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quarta-feira, 24 de agosto de 2016

PARA SER GENTE

Por gentileza; seja menos gentil. Bem menos amável; mais real. Reassuma sem medo e constrangimento, aquele semblante pretensioso de todos os dias. Devolva para os seus traços, o antipático tom habitual. Não exceda no brilho dessa retina que ora sofre com saudades da sombra daquele olhar de maldade ostensiva. De malícia franca.
Pode ser que passe por sua mente a ideia de que o seu momento me faça esquecer o todo. Sei ver através dessa cortina e desvendar a pessoa teatral que se apresenta no palco da ganância de abocanhar o poder. Guarde o seu manequim de gente fina e me poupe. Não aplaudirei o desempenho desse olhar sob a máscara da velha ocasião.
Simpatias de pleitos eleitorais não me alcançam. Sua música desafina em meu crédito e falha na dança dos meus sonhos de um tempo novo. Neste momento seu rosto é uma bela foto, e ao mesmo tempo, a foto não representa o seu rosto. Soa muito forjada, e quem sabe olhar mais fundo reconhece a farsa... por mais força que a farsa faça para se manter.
Corra o risco de ser autêntico. Mostre a cara de carne. Não a de pau. Tire a fantasia e faça o que sempre fez, ou não fez. Tenha um pouco de brio, mesmo sob o risco de perder muitos votos. Quem sabe assim você aprende a ser gente, para merecer o título de "gente como a gente". Você vai descobrir que ser gente é melhor do que ser político...
... pelo menos um político feito você.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

EMOÇÃO RECICLÁVEL


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Apostei noutro afeto sem cisco e poeira;
sem estética, selo, padrão nem carimbo;
numa feira de sonhos e tons em comum,
nossos olhos expostos às exposições...
Foste o filme perfeito que assisti sozinho
sob traços da tela de um rosto forjado,
li em teu pergaminho falsos mandamentos
nos quais era pecado ver pecado em tudo...
Pela tua verdade que mentiu pra mim,
fui ao fim dos meus nãos e me lancei em ti
feito rio que pousa no colo do mar...
Eras cópia de alguém que se fez na ilusão
desta velha carência que permuta os alvos,
quando minha emoção envelhece outra vez...

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

A CÔMODA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Fecho a porta que fica e vou pro mundo,
sou expulso por seu silêncio aos gritos,
caio fundo no abismo do futuro
que dispensa o passado e me convoca...
Abro a vista e dou olhos pra minh´alma,
fujo dessa presença sempre ausente,
sopro a palma da mão que suplicava;
faço a pluma procurar um destino...
Você nunca me achou em seus guardados,
me deixou na gaveta mais secreta,
onda a meta não pode ser morfose...
Rompo a cômoda e fria solidão,
pois me canso de ser arquivo morto;
cais do porto de sua segurança...

ASSOMBRADA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Tanto fez desse tom de não dar caso
aos meus mimos e minhas atenções,
às versões deste afeto multifaces,
que depois me rendi pelo cansaço...
Seu olhar sempre foi uma geleira,
sua voz de gravação bem polida,
secretária de feira de automóveis,
cuja vida está lá nas latarias...
Você tanto se fez de tão acima,
que ficou tão acima de si própria
e caiu neste meu lugar comum...
Sou apenas mais um que despovoa
seu castelo sem flores, atrativos,
onde os vivos não têm como ficar...

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

A SOLIDÃO DIVINA


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Se Deus é alguém, ao invés de algo, imagino que seja um ser solitário e deprimido, mesmo com sua soberania. Creio até que precise de comprimidos para dormir e sonhar que tem amigos; colegas; turma. Sonhar que também é criatura; não Criador, Dono de tudo, Senhor de servos, o Rei dos reis, inalcançável para relações de contato.
Esse Deus dos pregões humanos deve ser bipolar. Deve brincar de dois. Talvez seja o próprio diabo, em um dos pólos, para interagir consigo mesmo como inimigo; alguém a quem valha combater para passar o tempo eterno de sua solidão. Uma vez chegou a inventar que tinha esposa mortal, filho metade humano, para ter pelo menos uma ideia do que significa ter uma família.
Mas Deus errou no aconchego. Na distância. Na medida e no contexto de afeto, presença e proteção. Superproteção, até, como em toda família existe. Sua tentativa terminou em tragédia, e com isso Ele achou por bem contornar. Deu à tragédia o contexto hábil de plano divino, para se salvar pela salvação da humanidade.
Deus continua solitário; afinal, Deus é Deus e não pode ser feliz com seus engenhos carnais. Criador não tem pai, mãe, cônjuge, filho. Não tem quem o ame apesar dos defeitos, pois nem defeitos tem. Só há quem o sirva e louve, não por sentimento, e sim, por gratidão e temor do inferno. Pelas bênçãos, os privilégios e a esperança em um futuro reino soberbo, milionário, luxuoso e ostentador. Tudo o que não combina com reino espiritual.

terça-feira, 26 de julho de 2016

NOSSA HISTÓRIA


Demétrio Sena, Magé - RJ.




