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segunda-feira, 8 de agosto de 2016

A CÔMODA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Fecho a porta que fica e vou pro mundo,
sou expulso por seu silêncio aos gritos,
caio fundo no abismo do futuro
que dispensa o passado e me convoca...
Abro a vista e dou olhos pra minh´alma,
fujo dessa presença sempre ausente,
sopro a palma da mão que suplicava;
faço a pluma procurar um destino...
Você nunca me achou em seus guardados,
me deixou na gaveta mais secreta,
onda a meta não pode ser morfose...
Rompo a cômoda e fria solidão,
pois me canso de ser arquivo morto;
cais do porto de sua segurança...

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

A SOLIDÃO DIVINA


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Se Deus é alguém, ao invés de algo, imagino que seja um ser solitário e deprimido, mesmo com sua soberania. Creio até que precise de comprimidos para dormir e sonhar que tem amigos; colegas; turma. Sonhar que também é criatura; não Criador, Dono de tudo, Senhor de servos, o Rei dos reis, inalcançável para relações de contato.
Esse Deus dos pregões humanos deve ser bipolar. Deve brincar de dois. Talvez seja o próprio diabo, em um dos pólos, para interagir consigo mesmo como inimigo; alguém a quem valha combater para passar o tempo eterno de sua solidão. Uma vez chegou a inventar que tinha esposa mortal, filho metade humano, para ter pelo menos uma ideia do que significa ter uma família.
Mas Deus errou no aconchego. Na distância. Na medida e no contexto de afeto, presença e proteção. Superproteção, até, como em toda família existe. Sua tentativa terminou em tragédia, e com isso Ele achou por bem contornar. Deu à tragédia o contexto hábil de plano divino, para se salvar pela salvação da humanidade.
Deus continua solitário; afinal, Deus é Deus e não pode ser feliz com seus engenhos carnais. Criador não tem pai, mãe, cônjuge, filho. Não tem quem o ame apesar dos defeitos, pois nem defeitos tem. Só há quem o sirva e louve, não por sentimento, e sim, por gratidão e temor do inferno. Pelas bênçãos, os privilégios e a esperança em um futuro reino soberbo, milionário, luxuoso e ostentador. Tudo o que não combina com reino espiritual.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

JOÃO BATISTA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Acho que uma voz no deserto já tem o seu valor, pois como cheguei ao deserto, alguém mais terá chegado. De uma forma ou outra, chegar além de mim mesmo já é uma grande façanha. Se trago amor para dar, isso vale, por si só, pelos próprios encalhes de meu estoque.
O que tenho está posto por natureza, e no tempo certo haverá quem o queira. Sigo em paz, por não ser uma lacuna vazia. Sinto-me a beira que a eira encontrará no caminho, bastando-lhe apenas desejar ou não, ser cultivada em mim. É por isso que sou poeta em tempos anti-poesia. Semeio textos no chão que meus passos carimbam. Faço versos do mundo e os recheio de vida. Só não posso empurrá-los goelas nem corações adentro.
Como entro e saio quando quero, porque sempre acho a saída, e sinto que sou livre para ser quem sou, concluo que a liberdade alheia vale mais que meus escritos. Isso não me demove da ideia pretensiosa de perda irreparável para quem despreza versos e afins. 
Seja como for, uma flor no deserto equivale ao próprio jardim. Por isso planto. Semeio. Sou poeta.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

CREDO, AMOR E FÉ

Demétrio Sena, Magé - RJ.


A igreja dirá, quando a sua mente já estiver devidamente rendida, que aquele seu sonho é pecado. Que você viver do seu jeito faz pleno jus ao inferno, e ser exatamente quem é ofende a "Deus"... mas por favor; não aceite os arreios impostos à sua alma, como se você os merecesse por ter nascido e chegado até aqui.
No momento em que a igreja começar a vender para suas dúvidas, angústias e conflitos um "Deus" passional e vingativo contra quem se permite a liberdade, voa e até faz arte, não compre. Não aceite a falsa grife de um ser superior que o fez humano e não aceita sua humanidade. Que amaldiçoa e castiga todo aquele que não se torna uma ovelha em sacrifício permanente. Se tiver que ser assim, prefira compor o grupo dos que seguem à margem.
Não aceite um redil como habitat natural de seus conceitos; como figura ou símbolo de salvação. Escravidão não salva. Subserviência não dignifica. Os redis que se mostram ao pé-da-letra nada são além de ardis para os carentes de bênçãos e milagres que a própria vida já é, e ora disponibiliza ora não, em seus fenômenos, mediante os engenhos também naturais do que chamamos de fé. E esta não é maior nem menor em quem se autoflagela, com mais ou menos sofreguidão.
Desespero e temor do inferno, anulação pessoal e sangria da alma não combinam com fé. Meu respeito a quem busca "Deus" ou deuses, mas como forma de ser feliz, não de trocar um sofrimento por outro. Uma escravidão por outra. Nenhuma escravidão é melhor. Nenhuma opressão é boa, mesmo que risonha e com ares (doentios) daquela paz agoniada e sem paz de quem vê o "diabo" em quase tudo e vive a expulsá-lo com orações sofridas, hinos pungentes, contrição profunda e proibições pessoais.
Tudo perde o sentido se não é por amor. Se não é de vontade livre. Só é fé se for pelo amor; não pela dor... nem pelador... nem apelador. Amor não combina com joelhos que sangram, almas que desistem dos corpos, talentos que se amoldam às ordens e à tirania da vigilância e das lideranças externas.

