sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A ESCOLA E A NEGAÇÃO DAS RAÍZES


Por lei ainda recente, mas que já é de conhecimento pleno de todos, as escolas agora devem aplicar estudos sérios, verdadeiros e fundamentados sobre a história da África; seu povo, sua cultura, seus costumes. Isto não seria uma obrigatoriedade, não fosse o preconceito reinante neste país, como em outras culturas mundo afora.
Mais triste do que a razão que suscitou a lei, é o fato de que as escolas resistem. Pelas mesmas razões de sempre. Especialmente por causa dos conceitos distorcidos de um cristianismo raivoso e separatista. Rejeita-se, nas escolas, a simples idéia de falar da África de uma forma mais aberta, menos didática – burocrática, até –, porque isto significa, segundo o preconceito geral, absorver suas crenças e converter-se ao que a cultura européia tachou como paganismo. Até hoje somos escravos dessa crença perniciosa.
De fato, não há como falar eficientemente de terras e povos africanos sem passar por todos os seus aspectos, inclusive os religiosos. Discorrer apenas sobre a geografia, a culinária e o escravagismo será ferir o princípio e a intenção da lei. Nem há mais como ficarmos restritos à questão da cor, dizendo que todos são iguais perante Deus;
Na verdade, quase afirmando que somos todos brancos diante de Deus. Uma velha forma de fugir das questões sociais, éticas, étnicas, e a discussão sobre a enorme dívida que o país tem com os negros... Ou afrodescendentes. Chame como quiser, mas com o respeito que falta à sociedade, sob as faixas de nomenclaturas. 
Como dívidas devem ser pagas, foi essa dívida histórica e social que suscitou também o sistema de cotas. Trata-se do ensaio de uma reparação que só os anos poderão confirmar se com sucesso. Necessária, entretanto, como os artigos de lei que punem casos de manifestação racista, separatismo étnico, religioso entre outros. Se não há respeito natural, voluntário, que se estabeleça o respeito imposto, e com ele a inclusão, a igualdade de espaços e direitos.
A escola não quer educar nessa direção. Mantém olhar europeu sobre o mais antigo e rico dos continentes, em valores históricos e culturais, e provido de grandes riquezas de resultado econômico, embora mal distribuídas. O que a escola não sabe é que esse preconceito absorvido de raízes européias tem origem no medo. Um medo genético, pela lembrança de que a África já dominou, e pode voltar a fazê-lo. Tem potencial, embora não centrado exatamente no poder econômico nem no bélico. 
Também esquece, a escola, que somos o segundo país em percentual de população negra, em todo o mundo; à frente de quase todos os países do continente africano. Sobretudo, que não podemos mais viver, se dispensarmos todas as contribuições culturais daquele continente, que enriquecem sobremaneira o nosso país.

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