quarta-feira, 25 de setembro de 2019

SOCIEDADE, AMOR E FAMÍLIA

CONTRACIDADÃOS

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Dói catar o silêncio pra viver
como quem se desliga; deixa ir,
pra não ver as mazelas em redor
nem o pingo sem i que ronda o caos...
Minha terra enterrou a sanidade,
nos deixamos perder de nossas buscas,
da vontade que havia em nosso peito
e do grito que sempre nos moveu...
Nós morremos por dentro, em rendição,
entoamos louvores ao naufrágio
de nenhuma braçada rumo à praia...
Sem ação nem sentido alguns se drogam
de fervores e preces; tristes vozes,
overdoses fatais de fé com febre...


NOSSA FEIRA
Demétrio Sena, Magé - RJ.

É um sonho que a vida nos empresta,
sem dizer até quando, e com que juros,
uma festa nos olhos, corpo, alma,
que não tem exigências nem padrão...
Vou amando e te levo em meu caiaque,
pelas águas profundas, de mistérios,
venço ataques de minha consciência
entre sérios embates do que sinto...
Mas eu sei que o amor está presente,
não é simples corrente sob as veias
onde o sangue precisa de passagem...
Um ardor, um sentido, esta fogueira
que tempera e cozinha sentimentos;
uma feira de beijos; toques; gozos...
PARTIDO INJUSTO

Demétrio Sena, Magé – RJ.

Cada um que se arranje
ou se desarranje
com as causas, efeitos
de seus desamores...
Suas mágoas, rancores,
os acertos, os erros,
nem os ferros, as farpas
e suas feridas...
Ninguém tem que optar
por um lado,
se de ambos os lados
há pessoas queridas...

D. S.


SOLITARIEDADE

Demétrio Sena, Magé – RJ.

Se meu afeto
tem placa de aviso,
tenho bom senso;
evoco a ética
e o juízo.
Não tenho carinho,
não me preocupo
nem tenho lembranças;
nostalgia;
nenhuma empatia;
solidariedade.
Respeito as cinzas
da rabugice;
da solidão;
da privacidade.

sábado, 21 de setembro de 2019

MINITRATADO SOBRE A INVEJA

Demétrio Sena, Magé - RJ.
Os seres humanos têm inveja.Todos têm. Nisso não há exceção. Não é somente o outro. Você e eu também temos, por mais que ninguém ouse admitir algo tão aviltante, mal visto, pequeno e constrangedor.
Mas o bem lidar com a inveja que às vezes pulsa em nós, está em não fazermos dela uma arma de autodestruição, que tem origem na tentativa exposta ou sonsa de possível destruição do nosso alvo.
Não há inveja boa... mas a boa destinação do sentimento incômodo. Isso ocorre quando não a usamos contra, mas em favor de quem invejamos por um momento, para não invejarmos pela vida inteira; o que seria uma tragédia íntima.
Cresceremos de fato como pessoas de bem, quando reagirmos a cada “invejada” nossa. Quando reconhecermos que também invejamos e que não somos tão invejados quanto pretendemos parecer.
Cresçamos com as nossas invejas, admirando aberta e sinceramente o admirável. Agregando valores e reconhecimento a quem desperta essa vilania em nós... também aceitando ser modestos coadjuvantes na história do outro, quando for o caso.
Se eu sinto inveja, é porque o meu alvo tem conteúdo e merece o meu melhor. Tê-la não é ser invejoso. Ser invejoso é alimentar a própria inveja e me dedicar à vingança do sucesso ou do destaque alheio.
Vale a pena repetir que também devemos ter cuidado com o quanto julgamos que nos invejam. Pode ser que o nosso convencimento ou megalomania seja uma inveja enrustida de pessoas que gostaríamos de ser.


FUTURO PRECOCE

Demétrio Sena, Magé - RJ.
Embora muito queridas, pessoas vêm e vão. As formas como vêm e vão é que podem ou não, ser ferinas. Cruel mesmo é a certeza que muitos acham que podem dar.
Não existem certezas.... mesmo assim, uns vendem; outros compram. No fim das contas tudo foi contrato, e contratos, não cabem nas relações de afetos.
Sofremos muito pelo depois... e depois sofremos pelo antes, porque depositamos grandes expectativas para o futuro e deixamos de consumar e consumir o presente.

