sábado, 31 de dezembro de 2011

AMORES DE SEMPRE


Quero a vida pra dar pelo bem de quem amo,
tenho sonhos internos pra distribuir,
porque minha verdade se mente sem isto
e meu mundo não gira; meu tempo congela...
Busco forças que possam suster o meu flanco
sempre aberto aos afetos nascidos pros meus,
dou adeus mal me lanço em amores externos
que me sorvam da flor dos amores de sempre...
Sou do chão que me rega desde que semente;
rego minhas sementes, não troco de chão;
tenho vida fechada pra novas versões...
Volto sempre dos vôos além de meu céu,
pois me perco de mim quando perco de vista
minha lista imutável de razões de ser...

IDÍLIO


Idílio de cores.
As borboletas namoram
gerânios galantes.

PET É UMA PESTE


Afora a necessidade inquestionável de preservar o ambiente, que deve ser o princípio de qualquer atitude ecologicamente correta, seja ela pública ou prrivada, ou do reaproveitamento industrial em grande escala, só concebo a reciclagem como ato específico de consciência ecológica ou manifestação de criatividade pessoal. Não importa se essa criatividade é artística, direcionada à educação ou de qualquer outra natureza.
Descarto como digna e deploro a divulgação da reciclagem por necessidade pessoal, auxílio na miséria ou socorro dos que não podem ter o que o dinheiro compra. Mesmo contra o consumismo inconsequente, sou dos que entendem que a dignidade humana está diretamente ligada ao poder de consumo. Quem não pode consumir o que precisa ou até mesmo deseja, não está enquadrado no conceito exato de cidadania, porque o mundo não é dado; é vendido. A manutenção do corpo, do intelecto e da sanidade emocional passa pelas condições de pagar por isso. Afinal, o poder público não garante ao cidadão, acesso ao conforto pessoal em todos os quesitos. Nem poderia ser assim. Todos precisam trabalhar para ter. Mesmo os serviços básicos que são públicos no que tange a educação, a saúde, a segurança e a justiça, os governantes não garantem a contento, o que torna ainda mais imprescindível a importância de se ter condições econômicas favoráveis para viver.
Acho cruel, quando a mídia massifica informações como a de que a casca da batata, da cenoura e gêneros afins é mais nutritiva do que os próprios produtos, ainda que isso seja (e é) verdade. Essa crueldade ganha requinte quando a mesma mídia ensina ao populacho as "deliciosas receitas" a partir dessas cascas e outros reaproveitamentos, dando a conotação de economia, como se fosse belo economizar cascas e bagaços para render a culinária cotidiana. Excluindo o requinte das receitas apresentadas como lições de reaproveitamento e arte culinária, não sei de nenhuma figura da tevê ou da elite de onde vivo, que utilize diariamente as raspas e os restos "muito mais mais nutritivos", doando aos pobres as batatas, abóboras, cenouras e afins, devidamente descascadas.
Por outro lado, nada ou ninguém suja mais o ambiente e lucra mais com isso do que as indústrias de pet. E elas o fazem de modo tão inteligente e malicioso, que conseguiram transformar a sociedade em catadora de lixo em potencial. Os catadores já não são apenas os que fazem disso um meio de garantir seu sustento. Associações, ongs e, principalmente, escolas incentivam a catação das garrafas já imundas, lançadas nos rios e valas para confecção de trabalhos precários, decadentes e fugazes de arte e artesanato, que logo serão também lançados no meio ambiente, já sem condições de reaproveitamento. Mesmo com os catadores "profissionais" de lixo e as campanhas envolvendo atividades com garrafas pet, não há expediente que atenda à demanda da poluição causada por esses recipientes que se tornaram uma praga.
No fim das contas, acabamos não por não ver que o ideal não seria o despejo e a catação sistemática nos rios, valas, ruas e mares, mas simplesmente o não despejo. Está comprovado que pet é uma peste e que somos manipulados pelo conceito de que é amplamente vantajosa na fabricação de peças de artesanato que podem ser feitas a partir de outros materiais muito mais duradouros e por isso mesmo menos poluentes.
A ideia de substituir os cascos de vidro pelos de plástico foi infeliz porque o vidro, ainda que dure muito mais tempo para ser consumido pela terra, é tão mais viável para o engarrafamento de bebidas, por ser retornável, não se multiplicar em tão grande escala. Mas isso é incômodo, porque significa menos lucro.
O cidadão comum precisa acordar para o fato de que é usado pelo poder econômico, ao se inserir nas ondas emergentes que o incentivam a ser um propagador de marcas e produtos, para eternizá-los, como se isso fosse bom para todo o mundo. Há que se estabelecer um juizo entre o que é de bom gosto artístico e culinário, o que é educativo ou econômico e o que é simplesmente um incentivo à captação de mão-de-obra barata ou voluntária, que só enriquece mais e mais quem já é rico e mantém em seu canto quem nada ou pouco possui.
O recado mais aberto é para a escola, que tem reproduzido às cegas entre seus alunos esses conceitos distorcidos, tornando-os entre outras coisas, catadores voluntários de lixo. Especialmente de um lixo do qual o meio ambiente já deveria estar livre há muito tempo. Tudo é uma questão de atitude do poder público e de toda a sociedade mundial realmente preocupada com o futuro do planeta.

SONHO FINDO


Acabou, meu amor. Não; não acabou meu amor. Acabou a condição de continuar exercendo o direito de te amar. O próprio direito acabou.  Nem é direito exercê-lo, com a vida torta como está. Não a nossa vida, não a sua, mas a minha, especificamente. Fiz tudo o que pude para merecer-te, mas tudo em vão. Nada foi suficiente para que o meu amor alcançasse a proporção dos teus méritos me tornando leve, sem fardo, sem os impedimentos que me vestem.
Assumo as rédeas de minha solidão. Da vida vazia deste sentimento que preciso fazer esvair. Das noites de assombro e pesadelo carnal, tentando vencer o fogo na veia, o redemoinho na mente, a vertigem no coração. Faço a escolha bem própria de um mundo em que nada é perfeito nem completo, mesmo sem saber se conseguirei pagar o preço das renúncias que a escolha exige.
Como não era teu totalmente, amando por completo e doando pela metade; sendo com todo o meu instinto mas nunca estando, achei digno sair de vez. Fazer-te sofrer num todo, numa explosão de angústia, para não eternizar teu sofrimento. Não aplicar com isso, velhos requintes de uma crueldade que jamais se explica por si só. Muito menos quando praticada contra quem só merece o melhor dos sentimentos e as ações que os movem. Menos ainda contra quem és.
Quero que preserves as melhores lembranças; guardes bem as imagens de nossos poucos momentos; ponhas moldura no que vivemos e eternizes na tu´alma. Porém, não posso querer. Tenho que respeitar o teu possível rancor. Tua mágoa quase certa de quem minguou no teu céu, mesmo cheio de amor. Quem te quis e não quis mais, no momento exato em que mais queria.
Acabou, minha vida. Não; não acabou minha vida. Ela continua, entretanto sem vida, sem sentido e razão no que tange as carências de uma grande parte de mim. Por uma grande ironia, preciso cuidar de minha vida que já nem é vida, se não a imagino sem ti. Não imagino mas tem que ser assim, porque sou quem sou, portador de realidades incompatíveis com o sonho que não passou de um sonho.

PARTINDO EM TEMPO


Pedirei mil perdões, mas terei de partir;
partirei a tu´alma em pedaços pequenos
e minh´alma em pedaços menores ainda;
sofrerei as sequelas da sequela imposta...
Doravante o vazio sem lados nem fundo,
fim do mundo sem fim sobre o dorso cansado,
meu futuro esquecido num presente frio
congelando o passado e me retendo em mim...
Viverei de morrer de nostalgia eterna,
de gritar na caverna e me agarrar ao eco
pra fingir que te abraço e recomponho a vida...
mas preciso partir quando ainda é possível
reservar este pódio prá dor da saudade
deste amor que mais tarde seria rancor...

