sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

O Poder Da Mídia em Nossas Mãos

Demétrio Sena - Magé 


Nem adianta você tentar me dizer para deixar de me expressar na web, especialmente nas redes sociais. Não vou deixar; é nos espaços de respostas a informações e debates e nos meus perfis em redes sociais que tenho voz. E a minha voz vai ao encontro de milhões de outras, resultando mudanças políticas e sociais que não seriam possíveis com o silêncio.

Muitas decisões perniciosas do poder público em todos os patamares têm caído por terra, graças aos protestos de milhões de pessoas, incluindo os meus. E muitas decisões favoráveis à sociedade, aos trabalhadores e cidadãos modestos como eu estão sendo tomadas graças às pressões maciças de quem vive, respira, se diverte, cuida da família, mas não deixa de se posicionar. Na web. Onde mais atuaríamos com tanta eficiência? Gritaríamos dia e noite nas ruas? Remeteríamos bilhetes aos poderes ou entraríamos na justiça contra a própria justiça e suas injustiças? Juntos, somos a mídia; somos os algoritmos que levantam e derrubam, quase sempre com muitas dificuldades, bons e maus representantes do povo.

Se você, cidadão "canhoto" como eu, não quer mais saber "da internet", será mais uma voz que deixará de ter vez no dia a dia de uma sociedade sempre na iminência de sofrer com leis arbitrárias. Leis criadas nas caladas da noite pelo congresso nacional, por exemplo. Será menos um ativista contra injustiças sociais, racismo, lgbbtfobia, feminicídio, corrupção política e tantos outros assuntos. Uma voz que se cala e permite à extrema direita, cada dia mais barulhenta, ocupar todos os espaços de manifestação pública e de luta por suas causas danosas, em benefício das eleites; dos poderosos... contra os direitos humanos, de cidadania, e contra um povo que segue invisível, muitas vezes crendo que a web "não é pro seu bico".

Portanto, não adianta "sibilar" que "as trincheiras da Internet" são fúteis. A depender de quem as ocupe, são espaços de ativismo político, social, artístico e literário por uma sociedade mais justa, igualitária, democrática e bem informada. É o que tento ajudar a manter, em meio a tantas desinformações e atuações que visam minar o que há de bom. Não me permitirei o discurso do sossego pela desistência. Esse discurso tem como alvo, que deixemos o caminho livre para os que pretendem, há muito tempo, bloquear de uma vez por todas a efetivação de um país livre, democrático, laico, de pleno acesso a toda forma de cidadania. Um país para todos é tudo o que as eleites não querem e por isso manipulam seu rebanho para nos cansar.

Sim, temos um mundo físico, e nele, os nossos afazeres presenciais, nossos afetos a cuidar... uma vida prática e dinâmica que não pode ser diluída pelo vício cibernético. Mas, deixarmos esse poderoso espaço corporativo de atuação completamente nas mãos do extremismo político, do fanatismo religioso e inquisitorial a serviço dessa política e do imenso rebanho que a utiliza de modo a nos banir pela desistência, isto sim, é futilidade. Temos pela frente um ano eleitoral. A Internet será decisiva para nos unirmos e não deixarmos o Brasil voltar aos tempos sombrios da ditadura e para tirarmos do congresso os políticos que trabalham por essa volta.

Foi na internet que os vândalos do "oito de janeiro" se organizaram. Também foi na internet que nós, os ativistas civilizados, pressionamos os poderes perversos e organizamos movimentos presenciais corporativos - e pacíficos - pelos quais conseguimos grandes vitórias contra o #congressoinimigodopovo, que só trabalha em benefício próprio. 

Não. Não sou estúpido: não comprarei o embrulho vendido pelas elites do poder e revendido pelos escravos populares dos que trabalham para essas elites nas trincheiras das religiões, por exemplo, que usam com tão eficiente má fé as formidáveis trincheiras da web. É uma pena ver tanta gente boa e necessária desistir... justamente agora.
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Respeite autorias. É lei

quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

Pra vocês também

Demétrio Sena - Magé 

Se alguém me "deseja feliz Natal", não me sinto ofendido. A data não tem sentido para mim, embora eu tenha grande admiração pela figura humana que uns divinizam, outros fingem, mas não me ofendo. Algumas vezes, consigo até devolver aquele "pra você também", que faz uma ou outra pessoa sorrir, maliciosamente, como se houvesse ali um triunfo contra o cara "que se diz ateu". Sempre dizem que me digo ateu; temem dizer que sou. Às vezes entendo como afronta velada. Outras vezes, considero que seja uma superstição: temem admitir que acreditam que alguém não acredite.