DO AMOR DESAVISADO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Quem já viu coração raciocinar
e conter o seu corpo já rendido,
desmentir o cupido e dar à mente
a razão que da mesma se perdeu?
Não existe juízo, se o desejo
se aliou à latência intravenosa,
fez a prosa fugir, cedeu ao verso
que gerou a fogueira da paixão...
Nem há solo pros pés de quem caiu
entre as teias do amor desavisado,
o pecado evitável vira lenda...
Coração não pertence ao corpo tátil;
só a bomba que serve ao seu desmando
e me flagra te amando sem querer...

sábado, 14 de setembro de 2019

SEM RIMA NO FIM

SEM RIMA NO FIM

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Tem timidez e tristeza;
o fazer birra não é
personalidade forte...
Ser grosso não é franqueza,
a humildade fraqueza
ou o fanatismo fé...
Nem sempre a casa é um lar;
beleza é líquido e casco;
espelhos podem mentir...
Entre querer e sentir
existe abismo profundo,
muitos não são todo mundo...
Ter certeza não me torna
o detentor da verdade,
a vaidade não tem
que ser a cópia da moda...
Silêncio também é voz;
criemos laços, não nós
ou desatar vai ser (...) !


DESCONVERTA-SE

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Deixe de lado esse preconceito. Essa raiva do outro, por ele ser diferente. Pare de julgar, condenar e dar veredito a quem não pensa como você... não vê; não crê... não sente ou interpreta como você.
Ame sem querer mudar o proximo; só ame. Faça o bem sem cobrar obediência e conversão à sua fé. Respeite a fé ou não fé alheia. Compreenda quem você não entende, como você gostaria de ser compreendido.
Tenha três preconceitos: do crime, do mau caratismo como um todo, e de qualquer outro preconceito.
O próximo é o próximo. Não importam credo, cor, sexo, gênero afirmativo, classe, nacionalidade, raiz, berço, religião. Se você não pode amar sem distinguir, nem adianta pregar amor. Pregue tábuas... quem sabe Cruzes, para repregar Cristos.
Perdoe o dedo em riste; não sou o grande exemplo de ser humano, mas já entendi que a hipocrisia é "pecrime" capital. Se for o caso, só se for caso, esqueça o rótulo dessa fé que avilta, segrega e persegue. Abandone a lei inquisitória da religião que sob o pretexto ranzinza e frio de religar, desliga os seres humanos entre si.
Desconverta-se do evangelho. Pelo menos do evangelho que nos faz confundir ser uma pessoa melhor com ser melhor do que o outro... e "venha cá": você entendeu uma linha do que tentei dizer?


MINHA PRAÇA FLORIU

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Os abraços guardados no silêncio;
numa voz escondida em minhas mãos;
nos carinhos fluentes entre os dedos
ou desvãos e passeios dos meus olhos...
E na relva cheirosa dos cabelos,
dos relevos, as rampas de seus ombros,
meus apelos de afeto vão brincar
como alegre menino em chafariz...
Só confie no amor sem profecia,
no carinho sem arma e prevenção,
na magia sem truques de sentidos...
E aposte no dom do meu não sei;
dessa lei permeada pela graça;
minha praça floriu para você...


ENCONTRO

Demétrio Sena, Magé – RJ.

Que as pessoas queridas me perturbem,
quebrem todo sossego em minha casa,
minha Nasa me traga pro planeta
e me ponha nos braços desse afeto...
Quero gente querida e faladeira,
um moinho de afetos e canções,
uma feira de sons, lembranças, gestos,
emoções e polêmicas risonhas...
Solidão tem ciúmes, mas entende,
sabe o quanto preciso de quem amo,
não me prende, se peço esses momentos...
Venham ser a folhagem do arvoredo,
tenho tanto segredo pra contar
e amor pra cantar com tantas vozes...



