segunda-feira, 21 de novembro de 2011

UMA FARSA SUPERIOR


Chega o tempo em que se fica por pirraça. O que era um grande sentimento agora é questão de honra e prova de poder. Ela o quer porque sim, porque ele é seu e não pode ser de outra. "Comeu a carne; terá de roer os ossos".
Neste ponto, ser feliz é o que menos importa. O prazer doentio se apodera da índole humilhada, o sentimento preterido, a troca de que foi vítima e "não vai ficar assim". Nem eu ne aquela piranha. Ladra de homens. Destruidora de lares!". 
Ela bem que consegue resgatar o homem. O garanhão. As trepadas noturnas e obrigatórias na convenção da cama e do quarto. Mas aquele corpo está furado e já vazou a essência. Fugiu o amor. Costura-se um futuro de aparências, de sorrisos resignados e solidão a dois. E o desassossego está lá. No fundo. Castigando-a pela eternidade breve e desperdiçada em uma vida curta para tanto dissabor.
"Será que eles voltaram a se encontrar? Não; não; ele deve mesmo estar trabalhando... Esta noite vou fazê-lo meter à exaustão. Aliás, farei sempre assim. Ficando esfolado, ele não terá o que dar a ela. Será só meu".
A infeliz já não tem um marido. Te um vibrador humano. Já não é uma mulher. É um depósito de sêmens; o banheiro de um homem que se alivia nela enquanto pensa na outra. Masturbação completa, fantasia garantida. Sabem ambos que ambos sabem, e que sabem que sabem, mas por inúmeros motivos é melhor assim.
Por esta farsa está garantida a instituição da família. Da família carimbada, que é o que mais importa em derredor. A sociedade está feliz. O possível deus está saltitante. Os parentes orgulhosos. Quem não está feliz é o casal, mas isso quase não conta. A fábula da moral e dos bons costumes vale o sacrifício.
Tanta frustração e infelicidade cristalizou-se na hipocrisia das tradições sociais e religiosas. Nos mitos e superstições da fragilidade humana obrigando-se a crer na farsa superior da família mantida a qualquer custo.

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