quinta-feira, 29 de setembro de 2016
A PALAVRA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Semear a brandura nos devolve a paz,
pois desarma inimigos de agora e de após,
pela força do afeto; a magia capaz
de calar um conflito no timbre da voz...
Quando soa sincera, desamarra os nós
ou desperta o bom senso que no peito jaz;
põe as forças opostas em poder dos prós
e convence o passado a ficar para trás...
O rancor não resiste à palavra serena,
que pondera e revela quanto vale a pena
ter firmeza e coragem sem perder doçura...
Moram grandes poderes nas cordas vocais;
mar aberto, naufrágio, mas também o cais;
tem palavra que mata e palavra que cura...
quarta-feira, 28 de setembro de 2016
DECISÃO
Demétrio
Sena, Magé – RJ.
Agora está
decidido: nunca mais deixarei que me deixem sem chão. Que me façam, seja como
for, perder a firmeza dos passos. Por mais que algo me tente, que alguém me dê
um empurrão para o caos, direi meu não à vergonha de me olhar no espelho de
qualquer atitude ou olhar que me crive, de frente ou de viés.
Não terei mais
temor de me perder de mim, quando alguém atentar contra minha verdade. Na
contramão dos intermináveis nãos de seja lá quem for, direi sim à coragem de
mostrar aos olhos a minha cara de alguém que se conhece a fundo. Que já sabe
que o mundo é como é, mas aprendeu a viver nele.
Demorei a
fazê-lo, mas tomei nos meus braços a certeza de cada sonho que teço. Agora sei
que aconteço e me deixo desacontecer quando quero, apesar da incerteza de
quando e onde, que sempre chega não sei como e se perde aonde não sei. Com
todas as leis da vida e do tempo, minha a lei me ampara.
Embarquei
neste bonde para qualquer lugar ao sol, ciente de que mereço a sombra, quando
queira. Sigo para qualquer lugar que não seja ficar entre o sou e não sou bem
próprio dos que vão e não vão. Dos que se deixam para depois, porque não se
julgam prioridade. Sou alguém que decidiu ser alguém.
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
AQUELA QUE VEM
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Quando aquela que vem chegar pra mim,
quero estar preparado pra segui-la;
dizer sim aos seus braços envolventes,
pra que a fila não perca o seu compasso...
Estou pronto e confesso que vivi,
comecei a seguir ao justo encontro,
feito rio que segue o seu percurso
sem confronto e recusa rumo ao mar...
Vejo aquela que vem, mesmo sem ver;
sinto a brisa, o frescor de minha vez,
posso ler entrelinhas desse dia...
Não me queixo do quanto me foi dado,
ganhei tanto passado de presente,
que não tenho futuro a reclamar...
UM NOVO EU
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Quem quiser me comprar não precisará de muitos recursos. Bastará investir um sorriso e a meia luz de um olhar que me chame pro rosto sem cuidados, avisos, tensões e sobressaltos. Qualquer desempenho leve que me faça ter gosto em voltar outro dia, depois outro dia e mais outro.
Cederei à voz que me afague num tom de manhã, trazendo ao céu de meus ouvidos a impressão de música. Se você vier, não faça mistério de sua doçura e me torne fã. Chegue sem excessos, pouse sem efeitos, não faça show e me ache aqui, neste canto, em minha procura de um momento que valha o tempo inteiro e tenha chance de ser uma promessa.
Eu me vendo e me rendo ao abraço de quem me acolha sem vasculhar o Google de minh´alma. Sem recorrer aos dados da Wikipédia do meu ser, para só depois confiar em mim. Não quero provar que lhe mereço e lá na frente merecer. Não me peça currículo, atestado de bons antecedentes, pois não os tenho. Sou para cada pessoa um novo eu.
Se o que lhe peço é momento, são inviáveis os pormenores, os pareceres e as entrevistas veladas. E se esse momento valer a pena, será renovável por si mesmo sem aqueles desgastes do viés, do pé atrás, do viver parcialmente o que pode ser pleno enquanto for... pelo menos enquanto for.
CLIENTE
Demétrio Sena, Magé - RJ.
- Bom dia, vendedor. Quanto custa essa mesinha de centro?
- Olhe, senhor; na promoção, ela está por Cento e Vinte Reais.
- Hum... hum... será que não dá para fazer por Cem?
- Sinto muito, senhor. Por Cem reais, não dá mesmo.
- Cento e Dez? Fecha? Vamos lá, meu amigo! Tire Dez Reais! Dez Reais!
- Tá bom; tudo bem. Me dê os Cento e Dez.
- Só um momentinho; vou pegar aqui o cartão...
- Aí não, senhor... eu não disse no cartão! Tiro Dez Reais, mas no dinheiro.
- Quê que há, vendedor! Quebra esse galho! Aceita no cartão!
- Olhe, senhor; assim fica difícil; primeiro, o senhor pediu o desconto; agora quer pagar no cartão...
- As coisas estão difíceis, meu amigo... sei que as vendas não estão lá essas coisas... vai perder venda?
- Tá! Tá! Vou passar os Cento e Dez no cartão!
- Em quantas vezes você parcela?
- O quê? O senhor ainda quer que parcele?
- Ué... não pode parcelar pelo menos em três vezes?
- O senhor deve estar de brincadeira... três vezes, ainda por cima? Olhe, só para me livrar logo desta situação, passo em duas vezes e não se fala mais nisso!
