domingo, 14 de setembro de 2025

A INTELIGÊNCIA DE QUEM LÊ

Demétrio Sena - Magé 


Ziraldo dizia que ler é melhor do que estudar. Ele não menosprezava o estudo, e sim, mostrava como é importante que os estudos envolvam muita leitura. Estudar e ler se juntam em uma só missão, que é a de formar pessoas capazes de se comunicar, tanto pela escrita quanto pela fala. Em qualquer profissão, precisaremos nos conunicar com desembaraço. É muito importante a escola entender o valor da leitura e, junto a isso, da escrita. E a leitura ensina a escrever, pelo hábito de lidar com as palavras corretas e a concordância, fundamentais na fala e na escrita, sempre presentes nos bons livros. 

É com bons olhos que vejo todo e qualquer esforço da Educação, pública e privada, em qualquer nível, para que os alunos - e alunas - avancem para o ensino médio com bons conhecimentos da própria língua. A nossa realidade precisa ser bem interpretada e isso começa na leitura. Precisa ser bem apresentada, e acontece na escrita. Precisamos escrever bem, porque tudo exige redação: os vestibulares, concursos para empregos, reclamações às autoridades, cartas de amor etc. Estudar é ler, ler é estudar e é assim que saberemos entender quando alguém tenta nos enganar, por exemplo, com um texto complicado. Tudo na vida é uma leitura que precisamos fazer.

Que tal se nós, todos nós, entre outras habilidades, soubéssemos ler e interpretar a nossa realidade? A partir dos livros, aprendemos até a ler a importância histórica de nosso município, a beleza das matas, os mares, rios, cachoeiras, animais, e o quanto importa preservarmos o que temos. Para tudo isso, precisamos entender. Para entendermos, precisamos ter conhecimento. O conhecimento está na leitura. O poder de usar o conhecimento está em sabermos nos expressar corretamente escrevendo, falando e agindo com a inteligência de quem lê.
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sexta-feira, 12 de setembro de 2025

A HIPOCRISIA DO "NEM UM NEM OUTRO"

Demétrio Sena - Magé 

Concordo com qualquer pessoa que bata na tecla da já batida "polaridade" que o Brasil vive nestes últimos anos. Mas, essa polaridade se tornou inevitável, no momento; aí está. Sendo assim, tenho lado. Sou esquerda; sou povo; sou democracia, com todos os seus efeitos colaterais. Não há como ser neutro nem inventar um leque de opções que, no fim das contas, vai desaguar em um dos pólos; em uma das pontas dessa propalada realidade.

Detecto qualquer bolsonarista enrustido, e até camuflado de "mais ou menos esquerdista", nesses discursos de terceira via. Ora bolas; não existe a terceira via, no cenário atual; pode voltar a existir daqui uns anos, mas, agora, metade ou pouco mais do contingente político extra deste país é ponte para o Bolsonaro; a outra metade ou mais, para o Lula. Quem manda olhar para o lado e procurar outra opção, ou diz que "nenhum dos dois presta", faz isso por um dos dois. Trata-se, quase sempre, de um truque dos bolsonaristas.

Sou esquerda. Neste contexto de polaridade, não tenho como repetir o bordão "nem este nem aquele"; até porque, isso dá munição para sonsos desprovidos de argumento. Logo, sou lulista; em cima do muro não me cai bem; eu cairia do muro. Tenho visto muita gente fazer média com o outro lado, utilizando a puxadinha sutil para sua preferência secreta. Grita pela terceira via, mas é gritante a sua tendência; é notório seu enviesamento; a pregação subliminar que seria veementemente rebatida..

Nem um nem outro" é, majoritariamente, um discurso bolsonarista enrustido, para demover eleitores opostos e fortalecer a esquerda. Quem não quer o retorno da era do "e daí? Eu não sou coveiro", "pintou um clima" (com adolescentes), "o erro da ditadura foi torturar e não matar", "morreram poucos; a PM tinha que ter matado mil", "eu jamais ia estuprar você, porque você não merece", "dei uma fraquejada e veio uma mulher" (...), não pode subir nesse muro.

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quarta-feira, 10 de setembro de 2025

SOBRE A IDIOTICE DOS OUTROS

Demétrio Sena - Magé 

(Para que o texto seja entendido, preciso dizer: é a expansão de um comentário que iniciei, sobre um livro divulgado nas redes sociais. Achei ético propor uma reflexão geral, sem expor o autor, no seu espaço, a possíveis ataques animados por mim).

