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segunda-feira, 8 de agosto de 2016

A CÔMODA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Fecho a porta que fica e vou pro mundo,
sou expulso por seu silêncio aos gritos,
caio fundo no abismo do futuro
que dispensa o passado e me convoca...
Abro a vista e dou olhos pra minh´alma,
fujo dessa presença sempre ausente,
sopro a palma da mão que suplicava;
faço a pluma procurar um destino...
Você nunca me achou em seus guardados,
me deixou na gaveta mais secreta,
onda a meta não pode ser morfose...
Rompo a cômoda e fria solidão,
pois me canso de ser arquivo morto;
cais do porto de sua segurança...

ASSOMBRADA

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Tanto fez desse tom de não dar caso
aos meus mimos e minhas atenções,
às versões deste afeto multifaces,
que depois me rendi pelo cansaço...
Seu olhar sempre foi uma geleira,
sua voz de gravação bem polida,
secretária de feira de automóveis,
cuja vida está lá nas latarias...
Você tanto se fez de tão acima,
que ficou tão acima de si própria
e caiu neste meu lugar comum...
Sou apenas mais um que despovoa
seu castelo sem flores, atrativos,
onde os vivos não têm como ficar...

domingo, 17 de julho de 2016

POVO & PODER


Demétrio Sena, Magé - RJ.
Desenho de Júlia Sena
Povo é molde. Medida. Experimento. No fundo, é qualquer coisa. De fato, povo é apenas coisa como gesso fresco e cimento que não secam, porque têm sempre que atender a novas formas. Novas fôrmas.
Serve como alicerce volátil de caprichos, ganância e fome de poder. É o sonhador de verdades que nem sonham ser suas. A eterna lua falsa sobre a noite que resvala para ser dia nos horizontes alheios.
O povo é argila. É a lama "mais que perfeita" nas manobras da conjugação imutável de vontades impostas por quem rege a quem elege quem manda; manipula. Faz do reino a sua casa.
Sempre foi deste jeito. Povo é massa de um bolo que ele nunca sabe se lhe cabe saber como será. E do qual jamais provou fatia. O povo é a pedra com que se auto apedreja... e seve de jogo do poder.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

MEDO E PREGUIÇA

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Um país perde a força quando acaba o brio;
perde o sonho, a coragem de sonhar de novo;
faz o povo calar seus anseios mais seus
e se torna sombrio para quem quer ver...
Uma pátria destoa da canção dos tempos,
quando perde o desejo de gritar bem forte,
crê na sombra e na sorte ou na mão permanente
que se doa e dá tudo pra quem obedece...
Não há céu pro futuro de uma terra vaga;
nem o céu ilusório que as greis disseminam;
doce praga nos olhos dopados de medos...
Ao tragar a preguiça que os poderes servem,
a nação mais potente se desbota e brocha
feito rocha que cede aos açoites do mar...

quinta-feira, 14 de abril de 2016

POLÍTICO BOM

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Um velho político insignificante no que tange os valores essencialmente humanos, como considero todos os políticos de mandato neste país, dizia uma frase de muito impacto entre o povo: Bandido bom é bandido morto. Ele mesmo, por exemplo, ao que me parece, agora é bom, dentro do contexto que manipulou a revolta popular e o popularizou a ponto de atrair os grandes negociadores de votos: megaempresários e velhas raposas da politicagem em busca de novos cúmplices.
Apropriei-me da máxima, que não é uma criação literária nem se encaixa no termo pensamento, para dizer algo parecido sobre a categoria do difusor da frase, que é bem semelhante à por ele citada: político bom é político não eleito. Se considerarmos que todo aspirante a cargo no poder público, para ser eleito precisa se aviltar tanto e fazer tantas concessões vergonhosas e negociatas escusas que o impedirão de exercer um mandato honroso, limpo e digno de apreciação sincera e desinteressada, o melhor presente que a população pode lhe dar é não elegê-lo. 
Nesta minha intenção que ouso classificar como boa, tenho meus candidatos não eleitos em qualquer campanha eleitoral: cidadãos honestos, de boa índole, mas ingenuamente aspirantes a cadeiras políticas, que se dependerem de mim serão sempre bons políticos, e peço a todos que os ajudem a continuar assim... jamais os tornem populares o bastante, para que não atraiam o dinheiro sujo e os interesses escusos dos patrocinadores de campanhas, que são de fato quem os elege.

quarta-feira, 16 de março de 2016

POBREZA


Demétrio Sena, Magé - RJ.

Tenho preconceito de pobres. Acho que todos podem ser ricos. Até mesmo os ricos. Pobreza de espírito é para pessoas intimamente acomodadas.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

DOS LAÇOS CONSANGUÍNEOS


Demétrio Sena, Magé - RJ.


As hierarquias são próprias das relações trabalhistas; dos partidos políticos; grupos e agremiações, inclusive de amigos, e das religiões - não há nada mais hierárquico do que as religiões. O mundo está inteiramente montado nas hierarquias, pelas quais manda quem pode; obedece quem tem juízo. Vale mais quem tem o cargo mais alto; quem tem mais a oferecer ou trocar. Em muitas hierarquias, uns têm todos os direitos; outros, apenas deveres e obrigações. Em todas, respeito e admiração significam vantagens; interesses recíprocos; o eterno toma-lá-dá-cá.
Só acho que nas famílias não deve ser assim. Em minha visão, famílias não podem ter patamares; termômetros sociais, religiosos ou de quaisquer outras naturezas. Ninguém deve ser melhor por ser mais forte, culto, bem sucedido, puxa-saco, influente ou até bonito. Quem dá mais, menos ou nada, conforme a realidade pessoal, tem o mesmo valor. O religioso e o profano; o centrado e o extrovertido; quem cultiva este ou aquele gosto, não importa: não há de haver medida nem torneio. Comparação nem justiça quantitativa. Ninguém conquista o direito de falar sempre mais alto e achar que ao outro cabe apenas baixar os olhos e obedecer.
As discussões em família não devem ser palestras ou lições de moral de uns e obediência plena; silêncio litúrgico dos mais. Podem ser conversas brandas, de igual para igual, mas também bate-bocas; barracos. Em nenhum dos casos cabe haver lado herói nem vilão. Ninguém marcado como quem sempre erra ou coroado como quem sempre acerta. O mais ofendido e com direito a ficar "de mal". "De bico". "De ovo virado", até que o adulem repetidamente, pois a sua importância exige um mutirão pela esmola do reconhecimento de que ele não é perfeito. Só quase.
As relações familiares não são pirâmides. Não é justo que elas sejam pautadas por méritos ou valores externos. Ninguém é melhor. Pior, só se for de comprovada má fé; mau caráter; índole perversa. No mais, cada um tem seus defeitos e virtudes; problemas e soluções; erros e acertos. E todos devem se completar, pelo fato de que onde uns erram outros acertam. Ao invés de hierárquicas, as relações de famílias devem ser de amor... ou as famílias não são exatamente famílias.