ETERNO?

Esse tal de amor eterno tem tudo a ver com a ideologia do direito... Ele termina exatamente onde começa outro amor...

PESSOA INCÔMODA


Meu direito é torto
no arbítrio torto da lei
que me vê de banda...
Minha culpa é certa
prás obscuras certezas
de conveniência...
Já me condenaram,
porque se for inocente
represento risco...
A minha prisão
é ficar solto e sem como
me agarrar à vida...
E meu crime está
em ter um olho de ponta,
pra cavar mais fundo...

MATINAL


Grinalda de orvalho
no cenário da manhã...
Carinho do inverno.

ROMANCE


Tardinha romântica.
Palmeira cede aos encantos
e beijos da brisa....

VERÃO MATINAL


Um banho dourado
na fronde azul da montanha...
Manhã de verão.

PRÉ-TEMPORAL


São naves de nuvens
num entrechoque no céu.
Estrondo na noite.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

PREGUIÇA E DESONESTIDADE

São inúmeras as razões pelas quais um adolescente resolve não respeitar os pais. Esse desrespeito resulta desobediência crescente, chegando a níveis incontornáveis. Ele pode ser fruto de muitas coisas, entre elas uma resposta à tirania, uma decepção, uma grande mágoa escondida. Será impossível discorrer sobre todas elas em algo menos que um livro. 
Há uma razão recorrente que desencadeia o desrespeito e deságua numa rebeldia que dificilmente justificaremos, caso ela esteja direcionada a nós. É a falta de admiração que muitos jovens têm pelos pais. Sem essa admiração falta espelho; padrão de comportamento; matriz. Ninguém imita o que despreza ou repugna, e não seria diferente com um filho. Ele não se dispõe a seguir os passos, muito menos os conselhos e orientações de pessoas às quais não dá crédito. Pode até fingir que obedece, , pode temer as agressões e os gritos possíveis, mas no fim das contas não obedece.
Dos incontáveis motivos da não admiração filial, podemos destacar sem grandes buscas a preguiça e a desonestidade. Nenhum adolescente admira pais preguiçosos e desonestos. Mesmo que se tornem como os pais, os filhos assim fazem, de início, como protesto. E essa não admiração segue exatamente o que  sociedade faz. Como ninguém respeita pessoas apegadas ao ócio e à vantagem sobre o outro, os filhos compõem essa sociedade desencantada com tais atitudes, ainda que ela mesma as pratique.
Ninguém educa filhos com ordens, regras ou mandamentos, quando esses mandamentos, regras e ordens não fazem parte de suas convicções pessoais, refletidas no próprio comportamento. Temos que ser o que ensinamos. Seguir os caminhos que apontamos. Compor o ideal de mundo e vida que desejamos ver composto por quem dizemos amar

MONSTROS PASSIVOS

Depois da tragédia com a menina Isabella, foram muitas as matérias veiculadas na mídia, sobre pais que maltratam filhos das mais hediondas maneiras, inclusive abusando sexualmente. Foi o caso daquele pai monstruoso que fez da filha uma escrava sexual, aprisionando-a e tendo filhos com ela. Filhos que ao mesmo tempo são seus netos, que também eram maltratados na casa subterrânea que ele construiu especificamente para este fim.
Entre uma notícia e outra, surgiram os relatos de vizinhos que tinham conhecimento das atrocidades noticiadas e resolveram quebrar silêncios. Silêncios que deveriam ter sido quebrados há muito tempo, mas a covardia e a acomodação de uma sociedade na qual cada um só pensa em si, e algumas vezes na família não permitiu que algo fosse feito pelo sofrimento de tanta gente. Algo fácil, como um telefonema anônimo que não põe em risco a vida de ninguém e que, portanto, não ampara as justificativas de que se está preservando a integridade física de entes queridos. Às vezes chego a me indagar se isso é preguiça ou maldade mesmo.
Devíamos ser mais solidários com o sofrimento alheio, e mais interessados em saber o que está ocorrendo em determinadas residências das quais chegam claros clamores aos nossos ouvidos. Não me refiro a quebra ou invasão da privacidade alheia, mas a uma presença de espírito que nos faça estar alertas a possíveis sofrimentos de mulheres e crianças. Uma presença de espírito que só existe quando existe amor ao próximo e interesse em uma sociedade mais justa e menos monstruosa do que esta na qual estamos vivendo. Acho monstruoso quando pessoas que se calaram por tanto tempo se apresentam diante das câmeras, por exemplo, para fazer denúncias tardias, que já não podem ajudar, somente para dar satisfações à própria consciência ou simplesmente para contribuir com a massificação de fatos que passam a ser explorados como espetáculos bizarros.
Se tivéssemos os corações voltados para essa preocupação humana e social, seriam muito menores os índices de violência doméstica. De espancamentos e outros maus tratos a crianças e mulheres. Seriam muito maiores os índices de casos solucionados antes de tragédias, inclusive os casos de sequestros cujos cativeiros muitas vezes ficam perto de nossas casas, e bastaria um olhar mais atento para que notássemos os pormenores suspeitos, fazendo a nossa parte como cidadãos que estamos deixando de ser.
Pensarmos no próximo é pensarmos também em nós. Vencermos o medo de amar com gestos, com atitudes que ajudem à sociedade, é ajudarmos aos nossos, possibilitando a chance de tempos melhores para se viver. Isso é plenamente possível. Uma só denúncia em tempo hábil, que tire um único monstro de circulação já impede que muita gente sofra ou morra em circunstâncias desumanas.

AINDA PODE HAVER MUNDO

Creio que num futuro nem tão distante, quando alguém repetir a máxima de que "o mundo é um moinho", ninguém entenderá. Afinal, chegará o dia em que não haverá moinhos, por não haver água para movê-los. Mas o que me pergunto mesmo é se nesse tempo haverá pessoas, para entender ou não a máxima que ninguém repetirá. Mais ainda, se existirão tempo, entendimento e máximas.
Estamos falando de extinção. Da água e da natureza em um todo. Plantas e bichos. Rios e mares. Espaço e chão. O que não percebemos, ao dissertar aos quatro ventos (que também se extinguem), é que jamais cogitamos a nossa extinção. Que somos espécie também passível do extermínio promovido por nossa falta de consciência. Bichos sociais, seres inteligentes e gestores do planeta, o que estamos provando é que as demais espécies, quando não acuadas, são bem mais sensatas e inteligentes do que nós. Elas preservam tudo que as rodeia e se preservam. Nenhum outro predador é como nós, que devastamos por ambição desmedida. Matamos por esporte e poluímos indiscriminadamente por displicência, desrespeito e distorção do conceito de progresso e conforto para nós e os nossos.
Faz tempo que a natureza reage à nossa truculência, tentando nos alertar. Recentemente as hecatombes cresceram, chegaram a continentes e países antes nunca incomodados por algumas manifestações, pelo menos com tanta violência. Sofremos, perdemos entes queridos, estamos vendo o mundo agonizar, nem assim lançando mão de pequenas e grandes atitudes ecologicamente viáveis para que os fenômenos naturais recuem.
Temos que aprender logo a lidar com o lixo, o progresso, a agricultura, o esgoto e tudo o mais, estabelecendo um acordo com a natureza. Possuimos o poder de amestrar ciclones, acalmar oceanos, administrar a seca, impedir muitas enchentes e a desertificação, a partir da consciência coletiva, uniforme. Uma trégua nessa guerra entre nós, os produtos de nosso avanço tecnológico e o meio ambiente não significa o retorno ao tacape ou à era medieval, mas uma harmonização promovida pelo consenso de que a vida está seriamente ameaçada.
O mundo continuará sendo um moinho, por haver água, porque haverá pessoas, tempo, mundo, vida e máximas, se absorvermos a máxima do saber viver. Saber viver é não matar. É deixar viver. É adaptar as necessidades à realidade mundial. Harmonizar sobretudo, progresso e preservação, praticando a consciência ecológica muito além do que apenas a lei prevê. 