Temos tantas histórias, que somos um livro
de poemas, de contos e reflexões,
emoções controversas, partidas e voltas,
desencontros, encontros, reeternidades...
Conhecemos as senhas de quaisquer segredos
de viver e morrer e rebrotar pra nós,
o passado e o após nos mantêm no presente
onde os medos não podem com nossa esperança...
Foram tantos os voos e tombos do alto,
tanto sonho tecido e rasgado no ar
por algum sobressalto que a vida causou...
Mas o dom de sonhar se refez nos escombros,
corações, mentes, ombros e o mesmo destino
demarcados, curtidos, inalienáveis...

quinta-feira, 21 de julho de 2016

A ÓTICA DA ÉTICA


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Julgue pela evidência irrefutável,
pela força do fato contundente,
não por lente que modele o conceito
para ver ao sabor dos graus impostos...
Nem o faça por bem ou mal querer,
porque acha provável, pelo visto,
por achar que tal cristo é necessário,
pois a cruz está posta e quer alguém...
Nunca julgue o presente no passado,
pela ficha, os boletins de ocorrências,
reticências, parêntesis, lacunas...
O lugar do talvez é o por enquanto,
todo canto requer a nota exata,
será crime forjar o criminoso...

terça-feira, 19 de julho de 2016

PRA SEMPRE ATÉ NUNCA MAIS

Demétrio Sena, Magé - RJ.


A idade me tornou mais pra sempre do que nunca, nos assuntos de afetos como amizades e amores. Meu pra sempre ainda não é ao pé da letra, mas ganhou consistência. Deu leque às possibilidades de confiança, entrega e relaxamento.
Com esse progresso do meu pra sempre até que se justifique o nunca mais, ampliei os laços; as relações interpessoais. Fiquei bem menos antissocial, menos antipático, baixei bastante o nariz e suavizei os traços de suspeitas. Nem tudo nos outros é malícia; má intenção; desejo esquivo de me passar para trás ou se aproveitar do santo que, convenhamos, nunca fui.
Confesso, entretanto, que justamente por causa da inédita longanimidade do pra sempre, o meu nunca mais, este sim, se tornou pra sempre, quando vem. Ficou mais nunca mais do que nunca, porque passou a ser construído pacientemente pela eficiência do pra sempre quase pra sempre, mesmo.
Quero dizer com isto, que hoje as pessoas que me rodeiam podem abusar muito mais de mim; aprontar bastante comigo por muito mais tempo. Mas, caso cheguem ao ponto de já terem passado das medidas do meu pra sempre, além de me perderem perderão completamente a chance de reatarem comigo. 
Acho que a idade, já bem curtida em meu couro e minh´alma não terá mais tempo de fazer o meu próximo nunca mais voltar a ser pra sempre. Nunca mais será mesmo nunca mais, até que o nunca mais se confirme com o meu... nunca mais.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

BÚFALO


PAPINHO BAIANO


OBJETIVIDADE


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Julgas, erroneamente, que foste a melhor coisa que já tive. Não. Não foste. A melhor coisa que já tive foi uma bela bicicleta Monark, barra forte, com rodas de raiação dupla e pneus balão.
Entretanto, de todas as mulheres que me deram a honra de partilharem comigo suas vidas, foste a melhor. A mulher mais amada. Mais mulher. Dona dos meus sentimentos mais profundos. O grande amor de minha vida.
Mas eu bem sei que fui coisa para ti. E pelo visto não fui a melhor coisa, o melhor objeto que já possuíste. Nada que se compare, nas tuas nostalgias, à minha velha e saudosa bicicleta Monark.

domingo, 17 de julho de 2016

POVO & PODER


Demétrio Sena, Magé - RJ.
Desenho de Júlia Sena
Povo é molde. Medida. Experimento. No fundo, é qualquer coisa. De fato, povo é apenas coisa como gesso fresco e cimento que não secam, porque têm sempre que atender a novas formas. Novas fôrmas.
Serve como alicerce volátil de caprichos, ganância e fome de poder. É o sonhador de verdades que nem sonham ser suas. A eterna lua falsa sobre a noite que resvala para ser dia nos horizontes alheios.
O povo é argila. É a lama "mais que perfeita" nas manobras da conjugação imutável de vontades impostas por quem rege a quem elege quem manda; manipula. Faz do reino a sua casa.
Sempre foi deste jeito. Povo é massa de um bolo que ele nunca sabe se lhe cabe saber como será. E do qual jamais provou fatia. O povo é a pedra com que se auto apedreja... e seve de jogo do poder.

domingo, 10 de julho de 2016

CRIAÇÃO À MODA ETERNA


Demétrio Sena, Magé - RJ.