Acho que todo idiota se considera o único não idiota em toda a face da terra. E toda a face da terra está cheia de gente similar, que se esbarra em cada centímetro quadrado, julgando ser um esperto que deu de cara com um novo idiota. Todo idiota está em qualquer lado, em qualquer ponto cardeal, extremando a sua posição. Outros, estão no centro, fazendo o que parece impossível, que é extremar o centro ou ser extremamente moderado; radicalmente chuchu.

Temo que eu seja mais um idiota que propaga o idiotismo alheio, mas achei idiota um livro que pretende se apresentar como diferentão, com capa produzida por inteligência artificial. A meu ver, a inteligência artificial é fantástica como recurso de informação, pesquisa e projeto, mas não como dispositivo de criatividade. Plagiar alguém específico já é desprezível. Pedir aos algoritmos para produzirem um super plágio, em vez de usar o próprio talento ou pelo menos contratar o de alguém especifico não depõe a favor de um livro que chama o mundo de idiota e se põe de fora.

Considero idiota, muita gente de qualquer grupo, inclusive o meu, e repito: às vezes temo ser mais um. Mas, é natural ter escolhido estar onde estou, pois me identifiquei com ideais que acho relevantes. E que acolhem a todos, inclusive alguns idiotas. Agora; idiota extremado é um autor de um livro que se fetaliza em uma bolha desconfortavelmente confortável, tão somente para não ter lado e classificar como idiotas, todos os componentes de todos os lados.

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terça-feira, 2 de setembro de 2025

CLAMOR PELA IMPUNIDADE

Demétrio Sena - Magé 

Amantísssimo Pai:

Estamos aqui, com toda a humilde arrogância do nosso coração, para pedir a impunidade. Impunidade, Senhor, para o nosso líder maior, sem desfazer do Senhor. Ele cometeu, sim, muitos crimes, mas vai à igreja e fala direto, o seu nome! Tá certo; é g&nocida, porém, igual ao Rei Davi, que foi segundo o Seu Coração! É como Josué, que matou populações inteiras com o seu exército, mas nunca deixou de orar, louvar e dizer muitas palavras bonitas para o Senhor!  É ou não é?

Queremos pedir ainda, Senhor; que haja Impunidade pro pessoal que botou pra quebrar naquele oito de janeiro! Abençoe as marretas e os porretes que puseram abaixo os vidros do Alvorada! Abençoe também o intestino daquela senhora corajosa que fez cocô em cadeia nacional; que fé, Senhor! Fé, dor, em nome de Deus, da pátria e da família! Que exemplo de moral e bons costumes! Dê a ela e a todos os quebradores que os mundanos chamam de vândalos, a impunidade, o furor e a força para muito mais!

Sobre tudo, Amantíssimo Pai; liberte o nosso Messias! Ele é muito melhor do que aquele filho que o Senhor mandou para nós há dois mil e tantos anos! Aquele era mimado, com aquelas histórias de amor ao próximo, fazer o bem a todos, defender mulheres; inventar historinhas que viraram essa praga de direitos humanos. Que coisa triste, Senhor, ter que respeitar e amar pessoas diferentes de nós; de outras etnias; religiões; orientações. É tão bom meter o sarrafo em quem discorda e reza em outras cartilhas!

Prometemos, Senhor Amado, que vai rolar um dízimo gordo, se o Senhor abençoar a todos os patriotas quebradores de patrimônios alheios, especialmente públicos e tramadores de homicídios, com plena impunidade. Principalmente aquele que deixou, de propósito, milhares de pessoas a mais do que morreriam, morrerem na pandemia, e se aproveitou quando "rolou um clima" com adolescentes. Ele também elogiou torturadores, tramou ass@ssinatos de opositores, mas é cristão, Senhor; é crente!

Pedimos e agradecemos, ó Supremo do Tribunal Divino! Acreditamos na impunidade; nas costas quentes com o Senhor. Se rolar, Amantíssimo Pai; também gritaremos para sempre que O Senhor é Fortão, Bonitão, Poderoso e outros elogios que o Senhor exigir! E ainda prometemos não contar nada para o seu filhinho mimado, para ele não encher a Vossa Santa Paciência com aquelas ideias de que o Brasil precisa se livrar das ameaças da ditadura e do extremismo.

Amém; Senhor; sem confundir amém com amem.

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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

CULINÁRIA ALOPÁTICA

Demétrio Sena - Magé 


Quando vejo duas pessoas que tomam diariamente seus "tarjas pretas" travarem aquelas conversas sobre as maravilhas dos remédios que elas tomam, o meu pensamento viaja. De um lado, esta pessoa informa que o Losartana é ótimo; do outro, o interlocutor garante que o Captopril é um remédio sem igual; que o outro precisa experimentar. Ou se aquela elogia intensamente o Diazepam, esta quase grita que bom mesmo é o Rosuvastatina e ouve de volta que deveria experimentar o Alprazolam.