POEMA FORA DE MODA

Às vezes volto ao clichês,
vou bater nas mesmas teclas
que meus dedos já surraram,
tantos dedos depois disto
já cansaram de apontar, 
mas ninguém olhou seus alvos...
Pra mostrar as evidências
e ser bem repetitivo,
sob uns temas previsíveis
desfilar a minha sombra,
meu assombro mais piegas
ou talvez mais consumível...
Mas eu juro que não primo
pelo nível destes versos,
tão apenas lhes recordo
que a miséria não passou,
o reverso da medalha
hoje tem a mesma efígie...
Nestas vezes me dou conta
da frieza do ser vate,
quando bate a consciência
do silêncio que acomoda,
pois as modas vão e vêm
desfilando sobre os dramas...

DITA E CUJO

Também sei não prestar, quando é minha defesa;
sou a presa e num susto viro predador;
sei ficar dos dois lados, em cima dos muros;
cobro a conta com juros, quando ninguém lembra...
Se trouxeres pedreira, serei dinamite;
falharás no palpite, jogando comigo;
quando fores veneno saberei ser soro
e perder o decoro pelo teu escracho...
Tenho afeto guardado pro caso de afeto;
como sei que meu teto é telhado de vidro, 
nunca tenho por armas as pedras do rumo...
Mas aquelas que atiram me tornam culatra,
desenterro Sinatra se exumas Evita
ou te arrogas a dita e me revelo o cujo...

... E O VENTO VARREU

Veja o ponto que fecha uma história vazia,
nossa fada esvaiu das pelejas do conto
que perdeu a razão de conduzir o fio
da meada e do senso de vida e de chão...
Chegue ao prisma ideal do que paira em redor,
pois o tempo tem pressa no mundo real,
tudo pede passagem nos deixando aqui
onde o nada se traja de pura miragem...
Já faz muito que o pano encerrou a sessão;
que perdemos essência; recheio; tutano;
acabou a pressão que nos fechava em nós...
Feche os olhos, conclua que nem sonho resta;
não há lobos nem noite, muito menos lua;
tire os olhos da festa que o vento varreu...

O EGITO É ÁFRICA

Há uma história de nobreza e genialidade; riqueza e luxo; grandeza e glamour que envolve o Egito. Isso desperta a curiosidade e a paixão de pessoas no mundo inteiro, e de forma mais intensa dos arqueólogos e historiadores. O Egito mexe com o mundo. Mexe e desafia. Será sempre atraente falar do Egito, querer conhecer os seus mistérios e extrair o que se pode de sua riqueza cultural, além dos resultados econômicos, que sempre habitam as ambições humanas. 
O que me pergunto sempre, elaborando a resposta no ato da pergunta, é se não está nisto a razão dos contorcionismos que os escritores de livros didáticos fazem para que o Egito não apareça de forma nítida como país africano. É claro que sim. Preconceito. É a única explicação plausível para esse esforço global em prol da uma omissão, de um desvio velado que nos faz passar por toda a saga daquele país esquecidos de que se trata de parte de um continente que o mundo odeia por questões históricas que passam abertamente pelas ideologias que nunca deixaram de reger os conflitos de um mundo em disputa constante de poder e riqueza.
Lembrar abertamente que o Egito é África é relembrar que o continente já dominou o mundo. É dar muita trela para que países como o nosso recordem as influências africanas sobre nossos costumes, nossa cultura, nosso modo de vida e até mesmo a religiosidade. Talvez principalmente a religiosidade, que encobre outras ideologias, e que pauta até mesmo os cultos de correntes opostas, inimigas de longo tempo, da originalidade de sua fé. Também é lembrar que as superstições e crenças africanas regem a diversidade de nossas crenças.
Sobretudo, assumir o Egito por este aspecto é deixar de expor apenas os problemas, as misérias, as angústias da Etiópia, do Haiti e de tantos outros países que nos deixam condoídos. Só se quer lembrar da etnia africana como a que passa fome, a que foi escravizada, a que não tem aceso à cultura, à educação, ao conhecimento científico, à inclusão social, à dignidade humana.
Hoje quero lembrar que o Egito é África. Que a África é cultura, riqueza, grandiosidade. Que os livros didáticos são preconceituosos, separatistas, escravos da sociedade mundial que teme o continente africano. Por esse temor, o mundo empana, faz fumaça, lança véus, mas não se pode arrancar um país como esse do mapa. O buraco seria notado e ferida humana ficaria muito exposta.
Quando acabar o preconceito, sonho distante este, abriremos os livros escolares e leremos sobre o Egito nos mesmos capítulos que tratam de todo o continente, de uma forma igual. Não à parte. Não com a distinção que tenta “embranquecer” sua história para que ela valha aos olhos de um mundo Hitlista que tenta fazer sabão de uma realidade inquestionável.

SAUDADE ANTECIPADA

Ficarás no meu peito como marca d´agua;
feito mágoa que fica de quando menino;
como sino que bate na recordação...

NA VARANDA

Esperei-a no exílio da varanda;
santuário do amor que te devoto;
fiz um "voto secreto" e fiquei lá
feito quem aguardando a grande graça...
Minha espera esqueceu a eternidade,
meu silêncio gritou aos quatro ventos,
foi além da verdade atrás do sonho
que passou dos limites na esperança...
Procurei o seu cheiro até dormir,
finalmente acordei pro sonho espesso
como as vigas de ferro da cidade...
Sob o gesso da enorme solidão,
consolei a minh´alma fraturada;
dormi como quem não acordaria...

SEM CHANCE DE CHÃO

Vais e fico te olhando esvair no infinito,
caio em mim sem desejo de me recompor,
nem grito extridente que a garganta ensaia
rompe a dor pra tentar uma justa explosão...
Só me resta uma sombra, nada mais me ocorre,
porque tudo repete a certeza do abismo,
tudo morre aos meus olhos pelo desencanto
que o mesmismo promove nesta insanidade...
Paro e fico chorando em silêncio profundo,
sem um mundo que aponte prá chance de chão,
giro em torno do caos e diluo meu sonho...
Porque vais e não posso te pedir que fiques,
pois te quero mas vejo que não posso mais
te fazer esperar pelas minhas novelas...

DO SONHO, DO VENTO E DO MUNDO

Serei sempre teu homem, mas deixa o poeta
ser promíscuo, ter outras, amar sem fronteira,
ter a face obscura que ninguém desvenda
e romper os limites dos estados d´alma...
Desimpede o meu ele com todos os cios;
guardarei os desejos, pois eles são teus,
porque são do meu eu, que mais ninguém terá;
nem o lobo guará me devorando em mim...
Quem não sou jogo avanço, já me dei pra ti;
quem estou vive cheio de poeira e ranço
dos caminhos ou ermos que a nada conduzem...
Pega então para sempre o teu homem carnal,
que tem alma padrão, vai no traço da seta;
o poeta é do sonho, do vento e do mundo...

