terça-feira, 15 de dezembro de 2020
sábado, 5 de dezembro de 2020
SOBRE A BÍBLIA E O SER HUMANO
Demétrio Sena - Magé
Jesus Cristo veio ao mundo, porque o Destempero do Pai, ao expulsar do reino superior o seu anjo mais querido e talentoso, só piorou as coisas. E por toda a eternidade... porque o perdão e a segunda chance teriam sido a salvação de tudo, além do exemplo divino para todos os sermões que tratam de virtudes.
Ele veio, porque Deus não aprendeu Consigo mesmo e voltou a ser Destemperado e Truculento em muitas outras ocasiões. Quis ensinar a humanidade com violência... enviando pragas... ordenando guerras... destruindo povos... enviando assassinos ungidos que mostravam no fio da espada, como Ele era Terrivel... Fogo Consumidor... Implacável com filhos ou criaturas desobedientes e como suas desgraças alcançavam gerações e gerações dos que O desobedeciam.
O filho veio, porque O Pai só metia Os Pés pelas Mãos... exigia sacrifícios e sacrifícios, dos lideres de sua criação mais primorosa... provas e mais provas de amor que destruíam por dentro, os escolhidos mais sensíveis... tecia plano sobre plano, de uma salvação muito cara... pesada... impossivel mesmo, para os limites de uma humanidade já inteiramente contaminada pela fúria do anjo expulso e vingativo, que se sentiu injustiçado... sem direito à defesa... e sem O Perdão Divino, sobre o qual sempre ouviu, tanto no reino superior quanto do reino que lhe foi imposto depois.
Sim, Cristo veio, porque Deus não parava de fazer burradas e chegou a destruir quase toda a humanidade com um dilúvio que foi também um fiasco. Sempre Raivoso e Vingativo, talvez estivesse prestes a pôr em prática um plano que acabaria, de uma vez por todas, com o menor indício do ser humano. Mas o Pai repensou... evoluiu... finalmente cedeu À Própria Consciência e recorreu ao filho, como prova do Seu Grande Amor pela humanidade, que vinha sendo exposto ou declarado de formas extremamente brutas, equivocadas e sem nenhum resultado.
Não há críticas ao Pai, e sim, o reconhecimento de que Deus teve que ser Muito Deus, para recorrer ao filho e pedir ajuda... para não ter que destruir a criação "menina dos Seus Olhos" nem perpetuar uma condução sangrenta, mutiladora e bélica, da humanidade. O Pai decidiu ser Pai Amado e não Temido... para tanto, abriu Mão do amor humano obrigatório e deu liberdade aos filhos/criaturas para decidirem seus caminhos, conscientes dos preços naturais da escolha entre o bem e o mal, convertida em atos.
O filho sabia que O Pai sabia que a humanidade já estava (está ) contaminada pela expulsão "do anjo", e que a solução era parcial. Sabia (e sabe) que uma parcela imensa da humanidade já se tornou muito raivosa e intolerante... nem um pouco disposta a ser humilde o suficiente para perdoar Deus e aceitar o Seu Plano de rendição à paz e ao amor como os únicos dispositivos capazes da salvação global.
Agora, O Pai sabe que não há melhor plano e se compraz com as mulheres e os homens que aderem com sinceridade. É Cônscio das muitas distorções gananciosas e ávidas de poder das lideranças religiosas que usam seu Nome com má fé e manipulação... dos messias e deusezinhos que O substituem nos corações dos falsos fiéis tomados pelo sentimento de ódio, vingança, julgamento e condenação gratuitos do próximo em nome do fanatismo, a prepotência e a luta insana pelo comando e o protagonismo ilusórios.
Quem me conhece e sabe que a Biblia não é meu livro de regra e fé, por outro lado sabe da imensa admiração que tenho pela figura de Jesus Cristo como grande personagem da história universal. Um grande homem, cujos ensinamentos poderiam, sim, salvar a humanidade pela simples prática diária, se não estivessem mesclados à pratica, interesses escusos, vaidades, busca de poder pessoal... mentiras... hipocrisia.
Nestes escritos, meus olhos adentram olhos que leem a Biblia como reforço e manutenção da religiosidade, para propor um olhar crítico sobre o entendimento comum. Segundo ela, Deus repensou seus atos por amor à humanidade, que não se dispõe a fazer o mesmo, por amor a si própria.