terça-feira, 17 de maio de 2016

poeminha bobo sobre a vida


VIDA REAL

Demétrio Sena, Magé – RJ.


Quando a gente se priva em demasia, fecha os olhos e prende a voz; tampa os tímpanos e priva todos os sentidos e sensações que a vida oferece, logicamente com os seus efeitos colaterais... mas que não fazem deixar de valer a pena viver. Privacidade além da medida faz perder a magia dos valores que circulam pra lá desse medo insano e da solidão que a gente afaga por auto paixão doentia.
Com o tempo, a gente se perde nessa caverna dos estados mais ocos das entranhas vencidas pela treva. Das estranhas verdades tão só da gente, que não há quem possa entender e penetrar. Só a sensação do nada ou do vazio. Esse abismo que habita o chão e se desfaz aos pés descalços de qualquer vontade que não seja dormir pra tudo. Dormir pra sempre. Dormir pra nunca mais.
Mas quando a gente percebe que ninguém nasceu pra ostra ou apenas para o de vez em quando de alguma tentativa pontual de fugir da gente mesmo entre lugares e pessoas estranhas, outro cenário se desenha em derredor. Outra mente se apossa da cabeça e os sentidos renovados vêm retomar o vazio substituto do coração. É aí que se volta para o mundo e se reconcilia com a vida.

No ato em que a gente se lança e se publica, só estabelecendo critérios razoáveis, livres de qualquer patologia, o sentido de quem se é toma corpo. O próprio corpo se assume corpo e a gente já não é surreal. Torna-se alguém com invólucro para guardar a essência não mais espalhada no caos do cosmo. É na rotina da vida real que a gente voa e vê que tudo vale a pena... e o mundo é bom. 

sábado, 30 de abril de 2016

VIDA EXTRA

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Há um mundo em redor do celular;
há um lar; uma rua; um turbilhão;
uma rede baldia no quintal;
um milhão de pessoas de verdade...
Até mesmo a tevê que nos atava
ou também parecia o próprio mundo,
lá no fundo esquecido em nosso ego
há um breu que requer a nossa luz...
Veja o céu, a cidade, a mulher nua,
olhe a lua carente de atenção
e a poça que arrebata o luar...
Vem voar; a gaiola espera um pouco;
vem ser louco por sonho e liberdade;
pela vida em redor do celular...

sábado, 23 de abril de 2016

TEMPOS DE SUPERPROTEÇÃO


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Se é por seu filho, tenha medo do mundo. Faça isso, para que o medo não tenha que ser dele, quando chegar a hora jamais prevista por seu medo insano, instituído e massificado, de superproteger. Para que a falta de medo e o desaviso não guardem sua ruína entre o silêncio da passividade que permite o voo com asas incompletas.
Mesmo a águia, quando solta no espaço o seu filhote para testar as condições de voo, tem os olhos atentos sobre ele. Não o deixa escapar de sua mira, e ao perceber a inércia desse filhote, quando o chão já está próximo, precipita-se no ar e o resgata bem antes da concretização do perigo. Não aposta na sorte, muito menos na necessidade pedagógica de um tombo que possivelmente apenas o machucaria. Machucaria bastante.
A considerar os tempos que atravessamos, meio termo é disfarce de abandono. É preciso, mais do que nunca, perdermos o próprio sono para que o nosso filho sonhe, confiante no alcance de nossos olhos e na força de nossas garras. Filhos eventualmente mimados terão sempre a chance de se recriar e seguir. Filhos gravemente marcados pelo abandono do meio termo que não prevê as desgraças inerentes às brechas da criação fria e desatrelada, nem sempre.
Refiro-me aos filhos em formação. E se não há formação, não haverá formados. Formar é apontar caminhos, ensinar a seguir, mostrar o mundo, corrigir, mas estar sempre lá. Só deixar que o filho voe sem a supervisão de nosso amor presente, ocular e de garras atentas, quando ele se sentir pronto e puder, ele mesmo, decidir no que pode ou em quem pode confiar. A partir daí, os tombos e sucessos, as dores e as alegrias serão de sua inteira responsabilidade.
Sobretudo, é protegendo com a força e os critérios da possibilidade máxima de nosso amor, que podemos ensinar nossos filhos a proteger nossos netos. Nossas futuras gerações.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

