segunda-feira, 30 de setembro de 2013

PODE SER AMOR

Só lhe peço essa espera do fruto maduro;
um amor de futuro; processo do tempo;
tenha calma e critério ao montar a tocaia,
minha praia tem face de mares distantes...
A maré que disponho não tem consistência,
pode ser pesadelo em textura de sonho,
mas também um remanso feito poço fundo;
contradigo e redundo como se respira...
Prendo as quatro estações em conflito perene,
tudo quanto preciso é fundir emoções
em um só sentimento resolvido e pleno...
Catequize os instintos que trago no peito,
tenho jeito pro jeito que você tiver
para dar no meu modo marmóreo de ser...

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

EU & ELA

Ela é lua, eu nem lago;
talvez fundo de um poço
que deixou de ter água;
pois é plena, eu sou vago
entre uns restos de moço
que transporto na mágoa.

Tem magia, eu sou sapo
mergulhado na treva
do meu próprio vazio...
leva flores, sou trapo
que por ora se leva,
mas estou por um fio.

Solidão é sem fim,
nos caminhos do quanto
sou alheio; sou esmo...
ela é tudo pra mim,
por sua graça, enquanto
eu talvez nem eu mesmo.





HUMILDEMENTE APAIXONADO


quinta-feira, 26 de setembro de 2013

PESSOAS SÃO LIVROS

Aprendi a valorizar as pessoas pelas aparências. A partir da intensidade na luz dos olhos negros ou verdes, azuis ou castanhos de quem fala comigo. Valorizo também os traços enrugados ou lisos da pele negra ou parda, vermelha ou amarela de quem se deixa esquadrinhar. De qualquer indivíduo que transparece; não esconde virtudes nem defeitos. Deixa bem evidentes as intenções sinceras que o identificam.
É pelas aparências que agora sei amar. Amo através dos gestos que salientam conceitos; do sorriso franco e da cara feia dos que não mascaram sentimentos... têm à flor-da-pele as alegrias e tristezas... satisfações e rancores. Bebo cada palavra dos lábios convincentes de quem fala com o coração... ou cada silêncio da expressão inequívoca dos que sabem quando é melhor dizer sem falar. 
Valorizo as aparências, porque aprendi que pessoas verdadeiras mostram quem elas são. Dão espetáculos contidos ou espalhafatosos, intensos ou leves do que levam no peito. Seus corpos não contradizem as almas. Os olhos refletem perfeitamente os estágios do espírito. Na verdade, mais do que olhar ou ver, aprendi a decodificar as capas, abrir pessoas e captar essências... ler tudo aquilo que as compõe.
Já não sou analfabeto. Venho tendo boas notas. Estou me formando em gente. Minha vida mudou, as pessoas estão mais simples aos meus olhos e cabem quase perfeitamente no meu entendimento. Tudo graças ao fato de que aprendi que as pessoas são livros e valem a pena quando não se fecham. Não se trancam em suas capas. Quando se deixam transparecer nas aparências.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

SOCIEDADE INDIGESTA

Jamais me faça optar entre o seu afeto e um desafeto que você tenha, por questões pessoais... que são ou deveriam ser de foro íntimo. Saberei discernir questões de pessoas, sem deixar de lhe amar tanto quanto a quem lhe odeia. Ser seu amigo e do seu maior inimigo. Dar a vida por você e por quem deseja matá-lo, se ambos são meus amigos.
Compre as brigas desnecessárias que você quiser, mas não me torne seu sócio nesse consumismo emocional... nem tente revendê-las pra mim.

OUTRA ILUSÃO

Se me catas nos cacos de amassos tardios
entre restos de afetos lançados aos ventos,
nos limites possíveis de corpos baldios
desprovidos de sonhos além dos momentos...

Saberás que minh´alma guardou sentimentos
resgatados da sombra dos teus becos frios,
para outros amores acharem proventos
neste porto saudoso de novos navios...

Despachei tua imagem nos mares distantes
de saudades perdidas, brilhos retirantes
dos meus olhos tristonhos que buscam razão...