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

ORGULHO DE SER EDUCADOR


Quis ser educador por causa da "D. Ondina", primeira professora, que se destacava das demais numa época de muita repressão escolar. Era doce, atenciosa, e voltava quantas vezes fosse necessário, a uma lição que a turma ou simplesmente um aluno inistisse em não entender. Além disso, identificava os problemas dos alunos que os tinham de forma preocupante, sempre ajudando a resolvê-los em harmonia com os pais.
Mais tarde, quando fazia o antigo ginasial, quis ser educador por Causa da Florinda Lombardi, a Ivone Boechat, o Laerte Leocornil, o Adalto, o Geraldo Mattos, a Marilene Barcellos, a Mariângela Yanase. Tantos outros, que por uma injustiça bem própria do ser humano fogem à memória, tornaram bem mais acentuado o meu desejo de ser educador, tão somente para imitá-los. 
Esse desejo se fez ainda mais forte no então segundo grau, tornando-se irresistível, por conhecer Darci Ribeiro. Tomar consciência de Paulo Freire. Aproximar-me de Márcia Câmara e de Janete Jasmim. Ter amizade mais estreita com o mais louco de todos os educadores que já conheci, que é o Isac Machado de Moura.
Tenho orgulho de ser educador. Ser colega da Rita de Cássia Junger; da Rosinéa Dias; do Reinaldo José Ferreira (já saudoso); da Benedita Silva de Azevedo, a Eliana Malheiros, o Sérgio Macedo e a Lucínea. Muitos outros que a velha injustiça faz esquecer, por não serem tão próximos ou famosos.
Jamais quis ser político. Os motivos fazem a contramão dos que me tornaram educador. Não teria qualquer orgulho, e se quisesse tê-lo, por meio de ações, amargaria uma solidão infinita. Habitaria um profundo inferno, vendo queimadas as boas intenções, como sempre aconteceu aos educadores que se tornam políticos neste país cujo poder público é avesso à educação. Prega educação nas suas conveniências, mas é avesso. 
Sobretudo, assim como Darci Ribeiro - embora jamais me compare a ele -, não quero estar na pele desses políticos, cada vez que a justiça metafísica ou extra-humana resolver cobrar o preço de suas vitórias sórdidas contra todas as formas de educar. Formas legítimas, genuínas e desprovidas dos interesses eleitoreiros que escrevem a história desta nação.

SUPERAGINDO

Onde não há constante super ação, dificilmente haverá superação... A vida sempre quer muito mais de quem a quer.

O FIO DO MACHADO DE ASSIS


Machado não rui. Jamais rui. Sua obra, tijolo por tijolo, foi construída sobre alicerce não perecível. É um escritor que nasceu eterno. É, porque não morreu. Descobriu a imortalidade nas nossas letras e a dividiu sem medo. Soube de chofre, que a imortalidade é divisível sem ter como efeito final a sua subtração.
Foi Machado de Assis quem desbravou, sem desmatar, a selva literária em que tantas "feras" do meio se digladiavam buscando posições destacadas. Fez-se rei da "selva" sem ter de trasladar o trono. Reinou - e reina - em harmonia com os que o aclamaram - e aclamam -reconhecendo o valor, o alcance e a consistência de seu legado.
Há um século Machado de Assis mudou de lado. Ou de plano. Tanto tempo depois, ele continua moderno. Ainda revoluciona. De todos os clássicos, por exemplo, é o escritor predileto entre os jovens estudantes de nossos dias.
O fato é que Machado corta o tempo com o gume afiado de quem conhece o tronco e a seiva de uma sociedade que não muda, em essência. Trocam-se o vestuário, as condições de moradia, os costumes, o linguajar e a cultura, mas a essência é a mesma. Ele sempre escreveu sobre a essência. O comportamento íntimo e insondável do ser humano.
Nosso Machado vence os anos, porque sua trajetória é superior. Derruba o mito inconcebível, no seu caso, do vencido e ultrapassado. Seu corte não nos legou lenha. Deixou diamantes literários. Históricos. Um passado com futuro perpétuo.
Para sermos sinceros sobre Machado de Assis, nada mais podemos do que delirar sobre ele. Descrevê-lo de modo menos subjetivo seria injusto. A objetividade o remortalizaria em nossas tintas. Ele não só está no além. Está além de nossas descrições.

LENTE CINZENTA


Meu olhar tem um grito que o lábio amordaça,
porque devo seguir a fluência do rito
pela graça do dia que sobeja d´outro;
pelas noites que adentro a beber nostalgia...
Minha vida se apoia neste faz-de-conta
que namora verdades tecidas ao léu,
faço ponta no filme do qual sou herói
sendo réu em questões que me cobrem de louros...
Guardo as velhas razões em conservas de culpas;
faço eterna farofa de fases mal gastas,
pra fazer oferendas a nada e ninguém...
Tenho pastas internas de arquivos confusos,
digo amém ao temor de viver claramente,
ponho lente cinzenta grafitando o mundo...

O POETA É DO POEMA


Muitas e muitas vezes, fazer poemas é o caso típico de apontar numa direção e acertar em outra. Isso faz com que o poeta fira sempre, além de si mesmo, as pessoas que menos fazem jus em derredor. Poetas são caixas de surpresas. O cúmulo do inusitado. O acúmulo dos mais incômodos despropósitos. Todo poeta nasce para viver só, porque nem mesmo outro poeta pode compreendê-lo. Muito menos as pessoas normais, as que fazem coisas conexas e não devoram pautas como quem sacia fome de meses.
Os amores dos poetas são subjetivos, abstratos ou metafísicos, e só se explicam de fato nos poemas. Poetas são seres poliversais, deuses da sombra e das entrelinhas, e quando se unem por laços tocáveis as relações são conflituosas. Fuja do poeta. Não o ame. Ou há de amar uma lenda, uma crendice, uma aura que sugará seu tempo, sua fonte afetiva, seu entendimento emocional.
Na verdade, o poeta é só do poema. Da poesia. Do mundo imaginário de quem nem imagina que ele é o próprio imaginário. Deixe o poeta em si mesmo. Canonize-o até. Adore-o, se assim for de sua vontade, mas nunca espere um milagre desse santo que não tem andor. Perambula pelos altares desavisados de sua vadiagem. 

RÉU DA PALAVRA


Minhas colchas de versos te cobrem de afeto
mesmo quando é tristonho, quiçá lacrimoso,
quando chora saudade ou desperta do sonho;
quando rui um projeto que me faz feliz...
Meus poemas te vestem de calma e leveza,
tanto faz que lamentem ou prestem louvor;
têm a triste leveza da queixa suave
ou a cor do contento que me faz cantar...
Quando leres meus versos soturnos e frios,
de platina ou de ardósia, concreto, argamassa,
sem a massa de alma, paixões, nostalgia...
Nunca os tenhas por teus, que não faço pra ti;
gostaria de crer, só pra jurar por Deus
nestes versos confessos de réu da palavra...

PRECONCEITO CRISTOCRATA

O preconceito inerente à cristocracia (não ao cristianismo, mas realmente à cristocracia) jamais permitirá que se "desloire" o "Salvador da humanidade".

ESPERA

Vejo ainda correntes na tu´alma
e teus passos ainda estão tolhidos,
quando sou a miragem num deserto
que terás de vencer pra seres livre...
Não te sinto, apesar do sentimento
com que sempre declaras teu imposto,
na palavra não dita entre as faladas,
sob o gosto que alcança os meus sentidos...
Continuas atada em teu outrora;
continuo na fila dos entraves;
ainda me sinto administrado...
Mentes mal, mas atuo que acredito
em um mito afetivo que desejo;
numa imagem que beijo esperançoso...