É o que penso, e no que posso estar errado... e como posso! Minha opinião é somente minha opinião... não sou nem pretendo ser o dono da verdade... apenas alguém que se propõe e propor.
sexta-feira, 27 de novembro de 2020
terça-feira, 17 de novembro de 2020
quinta-feira, 5 de novembro de 2020
SÓ UM SONHO
Demétrio Sena - Magé
Sonhei que me recasava... e foi um sonho que me fez sonhar. A juíza de paz, uma mulher muito simples (e de muito juízo), dizia em tom doce, carinhoso, mas também firme: Amem todos os dias... na pouca vergonha e no carinho... no descaramento e na leveza... no sexo intenso, na permissividade ou pura safadeza, mas também na candura dos olhares... no companheirismo...
...E permaneçam juntos, talvez até que a morte ou o esfriamento os separe, mas nunca uma traição... e entendam por traição, qualquer ato sob sete chaves... qualquer mentira, de ordem sexual ou não... qualquer gesto que faça o outro sofrer por desprezo e por desencanto. Com esse respeito, não importa o tempo, esse amor será eterno, ao melhor estilo Vinícius... "enquanto dure"... mesmo quando já não endureça... desse jeito, poderá mesmo durar para sempre...
... E se ambos de fato envelhecerem juntos, ao lhes minar a potência física (não sexual, mas física) esqueçam aquele ponto específico de prazer... e aprendam a gozar sem jatos... na calma e no silêncio das horas, no abraço e na conchinha longa, enquanto se regozijam com revivências... lembranças de outrora...
... E assim, vocês perceberão que ambos são um planeta cheio de zonas erógenas não obrigatórias. Que seus corpos viraram almas físicas e se fundiram sem acertos, negociações ou exigências... que ambos continuam ambos, pelo respeito mútuo às individualidades, e mesmo assim se fundiram, por tanto amor, tanta confiança, troca e liberdade.
Foi apenas um sonho... um sonho que tive ou não, mas que me levou a sonhar... ou pelo menos um sonho que sonhei ter sonhado... e quis dormir... e sonhei que dormia, para sonhar que sonhava.
... ... ...
Respeite autorias. Isso é lei.
quinta-feira, 29 de outubro de 2020
terça-feira, 27 de outubro de 2020
sexta-feira, 16 de outubro de 2020
segunda-feira, 5 de outubro de 2020
CRISTIANISMO ELEITORAL
Demétrio Sena - Magé
A frase mais infeliz - e sacana - que ouvi a todo momento nas últimas eleições presidenciais foi a tal de "cristão vota em cristão". Foram essas eleições do tal voto cristão corporativo das igrejas e seus interesses nada cristãos que ascenderam, por exemplo, aos cargos máximos do país, do Estado e da capital do Rio de Janeiro, três monstros nojentos e cruéis... capazes das piores tramas para se darem bem, sem a mínima importância ou atenção aos mais necessitados... aos que hoje sofrem como nunca, os efeitos da obediência cega e intransigente aos líderes que negociaram seus votos e se deram bem às suas custas.
Não é de hoje que a filosofia do "cristão vota em cristão" é imposta como imposto - ou dízimo ideológico perverso - aos membros das igrejas cristãs deste país... notadamente as igrejas evangélicas que, salvo exceções, não poupam esforços para seus municípios, estados e o país terem no poder público representantes apenas seus. Executivos e parlamentares que obedeçam às lideranças pastorais, com a criação e aprovação de leis que as empoderem... perdoem suas dividas e as tornem cada vez mais ricas, dando aos membros mais simples a ilusão do mesmo poder na terra, mas a riqueza, só no além; no sonhado céu.
Ao empoderarem as lideranças, os poderes eleitos pelos votos cristãos de cabresto não precisam temer nada... podem ser corruptos, racistas, raivosos, ditadores e destruidores da natureza, pois tudo é perdoado pelo toma-lá-dá-cá... pelas vantagens, nomeações em secretarias, ministérios e outros setores em todas as esferas. O bordão correto para o contexto seria "Cristão vota em cristão, de fato ou não". Ficaria evidente que basta o candidato se auto declarar e oferecer aos caciques todos os poderes, vantagens, facilidades, trânsitos, influências... e aos meros fiéis, ilusões e o poderzinho básico sobre não cristãos.
O MESMO AMOR
Demétrio Sena - Magé
Eu queria um querer de sua parte,
que não fosse por tanto me dispor;
um amor que viesse por vontade;
sem a tal condução coercitiva...
E queria sentir que também sente
a saudade sem freio nem medida,
minha vida jamais foi sua em vão,
nestes anos de muitas nostalgias...