Não me queiras em cascas vazias de mim,
pois fiquei nesta concha, me guardei no fim 
que reciclo e preparo pra outra ilusão...

terça-feira, 24 de setembro de 2013

PRAIA DA CAMA

Se tiver de fazê-lo,
quebre o gelo;
fale que o ama;
responda que sim...
Mas não se distraia
na praia da cama;
nos vãos da saudade...
não chame por mim.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

ENQUANTO CONFIO

Sim, eu confio. Mas devo dizer que não sem fio. Só com fio. É que o critério de confiar me desafia, por ser um exercício de amor ao próximo. Ao semelhante. À semelhança, em si.
E nunca solto a ponta eterna do eterno fio. Meu saldo. Meu fundo. Minha herança inconfundível. Foi assim que aprendi na convivência com o ser humano. Comigo mesmo. Tenho sempre um pé atrás, quando se trata de mim.
Confio sim; confio. Mas teço e fio. Fio a fio. É assim que me vendo pra quem me quer. Meu preço é este: assumir o controle da confiança, não importa em quem.
Não rói a corda... não pui o fio... aproveita enquanto me dou... aproveita enquanto confio.

sábado, 21 de setembro de 2013

TREPADAS

Gaiato e muito jovem, meu amigo me perguntou entre risos, se ainda trepo. Bastante vermelho, ensaiei ficar bravo e lhe aplicar um sermão daqueles. Não deu. Disfarcei, mudei de assunto, mas tive que rir da brincadeira e perdoar a crendice de que a vida humana esmaece na meia idade.
Minha bicicleta sabe que trepo. São longas as distâncias que percorro em seu lombo. Meu quintal também sabe que ainda trepo nas árvores baixas e galhudas que ele tem. Minha casa, então, nem me fale: sempre me vê trepar numa escada, uma cadeira, um banco, para trocar lâmpadas ou bater pregos.
É claro que já não trepo em cercas, muros e paus de sebo, não exatamente por não conseguir, mas por questão de postura; imagem; coerência da idade. Se a juventude cristaliza os seus conceitos de "mico", a meia idade, assim como a velhice, cristaliza os seus. A única diferença está no batismo desse conceito. No fim das contas dá no mesmo, porque "mico" é sinônimo de incoerência; logo, "pagar mico" é "pagar incoerência".
Sei. Sei. Não foi dessas trepadas que o meu amigo falou. Ele se referiu a mulheres; pessoas. E se mais alguém quer saber, minha resposta é não. Não trepo agora nem o fiz na juventude, porque pessoas não nascem para trepar umas nas outras. Pessoas fazem amor... é isso que ainda faço.

VIVO E PRONTO

Ato e desato.
Vou e volto.
Quero e não quero,
acerto e falho
e me arrependo;
me quebro inteiro;
me recomponho;
me remendo...
Retifico
e ratifico,
desperto e sonho,
pico e sopro,
sofro e saro
ao meu prazer...
O que não faço
de minha vida
é não fazer...

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

EDUCAÇÃO E PODER PÚBLICO

Resumindo em palavras verdadeiras, as considerações finais de uma reunião burocrático-pedagógica entre professores, pedagogos e os chefões político-partidários da educação pública:
Pois bem, senhores; precisamos criar uma estratégia para que os índices de aprovação escolar melhorem. Estes gráficos não podem mais ficar assim. Tudo bem que os alunos não aprendam a contento, isto é só um detalhe, mas eles precisam ser empurrados. Queremos estatísticas favoráveis à nossa imagem no exterior, e às verbas que advêm da imagem.
Se havemos de ser um país educado ou não, pouco importa, mas temos que ser um país de pessoas diplomadas. Peguem leve nas provas e ajudem disfarçadamente, observando apenas um cuidado: cem por cento de aprovação pode ser meio suspeito. Escolham três ou quatro reprovados por sala e os sacrifiquem. Mas apenas três ou quatro. Não exagerem.
Pensem bem, professores: além da imagem, do prestígio e das verbas, nosso país precisa continuar contando com mão-de-obra barata e cabeças confusas. Com gente que não sabe votar nem tem noções de cidadania. 
Não podemos perder essas pessoas que nos eternizam no poder em troca de cesta básica, bolsa-família, dentadura, pequenos favores, e às vezes, uma simples promessa com data indefinida.

DESNATURA

A menina delgada,
espevitada e fedelha,
não come carne vermelha
nem quase nada;
só produtos naturais...
Ai, meus sais!...
Doloroso tormento!...
Será que o churrasco
do meu almoço
era boi de cimento?

