segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A SELVA


Esperançoso ante a ideia de seus poemas serem lidos no Fantástico, o Iverson deu um livro ao Pedro Bial. Aproveitou o ensejo de um evento literário em que o jornalista estava, para "plantar" seu trabalho de excelente qualidade. Na sua opinião, era o caso típico do lugar certo, na hora certa e com a pessoa também certa.
A poesia de Iverson merece toda a apreciação da imprensa, do mundo editorial e da sociedade em um todo. Tem beleza e profundidade, é concectada com o mundo moderno e mantém a magia, o mistério, o desempenho e o apuro estético da poesia clássica. Pena que o Bial dificilmente lerá uma só página de mais um livro presenteado intempestivamente. Um volume que será misturado a outros de menor, igual ou maior qualidade - isso não importa -, num arquivo morto que ele certamente dedica aos livros dados. Livros de admiradores esperançosos, que ele não escolheu para ler. presentes de estranhos; objetos adquiridos com extrema facilidade, e que por isso não desafiam sua curiosidade leitora. Seu impulso investigador.
O Iverson jogou fora aquele livro, como jogam fora quadros, peças de artesanato, esculturas, discos e breguetes, pessoas que os enviam para o Jô Soares, a Ana Maria Braga; personalidades consagradas dos mundos artístico, editorial, jornalístico, entre outros da fama; do glamur; da imortalidade. Esses meios excluem a oferta, preferindo a procura; dispensam o fornecedor que bate à porta, e vão às compras escolher seus produtos. Clubes, agências, galerias, gravadoras, editoras, mídias têm seus olheiros, e olheiros não são passivos. São ativos. Produtos ou amostras grátis dados aleatoriamente, sem trâmites formais, são desprezados. É dos olheiros a atribuição de estar nos lugares certos, nas horas certas, quando os craques anônimos da bola, das letras, das artes e da beleza estão "dando sopa" nos cantos mais inusitados.
Dar o livro, a obra de arte ou seja lá o que for é apostar no remoto; no abstrato; no fenômeno. Entrar na fila dos milagres cuja raridade excede a paciência humana. Na galáxia deserta da disponibilidade dos Biais e das sequências exatas das raspadinhas, ao algo mais que a simpatia dos Jôs, uma citação-relâmpago da Ana Maria e uma sorte grande na Mega Sena, o Iverson tem muita fé. Aposta alto; é um monge.
Não duvido que um dia o veja onde merece, ocupando a lista dos poetas de maior prestígio e venda. Talento ele tem de sobra. Mas para desbravar essa selva ele terá de abater leões a unha; disputar carniças com as hienas sociais, e nunca, mas nunca mesmo, esperar pelo guincho; a mão; a puxadinha dos que já estão lá, mesmo que sejam amigos. Seria o caso de viver muitos anos além do normal, à espera do tal milagre que não tem pressa nenhuma de sequer adentrar os limites da galáxia que o rodeia. A vida é um concurso injusto, cruel, desigual, e que faz de tudo para reprovar, sendo cega pra méritos, esforços, questões de ética e de solidariedade. Entrar na briga e não rejeitar armas é o principal caminho.
Estou na mesma chalana que o Iverson. Só não sou puro como ele, e tenho ainda a desvantagem do pessimismo de achar que a selva já tem seus donos. Talvez por isto não chegarei, ao seu lado, onde o "paga-pra-capar" ainda pode pô-lo. O Iverson é arrojado, enérgico, teimoso e brigão pelo que acredita, pelo que se deixa sonhar a todo o custo, haja o que houver.
Estamos em dois extremos, e reconheço que estou no do realismo acomodado. No extremo da esperança calada, fria e vestida de um sóbrio "tanto faz". Já o Iverson está no extremo dos que têm salvação: Vencidas as ilusões do S.O.S. ídolos, ele é do tipo que, diferente de mim, sabe como encarar a selva... E merece chegar lá.

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