terça-feira, 18 de novembro de 2025

POLÍTICA RELIGIÃO E JOGO

Demétrio Sena - Magé 

Quando peso a letra em meus textos sobre política e religião, assuntos intrinsecamente interligados, ao se tratar de cristianismo e extrema direita, não me preocupo com os ofendidos. Há muitos não ofendidos, que são aqueles cristãos de pensamento livre, conceitos próprios e bom senso. Cidadãos que são de esquerda ou direita, mas não extremistas. Não violentos. Que pregam amor e não vivem ódio; separam o cidadão político do ser humano religioso. Entendem e amam as diversidades e fazem o bem, mais do que julgam; acolhem mais do que têm preconceito e não criam divisões raivosas na igreja, baseadas em quem vota em quem, especialmente nos pleitos presidenciais.

Existem esses cristãos. Até líderes assim existem. Não são a regra, e sim a exceção, mas existem. Pessoas que sabem quais são os atos e assuntos próprios da religião e quais são os outros assuntos, porque tirando a fé, a religiosidade, a caridade cristã e o amor igualitário entre todos, tudo o mais é terreno. São assuntos de cidadania e todas as escolhas são de foro íntimo, intransferível, como foi a escolha entre ser ou não ser cristão. Por isso, quando critico a corrupção dessa mistura das questões, sem "marcar" pessoas em rede social, para forçar leituras, deixando à vontade para quem escolher entrar nas minhas publicações, meu coração fica leve. A mente, livre de culpa.

O que faço não é impor, como a maioria tem feito em nome das igrejas, ao promover cancelamentos e separatismos internos. Oprimir os que pensam diferente sobre política, cidadania e cultura... chegando ao ponto de "convidar" membros a se retirarem do meio, como fizeram com um amigo e parceiro autoral, por ele se declarar livremente um eleitor de esquerda e não ficar quietinho em seu gueto igrejal, como as elites cristãs em qualquer igreja impõem aos que aceitaram o ícone Jesus Cristo como salvador de suas almas e não o líder maior da extrema direita. Proponho reflexões. Deixo-as para quem quiser pelo menos pensar no assunto, sem qualquer intervenção pastoral.

Há muito tempo não surge um, porém, já tivemos alguns bons presidentes de direita. A questão não é só a margem política; é ser extremista, fundamentalista raivoso, inquisitorial, e pôr a religião no centro de um jogo sujo. De uma guerra. De um vale tudo que põe por terra os ensinamentos específicos da fé ou da crença. TODO religioso ou não religioso, como eu, é um ser social e político. Mas esse ser social e político é desvinculado da escolha religiosa ou profana. Lembram do "a César o que é de de César e a Deus o que é de Deus"? Isso ainda está escrito ou o congresso e o senado extremistas criaram lei para retirar a folha que tem esse trecho, do Novo Testamento? Reflitam. Tão apenas reflitam.
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Respeite autorias. É lei 

sábado, 15 de novembro de 2025

CURSOS QUE SAEM DO PERCURSO

Demétrio Sena - Magé 


Quem faz estudos ou cursos de áreas humanas da psique, deveria se tornar mais humano. Seria normal dissipar preconceitos, olhar o mundo com mais compreensão e abertura e ficar mais próximo das pessoas de todas as naturezas. Acolher como ser humano e com plena serenidade, a todos os comportamentos, etnias, filosofias, crenças, olhares pessoais, entendimentos e conceitos. Manter-se como pessoa não sufocada pelo certificado.

Tem acontecido o contrário, porque os estudos e cursos dessas áreas vêm sendo encampados pelas religiões cristãs. E tais religiões não são comprometidas com o ser humano. Elas são comprometidas apenas com o ser corporativo e a pessoa religiosa ou obediente à religião... o indivíduo que se fecha em copas em relação ao mundo e sua maravilhosa diversidade.

Esses estudos e cursos, ministrados por líderes cristãos, têm os vícios da inquisição nos moldes do cristianismo moderno, que obedecem minimamente às leis destes tempos. São eivados de preconceitos, ideias separatistas e conselhos sobre cancelar pessoas desatadas, voluntariosas, de conceitos próprios. Ao invés de aproximar os cursandos do ser humano diverso, amedronta-os; afasta-os. Torna-os eremitas coletivos, enfiados em uma bolha onde são todos iguais e ninguém corre o risco de ter o outro como um desafio à sua humanidade.

Perde o seu tempo e não se forma em nada que não seja mais uma ovelha cheia de informações técnicas distorcidas, quem faz estudos ou cursos nessas áreas humanas, nos limites da igreja. A exceção é aquela pessoa capaz de se blindar contra os vícios do ensino engessado e absorver apenas os ensinamentos próprios desses cursos cujo fundamento não é a espiritualidade, mas a psique; a alma humana em sua mais profunda e terrena humanidade.

