sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

BOTANDO TIRADAS


AO AMOR

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Desde quando lhe vi quis perder a visão,
pra não ser atraído com força tão bruta;
pra não ter ilusão e bater a cabeça
numa dura verdade; uma pedra de quina...
Foi assim que me vi como nunca me olhei,
um menino perdido na maturidade,
uma falha na lei de acompanhar os anos
e passar do passado, educar os sentidos...
Mas aí já tombara vencido por mim,
dei um fim aos princípios que me conduziam,
e um sim ao momento que o tempo dispunha...
Resolvi que lhe quero; não quero, mas quero;
foi um susto que nunca resolvi tomar,
e daí pra lhe amar é questão de viver...

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

EM NOME DO FILHO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Se puder inocule a sua mágoa
na minh´alma, no vão do meu amor,
onde a dor que vier será bem-vinda,
se deixar de roer seu coração...
Sorrirei por chorar na sua vez,
sofrerei com alívio e bom humor,
sendo leve o pesar; doce a ferida;
dou a vida em razão do seu momento...
Deixe tudo fluir na minha veia,
minha teia segure seus fantasmas
ou ao menos os prenda em meu porão...
Sou feliz por não ser, se você for;
será flor cada farpa, cada espinho
que deixar seu caminho pelo meu...

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

MEU GRANDE HUMOR

Demétrio Sena, Magé - RJ.

O bom amor que percorre
a luz serena em meu rosto...
meu olho raso de fundo
que seu olhar jamais vê...
é minha prova diária
de que não perco meu gosto
pela vida e pelo mundo...
nem meu humor por você.

ILUSÃO ACADÊMICA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Os felizardos eleitos,
depois dos atos formais,
podem morrer satisfeitos;
agora são imortais.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

ROMA FRIA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Ao abrires a porta deixa entrar
ou não abras, te faças prisioneiro,
te condena, te põe na solitária
desse cheiro de amor apodrecido...
Se levaste um sorriso ao teu semblante,
uma leve menção do beijo ao lábio,
será sábio manteres o momento
e talvez teu pedaço do infinito...
Vive agora o que o tempo logo anula,
pois quem pula seu dia, sua vez,
faz do quanto não fez um flanco exposto...
Sente o gosto, não vive desse aroma,
tua roma jamais incendiada
já cansou de não ser reconstruída.

SIM À VIDA


ESPELHO SOCIAL


domingo, 23 de fevereiro de 2014

HOMEM DE VIDRO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Sou de ser o que sou, assumir o meu ser,
ou estar quem estou; me deixar diluir,
para ir e voltar de um extremo pra outro
e fluir na meada; no fio; na rota...
Sempre fui de mostrar a fachada e o avesso,
mas pareço esconder, pelo tanto que mostro;
pelo quanto é difícil dar crédito ao vidro
que revela de graça o seu puro teor...
Minha dor é retrato na parece nua,
meu amor é a rua; parquinho; coreto;
é folheto que as mãos nunca levam aos olhos...
Ser assim me transforma em promoção vulgar;
tão vulgar que me faz transparente mistério;
um lugar-tão-comum, que bem poucos conhecem.

CRIADORES DE DEUS

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Há um Deus disponível pra cada esperança;
para cada criança que sempre será;
Ele mora no sonho de um mundo sem dor,
num andor que seduz as fraquezas humanas...
Deus reside na fé dos que desejam crer;
dos que temem perder alegrias dispostas,
querem prontas respostas pra suas angústias
e precisam voar, pois o chão tem espinhos...
Somos todos carentes do Ser Criador;
garimpeiros do amor, dos cuidados de alguém
que sublime os cuidados de seres comuns...
Cada um cria Deus como a sua expressão,
sua imagem, su´alma, seus olhos internos
ou infernos e céus de seus dias aqui...