GENTE


Há um mundo sem rumo girando em redor
dos meus olhos incertos quanto a prosseguir,
como paira um sentido que há muito não faz
uma vida enjaulada nos próprios temores...
Corre um tempo espremido por muros de sombras
neste vale de mágoa e solidão em massa;
de loucura tão vária que ser são é louco,
pois incorre no crime da "rara excessão"...
Nós estamos na idade que perdeu a conta,
como todos perdemos a nossa verdade
nesta linha da história retida em seus nós...
Morre o sonho sem asas do mundo melhor,
porque mundo é de gente; gente não melhora;
gente mora em seu ego e destrói o restante...

sábado, 24 de dezembro de 2011

MULTIDÃO E JUSTIÇA

Quando um crime hediondo abala um país ou o mundo, ao tomar a opinião pública de assalto, pessoas de bom senso se acautelam. Todos tiram suas conclusões, equivocadas ou não; discutem entre família, rodas de amigos, colegas de trabalho, escola, mas não estabelecem que essas conclusões devem prevalecer.  Muito menos que seus arroubos devem perturbar a ordem pública, decidindo pela justiça instituída.
Quem invade as ruas disposta à promoção do linchamento é a multidão dos festeiros. O bonde da hipocrisia, que vive à espera de fatos nefastos, para protagonizar nos filmes de mau gosto que esses fatos rendem, por obra do sensacionalismo. Multidões dessa natureza se compõem de pessoas solitárias e com excesso de tempo, que seguem outras pessoas que também as seguem, cada uma pensando que a outra sabe o que faz.
Não é o retrato ideal da civilização, esse “estouro” de furiosos dispostos a assassinar o assassino, estuprar o estuprador e assaltar o assaltante. Na verdade nem vejo muita diferença entre nós e esses criminosos, quando queremos repetir contra eles as barbaridades que praticaram contra outros.
Dizer que devemos confiar na justiça pura e simplesmente não seria sincero. Acho que deve haver, de fato, a pressão de todos. Da imprensa e da população, das sociedades organizadas e do poder público. Mas isso deve ser feito com civilidade, até mesmo sob o risco de a justiça falhar. Aliás, o bom senso é sempre mais frágil do que a má fé. Um bom exemplo disso está na perseguição a bandidos, por bons policiais, nos centros urbanos. Enquanto o bandido não tem nenhum compromisso com a segurança dos cidadãos em volta, podendo atirar a esmo e para todos os lados, a polícia tem que pensar nisso e tomar todas as precauções para não ferir inocentes. Isso dá uma vantagem significativa ao perseguido.
Ser cidadão de bem tem suas desvantagens. Uma delas é assistir ou amargar injustiças que só seriam reparadas com outras injustiças, por causa de, entre outras coisas, a corrupção do judiciário ou simplesmente as falhas do sistema e as brechas da lei. Haverá sempre ocasiões em que o cidadão ficará impotente, porque terá de abrir mão de possíveis meios espúrios, tortos ou truculentos que seriam os únicos eficientes nessas ocasiões.
A imprensa é capítulo capital a ser analisado nesses episódios. Quando ela é criteriosa, sóbria, responsável, pode ajudar a justiça. Quando age de má fé, pensando só nos índices de audiência, leituras, acessos e resultados em espécie, são inúmeras as vezes em que a imprensa promove condenação de inocentes, absolvição de culpados e engavetamentos de processos importantes, manobrando em primeira instância essa multidão desavisada de que tratamos. Também utiliza o tráfico de suas influências, de acordo com interesses próprios e/ou dos que a mantêm financeiramente ou regem seu funcionamento.
Voltando ao foco, jamais sigamos a multidão sedenta de sangue; de vingança por mãos próprias. Multidão que não sabe o que persegue, porque age sob a hipnose da imprensa que espreme os fatos de forma cruel e sensacionalista. Se é certo que não podemos confiar nos homens que fazem as leis e regem a justiça, confiemos na justiça, por si só, como instituição essencial.

RENDO-ME


Meus escritos mais doces lhe farão justiça,
Feito missa festiva por ação de graças,
Quando as sombras de outrora saírem do peito
E meu leito for campo de sonhos fecundos...
Farei versos de amor derramados e plenos,
Sorrirei pro infinito (e será sanidade),
Porque nossa verdade há de ser a resposta
Para toda ilusão que reveste a esperança...
Já me fazes olhar pouco além da montanha,
Minha vida já ganha sentido e fluência,
Sei voar em redor da promessa que somos...
Virão pomos depôs, afinal posso crer,
Pois me sinto florir nas caladas do zelo
Com que o gelo se rende ao calor deste afeto...

FORMAÇÃO, POSTURA E MERCADO DE TRABALHO


Anos atrás, nem tão poucos assim, não eram muitos os portadores de diplomas de cursos superiores. Se já eram contáveis os bacharéis, eram bem menos os que tinham doutorado, mestrado, pós-graduação. Naturalmente, os cursos de capacitação quase não existiam, porque os diplomados sabiam que as portas estavam abertas para os seus canudos. Eram raros os profissionais qualificados, para uma carência bem maior no mercado de trabalho em todas as áreas.
Era muito maior, igualmente, a carência de professores, o que tornava um profissional de educação muito mais requisitado. Como desejo dirigir minhas considerações para os atuais futuros professores de até o 5º ano do ensino fundamental, quero lembrar que, neste caso, já vai bem longe o tempo em que um diploma de curso normal gerava frisson. Minha preocupação como educador que trabalha com esse grupo está focada na postura letárgica e no sem brilho dos olhos de maioria dos alunos. Isto sem contar com o ensino precário que já recebem de nós, por causa dos vícios e da frieza de um sistema de ensino conservador que não mantém no seu conservadorismo aquela preocupação de outrora. Preservou a hipocrisia, a fachada, mas abriu mão do pouco de que dispunha de bom, que era seu zelo por um currículo mais vasto e rigoroso e uma postura mais condizente com o magistério, enquanto o magistério passou a exigir isso bem mais acirradamente dos que o disputam.
Ainda é vezeiro o pai de aluno exigir da escola uma espécie de aprovação “no tranco”. E ele consegue isso por um bom tempo. Até que o filho termine, mal e parcamente, um ensino médio que não o proveu intelectual, profissional ou socialmente. No fim de tudo esse mesmo pai não consegue fazer o filho passar no vestibular. Caso passe, por sorte, para uma instituição tão precária quanto ele, será mal formado e depois não terá um pai que obrigue uma empresa a admiti-lo como funcionário nem a um concurso público aprová-lo. Será rejeitado com seu diploma, pela reprovação específica, um linguajar inadequado, uma postura menos ética, a falta de conhecimentos extracurriculares ou a fraqueza de caráter observada numa entrevista. Quiçá por todo o conjunto. Coisas nas quais poderia ter sido auxiliado por uma educação sem fraudes por parte da família e das instituições de ensino por quais passou.
Tenho pena de muitas normalistas que estão prestes a ser entregues às salas de aulas, sem preparo. Tenho a mesma pena dos pais que as obrigam a fazer o curso, crendo na força de um diploma que não casa com o sonho, a vontade, o dom dessa (ou desse) normalista. Mas tenho mais pena mesmo é dos futuros alunos dessas futuras professoras e da linhagem decadente que essa realidade gera. Isso denota que, pior do que o cidadão mal formado não ingressar numa empresa privada ou no serviço público, é justamente o caso em que ele burla ou fura o bloqueio das exigências. Com isso, vai ajudar a apodrecer os meios por onde passe, emperrando os sistemas e ajudando a adoecer mais e mais uma sociedade já cheia de ranço e de vícios.
Mas essa realidade fecha o cerco para diplomados vazios. A cada dia cresce o número de pessoas que perseguem boa formação. Capacitam-se, buscam conhecimentos extracurriculares, adquirem posturas sociais corretas, comportamentos éticos e visão ampla. Essas pessoas vão se tornando as preferidas dos empregadores que acordam para a necessidade de terem em seus quadros excelentes profissionais, cidadãos e seres humanos. Seria bom que os jovens em idade escolar começassem a se preocupar com isso. 

A GANHAR


Trago andanças, estradas, histórias de vida;
muito pó pra espanar me deixando legível
pros teus olhos leitores de todas as letras;
é com todas as letras que me conto em ti...
Solto muita fumaça dos fogos de outrora
e no meio das cinzas há brasa restante,
para quando zombares dos "causos" mais loucos
uma brisa de riso acender a verdade...
Sou aquele palmito na velha caiçara
que ficou esquecida na floresta escassa,
quando a "caça" parece não valer a pena...
Venho cheio de nadas repletos de tudo
com que possa entender de fazer-te feliz;
terás muito a ganhar do meu nada a perder...

