quarta-feira, 18 de abril de 2012

AO ALUNO EM DIA DO PROFESSOR

Pense comigo: Há uma horda (na política, na justiça e no empresariado) que todos os dias humilha, constrange, desconforta e pretere as pessoas mais simples deste país, entre as quais estão os alunos de escolas públicas, seus responsáveis e não muito menos os professores. Mas os professores acabam sendo aqueles que recebem a maior carga de negativismo gerada por essa realidade. São o pararraio do aluno revoltado com a revolta dos pais, que estão revoltados com o patrão, que está revoltado com o sistema econômico em constante conflito com a justiça. Tudo isto, sem contar com outros problemas do dia a dia, entre eles o desemprego, o acesso precário à educação, à saúde e ao bem estar geral.
Mas se você é um daqueles alunos "espertos", que não têm medo "mermo" de nada, pense comigo: É justo descarregar sua fúria, quase sempre legítima, reconheço, mas distorcida, exatamente sobre quem mais sofre com você, depois de seus entes queridos? Confesse para si mesmo que é covardia fazer de tudo para desmerecer, frustrar, inibir e até intimidar um professor, depois de ter baixado a cabeça para tanta gente que você teme, porque sabe que não tem o mesmo compromisso de amor, preocupação, respeito e ética por sua vida. Gente que não está ligando nem um pouco para o seu futuro, por exemplo.
Será mesmo revolucionário enlouquecer o professor e continuar beijando a mão de prefeitos, vereadores, deputados e afins, além de presenteá-los ano após ano com seu voto e seu prestígio? Acha que é realmente "brabo", só porque encara o seu mestre e amigo, mas lá no fundo sabe que não é ele o grande culpado de suas amarguras? Seria bom, para o seu bem, que todos queremos, repensar seus atos que pretendem atrair a atenção para conflitos que só poderão ser sanados quando a educação, produto oferecido com amor e rejeitado por sua mágoa, revolta e desconfiança for absorvido por todos, com plenitude. Não apenas pelos figurões dos poderes, para os quais tanto faz que você seja uma pessoa culta, informada e feliz ou não. Na verdade, quanto menos pessoas lutarem por isso, tanto melhor para muitos deles. Para quase todos, até.
Confesso que durante muitos anos também agi assim: Aceitava o preconceito das lojas onde nem era atendido, por causa do meu aspecto, e depois descarregava no professor. Punha sempre a cauda entre as pernas, quando um policial me revistava sem mais nem menos, e em sala de aula me exibia com desaforos, diante da preocupação e do desvelo quase sempre de professoras. Sofria injustiças da justiça, levava surras de meninos mais fortes que eu, e me enchia de forças para bancar o valentão nas aulas. A rua em que eu morava era escura, enlameada, com valas a céu aberto, bosta boiando e eu, já rapaz, continuava votando nos mesmos políticos, sem nunca ter tido coragem de cobrar deles nem de protestar veementemente contra suas falcatruas, mentiras e indiferenças.
No entanto, a mesma história na escola... o "marrento", o cara feia, o "destemido" contra quem nada podia nem queria fazer contra mim. Só a favor. Só pelo meu bem. Com a eterna preocupação de me ajudar a conseguir um futuro digno. E olhe que quando eu estava no antigo primário, no ginasial e no que hoje é o ensino médio, a escola era bem mais rígida; muitas vezes dura, mesmo. Mas sempre tive bons professores, e se acabava encarando um daqueles que punham fogo pelas narinas, baixava a cabeça, que assim funcionava o suficiente para saber que estava na hora do recolhimento de meus arroubos.
Pense hoje no professor como seu amigo. A pessoa que escolheu estar com você, quando podia ter concorrido a uma vaga na Petrobrás ou tantas outras empresas que lhe dariam, economicamente, muito mais retorno. Pense nele como uma pessoa abnegada, que tem o prazer de tentar conduzi-lo a um mundo melhor, mais justo, igualitário e humano. Alguém que divide com você o amor e a atenção que originalmente seriam só dos filhos, e não haveria tal divisão numa empresa fria, burocrática e voltada unicamente para o lucro e o avanço tecnológico.
Seja de fato esperto fazendo por si mesmo o que pode e mudará sua vida e a do país em que vivemos. "Sacaneie" os que não desejam vê-lo chegar "lá", onde estão, porque só querem para si, as riquezas; o prestígio; a fama; o conforto... a cidadania de que desfrutam, muitas vezes de formas desonrosas, anti-cidadãs. Faça isso estudando, preparando-se para olhar de frente, sem complexo e medo, de igual para igual, essa gente que nos trata como lixo e morre de medo da educação, da força que ela tem para mudar tudo. Para tirar o privilégio dos que se julgam, e de certa forma são, os donos do mundo.
É contra a injustiça, a desigualdade, o medo, a bandidagem, a corrupção, a falta de cidadania, o desprezo e a ignorância (tudo ítem do mesmo pacote), que você deve lutar. Você, seus pais, eu, todos os educadores, o povo em geral. Unidos contra os que hoje são os mais fortes, por causa do grande índice de analfabetismo e falta de educação, venceremos as bandalheiras do Brasil e do mundo, tornando-os dignos para nós, nossos filhos e as outras futuras gerações. Pense nisto, neste clima de dia do professor.

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