BEM VIVER

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Ao sair, feche a porta.
Mas deixe braços abertos,
para o caso de voltar.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

DIA DE GENTE

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Acordei ocupado. Bastante ocupado, esteja ou não, pois agora é a minha vez. Para me convencer disto, fui direto ao espelho e disse ao próprio reflexo: perdão, estou sem tempo; indisponível; pelo pescoço. 
Resolvi ter meu dia de "qualquer dia destes a gente se fala", como todos os dias todo mundo tem. Pelo menos todo mundo que eu conheço. Quero degustar o sabor de ser um anjo agridoce, que mistura simpatia com arrogância. Então assumo postura de grandeza humilde; realeza devidamente contida, que acolhe com um "chega pra lá"... mas com um gesto para lá de polido. Carinho superior, como se espera de quem é ou pelo menos está sofisticado, para quebrar a rotina.
Hoje lanço meus ares de bravura mansa. De quem gira discretamente numa cadeira de gabinete; sopra espirais de fumaça; reclina e declina de qualquer convite, bate-papo, talvez conversa fiada, pois hoje, qualquer conversa é fiada para o meu discreto assoberbamento. 
Quem puder me perdoe, mas também tenho essa humanidade que me faz deus, de vez em quando. Quase não a utilizo, pela pretensão de não ser pretensioso. Pelo temor das perdas que sempre vêm na carona desse deslize, porque já me consagrei como pessoa simplória; caipira disponível; poetinha carente; quase não pessoa.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

RECADINHO SAMURAI

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Não aceito a não resposta;
nunca fui João Batista;
jamais preguei no deserto...
Gosto apenas de quem gosta,
quem se mostra, deixa pista,
leva o peito sempre aberto...
Se me sinto, faço bem;
é a velha e boa dica
da minh´alma samurai...
Só caminho pro que vem;
me disponho pro que fica;
dou adeus ao que se vai.

CADEIA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Ver um político discursar em cadeia nacional desperta uma fantasia em mim: a de que ele está em cadeia nacional de segurança máxima.

DE...

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Deputado não quer saber de trabalho... só quer saber deputada.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

LAR

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Cabe ao sonho tão somente
ser semente,
porém temos que ser chão.
Os amores que se prezam
não existem sem o fogo
da paixão.
E quem ama se permite
criar asa,
mas o chão está no ar.
Cabe à casa nada mais
que ser casa;
só nos resta ser um lar.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

BOM APETITE

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Tome posse do sonho e se torne viável,
pois não tem que ser sonho a se perder da vista;
sou a pista vazia ou a dança deserta
que lhe pede socorro para ter sentido...
Venha logo e me ocupe com seu desempenho
e me faça existir como ainda não fiz,
pra morrer de feliz e de viver além
do que tenho notícia; do que sei que dá...
Coma sua iguaria, pois ela escasseia,
se digere sozinha no vão da vontade;
vira ceia do abismo; da boca do fim...
Raspe o tacho do sim, lamba os beiços, os dedos,
tenho medos curtidos em óleos e cheiros
que me servem na mesa de sua paixão...

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

MATRIMÔNIO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Então diremos no altar,
aos olhos da romaria:
- Eu te recebo, José...
- Eu te recebo, Maria...
Nossos olhos nosso mundo,
as alianças nos dedos.
Vou jurar fidelidade, 
vais prometer que a verdade
será nosso segredo. 
Depois faremos promessas
ante as estrelas; a lua...
Sem testemunhas humanas,
vai ser a minha palavra
contra a tua.

ILUSÃO A TODA PROVA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Aprendi a esperar pela não vinda,
ter saudades daquilo que nem sei,
ser um corpo abstrato é minha lei;
uma velha novela que não finda...

É um já que se perde atrás do ainda;
neste reino sem súdito estou rei;
sou aquele pastor sem gado e grei;
posto; pasto; curral; sequer berlinda...

Meu amor é sem alvo, é só amor,
levo todas as mágoas desta vida
sob traços fiéis de bom humor...

Perco as forças; porém, logo reponho,
pois nem toda ilusão está perdida;
sei sonhar que meu sonho não é sonho...

