linha de um horizonte que nunca será presente, há de se tornar o resumo da falência de tantas conquistas.
Viver é um conjunto de realizações contínuas... mas no campo dessas realizações, temos que ter equilíbrio, moderação, lucidez e longanimidade. As raias da loucura e da avidez por tirarmos de todos o mundo inteiro, tendo-o só para nós e a qualquer preço, tem perigos indizíveis. Se Deus existe, como pode ser que sim, nenhum de nós ascenderia em tempo algum, ao cargo de seu braço-direito. Quem um dia chegou lá, segundo a literatura sacra, está no inferno há muito tempo.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

TERCEIRA IDADE... QUIÇÁ VIÁVEL; NÃO MELHOR

Na minha mente, não há nenhuma ilusão de que estou chegando à melhor idade... para ser sincero, faz tempo que a melhor idade passou por mim, trazendo e levando ao mesmo tempo as mais encantadas experiências da vida. Lá se foi o meu tempo de ser imortal. Imortal, até descobrir que que não. Tive a minha vez de me descobrir, estrear no amor, experimentar sem medo, porque tinha tempo de... ter tempo... perder tempo... tentar ganhar tempo.
Estou chegando à velhice. Não, não lamento, porque vivi. Porque fiz da infância, mesmo dura e sem perspectiva, e da  juventude, uma grande aventura. Tive muitos amores, corri muitos riscos, fiz do mundo e das ruas minha melhor escola, e aproveitei cada experiência, para crescer. Para não apodrecer sem ficar maduro. Não me tornar um corpo inadequado ao acúmulo de vivências.
Tenho mais de meio século... meio século de corpo, alma, mentalidade, consciência... sobretudo a consciência de que doravante, o tempo é cerco a se fechar... a vida é o epílogo de uma história que não pode ser remendada. Posso administrar o fim, mas o percurso está feito. Se existem arrependimentos, e existem, tenho que ajustá-los à minha realidade e ser alguém melhor nesse tempo sitiado pela sensação de aviso prévio do destino comum.
Não estou chegando à melhor idade... nem à pior. Não me sinto adequado a nenhum clichê institucional, criado por políticos que descobriram na velhice alheia uma fonte de votos. Uma vasta fonte que lhes custa bem pouco; às vezes nada, porque o clichê, por si só, já rende o suficiente aos políticos e famílias, proporcionando-lhes riqueza e poder.
Chego à idade que tem que ser, quando não se parte no meio da trajetória... e simplesmente a recebo sem medo, com serenidade, sabendo que posso torná-la viável... nada mais que viável. Minha ventura está no fato de que sei quem fui, quem sou, e nenhum caçador de votos me usará como isca de seus projetos enganosos e passageiros. Tão passageiros quanto as praças públicas, salões e pátios precários onde ocorrem.
O que este quase velho, com mais meio século de vida não viu ainda, foi o nascer de um poder público sério, que defenda de fato os "portadores de terceira idade"; criando, fazendo respeitar e cumprir artigos e leis referentes à saúde, à aposentadoria, o bem estar permanente. Os velhos continuam abandonados, desrespeitados, desprotegidos, vítimas do preconceito da sociedade e da pilantragem dos maus políticos (leia-se todos).

FANTASIA PREDILETA

Eu te caço nas ruas e guetos da web,
meio como quem bebe para ter coragem;
desenhando as desculpas de minha carência
e de minha viagem sem pé nem cabeça...
O que minto é pra mim, sobre ter equilíbrio,
não morrer dessa febre que toma os meus eixos,
leva os dedos aos fechos, pra me depenar,
pra me dar o prazer que finja vir de ti...
Fantasio que vens e me vestes de fogo,
que mergulho em teu jogo pra perder meu tino
e virar o menino que brinca em teu corpo...
Mas nem sabes do sonho que se desnovela;
quantas vezes acesso a janela encantada;
quanto nada me assalta quando caio em mim...

segunda-feira, 1 de abril de 2013

SOBRE SER GRANDE

Todos nascem para ser grandes. Não exatamente campeões, porque ninguém precisa ser maior do que alguém. Refiro-me à grandeza de caráter; personalidade. Ao tamanho da alma e da consciência dos que têm ética; solidariedade; firmeza de propósito.
Será sempre grande no que faz, quem nutre amor pelo ofício... maior ainda, quem nutre amor pelo próximo, porque há de utilizar seu ofício para servir; fazer o bem; deixar pessoas felizes e realizadas.
O resultado financeiro do que fazemos como profissionais nem sempre mede o sucesso verdadeiro desse fazer. Tem muita gente abastada, bem sucedida, mas que não faz o que deseja; o que sempre sonhou, desde a infância.
É realmente grande, seja lá no que for, quem o é como pessoa; cidadão; filho; pai; mãe; amigo. São pequenas as almas, mesquinhas as mentes dos que só pensam em si. Dos que nunca pensam em progredir com o outro; em ajudar o outro a progredir, porque se acham o centro do mundo... não entendem que o mundo é de todo mundo.
Se todos nascem para crescer, muitos crescem sem crescer... avolumam-se, mas não crescem. Envelhecem, mas não ficam maduros.
Felizes os pais, bem aventuradas as mães que repassam esses valores... ensinam seus filhos com palavras, atitudes e vida, o que eles precisam saber mais do que operar números, decorar fatos memoráveis ou escrever e falar corretamente.
São bem criadas, e a vida lhes fará felizes, aquelas crianças que decidem, do fundo do coração: quando crescerem serão grandes... apenas grandes... acima de qualquer disputa mercadológica ou social.

RETRATO DE MÃE

O retrato me chama no vão da saudade;
as lembranças passeiam por entre a moldura;
teu olhar é janela sem cortina e grade,
uma luz no silêncio desta hora escura...

Tenho paz no teu rosto que cessou a idade,
para ser inifinito na tua candura,
pois trocou esta vida pela eternidade
onde lanço meu sonho em discreta procura...

Se me dói já não tê-la, bendigo ao destino
pelo tempo da graça de ser teu menino;
fez-me rico em lembranças que trazem alento...

Nada sei sobre o antes e depois do "adeus",
galardões ou castigos do provável "Deus",
mas o céu é teu campo no meu pensamento...