Sempre tento me abrir pra realidade,
após tantas leituras de nós dois;
tanta idade perdida no meu tempo...
Apesar dos sinais e dos avisos,
dos juízos finais que já vivi,
eis aqui meu clamor de cada dia...
quinta-feira, 1 de outubro de 2020
DE CONFIANÇA E RISCO MORAL
Demétrio Sena - Magé
Muitas vezes veladamente, mas a sociedade considera os ofícios de ator, tatuador, fotógrafo, até bailarino e tantos outros/outras ligados às artes interativas ou de contato, como de risco moral. Esse pensamento engessado leva em consideração as supostas chances de abusos cometidos por profissionais ou de seguidos relacionamentos eróticos consensuais e relâmpagos.Tal preconceito quase não considera esses trabalhos como trabalhos. É como se as pessoas tivessem desde bem novas, determinadas taras que um dia precisarão disfarçar de profissões.
Em todos os setores da sociedade existem os profissionais e clientes abusivos. Quase todos os contratados por pessoas ou empresas lidam, em algum momento, mais reservadamente com determinados contratantes ou colegas de trabalho. É neste momento que a confiança mútua tem que se fazer valer, observadas as atitudes, os olhares, ambientes e possibilidades de concretização de uma possivel intenção distorcida ou perigosa. Seres humanos devem ser pensantes, observadores, criteriosos e procurar saber profundamente com quem lidam tanto no dia a dia quanto em determinadas ocasiões. Contratar um profissional, não importa para qual trabalho, exige cuidados e critérios, de ambas as partes, que podem reduzir drasticamente as muitas possibilidades de abusos.
Qualquer profissional que não tenha boa indole poderá tentar se aproveitar de alguma situação. O entregador, da confiança da dona de casa... o professor e a professora, do fetiche de alguns alunos e alunas... o médico, da inocência da paciente que não se importa com a falta da enfermeira em determinados procedimentos... o pastor, padre, guru (...) da fiel que lhe faz confidências, confissões ou pede conselhos e nem percebe seus olhares compridos que levam a gestos inadequados visando mais e mais... o pediatra, da negligência de pai ou mãe que não atenta para o quanto é importante a sua presença, mesmo que a criança ou adolescente seja pura esperteza. Motorista particular, atleta, cantor(a), enfermeiro (a), militar, normalista, encanador... todos podem ser vítimas, algozes ou simplesmente se valer do fetiche alheio.
Na hora certa, o que vai determinar atitudes é o conjunto caráter/cuidados/observação/critério/bom senso. Esse conjunto pode afastar abusos ou atos consensuais que ferem o profissionalismo. O que jamais pode haver é a generalização de um preconceito enraizado que sempre se impôs a determinados profissionais, quase todos das artes. Não é a profissão que é de risco moral... é o ser humano como profissional, colega e cliente. "Se um não quer, dois não brigam" e se ambos fazem valer seus critérios, exigências e cuidados, a confiança não será traída.
quarta-feira, 30 de setembro de 2020
quinta-feira, 24 de setembro de 2020
quarta-feira, 23 de setembro de 2020
quarta-feira, 16 de setembro de 2020
NO XADREZ DO PRECONCEITO
Demétrio Sena - Magé
Já fui alvo de muito preconceito. Sempre os venci. Ainda os venço, porque os preconceitos nunca desistem. Indivíduos e grupos preconceituosos vão e vêm o tempo todo; são eles os que mais exercem o direito de ir e vir, nesta sociedade que os valoriza e multiplica vertiginosamente. O pior de tudo, é que tenho verdadeiro afeto por algumas pessoas que, mesmo tendo por mim o mesmo afeto sincero e profundo, lá no fundo está o preconceito... nestes casos, um sentimento que se manifesta educada e carinhosamente... que não indefere ou desqualifica o quanto a pessoa me quer bem, mas deixa implícito que preferia que eu fosse diferente... até que fosse quem sou, mas quem sou não fosse como sou.
O que não consigo vencer é o preconceito como um todo, ao ver quantos danos ele causa em um mundo que viveria muito melhor, se o ser humano se aceitasse como igual... ninguém se olhasse como pior ou melhor; não houvesse vítima nem opróbrio. Mesmo com gostos, talentos, ofícios, visões de vida e mundo, filosofias e até realidades econômicas diferentes (que não deveriam ter disparates), as pessoas poderiam se completar, formar um mosaico social, se reconhecer como um todo, para que o sentimento de harmonia garantisse a todos o bem viver. Perceber esse sentimento à minha volta - ou à minha frente -, soa bem mais terrivel do que me sentir vítima pessoal de qualquer forma de preconceito.