CEDENTE


Sempre cedo. Embora tarde, às vezes; entretanto, cedo. Seja como for, não importa se tarde ou cedo; o certo é que cederei.
O que estou dizendo é que tardarei, se for o caso, mas nunca chegando no prazo esgotado para tanto. Com toda a possível demora, hei de fazê-lo em tempo de nenhum contratempo impossibilitar a sina.
Pois bem; o fato é que cedo. Que cedo ou tarde, e caso tarde, é que tempero a cessão. Faço isso para que a sessão de nosso filme, esse que já vimos tantas vezes, tenha fim feliz.
Caso contrário, tudo se torna uma seção fechada para o que seria muito além de nós. Um horizonte exposto.
Tardar a ceder, ceder sem tardar, no meu caso é indiferente o que for, desde que o resultado justifique. A verdade é que cedo. Cedo cedo. Cedo tarde... Porém cedo. 

PELO AMOR EXCEDENTE


Pode ser que te perca em razão das ausências;
que diluas o viço do teu sentimento
e me queiras de fato à distância e sem rosto;
renuncies ao gosto que sonega o cheiro...
Mas te peço assim mesmo que alongues a espera,
ponhas nessa esperança um pouco mais de adubo,
não desbotes o rubro da brasa em teu peito
nem a sã primavera que a nevasca esconde...
Caso tenhas perdão, por amor excedente,
lá na frente uma estrela reserva o seu dom;
lado bom que nos resta e pode ser pra sempre...
Saberei, entretanto, pagar qualquer preço;
porei fundo no peito pra cobrir o cheque
emitido ao teu xeque na hora da conta...

SALVADORA


Busco aquela magia que perdi ou pus
numa cela que tranca essa graça do indulto,
sei que nada em meu íntimo tem feito jus
ao sorriso nos olhos, tido como indulto...

Quero alguém que me tire da sombra em que oculto
minha rama de afeto que foge da luz,
para ver se revivo; deixo de ser vulto;
se desfaço este clima de calvário e cruz...

Uma dama que salve o meu turvo destino,
não me deixe dançar esse tango argentino
de minh'alma insensível para meu clamor...

Que me leve a romper o semblante soturno
e me faça lembrar do meu banho noturno
pra dormir ao seu lado, após fazer amor...

ALÉM DE NÓS


Vejo dias de calma no amor que nos ata,
perco a data prevista pro fim que se oculta,
sinto até que os remendos talvez dêem certo
e nos acho mais perto, ao alcance de um sonho...
Quero assim como há tempo não posso querer,
tantos nãos de repente desaguam num sim,
nossos cacos agora se tornam coláveis
numa vida que acorda e de novo se arvora...
Creio nisto e me lanco apostando sem medo,
fica cedo pro quanto era tarde demais
pra tentar ser feliz estancando este pranto...
A loucura bem-vinda que achamos por bem
adotar até quando não se sabe ainda,
vai além de nós mesmos num vôo feliz...

HERÓIS REAIS


Meus heróis não circulam pela mídia;
não encantam platéias, grupos, classes
nem ostentam ostentam prodígios, lançam livros
ou têm títulos, honras e patentes...
Amo gentes, não mitos ou legendas;
busco essências, as almas verdadeiras, 
nunca os shows, os desempenhos, rompantes
dos que moram nos sonhos distorcidos...
Eis meus ídolos, todos na penumbra,
no silêncio e talvez no esquecimento
que lhes faz um favor, um bem tamanho...
Busco exemplos que nunca premiaram,
dos anônimos monstros mais sagrados
que os gigantes da história universal...

PROFESSOR NÃO; EDUCADOR SIM


Por muitos e muitos anos a escola reproduziu da sociedade a máxima de que a educação vem de casa. Vinha mesmo, a educação conveniente aos professores da época: Crianças menos informadas pela mídia então escassa; desprovidas de direitos e obrigadas a se comportar bem cedo como adultos. Aceitavam dos pais a educação pelo castigo, a humilhação e a surra, e chegavam ä escola de "cristas baixas"; quietinhas; reprimidas; sem autoestima. As que eram um pouco mais ousadas amargavam mais torturas físicas e psicológicas impostas pelos professores e permitidas pelos pais, para aprenderem a aprender sem voz nem vez.
Cresci como os de minha geração, e mais ainda os de gerações anteriores, tendo na imagem do professor aquela pessoa que ensinava a ler e escrever, encaminhava para futuras corridas mercadológicas, ainda que na base do cacete, e tinham nisto sua missão cumprida. Fui reprimido como a maioria das crianças quietinhas; boazinhas; "um amor". O que recebia o rótulo de boa educação era produto de uma tirania que contava com o silêncio legal da lei, a falta comum de informações e a "bênção" que reproduzia o caráter de um sistema político repressor.
A realidade sempre cruel para crianças e adolescentes, naquele sistema e também no atual, mudou o conceito e de certa forma a nomeclatura genérica do profissional da sala de aula. De forma mais ampla, ele já não é o professor. Pelo menos apenas o professor. Muito embora não deseje assumir na prática esse papel, ele agora é o educador: Deve ser mais do que um mero reprodutor de matérias ou conhecimentos formais. Ensinar e se fazer imitar pelo aluno, com exemplos pessoais de brandura, moral, comportamento ético, exercício real de solidariedade e muito interesse pela vida doméstica do aluno, a fim de ajudá-lo até mesmo nos dramas e conflitos familiares, dentro do seu raio de alcance. O educador já não forma apenas o indivíduo letrado, o futuro profissional. Forma (ou teria que ser assim) o cidadão. A pessoa que tem um mundo pela frente, uma sociedade complexa e multifacetada para a qual os pais já não querem preparar, nem mesmo de formas distorcidas como faziam nesse passado nem tão remoto.
Se com toda a ignorância, rigidez exacerbada e truculência as famílias conseguiam conduzir seus filhos e entregá-los à escola e à sociedade pelo menos domesticadas, simplórias e servís, hoje nem há família, de uma forma geral. Nem mesmo a falta de clareza, escolaridade e cultura em seu contexto formal conseguia levar os pais a abandonar os filhos, entregando-os à própria sorte, ainda que dentro de casa. Hoje o índice de abandono é assustador e global: Muitas crianças nas ruas, sem casa e família, e muitas abandonadas dentro de casa, sem atenção e cuidados. E isso ocorre em todas as classes sociais, fazendo com que essas crianças sejam regidas pelos conceitos perversos da mídia e sua distorção de valores essenciais para a nossa vida.
É essa presença, em forma de atenção redobrada; uma palavra mais branda; um olhar menos frio, impessoal e distante; um gesto solidário; a compreensão das limitações do aluno, gerando mais oportunidades, que o educador deste século tem que ter para dar. Tal presença qualitativa, em seu tempo disponível, é que faz do profissional de ensino interessado em um mundo melhor (somente esse profissional) o ícone do resgate fundamental da cidadania em tempos de grande concorrência desleal. Concorrência da mídia e da criminalidade que atrai o jovem com promessas de poder econômico e de vingança contra uma sociedade que o despreza e pretere desde os pais, e não tem tempo para sequer perceber que está pagando caro por isso.
Embora mal remunerado, renegado pelo poder público e sem o devido reconhecimento de todos, o educador atual tem que ser excessão capaz de fazer com que o bom cidadão do futuro não seja excessão. Aliás, ele deve pensar menos no presente, na sua condição de profissional injustiçado que é, e pensar no futuro, a partir da consciência de que seus filhos, netos e extensões estarão lá. Exatamente no mundo viável ou não, que o educador pode legar para eles, legando para os demais. Neste aspecto, há que se ter pelo aluno a mesma preocupação que se tem por um filho e esquecer os bordões correntes nas salas de professores, como os clássicos "não sou babá de ninguém", "não sou pago para isso" e tantos outros da mesma linha.
Temos que parar de reproduzir o comportamento dos governantes, que sabem já nas campanhas para os cargos, de todos os problemas que terão pela frente, se eleitos, a exemplo dos cofres vazios e a velha "casa desarrumada", mas assim mesmo lutam pelo poder... Depois de eleitos, começam a justificar sua inércia, sua falta de ação e o não cumprimento de promessas feitas, usando exatamente esses problemas que se propuseram veementemente a enfrentar. São públicos e gritantes os entraves e as injustiças enfrentadas pelo educador. No entanto, a cada concurso público para o magistério milhares e milhares de pessoas se dispõem a encarar o desafio, pagando as taxas; fazendo as provas; enfrentando os processos seletivos desumanos... Depois se tornam somente professores precários, com a justificativa dos percalços que são do conhecimento de toda a sociedade.
Temos que assumir com totalidade o nosso compromisso profissional, cidadão e humano com o educar. Com esse futuro que está em nossas mãos e na expectativa de cada criança, adolescente e jovem. Uma expectativa que se frustra em casa e recai no educador que não pode "fingir que atua enquanto o governo finge que paga". Precisamos cobrar do poder público e com as "armas" certas de luta e reivindicação, que ainda não sabemos quais, porque todas as que foram usadas falharam. Dessas armas, porém, não podem sair as balas perdidas que matam as esperanças desse futuro com o qual juramos sonhar, porque acertam no coração da ideologia escondida em nossos filhos e alunos. É aí que nos tornamos criminosos sociopolíticos, ainda que sem intencão de matar.
Se esse poder público perverso que nos tange como aos bois (porque sempre os devolvemos ao poder) comete os mais hediondos crimes dolosos contra as cidades, os estados, a nação e o mundo, não cometamos nem mesmo os culposos. Com essa consciência é que poderemos formar, em grande quantidade, cidadãos capazes de transformar o sistema. Poder público melhor, país melhor; planeta viável. Tudo isso aos cuidados do educador, que não pode  se dar ao luxo de apenas ter curso superior. Tem que ser também superior... Ainda que sofrendo por isso.