Em meu silêncio, chego a imaginar que o Losartana tenha sabor de frango assado e a fórmula do Captopril tenha bacon. Que o Diazepam seja temperado com alho, cebola e manjericão... o Rosuvastatina seja crocante, caprichado na fritura... e o Alprazolan, uma sobremesa bem cremosa, com cobertura de chantili. Em resumo, tais conversas me deixam com água na boca. Minha vontade é de procurar um bom restaurante, para me fartar de todas essas delícias da culinária médica alopática.

Entretanto, eu sei muito bem que o pecado capital da gula pode me causar alguns castigos traiçoeiros e devastadores. Então, prefiro me conter e ficar nos meus pecados periféricos da gastronomia modesta, com refeições e sobremesas bem mais leves, como Luftal, Dipirona, um sal de frutas... ou até um cardápio mais natural, à base de boldo, cana-do-brejo, canela-de-velho, quebra-pedra e outras delícias. Acho que, bom mesmo, é tentar não ouvir essas conversas que provocam o meu apetite.
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domingo, 31 de agosto de 2025

BOCÓ HONORÁRIO

Demétrio Sena - Magé 


Ocorre muito comigo: rever uma pessoa com quem convivi por algum tempo, mesmo sem ter me tornado um grande amigo, e me apressar para cumprimentá-la efusivamente, sendo recebido com um olhar de "eu, hein..."; quando muito, com aquele "oi" mascado como um restinho de fumo. Então retorno ao meu canto, se ambos estivermos no mesmo ambiente, ou sigo meu caminho xingando a mim mesmo, em pensamento.

Mas não tomo emenda: quando, pouco tempo depois,  vejo outra pessoa com quem tive uma convivência semelhante (quem sabe, na realização de um trabalho, um projeto em comum), corro logo para o quase abraço, como se fôssemos velhos amigos de infância que se perderam e acabam de se reencontrar. Aí dou de cara com o mesmo "eu, hein" silencioso... os mesmos lábios dormentes. Razão pela qual nunca passo muito tempo sem me xingar em pensamento. 

Sou desses bobões que dão muita importância para pessoas. Que veem amizades em relacionamentos breves e até superficiais. Acho marcante uma boa conversa de rua com um desconhecido, que para mim, a partir daquele momento já não é um desconhecido. Se participo de algo por alguns dias, com esse desconhecido, ele praticamente se torna um amigo de vida inteira... desses com quem me preocupo e chego até a pedir notícias a um conhecido em comum.

Pensando bem, não penso mesmo em tomar emenda. Não ser assim me deixa vazio. Ser de outro jeito é como não ser quem sou. Passar por esses constrangimentos de me sentir situado por alguém é menos pior do que sentir o vazio de não sentir nada por uma pessoa com quem tive pelo menos um momento agradável. Pessoas, para mim, são pessoas. Nunca soube tratá-las como algarismos em equações vivenciais.
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domingo, 24 de agosto de 2025

CHEIRANDO ROLHAS

Demétrio Sena - Magé 

Você pode chamar uma festa junina ou julina de festa do milho ou da roça. Mas ela tem a pegada e a mesma aura das festas dedicadas aos santos (João, Antônio, Pedro...), e as datas a indumentária, os ritmos, ainda que as letras sejam fraudadas em nome de releituras encaixadas aos ritmos. Pode, ainda, chamar o seu carnaval de gospel, deturpar os sambas enredos (também com letras adaptadas), mas ainda será um carnaval. E carnaval significará sempre, festa da carne.

Não importa que sua a cerveja não tenha álcool. Ela continua cerveja. Que o baile só tenha hinos. Ainda será baile. Também tanto faz que você curta um samba, um rock, um funk, um forró, com mensagens que o classificam como gospel. Os ritmos que sempre foram chamados de profanos, no seu meio, serão os mesmos ritmos profanos. Terão as mesmas origens ou matrizes, como nos casos das festas de "Sãos", do carnaval, da cerveja, o baile. Readaptar não mata nem anula essas origens, matrizes, ou esses fundamentos.

Nada fará um revólver se tornar santo nem santificar a quem atinge alguém com ele. Uma noitada na farra não será "ungida pelo espírito santo" e um xingamento não se tornará louvor na boca de um "convertido". Antes de pensar nas fachadas, pense nas origens do que você pretende maquiar. As origens não mudam; elas serão sempre lembradas ou celebradas nas releituras. Customizar tudo o que você acha que não presta é como não beber, mas tomar um porre de tanto cheirar as rolhas.

Na verdade, não há nada melhor do que sermos livres; não precisarmos camuflar nossas vontades secretas... sobretudo, sabermos que o "mundo" não cabe no armário. 

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