Blindar-se a tal ponto e separar o aprendizado real dos aconselhamentos pastorais enfiados como venda casada nos conteúdos pertinentes é algo quase impossível. Só quem consegue fazê-lo pode se orgulhar do certificado que recebeu. Quem não consegue (a grande maioria), será mais uma ovelha que terá eternamente como amigos, outras ovelhas fáceis de conviver... e como pacientes, outras ovelhas fáceis de apascentar.
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MEU PRÓXIMO

 


quinta-feira, 13 de novembro de 2025

FALAR BEM É DO BEM

(sobre religiões de matriz africana)

Demétrio Sena - Magé 

Nunca vi um umbandista, candomblecista ou qualquer outro religioso dessa linha, gritando em uma condução enquanto eu tento ler um livro, cochilar um pouco ou simplesmente apreciar em silêncio a paisagem do percurso. Ninguém verá um religioso de matriz africana em praça pública, quebrando o sossego e obrigando a todos ouvir louvores, pregações e preces que não querem. Eles conhecem o sentido de "não é por força nem por violência, mas, pelo espírito".

Nenhum religioso dessas vertentes quebra templos e objetos sagrados do cristianismo. Não agride nas ruas, física ou verbalmente, a quem não tem a mesma fé; não acredita nos mesmos sagrados. Jamais afirma que este ou aquele indivíduo vai queimar no inferno. Cada religioso crê, realmente, que a sua crença é a ideal, mas o religioso de matriz africana respeita quem pensa e crê diferente e trata a todos com igualde, respeito e ética. Evidentemente, há exceções, mas no caso desses religiosos, de fato são exceções. Não é a regra eles serem prepotentes, preconceituosos, furiosos, bufões e pretensos donos da verdade.

Faltou dizer que as religiões afrodescentes nunca tentaram tornar lei (por força e violência) o ensino de suas doutrinas nas escolas, mesmo quando era certo que teriam sucesso. Vale também dizer, antes que alguém pule, que aquela aplicação de estudos de africanidades (nunca respeitada) nas escolas não passa pela doutrinação religiosa. Trata-se de história, pelas perspectivas que sempre foram suprimidas pelas versões engessadas impostas.

O que realmente conheço dos religiosos de matriz africana são a postura humilde, a discrição, o respeito pelo espaço e o direito alheio a culto em seus respectivos templos e congregações. Conheço deles o tratamento igualitário; a disposição de ajudar seu próximo sem cobrar dele a conversão. A ausência do julgamento banal, da maledicência, do arrombamento da sociedade e do alinhamento corrupto com o poder político, para dominar o cenário religioso.

Esta prosa não fala mal de ninguém. O que acaba de fazer é falar bem de alguém. Falar bem é do bem, embora muitos não concordem, se o alvo não for da mesma "facção". Também não estou dizendo qual é a "facção". Nem precisaria dizer, se quisesse. Como nem é preciso dizer que não tenho religião, porque não creio em sagrados... mas no que tange a regra corporativa e pessoal, sempre tive grande admiração pelos religiosos de matriz africana. 

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terça-feira, 11 de novembro de 2025

AS DUAS MARGENS DA INTRIGA

Demétrio Sena - Magé 


Você - não importa quem seja: por acaso já procurou aquela pessoa por quem sempre teve muito carinho e grande admiração, para perguntar, olhando nos olhos, se é verdade o que alguém lhe disse dela, em relação a você? De negativo, é claro; afinal, não conheço ninguém que faça intriga positiva. Mexeriqueiros do bem, se já existiram, são uma espécie extinta ou extremamente rara entre nós.

Não. Não procurou. Apenas deixou de ser a pessoa que era, com alguém especial para você, até então, por causa de um indivíduo reconhecidamente peçonhento, cujo maior prazer é formar uma rede de manipulados em torno de si. Formar ao mesmo tempo, redes de cancelamentos para quaisquer pessoas que ponham em risco sua construção fraudulenta de notoriedade pessoal. Um indivíduo que mal olhou para você, enquanto falava pelos cotovelos ou sussurrava covardemente.

Na verdade, esse indivíduo não é o único mexeriqueiro dessa história. Você também é. A intriga (ou o mexerico), igualzinho à corrupção, tem o lado ativo (de quem a pratica) e também o passivo - de quem escuta sem reação, questionamento nem consulta corporal: do olhar, da gesticulação, a respiração, o tom de voz, para depois consultar a vítima, que tem direito à própria versão, mais do que a pessoa que lhe manipulou e ofereceu uma zona de conforto: o silêncio injusto. Mais fácil do que apurar fatos.