FUTURO PRECOCE

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Embora muito queridas, pessoas vêm e vão. As formas como vêm e vão é que podem ou não, ser ferinas. Cruel mesmo é a certeza que muitos acham que podem dar.
Não existem certezas.... mesmo assim, uns vendem; outros compram. No fim das contas tudo foi contrato, e contratos, não cabem nas relações de afetos.
Sofremos muito pelo depois... e depois sofremos pelo antes, porque depositamos grandes expectativas para o futuro e deixamos de consumar e consumir o presente.

domingo, 8 de setembro de 2019

QUASE AMOR


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Pelas vias do velho quase amor,
quase tudo é viável; permitido;
tudo ganha sentido e condição, 
ganha cor que o momento justifica...
Muitos quases permeiam nossos passos,
vêm à tona e desenham seus contornos,
nossos braços provocam nossas mãos 
e as línguas desenham confissões...
Quase amor é o amor por se fazer,
o prazer a caminho, em modo espera,
um fazer atrelado ao jamais feito...
Há nas vias banais do velho quase,
uma base de amor acomodado 
em silêncios eivados de palavras...

SAGRADOS


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Meu sagrado é sagrado igual ao seu;
minha fé vale tanto quanto a sua;
minha lua equivale ao seu altar
e meu templo não tem que ter paredes...
Se não tenho sagrado, eis meu sagrado; 
se me falta uma fé para seguir, 
tenho fé que ter fé não é caminho;
só um ponto secreto; inconsciente...
O sagrado se ajusta em cada um
e nem sempre o sagrado será sacro,
texto macro e matriz concentradora...
Uma fé não engloba toda fé; 
não é fruta no pé ou mesa posta
nem resposta padrão pro que não vemos...

domingo, 1 de setembro de 2019

PASSIONAL

Demétrio Sena, Magé - RJ.



Se o ciúme chegar não tenha pressa;
tome um chá, leia versos ou componha, 
borde a fronha, reviste a samambaia 
ou a peça de roupa seminova...
Cante a música, o hino predileto
em um longo sussurro pra si mesma,
conte a resma encardida sobre a mesa
e rabisque umas folhas, por costume...
Depois pegue a pistola nova em folha,
cheire a rolha do vinho não tomado,
tome um trago nervoso de saliva...
Só então me arrebate aos solavancos;
entre surtos e trancos passionais, 
mire o peito e se atire sobre mim...

CÉU INFLAMADO

Demétrio Sena, Magé - RJ.



A beleza do céu já não azul
desintegra meus olhos pra fundir
ao seu norte, seu sul, seu infinito
e ao sonho que chove no meu ser...
Céu em brasa que afaga e dá frescor;
tarde fria que aquece o sentimento;
uma cor multicor nos tons da mesma;
um momento infinito pra viver...
Pano aceso no teto dessa brisa,
que não queima, desliza nas lembranças
e saudades macias de sentir...
Vou pro céu inflamado e levo chão,
fico aqui, jã não sei se vou ou fico,
dou ao meu coração esse dilema...

CIDADÃO EXTRAQUADRO

Demétrio Sena, Magé - RJ.



Os meus joelhos são livres
para rezar ou não;
para pedir perdão; 
para não pedir;
sonegar sentimento. 
E meus joelhos são livres
pra se arrastar;
não se arrastar;
implorar e jamais
em casamento.
Os meus joelhos têm isto
de Barrabás e de Cristo,
de anticristo,
silêncios, discursos,
notícias e nótulas.
E meus joelhos tão meus
às vezes não se definem;
às vezes aceitam rótulas.

REFLOR


Demétrio Sena, Magé - RJ.


Um amor vem distante; já consigo ver; 
uma brisa me beija e fica seu aroma;
minha soma de vidas revela o que sinto,
já no broto que mama no seio do tempo...
A minh'alma grisalha teme o verde amor,
um orvalho me cobre de sonhos dormentes, 
vejo dentes-de-leite na boca do espaço 
e a flor dos anseios está no botão...
Mas também me conheço e me vejo sofrer 
até ver que o que tenho são muitas lembranças
e serão de saudades as outras vivências...
Quanto menos tiver pra recordar no fim
será menos em mim pra secar e ruir
ou morrer de morrer de sentir novas dores...