- Tá bom; tá bom; tome aqui o cartão...
- Me dê aqui... pronto... agora digite a senha.
- ... ... ... ...
- Olhe, meu senhor; aqui está constando senha inválida.
- Não é possível... vamos tentar outra vez.
- ... ... ...
- Continua constando senha inválida...
- Ai, ai, ai... vamos lá. Mais uma vez.
- ... ... ...
- Foi a terceira tentativa, senhor... o cartão está bloqueado.
- Vamos fazer o seguinte, vendedor? Tenho Noventa Reais no bolso. Levo por Noventa, e a gente acaba com esse impasse.
- Ai meu cacete...
sexta-feira, 16 de setembro de 2016
quinta-feira, 15 de setembro de 2016
ENTREGA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Quando gosto e confio não escondo nada;
emoções, pensamentos, mágoas nem conflitos;
meu silêncio, meu grito, minhas alegrias,
esperanças, receios, expectativas...
Não me privo de mim pra quem tem meu afeto;
sou exposto, sem casca, pinturas e panos,
nem as perdas e os danos escondo de alguém
que me torne cativo do seu bem querer...
Mostro sonhos, certezas, frustrações e tombos,
ponho rombos, remendos à flor de quem sou
e me dou feito servo por gosto e vontade...
Desembrulho minh´alma, revelo meu corpo,
desnovelo, destampo, desestabilizo
todo senso de aviso, recato e prudência...
NA LINHA DOS OMBROS
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Peneirei os afetos e vi quem merece
a saudade, a lembrança, e por isso a procura;
percebi de quais faltas obtenho a cura,
sem vigília; jejum; agonia de prece...
Os afetos restantes levei à fervura,
pra saber o que sobe, o que gruda, o que desce,
sobrevive à distância, resfria ou aquece
ante meu equilíbrio e meu lado loucura...
Dei ação ao sensor de mentira e verdade,
preferi ter bem menos para ter além
em sentido e certeza da sinceridade...
Foi assim que me achei entre tantos escombros;
só o tempo revela quem de fato é quem;
coração tem legenda na linha dos ombros...
terça-feira, 13 de setembro de 2016
VIVA E PRONTO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Viva o todo. E se o todo for nada mais que parte, seja vivo. viva-o todo. Procure não partir o que já é partido. O tempo é arte que as nossas mãos modelam nas medidas do sonho e da esperança.
Queira e vá, mesmo sem a certeza do sucesso da ida. Saiba que a simples menção de não ir aleija e alija seus projetos; é uma espécie de bullyng contra o temor. Tem humor tragicômico e confuso, desses de chorar e sorrir da própria treva.
Caso morra o futuro logo ali, a poucos metros do presente, não importa. Logo ali já é futuro. Viva o logo. E viva-o logo, antes que o logo nem tenha chance de ser passado. Gaste o fogo do qual dispõe. Não goste nem da ideia de parar no meio do caminho.
E não se deixe acabar de tanto não viver. Também não se exceda, porque viver tem seus critérios de cuidado e observação. Jamais se tranque no próprio eu. Nunca seja um mistério para si mesmo.
domingo, 11 de setembro de 2016
quinta-feira, 8 de setembro de 2016
segunda-feira, 5 de setembro de 2016
BEM QUERER
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Quero verde pros olhos a perder de vista;
uma brisa constante a deslizar no rosto;
aplaudir com silêncio a cantata suave
que ressoa entre folhas e palcos de galhos...
Minha sêde precisa confiar nos rios,
minha fome nos frutos que madurem livres,
como tudo precisa confiar em mim
pra florir e ser pão; pra crescer e dar vida...
Já me cansa beber esse chumbo no ar
ou coar um café com carvão permitido
por gerar muito imposto sobre muito lucro...
Também custa entender que por sermos humanos
justifiquem-se as perdas, os danos e o caos,
e a força do mal subjugue a do bem...
domingo, 4 de setembro de 2016
quinta-feira, 1 de setembro de 2016
COLHEITA EQUIVOCADA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Confiei nos teus olhos e me deixei ver
pelo avesso, por fora e por todos os pontos,
os estágios e os prontos de minhas verdades
mais à vista e cravadas em meu eu mais fundo...
Fui me abrindo, me pondo, me fiz expoente,
permiti que soubesses de cada estranheza
da minh´alma de massa verídica e nua;
natureza pagã do meu corpo abstrato...
Quando mais confiava em tua confiança
percebi que te armavas contra o não perigo,
ao abrigo de ventos que jamais sopraram...
Revelei meu pior, mas doei o mais são;
tua mão nunca soube colher minha flor,
preferiu colher medos e pré-julgamentos...
CONSTRUIR
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Acredito em viver, apesar dessas pausas
de sentido, esperança e visão do futuro,
desse mundo após muro na tela dos olhos
que procuram verdades além dos temores...
Quero chão pra voar, acredito que o sonho
paire sobre meus pés, ao alcance das mãos,
ponho minhas vontades no prego das horas
entre as quais observo a mais própria pra ir...
Pela vida viável na sombra do caos,
mato as mortes que chegam em tempo precoce,
tomo posse do túnel, redescubro a luz...
Quero pouco do mundo; meu canto me basta;
minha veia talhada pra sangrar meus versos;
uma vasta saudade para construir...
Assinar:
Postagens (Atom)