SUSPENSÃO


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Deixarei que te gastes no próprio silêncio;
na distância e no muro que arbitras erguer,
porque sei me perder de qualquer utopia
que liberte a minh´alma de afetos em vão...
Ganhas tempo perdido engenhando esse adeus
tão aos poucos, tão cheio de sombra e vazio,
pois os meus desenganos há muito entenderam
e meu brio ferido acatou a sentença...
Sofres mais do que sofro, por seres omissa;
pela missa, o velório que não têm sentido
quando só a franqueza te libertaria...
Sei calar o que sei, pra que sigas em paz
não tão paz nessa guerra que travas no fundo;
tirarei o meu chão do teu mundo suspenso...

segunda-feira, 11 de abril de 2016

VIDA REAL


Demétrio Sena, Magé - RJ.



Sua casa está sempre à sua espera,
com os seus ou com sua solidão,
ela é sua estação em qualquer tempo
entre flores, espinhos e vivências...
Viajar não liberta seus fantasmas,
eles moram no vão que você leva,
sob a treva ou a luz da realidade
que recheia os temores de su´alma...
Multidões pontuais não nos preenchem,
ou as cores das festas, o festim,
nem o rim que doamos por imagem...
Temos mesmo é que abrir os corações,
desatar os senões de nossos eus,
resgatar as raízes de quem somos...

quinta-feira, 7 de abril de 2016

PRECONCEITOS


MEUS NÃOS

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Sempre me caço em minh´alma, e passo de um querer para outro em busca de um destino viável. São muitas as incertezas que me habitam, mas todas dizem respeito ao que ainda pretendo conhecer, fazer, descobrir e alcançar. 
Ao aprender comigo mesmo que o ser humano é passível de tantos erros, também aprendi que é possível não repetir aqueles que já cometemos. Ademais, precisamos de tempo para cometer os incontáveis erros novos e aprender, com suas lições, a praticar os acertos.
Se ainda convivo com tantas dúvidas, elas estão relacionadas aos sins de minha existência. Não tenho dúvidas de meus nãos. Hoje sei exatamente o que não quero, quem não sou e como não vejo a vida.

segunda-feira, 14 de março de 2016

CRONIQUINHA SEM VERGONHA

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Entre o safado e o sem vergonha existe uma diferença considerável. O safado é um sem vergonha com intenções ocultas ou escusas. A sua sem-vergonhice tem alvo externo; quer sempre algo de alguém.
Já o sem vergonha é um safado sem malícia. Ele apenas não tem vergonha; sua safadeza é natural. Não estabelece alvo, resposta nem projeto externos, quando a exterioriza. 
É meio louco escrever isto. Quem leu esta insanidade poderá desler, para se despir do risco de já ter gostado. Quanto ao mais, perdoe este sem vergonha pela safadeza de ocupar seu tempo com esta croniquinha. 

domingo, 13 de março de 2016

VIDA IRREAL


Demétrio Sena, Magé - RJ.



A vida real se revela
tão assombrosa e desumana
ou tresloucada e descabida,
que a mais absurda novela,
quanto mais nos pareça insana
mais se parece com a vida.

quinta-feira, 3 de março de 2016

IMORALISTA

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Sou do tipo indecente, 
que não quer ser imoral. 
Nem perder a decência.
Ou do tipo imoral, 
que não quer ser indecente... 
nem perder a moral... 
ou ser amoral...
Não sonho ter a indecência
de moralizar o mundo, 
sendo assim como sou...
humano em essência. 
Deixo longe de mim
a moralidade inglória
de ser o mural,
o moral
e a moral da história.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

DOM QUIXOTE

Demétrio Sena, Magé - RJ.


É mais fácil brigar contra seres de sombra,
inimigos gasosos que moram na mente,
massacrar a serpente na imaginação,
derrotar uma besta no campo dos sonhos...
Afinal, nossos sonhos nos dão armaduras;
neles temos a força que nos torna heróis,
damos voz de prisão, exilamos demônios
previamente vencidos; presentes do céu...
Só assim não teremos que vencer pessoas,
combater injustiças, desbravar caminhos,
assumir os espinhos cravados na carne...
Será sempre mais fácil ser o Dom Quixote
que abastece a coragem de puro festim
entre lendas do início; do fim; do infinito...