É o mesmo caso, no dia a dia, de quando alguém me diz vá com Deus, Deus te abençoe (ou te guarde), entre outros Deus isso, Deus aquilo. O meu "pra você também" é como se eu tivesse caído em uma armadilha, não de todas as pessoas, pois algumas são sinceras, mas de muitas que vivem tentando arrancar de mim o que possam cravar como algo próximo de uma contradição. Como posso me ofender com a citação de quem não creio existir? Alguém que não tenho como amar, também não tenho como odiar. Da mesma forma, por que me ofender quando alguém manifesta o desejo de que o meu dia, seja ele qual for, tenha paz, harmonia e risos?

O que tento ver, quando me cumprimentam com saudações natalinas, são pessoas me desejando algo de bom em uma data separada no calendário cristão, para isso. Aceito, como o faço a qualquer dia do ano, se alguém declara me querer bem. O vá com Deus, Deus te abençoe ou guarde, recebo da mesma forma, se reconheço a sinceridade, a transparência de quem me cumprimenta, seja presencialmente ou por mensagem eletrônica pessoal; não os disparos maciços e apressados de quem quer "lacrar" com o alcance de milhões de pessoas. Quer ganhar ou manter seus seguidores.

Repito: não há como odiar Quem acho que não Existe. As iniciais maísculas mostram meu respeito a quem acredita. Realmente não posso me ofender com os cumprimentos de quem festeja o aniversário de um ser humano tão especial, que admiro tanto, e creio ter existido, embora não creia que seja o filho legítimo dAquele no Qual não acredito. A data não me representa, com sua aura de sobrenaturalidade misturada com fé mercantil e aumento brutal das desigualdades sociais. Mesmo assim, para todos que me desejam algo de bom, deixo meu bom e velho "pra vocês também".

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domingo, 21 de dezembro de 2025

O poço do fanatismo

Demétrio Sena - Magé 


Pouco importa se o que você frequenta é uma célula, uma seita, religião, filosofia, grupo. Se não faz de você uma pessoa melhor, não vale nada. Se lhe faz afrontar o mundo e se julgar melhor do que o próximo, qualquer próximo, você perde o seu tempo. Se põe a sua auto estima no chão e se também a põe lá no alto, em um patamar ilusório, não passa de uma fraude. Fanatismo, extremismo, excesso litúrgico em qualquer fé professada levam para o fundo do poço. Se pela fé que professa, você percebe que já não é você, e sim, um fantoche que mãos habilidosas, hipócritas, interesseiras, maliciosas e mercadológicas manipulam, a sua fé não lhe merece. Muito menos os seus lideres merecem a sua fé. 

Mire-se no espelho de sua realidade atual. Compare essa realidade com os tempos de paz e lucidez que você já teve algum dia, sem precisar de guru, mestre, pastor, pai religioso, guia, padre, qualquer orientação pretensamente espiritual. Você vai perceber que o seu estado de espírito não vem do alto, do baixo nem das laterais. Vem do seu íntimo; da sua disposição para ser feliz. Do seu equilíbrio pessoal, perfeitamente possível; completamente capaz de conduzir os seus passos por caminhos seguros. Sua alma só será salva pelo caráter, seu amor ao próximo, a si mesmo(a) e sua observação de quem lhe rodeia e quer, na verdade, como aquela ovelha da qual sempre terá leite, lã e obediência. 