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

MULTIFLOR

Facilite os encontros dos olhares,
valorize os luares e silêncios
que dispensam palavras; expressões;
dizem tudo na força dos sentidos...
Dê vazão aos amores; facilite
amizades, romances, outros laços,
pois a chave real de se viver
abre as portas; os braços; abre o mundo...
Não invente caminhos assombrados,
uma vida não tem que ter espinhos
nem se há de sofrer pra ser maduro...
Chore apenas a dor inevitável;
seja fácil, volúvel, sonhador,
flor do campo, do brejo e do cerrado...

POR DENTRO DO FORA

Dou a toda e qualquer mulher o direito de me dar um fora. Um "chega pra lá". Mas é um só. E tem que ser claro, inteiro e contundente, sob pena de o meu convencimento e minha noção escassa desconsiderarem. Quando falo de "fora" e de mulher, não me refiro necessária ou obrigatoriamente a uma intenção ou relação amorosa.
Para não haver injustiça nem argumento posterior de que o dito não foi dito, ou que pelo menos "não foi bem assim", não levo em conta o "meio fora". O fora parcial; "mais dentro do que fora". Muito menos o fora incerto, que soa mais como charme. Uma espécie de "valorização do artigo" pela majoração do preço.
Se como amiga, mulher, amigo ou homem você quer dar um fora em alguém, não faça jogo. Fazer jogo é dar um fora velado, como já dissemos, e depois não dar o fora... ou é ficar ao redor, para retornar quando queira... dar um tempo. Guardar vaga.
O jogo é sujo porque não delimita, não demarca, define ou desempata. Tem o trunfo da sinceridade do outro, que se mantém na reserva em respeito à fraqueza e à falta de respeito de quem não entra nem sai. Não vai nem vem. Não é  nem deixa de ser.
Só existe uma espécie de pessoa pior do que a que não sabe o que quer. É a que não sabe o que não quer.

FANATISMO

Sob o pano da voz enfumaçada, uma dignidade pálida... luz de vela nos olhos encardidos. Resvala uma coragem medrosa e garantida pela sombra da cruz... pela certeza incerta e obrigatória de um futuro distante, lá no além, porque o mundo parou ao seu redor.
É um pobre diado a serviço dos céus. Desafia entidades, trevas, não teme as sombras... um herói protegido pelas barras da saia da fé... pela certeza de que os vilões abstratos, inimigos gasosos, intocáveis, não empunham cacetes; navalhas; armas-de-fogo. 
Leva um sonho espremido, atado e tenso, e sua paz está sempre numa trincheira... numa bolha... num andor. Tem a beira do abismo sob os pés, e ri à toa; ri sem riso; ri sem razão... 
alegria infeliz de fanatismo... de religião.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

DESGASTE AFETIVO

Só discuta uma relação de amor pela terceira vez, quem tiver discernimento para saber que a terceira deve ser também a última vez. Se não for assim, nada mais vai valer a pena.

AS DURAS PENAS DO APRENDIZADO HUMANO

Vejo em alguns jovens dotados de talento artístico ou literário, aquela pretensão que só hoje reconheço lá no passado, em algum tempo de minha juventude. Fui um jovem pretensioso. Com aparência humilde, fala mansa e pautada, porém sonso. Quase nunca me misturava com as pessoas realmente humildes de coração; e quando o fazia, era para impor personalidade. Queria sempre, com sutileza e disfarce, catequizar as pessoas ao meu redor para que se adequassem aos meus gostos pessoais e me admirassem. Só assim os considerava merecedores de minha amizade, aquiescência, ou da pretensa honra de participar do meu grupo cada vez mais escasso. Afinal de contas, eu não passava de um chato.
Ao invés de amigo, era líder; tinha sempre um bondoso ar superior; gostava de corrigir falas, posturas, ideologias e gostos. Fugia constantemente das boas conversas fúteis. Só batia "papo-cabeça". Levava um medo sobre-humano de ser bobo e só queria saber de filmes profundos; poemas rebuscados; músicas intelectuais ou de protestos. Nada que vinha do exterior podia ser melhor do que a cultura nacional. Se tivesse oportunidade, incendiava o McDonald's. Se conhecesse o Paulo Coelho, mataria. Jamais reconheceria como genial uma obra elaborada por um artista ou escritor que já fosse reconhecido publicamente como brega. Era escravo da crítica especializada e não dava o braço a torcer para nenhum grande projeto social, se ele fosse de um ativista ou político da direita. 
Hoje não sei se ainda sou um chato, mas acho que aprendi um pouco. Pelo menos um pouco. Talvez o suficiente para não ser solitário. Já sei me dobrar à sabedoria natural do menos letrado. Como educador, aprendi a me educar com os alunos. Já não imponho meus escritos; exponho. Pergunto mais do que afirmo. Ouço mais do que falo. Dou mais atenção do que exijo. Mais valor à mensagem do que à correção gramatical de um texto. Ouço mais o que fazem do que o que dizem. Aprecio qualquer canção que me faça bem, não importa o estilo. Basta me fazer bem; seja pela mensagem, o ritmo, a lembrança que traz ou outra sensação que me dê prazer. E o que me dá prazer neste momento não tem que ser o que me abone como intelectual, profundo, inteligente ou descolado. Aprendi a me misturar e absorver o que há de bom na mistura. Demorei, mas acho que agora estou crescendo; e talvez a tempo.
Não posso criticar esses jovens dotados de talento, que hoje vejo como num retrovisor. Eles estão se construindo, como tive a chance de fazer. Evidentemente, não gosto de pensar no que ainda sofrerão por se cultuarem tanto; por se tornarem solitários entre a multidão; por se auto excluírem nos seus andores, que são de barro, vão se quebrar um dia, quebrando-os junto. Mas, como acabei de afirmar, eles estão se construindo... e poderão se reconstruir, como acho que me ocorre. E se apenas o tempo foi capaz de me dar esta lição, não posso nem pensar em aplicá-la por conta própria, sob pena de estar desaprendendo o que aprendi até hoje.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