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

TRAIÇÃO FIEL

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Todos nós precisamos de alguém do gênero oposto, que não seja cônjuge ou amante, mas em quem possamos confiar como não confiamos em mais ninguém. Nem mesmo em nós. Uma pessoa que amamos de forma separada, especial, como não saberíamos explicar ao próprio espelho. Muito menos a quem devemos explicações formais.  
Jamais seremos completos, não havendo essa pessoa para quem podemos expor o íntimo, as nuances d´alma, os medos, conflitos e fraquezas, sem o contexto banalizado das relações discutidas . Tirar a máscara e também a roupa, ganhar colo, trocar carinhos e confidências, mas não deixar que a beleza dessa mais que amizade caia no lugar-comum dos romances instituídos que todo o mundo já tem.
Temos que ter esse alguém cujo laço é preciso esconder, pois o mundo não teria olhos nem coração para entendê-lo. Precisamos desse pecado santo. Dessa infidelidade sem pecado. Dessa traição fiel que não faz sofrer nem corrói os laços obrigatórios de uma sociedade cristalizada que  não sobrevive sem suas faixas e formalidades.
Trata-se de um tesouro afetivo. Quase ninguém tem, porque se proíbe, não acredita quando acha ou transforma no que não pode ser. Hoje posso gritar para mim mesmo, como aquela criança que se vangloria perante as outras por ter um bem pessoal que todas ambicionam, mas no seu meio, ninguém mais possui: "Eu tenho! Você não tem! Eu tenho! Você não tem!".

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

LEIA COM CUIDADO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Escritores escrevem sobre o que sentem. E o que não sentem. Sobre o que sabem que a sociedade vive. Ou não vive. Falam do amor e a dor que choram, do amor e a dor que o semelhante chora. O escritor é um intérprete visionário da humanidade. Absorve os dramas e as alegrias, as frustrações e os sucessos, a grandeza e a mesquinhez do ser humano, e depois devolve ao mundo em forma de literatura.
São muitos os escritores que dizem quase ou tudo em primeira pessoa. E por essa intimidade, muitas vezes fazem com que segundas e terceiras pessoas, as que fazem parte do seu convívio, se julguem citadas ou inseridas, de formas positivas ou não, em seus escritos. Isso é bom, porque a mensagem os alcançou, e pode ser mau, se alguém acha que foi direta e publicamente flagrado.
No caso das formas negativas, cabe um conselho às tais segundas e terceiras pessoas: tomem cuidado com a injustiça. Por mais que o contexto de algum escrito aparentemente as flagre, aponte ou denuncie, na maioria das vezes - maioria, mesmo - quem o redigiu não pensava especificamente nesta ou naquela pessoa. Pensava no mundo. Na sociedade. Pensava na vida.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

PRETÉRITO IMPERFEITAMENTE PERFEITO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

O depois não é pra já. Nem o já será pra frente. Faz-se urgente a qualquer momento, que o antes fique mesmo para bem antes de ser agora... o presente marcado para ficar lá... nos domínios do nunca mais... do passado.
Com todas as transgressões de nossas fantasias, as coisas ficam em seus lugares. Não há nada que ocupe o tempo impróprio. Pretérito imperfeito é questão de língua. Tempo verbal. Não de tempo do tempo. Fugimos da realidade ao encontro do que seria, mas invariavelmente não será, tão apenas para cairmos no óbvio: o rio que retorna e deságua no que tem que ser.
Ludibriar o destino é o eterno por enquanto que flui de nossa vaidade. O destino não se aborta. Só se guarda e confirma. Ganha tempo e se amolda, e no fim de tudo, nada mudou. Tudo está no ponto exato: seu tempo; seu pretérito.
Até que a morte nos chame ou acorde pra vida, pensamos que tudo é mutação. Mas não. Tudo é definitivo e dá no mesmo fim. Ninguém contorna essa lei que determina: o sempre, sempre será sempre. O nunca, nunca deixará de ser nunca...
... e por enquanto é só.