Até nos grupos formados para cultivar em momentos à parte os mesmos dons, crenças, filosofias, sonhos, desejos... ou fortalecer profissionais do mesmo ramo (e a formação desses grupos é legitima, dentro das propostas iniciais), existe o preconceito. Aí as propostas iniciais perdem o sentido. Se o preconceito entre os que se julgam diferentes é monstruoso, a monstruosidade se multiplica no preconceito entre os que se dizem iguais. Os que já estão lá se digladiam, os que não estão e têm semelhanças com os que entraram a muito custo já não entram, e dessa forma o preconceito se reafirma e se agiganta sem limite. A fogueira das vaidades e o personalismo garantem os estragos do sentimento matriz.
A sociedade, como um todo, está cheia de preconceitos. E se já é difícil para mim, aceitar os preconceitos da sociedade supostamente aberta, não me convidem a compor nem tentem me manter em sociedades fechadas onde os mais simples não entrem, apesar dos perfis compatíveis... ou onde os mais simples que entraram, por motivos excepcionais, não tenham vez e voz. Estão lá como plantas ou agregados numéricos que devem obedecer e agradecer pelo direito à obediência, pois a sua presença é cota... e toda cota, na opinião das classes sociais dominantes, é prestação de favor.
Quem conhece quarenta graus de temperatura com sensação térmica de sessenta, entenderá: Tenho 59 anos de vida, com sensação existencial de 200. Vivi quase tudo; venci meus complexos e fiz ou deixei de fazer o que desejei. Não preciso de quase nada. Rejeito ambientes preconceitosos, ainda que o alvo de preconceitos não seja eu. Mas aprendi a ficar, se depender de mim, porque sei que me cumpre a luta pacífica pela conscientização. E sabedor de que o preconceito evoluiu suas práticas, não me permito fugir para depois dizerem que me vitimizei. Desenvolvi a sabedoria de obrigar o preconceito a mostrar a cara, se assumir e me tirar da corporação, sem eu ter dado qualquer motivo que o justifique.
quinta-feira, 10 de setembro de 2020
quarta-feira, 9 de setembro de 2020
sexta-feira, 4 de setembro de 2020
URUBUS DA CULTURA
Demétrio Sena - Magé
Jamais me recuso, quando posso, a me dispor financeiramente para ser incorporado a uma causa cultural popular ou altruísta... compor uma classe ou grupo relevante, muito embora eu sempre possa bem pouco, por ser pessoa de condições econômicas modestas. Como tenho braços, mãos, algum tempo livre, boa cabeça, e dizem que tenho atributos culturais, utilizo-os repetidamente onde ninguém use uma causa coletiva, uma ingenuidade exposta ou deslumbramentos de um semelhante, para colher status ou benefícios pessoais.
Mas ninguém conte comigo, em nenhum meio e contexto, como alguém que se preste a comprar elogios, pagar por acesso a pódio e para ser considerado vip; um dos melhores; talvez o melhor. Não daria um centavo por uma vaga em qualquer elite; a menor apologia ao meu nome; nenhuma honra ao mérito em papel, placa, outro objeto. Só aceito felicitações e reconhecimentos naturais que não me ponham acima de nenhum semelhante. E se existem valores pessoais que movimentem os financeiros, que tais valores não onerem, mas recompensem quem os tenha. Ou serão simplesmente valores invertidos.
Aceitar essa forma viciada, espertalhona e sobretudo exploradora, de reconhecimento, seria contribuir com os preconceitos que me constrangem... fomentar criação de guetos... ajudar a expandir as desigualdades sociais, que já são imensas e fartas. Seria me juntar aos que mostram às pessoas de condições econômicas ainda mais modestas do que as minhas, que o mundo não é para todo mundo... a sociedade é antissocial. Que talento e dinheiro têm que andar lado a lado, atendendo às "devidas" proporções.
São inúmeros os talentos que produzem arte à margem da fama, do poder econômico - geralmente ligado ao político - e do alcance de olheiros ou mecenas. Talentos aos quais só chegam os mesmos aproveitadores; vendedores de medalhas, menções honrosas, cotas e vagas em grupos onde ficarão também à margem. Ninguém que os reconheça como prestadores de serviço; detentores de produto; proprietários de um bem precioso; profissionais respeitáveis.
quarta-feira, 2 de setembro de 2020
segunda-feira, 31 de agosto de 2020
MOMENTOS E LACUNAS
Demétrio Sena - Magé
É um ter de não ter, mas estar lá,
sob um plano que às vezes vem a mim;
dá um fim provisório ao meu abismo
entre os dutos de pura nostalgia...