DOCE ALMA DE FILHA

Vencido pelo amor de Marcela, Pedro resolveu se cuidar. Filha extremada, Marcela usou de todos os artifícios de afeto, para convencer o pai turrão a procurar tratamento. Pedro andou com problemas respiratórios e parece que o coração sempre forte, à prova de abalos, decidiu dar sinais de que não é de aço.
Sem saída e com as velhas desculpas para lá de gastas, Pedro fez exames; tomou remédios; fez um bom tratamento. No fim das contas, não era mesmo nada tão grave. Teria sido, se o amor e o desvelo da Marcela não o tivessem feito buscar ajuda. Se os olhos atentos de Pedro não tivessem mergulhado nas lágrimas dos olhos tristes de Marcela.
Pedro cuidou dos brônquios obstruídos, para que Marcela respirasse aliviada. Foi ver como estava o seu coração, para sossegar de vez o coração de Marcela. Tratou das dores do velho e duro corpo de pai, para que deixassem de doer na fragilidade, no verdor e nas aflições da doce alma da filha.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

BROTOS DO AFETO

Pode ser que me arranque do brio ferido
e me lance no abismo; num arquivo morto,
que me torne maldito; sonho preterido
entre todos que o mundo atracou no seu porto...

Se fui anjo em seu reino fui um anjo torto,
mas caí feito raio; flecha de cupido;
diluí na su´alma, sangrei feito aborto
ao sentir que sentia o que não tem sentido...

Só não pode negar que ficaram raízes
mesmo poucas e frágeis, das horas felizes;
que talvez nasçam brotos de alguma saudade...

Ou também pode ser que seja ledo engano,
porque só pelo fato de alguém ser humano,
não se pode atestar que tenha humanidade...

PADARIA

Cheirinho de pão.
O cão, a mosca, o menino
aguardam a vez.

CAUTELA

Jamais se antecipe a uma possível proposta amorosa, se houver a mínima chance de ser apenas uma gentileza. Não acolha ou rejeite o que ainda não foi proposto. Agindo assim, você não corre o risco de ser abertamente apressado, injusto nem convencido.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

POEMA COMPOSTO PRA NINGUÉM

Se houver um carinho é bom expor;
tendo amor, se transforma num dever;
toda raiva contida exige o grito
e viver é viver; não é velar...
Acontece que a vida é sim ou não;
tem a mão que sustenta ou abandona,
que te arranha ou afaga; o meio termo
é apenas o medo de arriscar...
Sendo assim eu te risco desta folha
que não pode ser bolha protetora
das verdades escritas para o mundo...
Entre ser e não ser não há mais nada,
ou apenas o caos em que te deixo
até seres alguém que a mão alcança...