O medo do diabo, do Próprio Deus - Terrivel, como religiões fundamentalistas apresentam - e outros seres invisíveis que a psique manipulada manifesta, nada pode lhe oferecer além de momentos hipnóticos ou surtos neurológicos em ambientes escolhidos. Na realidade crua oramos, rezamos e ritualizamos cada vez mais, enquanto nos curamos ou morremos, na mesma proporção da fé ou não fé. Alcançamos ou não, as "graças" providenciadas por coincidência ou ação persistente bem sucedida (que sobrenaturalizamos quando e como convém). E a célula, seita, religião, filosofia ou grupo não ajuda ninguém a entender com alguma serenidade, os valores humanos que realmente nos salvam.
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terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Mais um ano de Cultura na Educação

Demétrio Sena - Magé 

Fomentar (ou animar) a cultura na Educação Pública é um privilégio. Ser um arte-educador - ou animador cultural, como a Secretaria Estadual de Educação Classifica - me oferece há mais de trinta anos a chance de, ao mesmo tempo: exercer os meus dons como poeta, comunicador, amante fervoroso das artes, e ajudar jovens estudantes a conhecer um pouco do mundo vertiginoso e diverso ao seu redor.

Somos, paralelamente, professores diferenciados, que trabalham no campo da conscientização social e da fomentação da cidadania. Em nossas oficinas de letras e artes e nossos eventos culturais nas escolas, podemos atingir livremente os pontos sensíveis de questões sociais que o sistema impede o professor regente de fazer. São tantos gráficos, tantos malabarismos para corresponder às exigências estapafúrdias do poder, que os professores regentes não têm tempo de ir além das formalidades do ensino. São talentosos, amam seu ofício, mas o poder público os transforma em tecnólogos do ensino formal.

Durante muitos anos, os animadores culturais da Secretaria Estadual de Educação, lotados nas escolas da rede pública do Estado do Rio de Janeiro foram artistas e educadores repletos de sonhos e realizações que levavam encantos diários aos alunos. Tinham recursos a contento para oficinas criativas, eventos culturais e de cidadania na escola. Além dos recursos e horizontes, não havia essa polarização política cujo lado direito é perverso, doentio, impeditivo, cheio de superstições e teorias da conspiração contra as artes, a poesia, o encantamento cultural dos filhos e filhas em desenvolvimento escolar.

E a população como um todo era também enriquecida pelos animadores culturais e sua efervescência: fazíamos eventos coletivos de rua; foram muitas ações culturais nos Arcos da Lapa, nas estações de Metrô, nas universidades do Centro do Rio de Janeiro, no Maracanãzinho e muitos outros espaços. E sabem com a participação protagonista de quem? De alunos e alunas cantores, recitadores, poetas, artistas plásticos, dançarinos e outros, incentivados e preparados pelos animadores culturais de suas escolas.

Tudo isso começou no Governo Leonel Brizola/Darcy Ribeiro, criadores dos Cieps, e toda essa filosofia revolucionária no ensino durou enquanto Brizola se manteve governo e teve alguma força até o governo Cabral. Cabral foi preso por corrupção, mas não há como negar a importância que ele deu aos animadores culturais. Em seu governo, gerenciamos programas de leitura com grandes nomes das letras, a exemplo de Ziraldo, e os animadores culturais escritores lançaram seus livros na Bienal do Rio. Foi uma pena descobrirmos mais tarde, que o Governo Cabral praticou corrupção; lavou dinheiro.

A verdade é que ficou provado que dá para ter Educação de qualidade sem corrupção. Brizola e Darcy provaram isso. O próprio Cabral, que desviou muitos recursos e aplicou o mínimo na Educação, conseguiu fomentar tudo aquilo com aquele mínimo. Imaginem se não tivesse desviado recursos; tivesse aplicado realmente na Educação, os valores que declarou! Imaginem como o trabalho já primoroso dos animadores culturais teria bem mais amplo, com os recursos verdadeiros em uso.

Até a nossa remuneração, nunca mais reajustada, já foi razoável. Isso nos dava um ânimo a mais. De lá para cá, os animadores culturais foram invisibilizados: não recebem recursos de nenhuma natureza para projetos. Não têm mais janelas de atuação com alunos. Se fizerem trabalhos nas comunidades, terão que utilizar seus proventos hoje diluídos, e com esforços sobre-humanos diante de alunos que aprendem, com a sociedade atual, que o pensamento crítico é perigoso; as artes são perniciosas; é pecado ser contestador, criativo e observar os acontecimentos por conta própria. Que até ler ivros não especificamente religiosos pode ser pecaminoso e digno de castigo.