Nessas horas me agarro ao infinito
e repouso em seu colo, suas mãos,
em um rito no qual se faz silêncio
pra ouvirmos os nossos pensamentos...
Minha pele suplica o seu carinho
que se faz num passeio lento e longo,
feito vinho que a língua saboreia...
Depois vem outro tempo que lhe afasta;
nos arrasta, nos põe além de nós,
pra mantermos a nossa raridade...
A VIDA EM ORDEM CRESCENTE
Demétrio Sena - Magé
Em uma de suas tantas belas composições, Frejat disse que toda dor tem prazer e medo. De minha parte, observo que algumas vezes o prazer tem dor e medo. Nesses casos, primeiro vem o céu, depois o abismo sob os pés. Mas o certo e saudável se concretiza quando a dor vem primeiro, para que o depois se apresente como recompensa. Ter prazer e depois pagar um preço amargo, não é o que nenhum ser humano espera.
O mel não pode se antecipar ao fel. O desespero deve progredir e se tornar esperança. O pagamento é a coroação do trabalho... a realização se opera como flor e fruto que o sonho alcança. Não vale a pena viver, se a ordem é decrescente... se o gozo involui para tesão... se o mel se transforma em fel... a esperança em desespero... se o salário vem antes do trabalho e a realização se torna sonho. Viver nessa ordem significa, lá no fim, morrer duas vezes. Quanto ao medo, que ficou para trás, ele é bom no sentido que nos impulsiona, e sendo assim, não está no contexto de seguir ou voltar... é constante; parceiro; conivente.
Quando nossa vida não é violada por nós mesmos, por outro alguém ou pela própria natureza, não tem como ser decrescente. Se a morte chega realmente no fim dos nossos tempos vividos em plenitude, não é preço nem consequência. É a conclusão natural do curso, do ciclo e da composição existencial. Culminância e não descida. Até lá, o que nos cumpre é gradativo, jamais degradativo. Se já nos faltam forças para ir do inferno ao céu, reconheçamos os nossos limites e saberemos como não ir do céu ao inferno.
Que a dor sempre tenha prazer e medo. Não o prazer medo e dor. Vivamos pela recompensa ou satisfação pessoal de reconhecer que a vida já deu. Não peçamos empréstimos ao sobretempo, que nos cobra juros extorsivos. Só a vida crescente faz valer o tempo vivido, pelo menos até quando nada importe, porque já tivemos "nosso próprio tempo", tão bem exposto pelo inesquecível, querido e genial Renato Russo.
... ... ... ...
Respeite autorias. Isso é lei.
segunda-feira, 24 de agosto de 2020
SEDUÇÃO
Demétrio Sena - Magé
Sedução é xadrez no qual só perco;
a rainha me prende, amarra e dopa;
é talvez carteado em cujo cerco
todos reis valem menos que uma copa...
Quem seduz a rigor me põe na toca;
fecha todos os lados do meu beco;
põe mordaça, domima minha boca,
faz meu corpo esvair por onde peco...
Minha carne se rende ao jogo intenso,
ardo mais do que sinto e do que penso,
quando alguém me revolve no seu vício...
Nunca tive destreza, dom de fuga
contra quem arrebata e subjuga;
mas não ser seduzido é desperdício...
sábado, 22 de agosto de 2020
MENINA TRISTE
Demétrio Sena - Magé
Quero dizer à menina triste, que o mundo pode ser bem melhor do que a existência dos tios monstros... dos possíveis padrastos, pais e outros que também são... das mães caladas e coniventes, porque permitem ou não acreditam nos olhos, nos medos, palavras, intuições ou cuidados das filhas... do que os vizinhos que também abusam, quando a confiança dos responsáveis é irresponsável, por insuficiência de amor.
O mundo pode ser melhor (e maior) do que o moralismo assassino de quem lhe culpa por ser a vitima... quem lhe condena pelo crime de ser violentada e quer que você assuma todos os pesos, preços e tributos do que sofreu e ainda sofre, só por lembrar. A vida pode ser bem mais doce do que a dureza das religiões que você conhece; a intolerância, o fanatismo e o preconceito inerentes ao cristianismo que se dissociou de Cristo, para ser customizado pelas trevas da ignorância... pela cegueira dos dogmas politicopartidários, ávidos pelo poder e as vantagens dessa nominata.
