(sobre religiões de matriz africana)
Demétrio Sena - Magé
Nunca vi um umbandista, candomblecista ou qualquer outro religioso dessa linha, gritando em uma condução enquanto eu tento ler um livro, cochilar um pouco ou simplesmente apreciar em silêncio a paisagem do percurso. Ninguém verá um religioso de matriz africana em praça pública, quebrando o sossego e obrigando a todos ouvir louvores, pregações e preces que não querem. Eles conhecem o sentido de "não é por força nem por violência, mas, pelo espírito".
Nenhum religioso dessas vertentes quebra templos e objetos sagrados do cristianismo. Não agride nas ruas, física ou verbalmente, a quem não tem a mesma fé; não acredita nos mesmos sagrados. Jamais afirma que este ou aquele indivíduo vai queimar no inferno. Cada religioso crê, realmente, que a sua crença é a ideal, mas o religioso de matriz africana respeita quem pensa e crê diferente e trata a todos com igualde, respeito e ética. Evidentemente, há exceções, mas no caso desses religiosos, de fato são exceções. Não é a regra eles serem prepotentes, preconceituosos, furiosos, bufões e pretensos donos da verdade.
Faltou dizer que as religiões afrodescentes nunca tentaram tornar lei (por força e violência) o ensino de suas doutrinas nas escolas, mesmo quando era certo que teriam sucesso. Vale também dizer, antes que alguém pule, que aquela aplicação de estudos de africanidades (nunca respeitada) nas escolas não passa pela doutrinação religiosa. Trata-se de história, pelas perspectivas que sempre foram suprimidas pelas versões engessadas impostas.
O que realmente conheço dos religiosos de matriz africana são a postura humilde, a discrição, o respeito pelo espaço e o direito alheio a culto em seus respectivos templos e congregações. Conheço deles o tratamento igualitário; a disposição de ajudar seu próximo sem cobrar dele a conversão. A ausência do julgamento banal, da maledicência, do arrombamento da sociedade e do alinhamento corrupto com o poder político, para dominar o cenário religioso.
Esta prosa não fala mal de ninguém. O que acaba de fazer é falar bem de alguém. Falar bem é do bem, embora muitos não concordem, se o alvo não for da mesma "facção". Também não estou dizendo qual é a "facção". Nem precisaria dizer, se quisesse. Como nem é preciso dizer que não tenho religião, porque não creio em sagrados... mas no que tange a regra corporativa e pessoal, sempre tive grande admiração pelos religiosos de matriz africana.
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Respeite autorias. É lei







