Demétrio Sena, Magé – RJ.
O pirralho do vizinho demorou
bastante a falar. Começou com mais de três anos. Mas era uma criança esperta.
Começou logo a brincar na rua e sabia brincar de tudo. Jogava bola, jogava
pedra em cachorros e gritava mais alto que todos os meninos.
Quando iniciou as falas, ficou
muito tempo com um vocabulário escasso. Além disso, falava tudo truncado. As
duas primeiras palavras que aprendeu a falar, não saíam de sua boca. Ele sempre
as dizia em alto e bom som. Às vezes em separado, e às vezes tão juntas, que
pareciam a mesma palavra. Levei meses para saber o que significavam pôia e
calalo. Não houve dicionário que decodificasse para mim. Procurei em tudo
quanto é canto, e nada. Nenhuma fonte. Nenhuma pessoa soube me dizer.
Só tive como saber o que eram
pôia e calalo, no dia em que o moleque levou um tombo e a mãe correu, em
desespero, para socorrê-lo com álcool iodado. Quando a pobre mulher passou o
álcool no joelho ferido do menino, rapidamente compreendi o que pesquisei por
tanto tempo, sem nenhum resultado. Também percebi que nunca estive só em minha
ignorância com relação ao vocabulário estreito e complexo da referida pestinha.
Em especial, no tocante ao mistério dos dois inseparáveis e distintos
vocábulos.
Todos ficaram visivelmente
assustados e boquiabertos com a imediata compreensão das tais palavras
complexas, ao escutarem os gritos desesperados do menino: “Chega, mãe! Chega,
mãe! Essa Pôia tá doeno pla calalo!”.
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