CHEIRO DE AMOR


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

CORAÇÃO ANTI-JOGO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Quando saio de um jogo, isso não quer dizer que o faço porque perderia ou  finalmente percebi que se trata de um jogo. Saio porque sou anti-jogo, e tentava crer que não se tratasse de mais um. De certo modo, minh´alma sempre sabia que tudo se armara em silêncio, por eu ter sobre o rosto esses traços constantes de sudário.
Mas quem achar mesmo que sou a forma genérica do Cristo e propuser um calvário à expressão serena e passiva que lhe soa sombria, ficará sem ação logo depois. Bastará que puxe o meu fichário íntimo, e poderá descobrir uma pessoa que sabe a que veio. Alguém que vê a luz do dia e tem certeza dos próprios passos. Um coração que dispensa trunfos, porque acredita na transparência.
Ninguém há de cegar, em tempo algum, estes meus olhos atentos às rotações e translações do mundo. Sempre fixos nas mudanças dos ventos e os desempenhos de gentes. Este olhar de quem já entendeu faz tempo, seu papel nesta vida. Ou mais do que um papel, já entendeu sua resma e não dispensa o calhamaço. Levará tal script até o fim da novela que não é novela.
Foram tantos os jogos e muitos os blefes, que não há mais segredo em modalidade alguma, para o meu poder de percepção. Sendo assim, quem quiser me seduzir, que o faça logo. Não faça lobby antes disso. Jogar comigo é jogar sozinha e perder para si mesma. Quero a força de sua sedução, mas não em forma de jogo, e sim, em suas formas tocáveis. 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

TRATADO SOBRE A SOLIDARIEDADE

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Apresento-lhes uma graça desmedida que restitui o bom do mundo... que nos faz entender o dom da vida e desejá-la com plenitude. Trata-se de uma força que não vem da força bruta. Que não cultua, não valoriza nem quer saber quem vence quem.
A solidariedade não “põe no prego” para cobrar depois. Quem é solidário não vende nem troca o bem que faz. Apenas faz. Tão só se doa. É um agente voluntário do ser gente. Do ser urgente, ou sempre a postos, por quem precisa. 
Solidários não fazem conta do que fazem; muitas vezes não sabem o que fazem; nunca sabem por quem. São tão poucos os solidários, e tão modesto é o seu desempenho, que o mundo sempre os explora e depois nem sabe quem eram eles. 
É assim mesmo, a solidariedade. Quem a pratica não sofre, porque ama... e porque ama praticá-la. Quanto mais se doa, mais se acumula para doar, e se doer, não importa. A dor que adentra uma fresta, imediatamente sai por outra.
Não me avexo em dizer que solidários famosos não são de fato solidários. Ao divulgarem o que fazem, apresentam promissória para que a sociedade os ressarça em forma de prestígio e favores futuros. Da visibilidade que atrai ascensão.
Ser solidário é não perceber a ingratidão do outro. É amar para ser ou não amado, e continuar amando. Assumir e aceitar, de uma vez por todas, que a sua solidariedade pode ser, para si próprio, sinônimo de solitariedade.

CEARÁ?

Demétrio Sena, Magé - RJ.

"O que será, que será"
que sempre dá Fortaleza
pra quem é do ceará?

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

MILITÂNCIA DO AMOR

Demétrio Sena, Magé - RJ.

O amor é pretexto pra fazer protesto
contra os restos, as raspas, os lixos humanos
ou as perdas e os danos por faltar amor;
é a flor que diz não aos estragos do espinho...
Um poema sentido nos pega de assalto
e nos lança no abismo de nossas questões,
nos vomita no asfalto e provoca o poder
de sentirmos a dor que se tem de ser gente...
Cada verso dos versos de quem ama e chora
tem o peso da hora de fazer pensar
que o amor, este sim, é questão social...
Toda forma de amor nos desperta pro sonho
de acordar todo mundo pro dom de viver
sem a vã pretensão de ser dono do mundo.