Sinto muito por lhe dizer, mas você é um mexeriqueiro(a) passivo da pior espécie. Tão asqueroso e covarde quanto o mexeriqueiro ativo. Merece mesmo trocar o carinho, a sinceridade e a ética de alguém que nunca lhe pôs contra outra pessoa (isso mostra quem é quem) por uma criatura que ainda vai pôr alguém contra você, como pôs você contra quem nem sabe o que aconteceu.
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sexta-feira, 7 de novembro de 2025

BANCO DE RAZÕES

Demétrio Sena - Magé 

Deixo-me usar, abusar, ser preferido, preterido e tratado conforme as conveniências ao meu redor... e faço questão de parecer bobo. Muito bobo. Acho até que não pareço. Realmente sou bobo, dentro dos limites do suportável, sendo que os meus limites costumam ser bem generosos... bem longânimos.

É me deixando usar, abusar, ser bem e mal tratado por seja quem for, que faço meu banco de razões. Da mesma forma que trabalhadores têm seus bancos de horas (nem sempre respeitados pelos patrões), ao trabalharem além de suas cargas horárias. No meu caso, quem administra o meu banco sou eu. E tenho como critério deixar que os acúmulos, com juros e correção, deixem bem evidente o meu crédito, entre somas e subtrações, quando resolvo dar um basta.

Sinto-me confortável... com um extrato pesssoal de causas bem positivo, para explicar as razões de meus afastamentos, esfriamentos, as minhas mudanças comportamentais. No fim das contas, é compensador não ter reagido precipitadamente. Não ter me queixado logo nos primeiros abusos, nas primeiras "esnobadas", os primeiros "chega pra lá", ou já nas primeiras exploraçãos de minha boa vontade, sem o menor sinal de um reconhecimento posterior.

Sempre tive como explicar a mim mesmo, ao deixar de nutrir um afeto especial ou admiração profunda por alguém. Quando estou prestes a recuar do brio finalmente ferido, é só puxar o extrato negativo. Conferir quantas vezes esse alguém me frustrou, abusou, preteriu e me tratou como um ser humano invisível. 

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quinta-feira, 30 de outubro de 2025

"FOI UM SUCESSO"

Demétrio Sena - Magé 


Referindo-se à operação policial mais nefasta que o Rio de Janeiro já vivenciou, com mais de cento e trinta mortos, o governador Cláudio Castro parecia falar de um show. Para ele, foi. A evidência do caos, a exacerbação da força e a desorganização que disseminou o medo, a insegurança e o luto foram as marcas de uma operação mais política do que policial, visando o desgaste do presidente Lula e a recuperação de prestígio popular do governador Cláudio Castro, com o seu eleitorado bolsonarista. 

Mesmo que a operação tivesse realmente sido bem sucedida, o que não foi, em razão dos "efeitos colaterais" desumanos, "foi um sucesso" é uma fala cruel. Onde os direitos humanos foram desrespeitados e a ordem foi "meter o dedo", só há motivos para lamento. Nem as quatro mortes de policiais foram respeitadas pelo governo e sua equipe, na conotação de sucesso e a declaração de que "os efeitos colaterais foram mínimos". Carnificina não é sucesso. Guerra não tem tem triunfo. Tem vencedor, mas não tem triunfo, porque mesmo quem vence deveria lamentar o rastro de mortes, em respeito às famílias.

Sucesso é uma campanha esportiva, cultural, comercial, publicitária ou outra, bem sucedida. É conquistar um emprego, uma vaga na universidade, ganhar um campeonato, um concurso, torneio, vencer na vida com trabalho e honestidade. Considero sucesso, alguém salvar uma vida, gerar uma reflexão coletiva. Matar, mesmo como combate ao crime, não é sucesso. Pode ser um mal necessário (não com tanta violência, premeditação e desproporcionalidade), mas não um sucesso a ser festejado.

Mais de cento e trinta mortes, que não haveria em uma operação inteligente, não são exatamente um efeito colateral. Esse efeito colateral foi maior do que o resultado que seria ideal em uma sociedade civilizada (as prisões e apreensões). Mas, talvez para o poder público estadual seja mesmo isso. Como queriam eliminar a todos, as prisões e apreensões ficam, essas sim, entendidas como o efeito colateral. As mortes de pessoas que não estão sendo identificadas, o sucesso da operação.

Não defendo bandidos. Quero todos presos, punidos, impossibilitados de fazer vítimas. O que me causa espanto e indignação é que uma ação policial de alta letalidade seja vista como uma festa. Entrar, matar e sair para que o crime se reorganize e depois o poder público volte a entrar, matar e sair, porque isso dá mídia imediata e voto. Já observaram que tais operações são realizadas às vésperas de campanhas eleitorais e quando os governos estão em baixa nas pesquisas de aprovação popular?

Faltou dizer que sucesso é o tratamento ou a cirurgia que vence a doença. É aquela vida que um bombeiro salva em situação de perigo; aquela que um policial também salva, na defesa imediata de um cidadão. É a pacificação de uma comunidade, com a permanência da polícia, nela. É, ainda, uma investigação criteriosa, que termina com o desmantelamento do crime organizado, de cima para baixo, sem penalizar tanto, a população como um todo. Show macabro de cadáveres expostos não é um sucesso.
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