AFLIÇÃO PATERNA


Meu inferno aqui mesmo é senti-la sofrendo;
É levar ao seu rosto a costela da mão
E saber quantos graus o desenham prostrado;
Ler nos traços tristonhos um não entender...
Dói notá-la indolente ou alheia pra tudo;
Sem as artes e birras que “tiram do sério”;
Flexível, cordata e de fácil tangência;
Dócil como as ovelhas que vão à tosquia...
Quero as birras de praxe, a teimosia, o choro
Sem o soro que ateste a razão de chorar,
Ou a lágrima insossa e de rápido estio...
Fique logo impossível, voluntariosa;
Minha rosa selvagem de breves humores;
Minha flor que me arranca e põe à flor-da-pele...
... Só não dá pra ficar de coração na boca...

POEMA MENOS POÉTICO


Mesmo só, eu sou quem sou;
Só seria muito mais,
Se meu mundo lhe somasse
Às sementes do meu chão...
Ando verso cuja frente
Se mantém, mas perde a graça,
Uma praça que a procura
Entre os bancos ocupados...
Sei que vivo sem você,
Mas a vida não tem dó;
Marcha em ré sem mi nem fá
E se perde lá no sol...
Feito notas sem seqüência
Torno insanas as canções,
Desafino quanto ao sonho
De algum dia ser feliz...
Mentiria, na verdade,
Se pusesse mais poesia;
Sou inteiro sem você,
Mas prefiro não ser só...

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A EDUCAÇÃO COMO PARCERIA


Criança não ouve os pais. Observa-os. Os filhos sabem, como ninguém, avaliar a coerência ou as contradições entre o que é dito e feito não só pelos pais, mas por todos os adultos com os quais convivem.
Quem acha que educa os filhos agredindo verbal e/ou fisicamente se engana. Pode até amansá-los dentro de casa pelo medo, a coação, mas cria pessoas problemáticas para o convívio nas ruas, na escola e nos outros meios sociais. Que se vingam depois, das agressões que sofrem, sabendo que são manifestações da hipocrisia daqueles que não têm argumentos convincentes para para o que exigem mas não vivem. Querem que os filhos sejam, como pessoas, o que eles não sabem ser.
Como é, inevitavelmente, uma espécie de extensão das famílias, a escola surte efeitos similares na vida da criança e do adolescente. O professor lhe ensina o que sabe de sua disciplina, mas ensina a reboque o que ele é: Gentil ou agressivo; respeitoso ou debochado;
ético ou antiético; longânimo ou precipitado; generoso ou mal; solidário ou egoísta. No mesmo passo, o aluno aprenderá a ser aplicado ou displiscente, a partir de suas observações de quem a princípio, até que se prove o contrário está ali para educá-lo.
Muitos educadores sofrem com turmas indisciplinadas, desatentas, mal humoradas e agressivas, exatamente pelo que são, que deteriora o que sabem. Às vezes são excelentes professores mas não conseguem formar cidadãos, pessoas sãs e felizes, mesmo quando formam bons profissionais.
A verdade é que um grande número de educadores ainda nem acordou para uma importante mudança de conceito que a realidade ocasionou. O termo professor (aquele que ensina, reproduz conhecimentos fromais e científicos) foi substituído pelo termo educador (aquele que educa; forma cidadãos; é parceiro dos pais; da família). Pena que o conceito mudou, mas postura de todos é a mesma.
Parceria é palavra de ordem na educação. Se a família, os educadores e a sociedade se unirem para uma formação global e continuada de nossas crianças e adolescentes, o futuro surpreenderá.

QUE ASSIM SEJA


Tenha sempre a certeza do amor que me nutre,
que se esgueira do abutre que ronda os meus dias,
pra chegar ao canteiro das tuas entregas
e viver o que um dia nem pude sonhar...
Trago a prenda emotiva que responde à sua,
para juntas comprarem pedaço do céu,
muito além dessa lua que rege o sentido
que o que somos fazia desde a inexistência...
Nosso amor fura os cercos e vence a distância;
faz florir a beleza que rompe os estercos
nos temores do chão que não quer se render...
Quando quase me rendo ao saber que duvida,
ponha vida nos olhos e me faça ver
um futuro infinito, mesmo que não seja...

OBRA-PRIMA

A escola forma, a vida reforma e tudo sempre recomeça. Estamos sempre em construção, até que a morte assine as obras-primas que fomos... Ou não fomos.