DESPARTO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Só eu sei com que dores me tomo pra mim,
quando vou mergulhar nos teus olhos nos meus,
lá no fim deste sonho do momento eterno
que me devo, não nego, mas não sei se devo...
Ora tento entregar as emoções guardadas,
mas depois me recolho, me apago nos traços,
tiro todas as letras deste livro aberto
e me faço distante; sem flores expostas...
É que mora um temor nesta caixa de afetos;
uma sombra me cerca, me assombra e contém,
faz voltar pro segredo que há muito não é...
Sofro desse desparto, jamais nasço em ti,
este pé-ante-pé me retoma e reguarda
sem o gosto que o cheiro revela que tens...

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

UMA PROSINHA TIATRAL

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Toda tia debutante carrega um riso indecifrável, com aquelas pitadas permanentes de choro disfarçado e miúdo. Choro risonho. Riso chorão. Versão misturada e fugidia.
Os arroubos dessas tias têm a graça do disfarce ou da beleza de vitral. Controvérsia do excesso de sutileza. Todas as tias debutantes são canteiros da mesma praça.
Elas mais parecem colibris. Beijam flores, pedem bis e polinizam seus instantes, multiplicando-os para que sejam plenos, perenes, deliciosamente repetitivos.
Em toda casa recém-visitada pela primeira "cegonha", existe uma doce revoada. Uma revoada de tias. Biológicas ou não. Tripulantes de primeira viagem.
Casa cheia de tias debutantes é um cenário formidável de carinho extremado. Rasgação amorosa da melhor seda. Tias debutantes são assim mesmo. Tiatrais ao extremo. 

A TELEVISÃO É BRANCA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Com toda a militância em favor do idoso, do homossexual, dos portadores de necessidades especiais entre outros grupos, o que revela um grande avanço de mentalidade nas mídias e aproxima um pouco, ficção de realidade, a televisão insiste nesse preconceito que nos apresenta uma sociedade praticamente sem negros. Das novelas aos noticiários, dos programas de auditório aos de humor, dos reality shows aos comerciais, o negro é aquele que surge quando a consciência da cúpula pesa ou aponta para um código inevitável de ética. Muitas vezes, um dispositivo da lei.
Trata-se de uma regra cuja exceção se mostra, bem a contragosto, se determinada história ou o produto se enquadra num contexto em que a presença do negro é indispensável, sob pena de toda a trama ou apelo comercial soar extremamente falso. Nas tramas, por exemplo, quando as histórias estão ambientadas em tempos de escravidão, não há como apresentar senhores de engenhos e ao mesmo tempo esconder seus escravos negros do telespectador. Se fosse possível, mesmo nesse contexto haveria exclusão. A participação do negro seria limitada. Seria cota ou exceção, de acordo com os critérios abertamente preconceituosos da emissora.
Qualquer pessoa que tenha dúvida ou simplesmente os olhos fechados para essa realidade, poderá dispensar estes argumentos e tirar suas conclusões, caso aceite se armar de boa fé ou de olhares atentos para o que verá. Para isto, bastará fazer uma comparação sincera, criteriosa e ativa entre o número de negros de todas as classes sociais existentes nas ruas e nos mais diversos ambientes, e o número de negros, também de todas as classes sociais, existentes na mídia. Especialmente na televisão. Depois disso responda para si mesmo, se a sociedade sem negros ou na qual o negro é exceção corresponde ao Brasil onde você vive. 

sábado, 1 de fevereiro de 2014

PRECE DO DESEJO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Seu olhar me conhece desde os olhos
aos meus cantos, meus campos e relevos,
as esquinas, os trevos e os atalhos
que jamais a tiveram por aqui...
Sempre a tive ao alcance do meu toque,
dei meu corpo aos estudos do seu sonho,
mas depois encalhei nesta vitrine;
meu estoque de mim cresceu ao léu...
Sou entrega, encomenda extraviada,
um engano que vai se repetindo
para ver se traslada o seu descuido...
Meu olhar que também já lhe conhece
tem a prece da fome, do desejo
e da hora do beijo inaugural...