Por favor, menina triste: não se permita condenar pelos pregadores do inferno, que se julgam donos do céu. Pelos anjos do mal, que vomitam sucos gástricos de um bem que não me quero; muito menos ao próximo; às pessoas que amo. Livre-se das amarras do ser humano; dos corretores de um Deus perverso e diabólico e das escritutas profanas a partir de seus atos contraditórios... dos mergulhos na lama de uma parceria podre com esse poder mais podre do que nunca, instalado no intestino grosso deste país... no palácio das alquimias nojentas em busca de mais e mais poder.
Sobretudo, menina triste; acredite mais em você do que em toda palavra dos que a cercam. Bata um papo sincero com o seu coração, e se você busca Um Deus, há de achar aí dentro; não nas pregações mentirosas, contritas ou barulhentas, dos que sempre tentarão manipular sua fragilidade; modelar seus conceitos; fazer jogatina com seus medos e possíveis superstições. Seja feliz de dentro para fora.
quarta-feira, 12 de agosto de 2020
VERDUGOLATRIA
Demétrio Sena - Magé
Não é crime o que a lei decidir que não é;
serão santos demônios, após aclamados;
quando a fé diz que foi, terá sido milagre
um alívio volátil das dores de sempre...
O carrasco é bom rei pra quem teme seu jugo,
a nação é perfeita pra quem se acomoda
com a moda servil de louvar um tirano;
exaltar as correntes, mordaças e cangas...
É um vício terrível de certas nações,
aclamar como herói quem lhes dá pão e água
e lhes pune por mágoa que possam nutrir...
Será sempre pecado perceber o mal
do normal de sofrer; de sorrir por chorar;
fanatismo se torna razão de viver...
... ... ...
Respeite autorias. Isso é lei
sexta-feira, 7 de agosto de 2020
quinta-feira, 6 de agosto de 2020
terça-feira, 4 de agosto de 2020
sábado, 1 de agosto de 2020
sexta-feira, 31 de julho de 2020
domingo, 26 de julho de 2020
sexta-feira, 24 de julho de 2020
quarta-feira, 22 de julho de 2020
segunda-feira, 20 de julho de 2020
domingo, 19 de julho de 2020
sexta-feira, 17 de julho de 2020
quinta-feira, 16 de julho de 2020
quarta-feira, 15 de julho de 2020
sexta-feira, 10 de julho de 2020
sábado, 4 de julho de 2020
quinta-feira, 2 de julho de 2020
RETROCESSO
Desistimos da estrada percorrida
e descemos a rampa que subimos;
demos vida pros fantasmas do tempo
exumado por medo e fanatismo...
Desejamos o antes rejeitado,
desvencemos os combates vencidos,
esquecidos em nossa desidade
demos rugas ao velho novo tempo...
Nossas mentes desaprendem lições,
nossos olhos abertos desenxergam
as ações inativas da burrice...
Há um ódio adotado como amor,
uma fé que o rancor trancou no escuro,,
um país do futuro no passado...
terça-feira, 30 de junho de 2020
sexta-feira, 26 de junho de 2020
NAQUELA SALA
Nossas caras de santos davam cobertura
para nosso desejo promover as festas;
fazer mil travessuras onde o cobertor
só fazia de conta que fazia frio...
A tevê dava o tom de probidade à cena
e à santa inocência de cachos grisalhos
que dormia fingindo montar sentinela
sob falhos meneios; discretos pigarros...
Nós virávamos polvo no sofá da sala;
eram tantos os braços conduzindo mãos
aos desvãos incontáveis de nossa geoide!
Mas as caras de santos expostas ao vento
davam leve sentido ao cenário barroco
no convento forjado pela meia luz...
segunda-feira, 22 de junho de 2020
DO MEU ÍNTIMO
Continuarei a ser.
Não é de minha natureza estar.
Não toquem músicas em demasia
pra eu dançar a qualquer custo...
para me seduzir no susto...
ou me provisoriar.
Meu velho eu se calcificou
na paleontologia das vivências...
nas diligências dos meus olhos
entre o mundo e as oscilações;
emoções de show e festim...
Retaliações aos meus nãos
não vão oscilar meu mundo...
supervisões em meus sins,
meu mais profundo,
não vão me desconstruir...
Continuarei a ver.
Não é do meu íntimo só olhar.
Não adianta essa mescla de cores
pra eu gostar a qualquer preço...
