quarta-feira, 29 de maio de 2013

INIMIZADES BEM-VINDAS

Considerando as razões que levam os políticos de minha região a se tornarem meus inimigos, posso dizer que me orgulho das inimizades que tenho. Vexatório seria concluir que os seus ideais (os verdadeiros e ocultos) casam com os meus.
É bom saber que a ignorância me rejeita. Que a corrupção se esquiva de mim. Que a mentira tem medo dos meus olhos e a hipocrisia se sente nua, desmascarada e sem chão, quando se depara com a minha intransigência. Com a intolerância que não consigo disfarçar por interesse qualquer.
Sempre que dou a um desses políticos a chance de provar que é um cidadão decente, a sua má índole acha uma forma de virar o jogo e se melindrar com franqueza exposta. Quando acha que a transparência que lhe peço é um jogo duro demais, recolhe as cartas marcadas de sobre a mesa, e faz dessa mesa o esconderijo pretensamente perfeito para nunca mais se flagrar no espelho de minha expressão.
São muitos, os defeitos que tenho. Incontáveis, até. Sou turrão, tenho manias não louváveis, comportamento bem longe do convencional, cometo erros imperdoáveis... mas não engano a comunidade. Não sonego aos jovens de onde vivo, atalhos para o conhecimento. Não boicoto o fazer artístico local... a manifestação genuína de nossa cultura. Nem manipulo receitas públicas ou acontecimentos comunitários de acordo com interesses estritamente pessoais. Jamais negocio com a mentira.
Costumo dizer que não me julgo melhor do que ninguém. Reafirmo esse dizer, mas quero salientar: quando faço tal afirmação, me refiro a cidadãos comuns. Deixo de fora os políticos... pelo menos os políticos de minha região.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

ESPERANDO POR VOCÊ

Aprendi a saber que você vem
quando minha saudade já se cansa,
minha velha esperança perde as asas
e me perco nas horas do meu caos...
Resolvi esperar por sua vinda,
como frutos aguardam seus outonos;
cães sem donos aguardam quem os queira;
uma linda poesia quer canção...
Hoje o céu amanhece mais azul,
norte a sul de minh´alma profetiza
que terei o seu sol na minha casa...
Comecei a sorrir pro meu espelho,
porque vejo seu rosto à flor do aço
e seu passo já pulsa no meu peito...

sexta-feira, 24 de maio de 2013

ORAÇÃO DISTORCIDA DO AMOR SEM ECO

Ninguém jamais ouvirá de mim o clássico "não tem problema se você não me ama; eu te amo por nós dois". Não; não amo. Amo por mim. E não procuro "amar mais do que ser amado; perdoar do que ser perdoado; compreender do que ser compreendido".
Só o amor que vem de fora é capaz de alimentar o amor que tenho aqui dentro. Aprecio a mão-dupla, e tem que ser natural; sem nenhuma demão de qualquer tinta de um querer sem querer; um amar sem amor; um dar sem doar... ter por ter.
Constrange-me aquele sorriso ralo de gentileza ou a simpatia do adeus gradativo. Dou sempre o "fora", bem ates de levá-lo da covardia; do temor de quem não quer, mas não quer falar com a palavra do querer já prometido.
É dando que se dá. Recebendo que se recebe. Tendo, que se tem. Ninguém tente me vencer pela desistência. Pela tática do tato, dos palpos e das meias palavras. Nem me peça, em silêncio, para ter pena da pena que acaso tem, de assumir que tudo não passou de nada.
Ninguém deve temer a culpa nem a pecha de ser quem desistiu. Quem ateou fogo em palha. Não há como atirar sem ferir. Como detonar as relações e assinar o tratado dessa paz que todos querem ter na consciência.
Não. Isso não é mesmo possível. Não se faça de mim o "instrumento dessa paz". Ou dessa passividade.

terça-feira, 21 de maio de 2013

SE FOR ADEUS, QUE ASSIM SEJA


Será fácil mostrar, se já não der;
basta ser verdadeira e contundente;
não olhar de viés e sim de frente,
para um homem que olha uma mulher...

É bem simples dizer que simplesmente
sua flor acabou no malmequer;
fomos algo fugaz, vento qualquer,
um amor que nasceu pra ser poente...

Não invente um silêncio soletrado,
nem palavras que passam por um fio,
pra dizer sem dizer: tudo acabado...

Se tiver de voar, siga os pardais;
vá em busca de um novo desafio;
nunca é tarde pra ser tarde demais...