Atualmente, os animadores culturais contam com a sorte (como é efetivamente o meu caso) de terem uma direção escolar que os ajude no possível. Que entenda seu trabalho e o defenda contra quem os vê com maus olhos, ironiza sua invisibilidade no sistema e quer transformá-los em ajudantes de suas funções no local de trabalho, o que nenhum profissional de cultura deve aceitar. Sorte a minha e de poucos colegas, que não passamos por isso.

Para 2026, preparo um projeto fotográfico não só para os alunos, mas para toda a comunidade, de ensaios fotográficos dignos de resgate da auto estima. Realizarei nossa Feira Literária com muitos escritores/escritoras convidados, e mais uma vez apoiarei a realização do Festival Mageense da MPB. Manterei a sala de animação cultural com jogos de mesa, exposições de obras dos artistas de nosso município e darei oficinas pontuais de texto e origami.

Tenho certeza, de antemão, que poderei contar com os nossos diretores Luiz Roberto e Thales, a sua equipe (Juliana e Jaciele), os professores (na medida do possível, pois estão sempre abarrotados de trabalho) e os demais colegas dos outros setores da unidade escolar (secretaria, departamento pessoal, biblioteca, manutenção, inspeção de alunos, cozinha, portaria...), porque são todos fundamentais para meu trabalho.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Das liberdades que prendem

Demétrio Sena - Magé 

O excesso de liberdade sem sabedoria pode nos tornar escravos de um futuro incerto, quando não desastroso. Passados mal resolvidos por falta de acabamentos costumam aviar boletos vivenciais que não temos como pagar. Os códigos de cobranças da vida são implacáveis com quem não sabe viver. 

Saber viver é algo muito conceitual e rotativo. Quem acha que pode fazer tudo e tem todas as liberdades, deve ter um projeto sóbrio, maduro e consistente, para não cair nas armadilhas de um engano sombrio. Armadilhas postas pelos próprios atos e por pessoas que sabem se aproveitar das fragilidades dos que acham, equivocadamente, que "estão com tudo".

Todo ser humano precisa desse equilíbrio, para sobreviver a si mesmo. Para jamais perder o rumo e ficar sem teto, chão e paredes, pelo quanto pensa que se livrou de todos... até de si mesmo, crendo não precisar de um limite, uma base, um apoio existencial. Nossa essência carece de um invólucro; o espírito tem que ter corpo. Não há recheio sem casca.

Se queremos voar, é essencial termos de onde para onde. Ou não será um voo; será um salto no escuro; no precipício de nossa inconsequência. Sejamos livres o suficiente para repensarmos, quando for necessário, nossos conceitos intermináveis de liberdade. Cuidado; ela pode nos algemar em pleno salto.
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terça-feira, 9 de dezembro de 2025

O Zôto

Demétrio Sena - Magé 

Com sessenta e poucos anos de idade, ainda não conheço pessoalmente o tão famoso Zôto. Mantenho com ele uma relação de raiva e medo, mesmo sem conhecê-lo, desde a mais tenra idade.

A primeira pessoa que me falou do Zôto foi minha mãe. Ela fazia, repetidamente, os mais diversos avisos relacionados a ele: "Filho; nunca pegue nada do Zôto". "Cuidado; mexer com o Zôto é perigoso". Eu tinha medo. A raiva, era quando minha mãe protegia o Zôto, como se ele fosse um filho. E filho preferido: "Tenha pena do Zôto; não faça com o Zôto o que você não quer que o Zôto faça com você."; "não perturbe o Zôto, porque o Zôto trabalha e quer descansar.".

Depois de minha mãe, eu já marmanjo, vieram os Zô... digo; os outros: Aí as recomendações se multiplicaram como piolhos em cabeleira suja: "Cuidado com a mulher do Zôto!"; "pense no Zôto, você não é melhor do que ninguém!". O Zôto é isso; o Zôto é aquilo; o Zôto não tem culpa; "coração do Zôto é terra que ninguém conhece"; "deixe o Zôto sossegado"; "não faça nada para ferrar a vida do Zôto"... "Cada um é o que é; ninguém pode querer imitar o Zôto".

Não quero mais conhecer o Zôto. Estou de bem comigo e com a própria vida. Sigo meus sonhos, ora viaveis, ora não, mas a vida é minha; os sonhos são meus; o Zôto não tem nada com isso.

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