Para me retirar do avesso...
e me volatilizar.
quarta-feira, 17 de junho de 2020
UM CONTO BASEADO EM NOSSOS DIAS
Demétrio Sena - Magé
Conhecida como pessoa de oração forte, aquela senhora religiosa recebeu um rapaz que precisava dela, porque sentia muitas dores na coluna. Tão logo adentrou a casa, o "paciente" foi sondado sobre o que sentia, para que a oração fosse direto ao ponto.
O rapaz era do tipo que os religiosos calcificados têm como irremediavelmente perdido. Viciado em bebidas fortes, frequentador de biroscas.. e tinha boca suja. Não sabia dizer uma palavra que não fosse acompanhada por palavrão.
Ele pigarreou, e antes de reponder deu uma boa olhada nas paredes da casa. Viu que logo na entrada estava pendurado um velho quadro da santa ceia, e perto dele, um suntuoso quadro do presidente Jair Bolsonaro.
Ao reconhecer a benfeitora como mais um dos milhões de brasileiros santificados que "não viram nada demais" na sessão de palavrões escabrosos do presidente num vídeo que virou seção de cinema para toda família brasileira, o moço ficou à vontade:
- P...ta que pariu dona. Tô sofrendo pra cacete. A p....ra da minha coluna dói pra c...alho.
Não teve oração. O enfermo foi posto para fora, sob os gritos convictos de que "Palavrão na minha frente, não!"; "Respeite uma casa santificada!"; "Nesta casa não entram palavras torpes!"...
... ... ...
Respeite autorias
quarta-feira, 3 de junho de 2020
CRUZ PARTIDÁRIA
Demétrio Sena - Magé
Não me fale de paz, amor e luz,
quem é fã das maldades do poder;
nem me faça perder o bom humor,
faça jus ao respeito que me habita...
Já me basta viver meu desencanto,
meu pavor das milícias do planalto;
alto lá, não despreze o meu saber
sobre quanto isso tudo lhe convém...
Nem me fale do deus mercadoria
desse novo projeto inquisitório,
seu inglório evangelho de vantagens...
Não repregue o Jesus que você prega,
numa cruz de bandeira partidária
que renega e distorce todo bem...
sexta-feira, 22 de maio de 2020
quarta-feira, 13 de maio de 2020
LIMITE
Preferia falar de um amor sem resposta;
uma dor de saber que me resta ser só;
dar as costas pra vida e sonhar com alguém
que nem sabe do acaso de minha existência...
Não queria sentir essa carga de fatos
a tal ponto que tenha pavor deste mundo,
ver o fundo do abismo se abrir mais e mais
e saber lá no fim, que o fim mesmo é depois...
Comporia pra sempre a paixão extremada,
o meu pranto por todas as decepções,
as razões emotivas de me descrever...
Mas falar da crueza desta realidade,
destes tempos de tanto sofrimento em massa,
ultrapassa os limites da minha poesia...
CORAÇÕES INFÉRTEIS
Qualquer um é meu próximo, a vida me diz,
diferenças me fundem ao meu semelhante;
felicite meus olhos ver alguém feliz,
vê-lo triste me cause tristeza constante...
Há um mundo que geme dessa dor constante;
solidões que se agravam na mesma raiz;
um amor que apodrece como dom farsante;
corações mais inférteis do que pó de giz...
Apesar dos contrastes, temos em comum
as verdades em volta, que nos fazem um;
pra que servem as crenças e seus preconceitos?
Temos fé professada nos gritos de guerra,
num inferno que finge ser o céu na terra;
somos trastes caiados de seres perfeitos...
segunda-feira, 11 de maio de 2020
Para o tempo autenticar
Meu eterno é poder me completar
nos momentos, quem sabe nos acasos,
ter nos prazos finais o meu acesso
às vivências que sempre vêm depois...
Venha ser para sempre a minha história,
um poema, romance, conto, frase;
uma fase pro tempo autenticar;
o futuro presente ou no passado...
Serei seu até quando já não for,
seja o mundo que a vida me reserva
nesse amor sem promessa nem medida...
E quem sabe o pra sempre faça jus
ao espaço, cronômetro e contagem,
na viagem da gente ser feliz...
quarta-feira, 6 de maio de 2020
quarta-feira, 15 de abril de 2020
FORMALIZAÇÃO - SABEDORES E SÁBIOS
Demétrio Sena - Magé
Nunca mais me derreto pra tua frieza,
meu calor se desculpa, chega de aconchego,
tiro a mesa em que sempre te servi afeto,
falei grego nas vias do teu coração...