VAIDOSA HUMILDADE


Quem perdoa tudo e todos, indiscriminada e prontamente, ao ponto extremo de violar sua autoestima. Seu direito à mágoa. Seu tempo de perdoar. Quem institui para si próprio esse torneio da virtude, visando grandeza pessoal, perfeição humana e supremacia, deve ter cuidado.
Alguém que perdoa tanto, e de forma tão arrogantemente humilde, acaba também se perdoando por tudo, por se julgar perfeito; imaculado; superior. Jamais reconhece um erro próprio, e não desenvolve a virtude real de se retratar; se redimir; exercer sua humanidade... pedir perdão

sexta-feira, 10 de maio de 2013

A MÁGICA DO AMOR

Descobri que sou mágico. Que na verdade, somos todos mágicos. Quase sempre não percebemos, mas a evidência deste nosso poder está em atos do dia a dia. Em gestos como sair entrando. Ficar preso do lado de fora. Chorar pitangas. Lavar dinheiro. Abraçar o mundo. Passar borracha no passado.
Muitos mágicos pisam em sentimentos. Fecham o tempo. Fazem tempestades em copo d´água. Cospem marimbondos. Morrem de amor e continuam vivos. Engolem barriga. Roubam cena. Têm arroubos inexplicáveis que asseguram espetáculos inusitados.
Também acho impressionante quando realizamos truques como gritar baixo, soltar fogo pelas ventas, andar correndo, ter a cabeça nas nuvens e até perdê-la, embora mantendo-a sobre o pescoço. É ainda impressionante conseguirmos dobrar esquina, cortar o coração sem abrir o peito e receber todo o mundo em nossas festas.
Somos mágicos ainda mais espantosos, ao lavarmos a honra; vendermos a alma; dirigirmos a palavra; quebrarmos o silêncio; jogarmos buraco, fazermos das tripas coração. Do mesmo modo, ao rasgarmos o verbo, abrirmos a mente, voarmos no pensamento e distorcermos os fatos.
Mágicos mais arrojados vendem ideias, mostram a realidade, escondem o pulo do gato, abraçam a sorte e conseguem achar chifres em cabeça de cavalo. Já outros, fazem o diabo; jogam piadas; têm língua de trapo e mão de vaca.
Sendo mágico apaixonado, vejo o mundo cor de rosa, por sua causa. Entrego-lhe minha vida e nasço a cada manhã com os olhos cheios de flores. Tiro sempre da cartola uma nova declaração de amor e me ponho em suas mãos, afinal, cansei das minhas... não quero mais ordenhá-la em mim, pois aqueles momentos não eram mágicos... aquela mágica não tinha magia.

terça-feira, 7 de maio de 2013

DONA DE MIM

VIRA, VIRA, E VIROU

Samara não estava em seu melhor dia. Pior para Catarina, que teve de suportar um desabafo enfadonho, e para não deixá-la mais furiosa do que já estava, fingir que o assunto lhe convinha.
- Pois é, Catarina; eu não aguentava mais ficar calada! Estava pelo pescoço com a Marta, e naquele dia não fiz por menos: virei pra ela e disse tudo o que estava preso; desabei.
- E o que foi que ela fez? Ficou calada?
- É claro que não. Virou pra mim e falou que eu era injusta; que as coisas não foram bem assim; tentou se justificar.
- E você não aceitou a justificativa, o argumento dela?
- Mas não aceitei mesmo! Virei e disse que nada justificava o que ela fez!
- A Marta se deu por satisfeita?
- Que nada! Virou, com a maior cara-de-pau, e respondeu que teve seus motivos, mas que mesmo assim pedia desculpas, para não perder minha amizade.
- E você não desculpou? Pelo menos ela foi humilde!
- Eu, não! Virei e fui categórica: não desculpava nem reconhecia seus motivos. Chamei-a de cínica!
- Pegou pesado, Samara... ficou por isso mesmo?
- Aí ela reagiu. Virou e gritou que a cínica era eu... que agora já não fazia questão de me convencer, e ainda por cima, virou e me chamou de patricinha mimada... vê se pode?
- Já vi que não prestou... - disse Catarina, só por dizer, pensando em como sair daquela conversa.
- E não prestou mesmo! Virei, sem meias palavras, e a xinguei de tudo que me veio à cabeça!
Catarina já estava cheia daquela conversa; em especial, da repetição completamente desnecessária... mas graças à repetição, encontrou uma forma brincalhona de sair, sem ofender nem irritar muito... só um poquinho...
- E aí; o que aconteceu? Não; nem precisa dizer; eu até já sei!
- Áh é, Rubenita? Sabe mesmo? Então fale; quero ver se você acerta!
- Vocês viraram tanto, nessa discussão, que nem aguentaram se pegar... ficaram enjoadas e acabaram vomitando juntas.
- Quer saber de uma coisa? Vai te catar, Catarina!
Decepcionada, mesmo sem muita revolta, Samara "virou" e foi embora... sem nem virar para trás.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

ALMA PARTIDA

Aprendi a sentir o sabor do futuro,
nos avisos que chegam pelas entrelinhas,
nesse tom obscuro que diz e não fala
e nas minhas antenas de furtar segredos...
Captei desde cedo que já era tarde
pra querer algo mais que seu simples carinho,
que a leveza do vinho comedido e raso,
por amostra gratuita do que não será...
Mesmo assim me proponho a viver este amor,
dar a minha verdade pela cor do sonho
com que possa pintar o meu flanco afetivo...
Afinal do que vivo, senão de sonhar
que minh´alma partida encontrou seus pedaços,
pra depois me quebrar em pedaços maiores?

EU ME QUERO