DESEDUCAÇÃO


Enquanto algumas escolas dizem que a educação vem de casa, referindo-se ao caráter comportamental do aluno, e com isto se recusam a ensinar-lhes noções de vivência e sociabilidade além do currículo, muitos pais estão se negando a contribuir com a educação escolar, como se fosse atribuição exclusiva dos professores. Com isto, entregam seus filhos à própria sorte, mais como uma forma de se livrarem do estorvo que eles parecem ser.
A falta de interesse, de acompanhamento, conversa e apoio nos afazeres faz com que o estudante não desenvolva sua auto estima. Seus pais não têm interesse em saber como estão, então "tá': Eles também "não estão nem aí" para isso. Assim, os pais se livram dos filhos por algumas horas e a escola e a escola os tolera até o momento de devolvê-los, e é só. "Lambam os beiços" ambas as partes. Enfim, o desinteresse é permitido a todos, porque ninguém quer se sentir sozinho com um problema como este nas mãos.
Está todo o mundo "muito ocupando", acumulando adrenalina do dia a dia laboral, cheio dos próprios problemas e não pode perder tempo com a preguiça, a indolência, o pouco caso de um moleque (ou moleca) a quem "tudo" já é dado: Comida, roupa, às vezes mensalidade, clube e cinema. Só que o reflexo do possível (e até provável) amor não aparece no minuto de atenção, na solicitude, no auxílio, no apoio. Os pais já trabalham muito, os professores têm outros alunos, a escola outros problemas a resolver e ninguém pode ficar em torno deste ou daquele caso sempre dito isolado.
É aí que as ruas ensinam como querem, a mídia distorce os valores, os mal intencionados os levam para seus caminhos e não conseguimos mais resgatar aqueles que não amamos com atitudes, gestos, ações. Amamos, até, mas nosso amor não tem olhos, ouvidos, braços, pernas, colo. A criança e o adolescente são presas fáceis de facínoras, quando estão carentes, quando se sentem abandonados, menos importantes do que coisas, afazeres nem sempre imprescindíveis ou inadiáveis.
Enquanto isso, a televisão mostra que estudar é supérfluo. Que alguém é bem sucedido (e neste conceito o ser bem sucedido só envolve fama e riqueza) jogando futebol, sem ter frequentado uma escola. Bastou à moça mexer bem os quadrís, a um outro ter soco poderoso ou cantar bem. Tudo louvável, de fato, mas a mesma televisão não mostra que são casos esporádicos, fenômenos, e carimba esse conceito de que o saber pouco importa. Não presta nem o favor de deixar perceber que a educação, por si só, já faz do ser humano pessoa bem sucedida, por entender melhor e decodificar o mundo em que vive. Há inúmeras pessoas ricas e famosas, que não são felizes porque não têm noções e princípios de cidadania. Sequer sabem a que vieram. Só ganham dinhero. 
Também não munimos nossos filhos de livros (bons livros), material didático adequado e hábitos culturais desde cedo. Podemos comprar os tênis e as roupas da moda; a "bike" e a Honda Bizz; os patins e os ingressos para o Águas Quentes, mas achamos caros os livros. Com esperarmos então, que eles valorizem livros, teatro, artes plásticas, boa música? 
Aos filhos reprovados na escola, recriminamos e até punimos. Quando são aprovados de qualquer maneira ou por méritos próprios, premiamo-los por terem conseguido a façanha sem nos aporrinharem. O que não notamos é que eles se formam à revelia, sem preparo prá vida, em si, pois ninguém lhes ensinou a ser cidadãos, em essência.
Enfim, pela negligência dos pais que não acompanham o desempenho dos filhos e não interagem com os professores e a escola em um todo é que os filhos estão sendo alfabetizados no quinto, sexto e até no último ano do ensino fundamental, quando tanto. Fazem um ensino médio inapto para ingresso nas boas universidade e se tornam (também quando tanto) em estabelecimentos tolerantes, bacharéis em direito que nunca serão advogados; médicos que nunca medicarão ou serão anjos da morte; arquitetos que jamais assinarão com propriedade ou serão responsáveis pelos PALACE II (lembram?) de Sérgios Naya da vida.

JAPONÊS DA PÁTRIA É FILHO


Assustei-me com matéria recente que mostrava executivos japoneses fazendo curso para aprender a sorrir mostrando os dentes, como fazem os brasileiros. A intenção, abrir portas para conquistas mercadológicas pelo comportamento expansivo, a simpatia brejeira e a lábia (esta última, por minha conta).
Não vejo o que os japoneses tenham por aprender conosco em termos de conquistas desta natureza. Devo ainda confessar que sou fã extremado da simpatia polida; o sorriso brando e sincero que banha os lábios e os olhos do japonês; a humildade nunca simplória dessa gente; a honestidade que a caracteriza, sobre todas asa coisas, além de sua disciplina e seu apego ao trabalho.
Esse conjunto formidável de qualidades humanas e laborais foi que levou os japoneses a renascer das cinzas e da poeira atômica, reconstruir o país do nada e torná-lo a potência que hoje é. Tal conjunto abriu o mercado mundial, ganhou prestígio e confiança e pôs o Japão no mesmo grupo, em termos de progresso, do país que o destruiu.
É o brasileiro que tem muito a aprender com o Japonês, para ganhar corridas mercadológicas em todo o mundo. Inclusive a sorrir com mais brandura e sinceridade, mostrando menos a dentadura e mais a transparência dos olhos. Há que se aprender da humildade e da gentileza; do espírito pacifista e da paciência; da superação pelo trabalho e da solidariedade que esse povo desenvolveu.
Os japoneses não precisam, pela natureza do seu humor, temer "ocidentes" de percurso que lhes fechem as portas. Nós é que precisamos tanto nos orientar quanto nos orientalizar com eles na busca de horizontes e de um futuro que sorria para os nossos sonhos.
Foram eles, não nós, que desenvolveram receitas de vida após a morte. Transformaram a "rosa radioativa" em couve-flor. Fizeram de seu país, particularmente, um MUNDO melhor para se viver. E se hoje sorriem para nós, não de nós e do nosso sorriso comercializado, é porque são gentis e se condoem do quanto rimos de nós mesmos e do nosso escombro sócio-político.
O Japão, entre todas as nações acolhidas Brasil, é talvez a única potência que não precisamos temer. Trata-se de um país que planta sua tecnologia, sua sabedoria agrícola e outros conhecimentos entre nós, como política de partilha e troca. Jamais como táticas de monopólio e dominação pelo poder econômico, religioso ou bélico.
Aos imigrantes da "terra do sol nascente", o sorriso gratuito de cada brasileiro que reconhece o seu valor e as contribuições, entre elas a cultural. Por feliz coincidência, um dos nossos mais belos hinos tem no primeiro verso o som de "japonês da pátria é filho...".

SAMPATIA


Amo Sampa, que sempre detestara, 
Porque nunca disseram que existias
Como flor que ameniza a sisudez 
Dessa terra sem tempo pra ter flores...
Também tinha essa cisma de que Sampa
Não rimava com samba nem candura, 
Sem saber que a leveza do seu riso
Raia nesse horizonte agora novo...
Hoje deixo aflorar a “sampatia”
Da minh´alma que enfim vê alma em Sampa;
Hoje acampa de longe em seus contornos,
Vendo graça nas graças que são tuas...

ECOLOGIA SEM ECO


O "leão mais manso do mundo", apresentado com grande alegria no fantástico me entristeceu. Alegrou muita gente boa, que vive pregando amor à natureza, mas me causou profunda consternação. Leões não podem ser mansos. Eles são ferozes, predadores, guerreiros. Torná-los mansos é roubar sua dignidade (isso mesmo; os animais também têm dignidade).
Posso afirmar sem medo, que o leão mais manso do mundo tem tudo para ser o leão mais infeliz do mundo. Está fora de seu habitat; sua natureza está distorcida; está sem identidade. Tornou-se animal doméstico, para satisfazer o capricho de madames; fazer um mimo nos filhos dessas madames; dar fama e prestígio a ecologistas de mídia, que dão tudo por uns momentos de flashes e holofotes, justificando seus desvios ao dizerem que esses animais não estão preparados para a devolução à selva. Quando estarão, se passaram a ser criados como gatinhos? Um animal selvagem que praticamente escova os dentes jamais terá condições de retornar ao convívio, se está sendo civilizado. Se está se "educando" para viver entre os seres humanos.
Aceito a pecha de radical, mas afirmo que plantas não nasceram para viver em vasos; pássaros não nasceram para gaiolas. Sei que todos esses costumes têm explicações que as conveniências pessoais criaram. Nessas explicações entram o bom gosto decorativo, a tal assertiva de que os canários não saberiam viver no mato e muitas outras impropriedades.
Infelizmente, a consciência ecológica não é uma prática, nem mesmo entre os ecologistas, de uma forma geral. É uma teoria glamurosa; que dá status, prestígio, palestras lucrativas e bons empregos. Ecologia sem eco em seu princípio fundamental de preservação.