DA MESMA PAIXÃO

Um silêncio escondido em palavras veladas;
teu olhar que atravessa o domínio das horas;
tuas águas que trazem volumes de sonhos
camuflados de sombras que já não camuflam...
De repente me chamas, nem tão de repente,
mas de modo crescente que aos poucos ostenta
esse fogo acanhado refletido em mim,
que diz não quando sim; logo após vice-versa...
Duas forças carentes agora se atraem,
se trasladam de lados totalmente opostos,
traem todas as formas de não confessar...
Tomo gosto e te chamo com silêncio igual;
transparências me trazem às linhas do rosto;
somos ambos vitrines da mesma paixão...

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

BLOQUEADA NO "FACE"

João, grande amigo de Amanda, resolveu bloqueá-la no Facebook. Ficou magoado não se sabe com o quê, de forma que achou por bem puni-la com requintes de crueldade. Da forma mais dura e significativa para uma garota que praticamente mora na rede social.
Amanda está que faz dó: sorumbática; macambúzia; todas as outras definições de profundamente magoada. Seu amigo podia ter lhe dado apenas uns solavancos. Podia tê-la só xingado de miserável, filha de uma porca, mulherzinha desprezível, criatura hedionda ou adjetivo semelhante, mas não: mexeu justamente na ferida. Foi direto em seu ponto fraco. Acertou em cheio na delicada flor do seu brio.
É claro que Amanda conhece o mundo. Sabe que muita gente passa fome, muitos países estão em guerra, famílias inteiras são dizimadas por crimes, doenças e acidentes. Multidões vitimadas por catástrofes. Muitas crianças nem nasceram. Sabe de tudo isso e muito mais, porém nada justifica o que João lhe fez.
Não. Amanda não vai perdoar. Seria capaz de suportar muita coisa do grande amigo. As maiores ofensas, gritos e agressões, mas isso não: bloqueá-la no Facebook foi a maior prova de que João jamais teve por ela o grande amor fraterno que sempre declarou.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

DESENCONTROS DE AFETOS

Não vou mais depender dos teus dois polos;
do teu céu nem do solo; da vertigem
de cair e voar ao mesmo tempo,
quando menos espero essas viradas...
Nada mais te redime no meu sonho
de um amor ajustado à sã preguiça,
uma vida sem baques, desalinho,
vinho tinto no pano do sossego...
Nunca mais me acharás em teus assaltos,
nos teus altos e baixos, tuas crises,
desencontros de gênios num só ser...
Nem vou mais atender ao meu impulso
nos teus beijos a vulso e na paixão
que derretem meus nãos e me absorvem...

REABRINDO AS ASAS

Neste momento, lanço mão de um direito que sempre foi sagrado para mim: permaneço quem sou e mantenho meus sins, meus nãos, quando quero. Devolvo-me a prerrogativa de manter ou pôr minha mão somente ao alcance do meu sonho. Da minha chance com fundo, equilíbrio, coerência e sentido.
Ao mesmo tempo, abro mão de abrir mão do meu canto sagrado; de seguir as razões e os instintos mais meus... ter sempre arbítrio guardado para quando quiser ser meu próprio deus, meu demônio, minha perdição e resgate. Abro mão de abrir mão dos meus poemas de amor sem endereço, das minhas manifestações livres e desimpedidas... bem a salvo dos guardiões ocasionais ou de sempre.
Manterei a rotina das verdades indeléveis, do silêncio e do grito que o meu coração julgar sensato e oportuno. Da clausura e dos jatos repentinos de minhas vontades equilibradas ou loucas... meus anseios de me livrar dos domínios da casca.
Lanço mão de manter para todo o sempre, ou pelo menos na finitude possível deste sempre, as amizades raras, fiéis e sinceras que me cercam. Para tanto, abro mão dos romances daninhos... das paixões e os enlaces com feras atentas ao que tenho nos olhos... nas ventas... nos passos... na vida pessoal... que manterei pessoal.

ALMA EXTRA

Se me deres teu gelo, farei gelo seco;
serei gueto pro beco, inferno pro teu limbo;
quando fores carvão já serei minha cinza
dissolvida nos ventos de nova ilusão...
Otimizo a medida, remexo a receita
que me dás desse amor pretendido por nós,
para termos colheitas de alguma igualdade
onde a voz de um lamento seja o eco doutra...
Tenho sempre uma rosa inerente ao espinho,
levo sempre um caminho paralelo oculto
e um vulto que sirva como alma extra...
nas escolas de amar me formei em defesa,
em fingir que sou presa pra ser predador;
devolver qualquer dor que me façam sentir...