Os nossos filhos pequenos merecem nosso medo real do mundo que nos cerca. Não só merecem, como precisam desse olhar extremado que não abre a guarda e vai lá no fundo. Mesmo quando não há fundo. Mergulha intempestivamente no caos das verdades farpadas do tempo em que vivemos.
Tenhamos medo por eles, para eles não o terem depois do tempo nem nos contextos equivocados que de nada valerão. Apostemos o nosso couro, quantas vezes quisermos, mas nunca suas essências, no que não é de nosso alcance. Evitemos as ausências disfarçadas; as distâncias amenizadas por presentes; as terceirizações em nome da independência precoce. O sossego prático e frio de nossa confiança nos corações externos.
Eles tanto precisam do nosso exagero, quanto sentem profundamente a falta do excesso desse amor, quando nos rendemos ao descanso de respirar sem culpa e susto... à paz da consciência adquirida por conceitos modernos de criação menos vinculada. Só no passar dos anos, os filhos percebem todo o abandono que lhes demos com belas nominatas contemporâneas embrulhadas em bonitos discursos profissionais.
Sejamos os pais de que a inocência filial precisa. Logo a vida privará os nossos filhos dessas loucuras de amor, mas essa perda tem cura. Ela virá na saudade sempre terna e risonha do que não lhes faltou no tempo em que tiveram a proteção - ou superproteção - de tantas preocupações afetivas.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

MALA VAZIA

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Sinto muito, não sei sentir saudades
do que não existiu, de quem nem era,
só esteve na placa de meus olhos
ou em minha quimera consentida...
É apenas um vácuo que me ronda,
uma dor sem doer por acordar,
leve golpe de ar sobre o calor
dos lençóis esquecidos lá na cama...
Não me peça pra ter essas lembranças
folheadas de sonho e nostalgia,
pois não sinto emoção em recordá-la...
Minha mala não tem momentos nossos,
porque toda magia em que apostei
foi um truque de sua sedução...

terça-feira, 21 de junho de 2016

MAIS DA VIDA


Demétrio Sena, Magé - RJ.


Queira mais do que o todo ao alcance da mão,
voe mais do que as máquinas que o mundo fez,
pra chegar ao desvão das verdades ocultas
onde a voz ou a vez do infinito nos quer...
Tudo é tão inexato que pede um mergulho;
tão profundo e guardado que nos desafia;
quebre todo esse orgulho do seu pé no chão,
para dar fantasia e sentido aos instintos...
É que a vida real não precisa ser tanto,
seu encanto está justo no lado abstrato
dos caminhos tomados para qualquer parte...
Busque o bem que seus bens não conseguem pagar;
há um ar de mistério que ninguém desvenda
e se alguém o fizesse não teria encanto...

A FÓRMULA DO CRESCIMENTO

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Dispensei o destino. Precisava seguir sozinho, porque já me cansava de ser levado ao léu. De caminhar sob um céu distante, sem qualquer ponto cardeal. Sem a mínima ideia do próprio por quê. Esculpi um lombo e dei de presente ao desejo de um dia chegar ao abraço que desejo sentir. Ao sorriso que mais quero arrancar de um rosto. À palavra que sonho ouvir de uma boca em perfeita sintonia com o universo da entranha. É assim que pretendo regar os caminhos de reger a sina e subir uma escada que me leve à laje de onde poderei ver o mundo com bons olhos.

Resolvi ajustar minha idade ao seu tempo real. Cheguei aos termos da urgência de fazer com que a fé inútil, surreal ganhe corpo e textura que a minh´alma possa remexer e recompor de acordo com as carências acumuladas ao longo desta missão que ainda não defino. Tenho esse desejo profundo, incontornável de ser mais do que apenas alguém. De ser alguém menos algo após tanto viver. Quero ir bem mais fundo, para ter a certeza do que ainda suponho: de que uma vida compensa os seus perigos, e o perigo fatal se resume a não assumi-los.

terça-feira, 7 de junho de 2016

NEM LUXO NEM LIXO

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Creio em gente que diz o que os olhos atestam;
o que nada retém, adverte ou previne;
tenho fé no semblante que desnuda o corpo
e lhe torna vitrine sem filtro fumê...
Louvo gente bem gente, não capa e verniz,
idolatro a grandeza da simplicidade,
quanto menos é deus mais alguém me seduz,
quanto menos é cruz mais comove o caminho...
Não há luxo nem lixo nos meus ideais,
nada mais, nada menos do que me completa
ou me solta no livre compasso do tempo...
Faço culto às pessoas de boa vontade,
que não têm a verdade como sua escrava
e vieram ao mundo pra viver ao vivo...