Calarei no meu rosto este sorriso bobo
e serei mais contido, muito mais formal,
pedirei audiência em teu ramal de gelo
quando for necessário soletrar palavras...
Meu carinho se apaga nos teus tons de cinza;
finalmente serás a rainha longínqua;
soberana ranzinza no meu reino interno...
Doravante a recíproca será meu norte,
farei corte nos gastos de minha energia,
se qualquer sentimento ficar sem resposta...
Demétrio Sena - Magé
Sei que minhas verdades podem ser quebráveis,
Pode ser que as certezas tenham pontos fracos,
perderei muitos cacos do que sempre soube,
quando a vida cair sobre minha soberba...
O que sei do que leio não me salvará;
nada sei nos entulhos das coisas que sei,
pois a lei do saber favorece os humildes;
distribui alvará pros que menos ostentam...
É preciso aprender com quem vive do pouco;
pouco ter, pouco ler e pouco impressionar
e seguir apesar do quanto pesa o mundo...
Sabedores e sábios têm que dar as mãos,
a cultura não vive sem agricultura
nem há sins onde os nãos nunca tenham reinado...
sábado, 11 de abril de 2020
VERSOS DE RESISTÊNCIA - VERSOS DE QUARENTENA - SEM MEDO DA VIDA NEM DA MORTE - IMPOTÊNCIA - POEMETO ANTI-HERÓI - REDIVIVO - MUNDO EXTÁTICO
as pessoas na rua querem ver o salto;
alto, lá que o poema só quer ver de cima
os olhares do mundo, sem hipocrisia!
Mostrarei aos carrascos que a poesia vive,
a dureza não mata minha inspiração,
coração e cabeça estão juntos num campo
que não é de batalha, mas de renascença...
Vim dizer que meus versos não são suicidas;
eles voam; não pulam procurando a morte;
somam vidas e lançam sementes de sonhos...
O poema no topo do edifício d´alma
tem a calma do verde que a esperança traz;
atravesse o deserto, a solidão,
amenize a visão do breu total
que me cega de olhar e nada ver...
Meu poema passeie sem censura;
passe pelos fiscais; engane guardas;
nem atente pras fardas da polícia
ou pros olhos atentos informais...
Os meus versos irão por minhas asas;
eu preciso ficar guardado aqui;
há um pingo no i do meu intento...
Cuidarei dos poemas de amanhã
e depois de amanhã, que minha mão
soltará no desvão do isolamento...
ela bem que procura se manter,
se conter dos temores em comum
no teatro das redes sociais...
É a vez dessa vista horizontal
entre os olhos sombrios que se baixam,
sem portal, profecia nem certeza
ou aquela esperança equilibrada...
Não há brio firmado em tons exatos
nem há fatos guardados pras manhãs
que ninguém antevê depois das noites...
Nossa rocha está frágil como bolhas,
somos folhas que seguem qualquer brisa,
porque toda soberba ficou brocha...
nossa crise de aspas não permite;
não se agite a carência do rebanho,
porque tudo está seco e sem porteira...
Pra que servem "heróis" que não resolvem,
trazem carmas, conflitos e desculpas,
têm apenas bravatas como armas
e transferem as culpas mascaradas?
Não inventem cenários; falsos mapas
nem as capas pra Zorros pontuais
diluídos perante os olhos nus...
Resta o sonho do nosso entendimento;
aos "heróis" do momento é preferível
ter "vilões" que a má fé convencionou...
e respiro a promessa de amanhãs,
tenho pistas e frestas do momento
em que todos os sonhos vão florir...
Já estou arrancando meus espinhos;
coração bate um pouco menos preso;
há um peso menor nos pensamentos,
meus caminhos parecem mais fluentes...
Hoje a velha esperança se renova,
recompõe o verdor e vence os grilos,
põe à prova os sentidos desbotados...
Reavivo a coragem de viver;
volto a ser e sentir que vale a pena;
só estava e nem via o tempo ir...
que não posso atingir, pois estou preso,
há um peso nos olhos e nos passos
e na soma das horas que se arrastam...
Mas ainda consigo ver o céu,
não há teto capaz de lhe cobrir,
coibir os meus sonhos, o desejo
de rever até quem sequer conheço...
Há um mundo, apesar de ralo e triste,
um espaço que o tempo desabona,
mas existe a surpresa do futuro...
Hoje sei que alguns dias podem ser
infinitos, a própria eternidade,
na saudade maior do que as lembranças...